Capítulo 10 Omar quer Heitor de volta

Eu ainda sentia o cheiro do pão quente nos meus dedos quando saí da padaria, a manhã fria me envolvendo e as ruas com aquela calma estranha que precede o caos. O mercado estava mais vazio do que o normal, e eu me deixei levar pela rotina, sem olhar para os lados, somente focada no meu caminho de volta para casa.

Então, uma voz familiar cortou o ar, um tom grave e autoritário que fez meu corpo congelar no lugar.

— Emanuelle... precisamos conversar.

Meu coração disparou. Reconheci aquela voz, embora, tentado esquecê-la. O homem que se aproximava era alto, de porte imponente, com olhos escuros que pareciam penetrar diretamente na minha alma. Ele estava parado ali, no meio da rua, como se tivesse todo o direito de invadir meu espaço, minha vida.

— Não. — respondi de imediato, sem hesitar. Meu instinto me dizia para fugir, e foi o que fiz. Comecei a andar mais rápido, tentando ignorá-lo, mas ele deu um passo à frente, bloqueando o meu caminho.

— Emanuelle, eu sou o pai de Heitor. E é hora de você entender que ele é meu filho, não seu. Estou tentando resolver isso com você de maneira pacífica...

Eu parei. As palavras dele me atingiram com a força de um soco no estômago. Eu não queria ouvir aquilo. Nunca quis. Por que ele não desistia? Heitor com certeza estava melhor comigo e eu já o amava muito.

— Você não tem direito algum sobre ele! — minha voz saiu mais firme do que eu imaginava, e senti o peso da defesa que eu mesma estava construindo para proteger o meu filho. Meu menino não seria tirado de mim.

Ele deu um sorriso frio, quase desdenhoso, e deu um passo em minha direção. Recuei instintivamente.

— Eu sou Omar Al-Farouq. Tenho mais direitos do que você pensa. E vou lutar por ele.

"Não", pensei. "Não vou deixar você roubar o que é meu." A palavra "lutar" ecoou de forma ameaçadora na minha mente, e algo em meu peito se apertou. Como se o destino já estivesse decidindo algo por mim.

— Não tenho nada para conversar com você. Fale com o meu advogado. Ele está ciente de tudo, e é com ele que você tem que tratar de qualquer questão legal. Eu... eu não quero nenhum contato com você.

Omar não parecia se intimidar. Pelo contrário, ele parecia se divertir com o meu desconforto. Ele deu mais um passo à frente, agora mais perto de mim, e eu senti uma onda de pavor tomar conta do meu corpo. Ele tinha algo em seus olhos, uma determinação feroz, como se não fosse admitir derrota, como se a perda de Heitor significasse sua própria destruição. Algo nele estava além da arrogância, parecia que sua presença era uma ameaça iminente.

— Você acha que pode simplesmente me ignorar, Emanuelle? Você acha que pode ser a mãe dele sozinha? — a voz dele estava mais baixa agora, mas ainda carregava aquela intensidade cortante. Eu dei um passo para trás, forçando minha respiração a se manter controlada.

— Não sou eu quem decide quem é pai ou mãe de Heitor. O que importa é o amor que eu dei a ele, o que eu construí com ele. Você não pode simplesmente vir até aqui e revirar nossa vida de cabeça para baixo porque se acha no direito de ser o "pai". Não, Omar. Isso não vai acontecer.

Ele sorriu de novo, mas agora o sorriso estava mais sinistro. Ele não parecia se abalar com as palavras que saíam da minha boca, como se tudo o que eu dissesse fosse irrelevante. A sensação de impotência crescia em mim, mas eu sabia que não poderia deixar que ele percebesse o quanto estava afetada.

— Eu sou o pai dele, Emanuelle. E não vou aceitar ser ignorado. Vou lutar por ele, e você vai ver que não tem como me impedir. Ele vai morar comigo. Vai ser criado por mim, como sempre deveria ter sido.

As palavras dele ficaram ecoando na minha mente, e a raiva tomou conta de mim. Mas, mais do que raiva, havia o medo. Um medo profundo de perder o que mais amava, de perder Heitor para aquele homem que, apesar de ser supostamente seu pai biológico, não tinha o direito de ser parte da nossa história.

Respirei fundo, tentando manter a calma, mas o pânico estava tomando conta de mim. Ele era mais forte, mais poderoso. E eu, uma simples mulher tentando proteger o filho que criei com tanto amor, me sentia frágil diante daquela força incontrolável que ele parecia ter.

— Não vai ser assim, Omar. Não vai ser assim. — minha voz tremia, mas eu não podia deixar que ele visse o quanto suas palavras me afetavam.

E então, sem pensar duas vezes, virei as costas e comecei a correr. Meu corpo não queria mais estar ali, naquele espaço cheio de ameaças e palavras que cortavam mais do que qualquer faca. Eu precisava me afastar, fugir. Não podia deixar que ele me dominasse, nem que ele tivesse qualquer domínio sobre Heitor.

O som dos meus passos acelerados ecoava na rua vazia enquanto eu me afastava. Ele gritou algo atrás de mim, mas as palavras se perderam no vento. Eu não queria ouvir. Não queria mais nada dele. Só queria estar longe, em algum lugar seguro onde Heitor estivesse comigo, onde eu pudesse protegê-lo e nunca mais ter que ver aquele homem.

Meu coração estava acelerado, e eu senti as lágrimas ameaçando cair, mas eu não podia me permitir ceder. Eu não poderia, não quando Heitor estava em risco. Não quando ele era tudo o que eu tinha.

Eu não sabia o que o futuro nos reservava, mas uma coisa eu sabia: eu lutaria até o fim. E ele não tinha ideia de com quem estava se metendo. Eu faria qualquer coisa para proteger meu filho. Qualquer coisa.

E, naquele momento, eu me senti mais forte do que nunca.

— Se ele quer guerra, acabou de conseguir... — murmurei determinada. 

Eu precisava ser corajosa e parar de sentir tanto medo, precisava ser corajosa pelo meu filho e era isso que faria.

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