Capítulo 17 Escândalo e exposição

Uma surpresa e tanto me aguardava e eu jamais pensei que Omar fosse jogar tão baixo. O estalo das câmeras parecia um trovão constante ao meu redor. Flashes cegantes estouravam em meu rosto, e vozes se misturavam em um turbilhão de acusações e perguntas afiadas. O portão da minha casa estava cercado por jornalistas, curiosos e críticos ávidos por uma manchete. A cada passo que eu dava, a multidão avançava como uma onda impiedosa, tentando me engolir.

Emanuelle Rocha, como se sente sabendo que roubou o filho de outro homem?
Você vai devolver a criança para o pai verdadeiro?
Acha justo separar um filho do seu sangue?

Respirei fundo, sentindo o peso daquelas palavras como pedras atiradas contra mim. Meu coração martelava dentro do peito, não de medo, mas de indignação. Ajeitei o pequeno Heitor nos meus braços, protegendo-o contra o peito como se pudesse blindá-lo daquela tempestade. Ele dormia, alheio ao caos que nos cercava, o rostinho sereno, os cílios longos repousando contra a pele macia.

Eu não roubei ninguém. Eu não fiz nada errado.

Apertei os lábios, mantendo o olhar fixo no caminho à minha frente. Se eu falasse, se tentasse me justificar, só alimentaria a fúria daqueles que já haviam decidido me transformar na vilã dessa história. Mas o silêncio também era uma escolha difícil.

Quando finalmente alcancei a porta de casa, uma repórter avançou mais do que os outros e perguntou, com veneno na voz:

Você se arrepende de ter adotado uma criança que agora tem um pai biológico lutando por ela?

Parei. O ar ao meu redor parecia vibrar. Me virei lentamente para encará-la, sentindo um nó apertar minha garganta.

— Arrependida? — minha voz saiu firme, ainda que baixa. — Eu não me arrependo de amar meu filho.

O burburinho cresceu. Mais flashes, mais sussurros. Alguém gritou:

Mas ele não é seu filho!

A fúria que eu tentava conter borbulhou dentro de mim. Me virei de uma vez, encarando a multidão, sentindo o calor das lágrimas arderem em meus olhos, mas me recusando a deixá-las cair.

— Onde estavam todos vocês quando ele foi abandonado em um orfanato? Quando ninguém quis pegá-lo no colo? Quando ele chorava sozinho à noite? Eu estava lá. Eu o peguei nos braços. Eu o acalmei. Dei a ele um lar, um nome, um amor incondicional. Agora vocês aparecem com câmeras e microfones para me dizer que ele não é meu?

O silêncio que se seguiu foi mais alto do que qualquer grito anterior.

Respirei fundo e entrei em casa, fechando a porta atrás de mim com um estrondo. Encostei-me contra a madeira, meu corpo tremendo. Meu peito subia e descia rapidamente, a adrenalina pulsando em minhas veias.

Heitor se mexeu nos meus braços, fazendo um barulhinho sonolento. Olhei para ele, a raiva e a dor sendo substituídas por uma ternura avassaladora. Passei a mão por sua bochecha macia e senti meu coração apertar.

A campainha tocou. Depois, batidas fortes.

Emanuelle, abra!

Reconheci a voz. Omar.

Fechei os olhos por um instante, reunindo forças antes de destrancar a porta. Ele estava ali, parado no limiar, seu olhar escuro carregado de algo entre dor e determinação. Vestia um terno caro, mas o rosto traía o desgaste dos últimos dias.

— O que você quer? — perguntei, mantendo minha voz baixa para não assustar Gabriel.

— Quero falar sobre o que está acontecendo agora. — justificou.

Senti o estômago revirar.

— Falar? Você que fez tudo isso! Quer falar mais o quê? — acusei sem piedade.

— Você está enganada! Eu não fiz nada! — ele passou as mãos pelos cabelos, exasperado. — Me deixa explicar o que realmente aconteceu...

— Omar ta claro o que houve, você tem que explicar o quê? Inventar desculpas para mim? Fiz tudo dentro da lei e o meu filho é meu! Se você tem alguém para culpar, culpe a mulher que fugiu de você, que abandonou um bebê indefeso. Não eu!

Omar fechou os olhos por um momento, como se estivesse se segurando.

— Emanuelle... — sua voz saiu mais contida. — Eu entendo que você o ama. Mas ele tem um pai. Você tem ideia do que é perder um filho antes mesmo de conhecê-lo?

Meu coração se partiu um pouco. Eu não era cega à dor dele. Eu via nos seus olhos que ele realmente queria Heitor. Mas será que querer era suficiente?

— Eu sou a mãe dele.

— Não biologicamente.

— Isso não importa! — minha voz subiu, e Heitor se mexeu nos meus braços. Baixei o tom imediatamente, segurando as lágrimas. — Eu o amo. Eu o acalento todas as noites. Eu sou tudo o que ele conhece. Você quer mesmo arrancá-lo de mim?

Omar me encarou, e por um momento, vi a hesitação em seu olhar.

— Isso não é justo. — ele murmurou.

— Não, não é. Mas me diga, o que é mais justo? Tirar um bebê dos braços da única mãe que ele já conheceu, só porque compartilha seu sangue? Você realmente acredita que isso vai ser melhor para ele?

Omar desviou o olhar por um segundo. Eu sabia que ele estava travando uma guerra dentro de si. Mas antes que pudesse dizer mais alguma coisa, a voz de um jornalista atravessou a rua:

Senhor Al-Farouq, a senhorita Rocha se recusa a devolver o bebê?

Omar olhou para mim mais uma vez, e eu vi algo mudar dentro dele. Sem responder ao repórter, ele virou-se e saiu, deixando-me sozinha no batente da porta, sentindo o peso da batalha que ainda estava por vir.

Segurei Heitor mais perto de mim, sentindo sua respiração tranquila contra minha pele.

— Eu vou lutar por você. — sussurrei. — Até o fim.

Por que aquele árabe filho da puta tinha que jogar sujo indo pra mídia? Minha vida poderia ser arruinada por causa da sua atitude impulsiva.

— Respira Emanuelle, você vai conseguir superar mais essa. Esse homem idiota não vai conseguir o que quer, o seu filho. — disse para mim mesma. 

Em pensar que eu quase criei empatia por Omar e agora ele colocou tudo a perder de vez. Ele era um cretino que só pensava nele e não no bem-estar de Heitor.

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