Capítulo 01
Que aquele não era o dia de sorte de Stephanie, todos sabiam, mas sua maré de azar havia começado muito antes. Logo no início do ano, seu tão sonhado diploma do curso de relações internacionais não saiu e até agora, cinco meses depois, ela ainda aguardava que seu curso fosse aprovado e finalmente emitissem o documento. Sinceramente, qual era a dificuldade em imprimir um pedacinho de papel?! E depois disso ainda teve o incidente com a vizinha na escada de serviço do prédio que acabou gerando boatos totalmente falsos sobre ela ser maluca e andar de pijamas e toalha na cabeça pelas ruas. Também houve todas aquelas entrevistas de emprego que pareciam dar certo até que alguma coisa acontecia e deixava a situação estranha a ponto de Stephanie entrar na lista negra das empresas.
Ela não conseguia compreender o que estava acontecendo. Talvez tivesse feito algo muito ruim em uma vida passada e estivesse pagando com todo aquele carma, ou apenas tivesse passado por baixo de alguma escada e quebrado vários espelhos sem perceber. Não importava, a verdade é que ela estava desesperada para conseguir alguma coisa e, sabendo que era sua única chance de sucesso, entregou seu currículo na porta da empresa de entretenimento mais famosa do país. Ela nem sequer imaginava que aquilo fosse dar certo, mas deu. E agora Stephanie estava empregada, sentada em seu próprio cubículo no setor de RH da GrandeHit.
Já fazia três semanas desde seu primeiro dia de trabalho e, para seu alívio, nenhum incidente havia atrapalhado sua nova carreira. Ela devia estar superando sua má sorte, ou foi o que pensou até algumas horas antes, quando uma estagiária desatenta esbarrou nela no corredor e entornou um copo de café americano tamanho extragrande em seu casaco branco de cashmere novinho. Stephanie ainda podia sentir o cheiro de loja quando retirou a etiqueta da roupa recém-comprada naquela manhã e decidiu usá-la para combinar com a botas brancas do inverno passado.
Resmungando consigo mesma, ela olhou para a enorme mancha já seca, sabendo que a roupa estava praticamente perdida. Pior, ela não podia nem mesmo tirar o casaco porque achou que seria uma ótima ideia usá-lo sem outra blusa por baixo uma vez que os primeiros dias do outono não estavam muito frios.
— Você devia colocar água quente nisso aí, — a voz suave veio de cima e Stephanie respirou fundo, optando por se mostrar um ser superior que não cederia às provocações dos colegas. Nem mesmo quando o colega em questão era o funcionário mais intrometido e insuportável de toda a empresa.
Ao invés de levantar o rosto, Stephanie se fixou no monitor do computador, fingindo estar muito ocupada para responder Isaac. Ele tinha a mania de se meter nos assuntos dos outros, o que todos achavam "um charme" e "um sinal de que ele era educado e gentil", como as outras mulheres do setor gostavam de dizer. A aparência dele também era ideal para a imagem de bom moço; alto e esguio, sorriso fácil, cabelos pretos cacheados e uma pele escura, exatamente no mesmo tom das especiarias indianas que sua mãe usava nos doces que fazia. Stephanie podia reconhecer que Isaac tinha certo encanto, mas ela não conseguia suportar o olhar dele. Toda vez em que a olhava, aqueles olhos escuros e astutos a deixavam extremamente desconfortável. Eu sei a verdade sobre você, era o que ele parecia estar dizendo quando a encarava.
— Parece que alguém não quer conversar... — ele disse com o que Stephanie identificou como deboche e continuou parado acima dela, recostado em seu cubículo como se aquele fosse o lugar dele.
Ela respirou fundo e tentou de verdade se manter calma, mas a simples presença de Isaac a tirava do sério.
— Você veio me dar algum recado? — Stephanie virou o rosto, torcendo para que estivesse transmitindo com o olhar o quanto ele a irritava.
— Na verdade, sim. A Cintia pediu para você ir até a sala dela.
Aquelas palavras deixaram Stephanie em alerta. Cintia era sua supervisora e também a pessoa encarregada pelas contratações e demissões. Considerando que a única vez em que foi chamada pela supervisora foi em seu primeiro dia de trabalho e que quem havia lhe passado o recado era Isaac, o advogado responsável pelos contratos da empresa, Stephanie engoliu em seco e se levantou.
Com as mãos suando, ela se concentrou em não tropeçar durante o percurso até o outro lado do terceiro andar. Ela não queria imaginar o que iria acontecer, porém era muito provável que tivessem descoberto que nem todas as informações de seu currículo eram verdadeiras. Honestamente, Stephanie não considerava que havia mentido, ela só colocou umas informações que ainda não eram inteiramente verdade, mas que se tornariam com o tempo. Aliás, ela havia imaginado que teria mais do que três semanas para pôr em prática tudo que constava no currículo.
Ela entrou silenciosamente na sala de Cintia e, ao se virar para fechar a porta, viu que Isaac a havia seguido. A presença dele confirmava o pior, mas pelo menos as paredes não eram de vidro e ninguém mais saberia o que estava acontecendo ali até que Stephanie tivesse deixado o prédio. Ela poderia manter o orgulho intacto, ao menos.
— Stephanie, — Cintia olhou brevemente para a enorme mancha na roupa dela e voltou a se debruçar sobre os papeis dispostos na mesa. — Eu estava dando uma olhada nas habilidades do pessoal e me deparei com o seu currículo. Você disse aqui que é fluente na língua turca...
— Eu posso explicar, — ela interrompeu, mas a mulher fez um breve gesto com as mãos e continuou lendo os documentos.
Aquele era o momento em que tudo daria errado, Stephanie pensou. Ela poderia tentar explicar o que havia acontecido, mas optou por se manter em silêncio enquanto aguardava. Ao seu lado, Isaac estava com a postura relaxada, o que não era nada profissional da parte dele. Será que o homem era tão sem noção que não percebia o quanto Stephanie estava desconfortável com a situação? Ele bem que podia mostrar um pouco de consideração...
— Você não tem ideia do quanto eu fiquei aliviada ao ver isso! Eu já estava quase desistindo de encontrar algum funcionário dentro da empresa que pudesse me ajudar quando seu currículo chegou nas minhas mãos.
Como? Ela não estava prestes a ser demitida por ter mentido no currículo?
— Ter você vai me poupar bastante tempo e trabalho contratando um intérprete. E como você já é nossa funcionária, está ciente dos nossos valores e já assinou as cláusulas de sigilo necessárias.
Stephanie não estava conseguindo acompanhar o que Cintia dizia, então respondeu com um sorriso polido e continuou ouvindo.
— Você é uma ótima funcionária, todo mundo diz. Tenho certeza de que vai receber o Can Bolat muito bem em nome da empresa.
Ao ouvir o nome, seu coração parou. Ele era o motivo do seu fascínio pela cultura turca. Can Bolat era o ator turco mais bonito e famoso do mundo e, além de atuar muito bem, também era uma grande ativista lutando em prol das mulheres e apoiando instituições de caridade internacionais. Resumindo, ele era perfeito.
E agora Stephanie estava prestes a conhecê-lo e realizar seu maior sonho.
Com certeza, sua maré de azar havia chegado ao fim.
Palavras: 1.206
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