Capítulo 4 Confronto no parque

Eu estava no parque, com Heitor nos braços, sentindo o vento suave que acariciava seu rostinho. Aquele lugar sempre me trazia paz. O som das folhas ao vento e a risada das crianças brincando ao longe eram como música para os meus ouvidos. Heitor, com seus olhinhos curiosos, olhava para tudo ao redor. Eu sentia uma felicidade inexplicável, uma alegria que só um momento como aquele poderia proporcionar.

Então, uma presença se aproximou, algo no ar mudou. Ele surgiu à minha frente, imponente, com uma expressão dura e um olhar fixo em Heitor. Parei de caminhar, sentindo uma sensação estranha. Ele parou também. Suas palavras cortaram o silêncio como uma lâmina afiada.

— Esse bebê é meu! — ele disse, de forma autoritária, apontando para Heitor.

Meu coração disparou. Por um momento, fiquei paralisada, sem saber como reagir. O que ele estava dizendo? Era impossível. Olhei para Heitor, que parecia estar assustado, e então voltei meu olhar para aquele homem. Ele não estava brincando. Havia algo na postura dele, na intensidade da sua voz, que me fez perceber que ele acreditava naquilo que estava dizendo.

— Como assim "seu"? — respondi, tentando manter a calma, mas a voz me traiu, tremendo de nervosismo. — Heitor é meu filho. Eu o adotei.

Ele riu, um riso cínico, como se eu fosse a pessoa mais ingênua do mundo. Aquelas palavras me cortaram de uma forma que eu não sabia que era possível.

— Você acha que ele é seu? Eu sou o pai dele, acredite se quiser. Você tomou o que é meu.

As palavras dele ressoaram em minha mente, mas eu não conseguia compreender totalmente o que ele estava insinuando. Meu peito apertava, a respiração ficou mais difícil. Olhei para os outros ao redor, que começaram a se aproximar, curiosos, atraídos pela tensão. Eu não queria que ninguém visse aquilo. Não queria que o mundo visse a dor que ele estava tentando me infligir.

— Não, você está errado! — respondi, agora com mais firmeza, tentando me afirmar. — Heitor é meu filho. Adotei ele legalmente, você não é ninguém e não tem direito nenhum de exigir nada!

O homem deu um passo à frente, ignorando completamente a distância que ainda tentava manter. Suas palavras se tornaram mais agressivas, como se ele estivesse tentando me intimidar.

— Eu não vou deixar você roubar o meu filho! Você vai ter que me entregar ele. Ele não é seu. Você não passa de uma farsante que está brincando de ser mãe!

As palavras dele me acertaram com força, como um soco no estômago. Eu queria gritar, queria chorar, mas não podia. Não na frente de Heitor. Não na frente de tantas pessoas. O olhar curioso de alguns passantes agora estava fixado em nós, como se estivéssemos num espetáculo. A vergonha me invadiu, e eu senti meu rosto arder. Ele estava me expondo, me fazendo parecer uma mentira.

— Você não tem o direito de falar assim com ela! — alguém gritou, mas a voz se perdeu no caos crescente. As palavras dele estavam ganhando força, e eu estava começando a perder o controle da situação.

— Eu sou o pai, e não há nada que você possa fazer! — ele gritou novamente, agora levantando a voz, completamente descontrolado. Ele estava se tornando mais agressivo. — Ele vai voltar comigo!

Olhei para Heitor, que agora estava começando a chorar, seus olhos arregalados de medo, talvez pela tensão no ar, talvez pela confusão. Eu o apertei mais forte contra meu peito, sentindo a dor de vê-lo tão vulnerável, tão perdido. Ele não entendia o que estava acontecendo. Meu bebezinho passando por aquela situação tensa, não merecia isso.

O homem avançou mais uma vez, e eu recuei instintivamente, sentindo a pressão aumentar. Meu corpo estava tenso, minha mente girava, e a única coisa que eu conseguia pensar era em proteger Heitor. Ele não tinha culpa de nada.

— Você não vai levar meu filho! — eu disse, com uma voz quase inaudível, mas cheia de uma força que eu não sabia que possuía. — Ele é meu!

Nesse momento, os olhares dos passantes se tornaram mais intensos, alguns tentaram intervir, mas ele parecia estar cada vez mais descontrolado. A tensão no ar era palpável. Eu não sabia o que fazer, mas sabia que não podia deixar aquele homem levar Heitor.

As lágrimas começaram a brotar nos meus olhos, mas eu não as deixei cair. Eu não poderia demonstrar fraqueza. Não diante daquele homem. Não diante de todos aqueles curiosos. Não diante de Heitor.

Comecei a me afastar lentamente, com Heitor ainda nos meus braços, mas ele me seguiu, não desistindo de suas acusações, seus gritos. Eu precisava sair dali. Precisava fugir. A vergonha me queimava, mas o amor que eu sentia por Heitor era mais forte.

De repente, em um impulso, virei as costas e comecei a andar mais rápido, quase correndo. A sensação de fuga era mais forte do que qualquer outra coisa. Eu não sabia para onde estava indo, mas precisava ir. Eu precisava desaparecer, levar Heitor para um lugar seguro. Para longe daquele homem, para longe dos olhares que já me julgavam.

A cada passo, a sensação de humilhação aumentava, mas a determinação de proteger Heitor também. Eu o apertava contra mim, como se ele fosse a única coisa que ainda me ancorava. Ele era o meu mundo, e ninguém, absolutamente ninguém, iria me tirar isso.

As pessoas começaram a falar, algumas ainda gritando palavras que eu não podia ouvir, mas eu não me importava mais com elas. Eu só queria desaparecer. Eu só queria proteger Heitor.

Quando finalmente consegui me afastar o suficiente, as palavras do homem ficaram para trás, mas a dor que ele causou não desapareceu. Ela estava dentro de mim, como uma marca que eu sabia que ia demorar a curar.

Continuei andando, sem saber o que fazer, mas com uma certeza: não deixaria que ninguém destruísse a minha família. Heitor era meu filho, e nada, nem ninguém, poderia mudar isso.

Se aquele homem era realmente o pai biológico de Heitor, boa coisa não era já que o bebê tinha sido deixado para adoção e agora ele tinha uma mãe que o amava e que lutaria por ele ate o fim.

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