Epílogo
Heitor
O sol já se despedia no horizonte, tingindo o céu de tons alaranjados e rosados. Eu estava sentado na beirada da piscina, com os pés na água morna, observando meus pais. Eles riam juntos, espirrando água um no outro como duas crianças. Era fácil esquecer que eles eram adultos, ainda mais quando os sorrisos deles preenchiam o ar de uma alegria leve e contagiante.
Ao meu lado, Júlia, minha melhor amiga, mordiscava um morango. Ela também olhava para eles, e eu sabia que sua mente estava tão longe quanto a minha.
— Eles são incríveis, né? — comentei, sentindo meu peito aquecido.
Júlia sorriu, limpando o canto da boca.
— Sim. Dá pra ver o quanto eles se amam.
Eu assenti.
— A minha mãe... Ela lutou muito por mim. Não só pra me adotar, mas para ser essa mãe maravilhosa que ela é.
— E o Omar?
— Ele entrou na nossa vida depois da minha adoção, e parece até história de ficção, mais o meu pai biológico se apaixonou pela minha mãe adotiva, uma loucura não é? Não vou dizer que o amor deles teve um início fácil, pelo que ambos contam, brigavam pela minha guarda e passaram por situações difíceis. Agora aqui estão eles juntos e são o casal mais lindo que eu conheço.
Falei aquilo com uma convicção tão profunda que até me assustei. Eu tinha apenas doze anos mais tinha uma maturidade acima da média, ao menos, acreditava ter.
Júlia me cutucou de leve.
— Você tem sorte, Heitor. Nem todo mundo tem isso.
— Eu sei... E é por isso que eu quero ter um amor assim um dia.
Ela me olhou, os olhos castanhos brilhando sob a luz do entardecer.
— E você vai ter. Dá pra ver no jeito que você ama eles... No jeito que você cuida de todo mundo.
Eu sorri, meio sem jeito. As palavras dela encontraram um espaço confortável dentro de mim, e por alguns segundos, fiquei em silêncio, somente deixando a brisa me tocar o rosto.
Os risos na piscina ficaram mais altos. Minha mãe havia acabado de derrubar meu pai na água, e agora ele emergia, o cabelo molhado grudado na testa, rindo como se tivesse ouvido a melhor piada do mundo.
— Quer entrar na água? — Júlia sugeriu.
— Antes, tem uma coisa que eu preciso fazer.
Levantei-me, respirei fundo e caminhei até a borda da piscina. Meus pais notaram minha aproximação e pararam, ainda ofegantes da brincadeira.
— Ei, filhão! — meu pai acenou, a voz sempre calorosa.
Minha mãe ajeitou o cabelo molhado, com os olhos atentos a cada movimento meu.
— O que foi, meu amor?
Aproximei-me mais um pouco, e não esperei nem um segundo antes de falar:
— Eu só queria dizer que amo muito vocês.
O silêncio se instalou, mas foi aquele tipo de silêncio que abraça. Minha mãe levou a mão ao peito, os olhos marejando.
— Ah, meu menino... — ela estendeu a mão molhada, e eu não hesitei em segurá-la.
Meu pai nadou até nós, e de repente, eu estava envolvido num abraço encharcado e caloroso.
— Também te amamos, Heitor. — ele sussurrou, a voz embargada.
Fechei os olhos, deixando aquele momento se cravar em minha memória. Era isso. Era essa a sensação de pertencimento, de família, de amor.
Quando nos soltamos, minha mãe deu um risinho.
— Agora você vai ter que entrar na água, né?
Antes que eu pudesse responder, senti duas mãos firmes me puxando. Soltei um grito misturado com riso, e então a água me envolveu.
Emergi, rindo, e vi Júlia na beirada, gargalhando alto.
— Vem, Júlia! — chamei.
Ela hesitou, mas logo se juntou a nós, o som da água cortando o ar.
Por longos minutos, fomos somente quatro pessoas se divertindo, sem pressa, sem medo.
Quando o sol já havia sumido por completo e as primeiras estrelas salpicavam o céu, saímos da piscina. Minha mãe trouxe toalhas, meu pai preparou um chocolate quente, e nos acomodamos na varanda, cada um enrolado no seu cantinho de aconchego.
Júlia adormeceu primeiro, a cabeça apoiada no meu ombro. Meus pais trocavam olhares cúmplices, e eu sabia que aquela troca silenciosa era um jeito deles conversarem sem palavras.
Eu era grato. Não só por tê-los, mas por ser capaz de reconhecer o valor disso. Por entender que o amor não era apenas o que a gente recebia, mas também o que a gente escolhia oferecer.
— Heitor? — minha mãe chamou baixinho.
— Oi?
— Estamos orgulhosos de você.
Aquelas palavras pousaram em mim como um cobertor quentinho.
— Obrigado... Por tudo.
Meu pai estendeu a mão, e eu a segurei, formando uma corrente invisível entre nós.
— Sempre estaremos aqui, filho.
E eu sabia que era verdade.
Naquela noite, adormeci cercado por esse amor. E, enquanto a escuridão se espalhava pelo céu, senti que o amanhã viria cheio de possibilidades.
Porque, afinal, eu já tinha tudo o que mais importava.
Fim.
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