Capítulo 1
Título: Um presente do tempo: um conto natalino de renovação.
Música inspiração: Sino de Belém, de Evaldo Rui Barbosa.
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A lembrança invade minha mente assim que atravesso o portal da igreja.
Sinto o calor do fogão à lenha e ergo um graveto até o fogo, deixando nas paredes do fogão o rastro da brasa.
– Eu sou completamente apaixonada por esse quadro – diz minha mãe e no instante encaro a parede descascada da casa de minha avó. Sob a parede, uma camada de quadros religiosos e terços de todas as cores e tamanhos, está o quadro a que minha mãe se refere. O tom azulado da noite marcado pelas pinceladas de tinta e a luz dourada que emana da cabeça de Jesus me faz viajar para um tempo que não conheço: a agonia de Cristo no Horto das Oliveiras.
A recordação se esvai e volto a realidade. Estou sentada no banco da Igreja de Nossa Senhora do Rosário e por pouco não pego o horário da missa. Faço os três desejos que minha mãe me ensinou, ao entrar em uma igreja que ainda não conhecia e me permito sonhar. A sinfonia da orquestra no salão atrás do altar inunda meu coração e reconheço a canção: Sino de Belém!
Quando se é criança, o Natal consegue transmitir toda a magia de uma música como essa. Mas, depois que tornei adulta, o Natal parece mais com uma versão de bate o sino do filme de meninas malvadas. Um espetáculo desengonçado dança em meu peito quando lembro dos comentários que farão durante a ceia em família.
Onde está a magia do Natal? Aquela que me fazia ansiar a chegada da manhã natalina, onde eu corria para a sala, pronta para desembrulhar os presentes que o Papai Noel deixava, em cima de um par de chinela.
É véspera de Natal e pela primeira vez no mês estou caminhando ao centro da cidade para olhar as luzes. Desço os degraus da igreja e caminho pelas ruas do centro histórico. A iluminação, nessa época do ano, é restrita aos varais de lâmpada estendidos poda toda a extremidade da rua, sendo ligados as sacadas dos casarões antigos.
Ergo a cabeça e caminho olhando para as luzes.
Sempre vai haver uma nova chance de renascer. Não vai ser o fim do mundo encarar minha família e dizer tranquei a faculdade de Física para dar voz ao sonho de cursar Jornalismo. Afinal, esse é o problema de se manter fiel a uma versão que não diz mais sobre quem você é. O sonho se torna sufocante como a tentativa de caber em um jeans dois números menores que o seu. A magia não é igual, mas, haverá um próximo ano, com outro Natal.
Naquele momento, quero sentir a mesma emoção de minha mãe quando olha para o quadro de Jesus no Horto das Oliveiras. Desejo com todo o coração sentir o bater dos sinos dentro da minha alma e em um impulso saio pulando pelas lajotas do Beco do Bispo enquanto cantarolo baixinho:
"Bate o sino pequenino,
Sino de Belém!
Já nasceu o Deus menino
Para o nosso bem"
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500 palavras
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