Capítulo 3 Sentimento de perseguição

Eu estava no supermercado, aquele lugar que deveria ser banal e sem surpresas. A lista de compras estava na minha mão, com minha caligrafia apressada indicando os itens básicos: leite, pão, frutas. Era uma tarde comum, mas algo me dizia que havia algo errado. Não sabia o quê, exatamente, até sentir aquela sensação estranha de estar sendo observada.

Comecei a andar pelos corredores, tentando ignorar. Peguei um pacote de macarrão e, ao colocá-lo no carrinho, senti o peso do olhar de alguém. Não apenas um olhar casual de quem cruza com você sem querer. Não, aquilo era diferente. Era algo insistente, incômodo, como se tentassem me desvendar.

Olhei discretamente para os lados, tentando identificar quem poderia estar me encarando. Foi quando vi dois homens no corredor oposto. Fingiam estar interessados nas prateleiras, mas era óbvio que os olhos deles estavam em mim. Um era alto, com cabelos grisalhos e uma barba por fazer. O outro tinha uma expressão mais jovem, porém carregava um ar tão sério que era quase intimidador.

"Será que conheço eles?", pensei, tentando lembrar se já os tinha visto antes. Continuei andando, tentando parecer indiferente. Talvez fosse só paranoia.

Peguei um pote de iogurte e, quando me virei, lá estavam eles de novo. Dessa vez, estavam mais próximos, como se tivessem se movido na mesma direção que eu, mas sem nenhuma pressa.

— Precisa de ajuda para encontrar algo? — perguntou uma funcionária, surgindo do nada.

— Ah, não, estou bem. Obrigada. — respondi, tentando soar natural. O coração estava disparado, mas forcei um sorriso.

Esperei ela se afastar antes de empurrar meu carrinho para o próximo corredor. Meu instinto me dizia que não era coincidência. Eles estavam me seguindo.

De repente, senti meu telefone vibrar no bolso. Peguei e vi uma mensagem de uma amiga: "Janta hoje?" Quis responder que sim, mas minha mente estava presa naquela situação estranha. Guardei o celular e continuei andando. Precisava terminar as compras e sair dali rápido.

Quando cheguei na seção de frutas, os dois estavam de novo no meu campo de visão. Agora, haviam se separado, um em cada extremidade do corredor. Era como se estivessem me cercando. Peguei algumas maçãs e as coloquei no saco plástico, sentindo minhas mãos começarem a tremer.

"Calma, Emanuelle, deve ser coincidência", tentei me convencer, mas as evidências diziam o contrário. Resolvi testar. Empurrei meu carrinho em direção ao caixa, mas, no último segundo, desviei para outro corredor. Olhei pelo canto do olho e lá estavam eles, mudando de direção também.

— Querem alguma coisa? — murmurei para mim mesma, mais irritada do que assustada. Não sou o tipo de pessoa que entra em pânico facilmente, mas aquilo estava me deixando desconfortável.

Cheguei perto de uma prateleira e fingi estar interessada em um produto qualquer, só para ganhar tempo e observar. Um deles, o mais velho, tirou um pacote de biscoitos da prateleira e fingiu olhar o preço. O outro estava mais longe, mas sua postura tensa revelava que não estava ali por acaso.

— Tá, chega. — pensei, decidindo agir.

Deixei o carrinho e fui até o caixa direto, sem me importar se tinha tudo o que precisava. Não olhei para trás. Peguei meu cartão e comecei a passar as compras o mais rápido possível. A caixa, uma garota jovem com um rabo de cavalo, me olhou como se eu estivesse apressada demais.

— Tudo bem, moça? — perguntou ela, enquanto passava os itens.

— Sim, tudo ótimo. — respondi, tentando não parecer nervosa.

Enquanto ela terminava, olhei para trás. Os dois homens estavam parados perto da entrada, conversando. Pareciam estar esperando.

"Merda, é comigo mesmo", pensei, segurando o impulso de confrontá-los. Peguei minhas sacolas e caminhei em direção à saída, tentando parecer tranquila. O ar gelado do estacionamento me atingiu assim que atravessei as portas automáticas.

Olhei para os lados. Meu carro estava estacionado perto, mas a ideia de ir direto para ele me parecia arriscada. E se eles me seguissem? Então, fiz algo que normalmente não faria. Fui na direção oposta, para ver se eles realmente estavam atrás de mim.

E lá estavam. Os passos lentos, mas na mesma direção que eu. Meu coração parecia querer sair do peito. Peguei o celular e liguei para minha irmã.

— Oi, Emanuelle, tudo bem? — atendeu ela, com a voz animada.

— Tá, eu preciso que você fique na linha comigo. Acho que tem dois caras me seguindo.

— O quê? Onde você tá? — perguntou, alarmada.

— No estacionamento do mercado. Eles estavam me encarando lá dentro e agora estão me seguindo.

— Tá, calma. Vai pro seu carro e tranca as portas.

— Eu tô tentando... — respondi, enquanto olhava ao redor. Vi um casal entrando no mercado e decidi me aproximar deles, só para ter mais gente por perto.

Os dois homens pararam um pouco mais atrás, como se estivessem esperando eu me afastar de outras pessoas. Isso só confirmou meu medo. Eles realmente estavam atrás de mim.

— Eles pararam. Não sei o que eles querem, mas tô indo pro carro agora. — minha voz saiu mais tremida do que eu gostaria. Corri para o carro, destravei e entrei de uma vez. Tranquei as portas e liguei o motor, mas, antes de sair, olhei pelo retrovisor. Eles estavam do outro lado do estacionamento, me observando.

— Você já tá no carro? — perguntou minha irmã.

— Tô. Vou sair agora. — coloquei o cinto e dei a ré. Os dois começaram a andar de novo, dessa vez na direção de onde eu estava.

Pisei no acelerador, saindo dali rápido. Não sabia se eles estavam de carro ou a pé, mas, naquele momento, só queria distância. Minha irmã continuava na linha, me dizendo para ir direto para casa.

Quando cheguei em casa, travei as portas e fechei todas as janelas. O coração ainda estava acelerado, e minhas mãos suavam. Revi mentalmente tudo o que aconteceu e não conseguia entender o motivo de terem me seguido.

— Você tá segura agora? — perguntou minha irmã.

— Acho que sim. Mas não consigo parar de pensar neles.

— Quer que eu vá aí? — sugeriu ela.

— Não precisa, só... acho que vou ficar alerta. Se eu os ver de novo, chamo a polícia.

Desliguei e fiquei olhando pela janela por um tempo. Talvez fosse só paranoia, talvez não. Contudo, a sensação de estar sendo observada continuava comigo, como uma sombra que eu não conseguia afastar.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top