Capítulo 5 Encontro com o medo
Eu não podia mais ficar trancada naquela casa. Os dias passavam lentamente, e o medo me consumia mais do que a solidão. Eu sabia que precisava sair, que não podia continuar assim, mas o pensamento de cruzar a porta me paralisava. Não conseguia entender como o homem que se dizia pai de Heitor ainda me assombrava, como ele continuava aparecendo em minha vida, como se nada mais importasse. Eu só tinha o visto uma vez no parque, e o simples fato de saber que ele ainda estava por aí me deixava com os nervos à flor da pele.
A semana se passou com o som constante da chuva batendo nas janelas, o único alívio para o meu pânico, como se o céu chorasse comigo. Mas a casa estava começando a ficar insuportável. O lixo se acumulava, os odores invadiam os cantos, e Heitor, com seus olhos inocentes e curiosos, fazia com que eu me sentisse ainda mais culpada por não ser capaz de dar a ele o mínimo de normalidade. Então, decidi: eu teria que sair, nem que fosse por um instante.
Era noite, e as ruas estavam desertas, o que, de certa forma, me dava um falso conforto. O frio cortante da noite tocava meu rosto enquanto eu caminhava em direção ao lixo, tentando manter a calma. Cada passo parecia um risco, como se a cada movimento eu fosse mais próxima de descobrir que ainda estava sendo observada. Quando finalmente cheguei ao ponto de coleta, os olhos brilhantes de alguém me fizeram parar. A sensação de ser seguida me atingiu como uma lâmina afiada, e meu coração disparou.
— Emanuelle... — a voz do homem parecia vir de todos os lados, e eu mal consegui identificar de onde exatamente ele estava.
Eu não precisei olhar para saber quem era. Eu reconheceria aquele tom a qualquer momento. O homem que se dizia pai de Heitor, ou alguém a serviço dele. Com os nervos à flor da pele, respirei fundo, e então, ele apareceu, saindo das sombras, com um sorriso que, em outra circunstância, talvez fosse amigável. Mas não ali, não naquele momento.
— O meu patrão quer falar com você. — ele deu um passo em minha direção, os olhos fixos em mim.
Eu engoli seco, o pânico ameaçando me engolir de novo. Ele havia dito "meu patrão", e isso só me fez entender que a situação estava mais grave do que eu imaginava. Eu não queria saber de mais nada, não queria me envolver mais. O medo que me dominava já era o suficiente para me fazer querer correr e nunca mais olhar para trás.
— Diga para o seu patrão que não tenho nada a conversar com ele. — minha voz saiu mais firme do que eu imaginava, mas o medo ainda estava lá, me engolindo aos poucos.
Ele deu um pequeno sorriso, como se já soubesse o que eu diria. Não havia mais espaço para palavras gentis, e eu sabia que ele não estava ali para ser amigável.
— Ele espera, Emanuelle. — a voz dele era baixa, quase como um sussurro ameaçador. — Não acho que você queira desobedecer. Ele não gosta disso.
Eu senti um arrepio no corpo inteiro, como se o ar ao meu redor tivesse se tornado mais denso e pesado. O simples fato de ele ter mencionado "desobedecer" me deu uma sensação de que eu estava sendo envolvida em algo muito maior do que minha capacidade de controle. Ele sabia o que fazia, sabia como me assustar.
Aquele homem não estava ali para negociar. Ele me observava, com olhos penetrantes, esperando que eu cedesse. Mas, por algum motivo, tudo o que eu mais queria era sumir dali, desaparecer em meio à escuridão da noite. Mas não podia. Heitor estava em casa, e eu não podia deixá-lo.
— Não vou com você. — minhas palavras saíram mais calmamente agora, mas o medo ainda estava presente em cada sílaba. — Diga a ele que eu não tenho interesse em conversar.
O sorriso do homem desapareceu lentamente, e eu vi um brilho de irritação nos olhos dele. Ele deu um passo à frente, como se fosse necessário me forçar a ir até ele, mas eu já estava preparada para qualquer coisa.
— Você não tem escolha, Emanuelle. — ele falou com uma calma assustadora. — Ele vai fazer você escolher.
Eu sabia que ele não estava brincando. O que quer que fosse que esse "patrão" dele quisesse de mim, eu estava em perigo. Cada palavra que ele dizia me fazia sentir que não havia escapatória. Porém, algo em mim, uma força que eu não sabia que tinha, me fez recuar, dar um passo para trás.
— Eu disse que não. — minha voz estava mais firme agora. O pânico ainda estava lá, mas eu não podia deixar que ele visse minha fraqueza.
Ele me observou em silêncio por um momento, antes de dar uma risada baixa, quase como se estivesse se divertindo com a minha resistência. Então, ele deu um passo para trás, ainda me observando com aqueles olhos frios.
— Você vai se arrepender disso, Emanuelle. Ele vai fazer você se arrepender. — Ele girou nos calcanhares e, sem mais palavras, desapareceu nas sombras da noite.
Fiquei ali, no meio da calçada, respirando pesadamente, tentando processar tudo o que havia acabado de acontecer. A sensação de que havia escapado de algo muito maior me invadiu. Mas, ao mesmo tempo, o medo de que aquilo fosse somente o começo me devorava. Eu sabia que não era a última vez que aquilo aconteceria, e o pensamento de que Heitor poderia ser usado contra mim me fazia sentir uma angústia profunda.
Quando finalmente consegui reunir forças para voltar para casa, o que vi ao abrir a porta me fez parar. Heitor estava ali, olhando para mim com seus olhos grandes e curiosos, sem saber a gravidade da situação. Eu o abracei com força, tentando ignorar o som do meu próprio coração, ainda batendo descontrolado, como se soubesse que o pior estava por vir.
Eu não sabia mais em quem confiar. Mas uma coisa era certa: eu faria de tudo para proteger Heitor, mesmo que isso significasse enfrentar um inimigo que parecia estar sempre um passo à frente.
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