Capítulo 9 - Correndo atrás do prejuízo
É estranhamento doloroso ter que abrir mão daquilo que um dia tanto almejamos só por saber que assim é melhor. Às vezes realmente fazemos escolhas achando ter encontrado a razão, mas talvez, aquilo que achamos ser a razão seja um verdadeiro lago de enganos.
Foi assim que me senti quando saí correndo para longe dela. Naquele momento, pareceu errado atrapalhar a vida da Laís - novamente -. Ela estava seguindo em frente, com outro, e eu realmente achei estar fazendo o certo, achei de fato estar com a razão fugindo para longe dela, como um covarde.
Mas eu percebi que estava errado por achar que o melhor para ela era continuar com aquele cara. Eu mergulhei fundo nesse lago de enganos, mas consegui voltar à superfície antes que meu oxigênio acabasse. Eu percebi que o melhor para ela era continuar comigo! A pessoa que realmente a amava mais que tudo, eu, a pessoa que viajou no tempo para ter o seu amor.
Mesmo já estando longe da festa da Giovanna, eu voltei correndo para lá, eu precisava me explicar para a Laís, pedir o seu perdão por ter sumido por todos esses anos, acima de tudo precisava pedir que ela ficasse comigo.
— Você viu a Laís? - perguntei esbaforido, para um desconhecido que estava bebendo na entrada da festa.
— Quem? - perguntou o rapaz,com um sorriso divertido, revelando minha idiotice em fazer perguntas para um cara que estava claramente bêbado.
— Você viu a Laís? - desta vez perguntei para uma garota, dentro da festa, que por sua vez parecia estar mais sóbria que o cara lá fora, que eu deixei para trás. Mas ela apenas negou com a cabeça, parecendo estar meio assustada com meu tom emergencial.
Já estava ficando sem esperanças, rodei a mansão da Giovanna umas vinte vezes, mas não conseguia encontrar a Laís.
— Lucas? - uma voz feminina atrás de mim me chamou, e eu sabia bem de quem era aquela voz. Giovanna — É você?
— Sim, sou eu - respondi, virando os olhos, já sem paciência.
— Mas como você pode estar do mesmo jeito após ter se passado...
— Após ter se passado seis anos? - interrompi. — É. Eu sei. Eu continuo o mesmo. Todos aqui nessa cidade já disseram isso - me apressei em dizer. Eu estava realmente sem paciência e com muita pressa pra ficar me explicando, ainda mais pra ela. — É segredo de família, sinto muito. Agora me diz, você viu a Laís por aí?
Ela pareceu levemente chocada, mas não entendi se foi sobre eu ainda estar jovem ser segredo de família ou por ter perguntado sobre a Laís, a qual ela sempre odiou. Ela sorriu em seguida, voltando com sua pose debochada de sempre.
— Olha, ela até esteve aqui, mas não passou da porta. Quando a vi na porta, fui recebê-la com o maior sorriso, como uma verdadeira anfitriã deve fazer, mas a coitadinha assim que me viu, saiu correndo, chorando - deu ombros e sorriu com uma expressão de quem se sente superior. — Ela deve ter visto como estou linda e não suportou a concorrência.
De fato, a Giovanna estava linda. O vestido preto de festa que contornava o seu corpo mostrava uma Giovanna altamente atraente, um tanto diferente da Giovanna que eu me recordava de seis anos atrás. Suas curvas agora eram de dar inveja, sua pele bronzeada e cabelos volumosos.
Mas de que adianta toda essa beleza se a pessoa em si não vale nada?
Viu só como ela é debochada? Faz descaso de tudo e se diverte com a dor alheia. Eu até defenderia a Laís, mas meu coração ficou tão pequeno quando ouvi a dizer que ela saiu de lá chorando. Novamente era minha culpa.
As lágrimas que escorreram de seus olhos tinham o meu nome como motivo. Já não me reconhecia mais. Meu amor não deveria chorar.
— Chorando? - disse já sentindo aquele nó se formar em minha garganta. Meu coração ficava minúsculo só de imagina-la chorando.
— Sim, chorando. Algo normal para uma pessoa como ela, que até hoje não superou o pé na bunda que você deu nela.
— Eu não dei um pé na bunda dela - disse na defensiva. — Você não sabe de nada. Aliás, se quer saber, eu vim aqui só para encontrar com ela, e como ela não está mais aqui, eu vou indo embora também...
Tentei desconversar, pois a Giovanna realmente não sabia de nada e pouco me importava se ela achava que eu dei um pé na bunda da Laís. Essa não era a verdade. Mas de repente surgiu a dúvida: Mas e se a Laís também achasse que eu dei um pé? Que eu a não queria mais para mim?
— Calma, gatinho... - ela disse de modo manso, quase sussurando, numa tentativa de ser sexy enquanto se aproximava de mim, puxando a gola da minha camiseta — Ela não está, mas eu estou aqui. A festa está quase no fim e podemos fazer nossa própria festinha particular lá em cima... no meu quarto.
Fiz uma careta para sua tentativa - falha - de ser sexy e a afastei pelos ombros para longe de mim, deixando bem claro que eu não estavam afim de festinha particular nenhuma, principalmente com ela!
— Desculpa, lindinha... Mas eu não tenho o menor interesse em participar de uma festinha particular, em seu quarto, e eu jamais deixaria de procurar a Laís para continuar perdendo tempo com você - falei calmamente, para que ela entendesse tudo claramente e finalmente largasse dessa idéia de dar em cima de mim. — Agora se me permite, eu preciso ir.
Mas é claro que ela não digeriu bem o que eu disse. Ela ameaçou falar algo, mas as palavras pareciam não sair de sua boca. Então, ela gritou enquanto trincava os dentes e por um instante achei que ela havia virado um bule de chá, prestes a explodir.
E explodiu.
Ao notar que estavam praticamente todos nos olhando, ela lascou a mão em minha cara, em um tapa fortemente ardido, e saiu marchando para o andar de cima, onde ficava seu quarto.
Eu, sinceramente fiquei sem reação. Eu nunca esperei nada de bom vindo dela, mas levar um tapa, assim, de graça? Isso foi totalmente inesperado, até mesmo para os padrões Giovanna de loucura.
Algumas pessoas pessoas riram; outras só ficaram sussurando; e finalmente algumas se preocuparam, perguntando se eu estava bem e me ofereceram o gelo de suas bebidas. Apenas afirmei que estava bem e agradeci pela preocupação antes de sair daquele lugar, massageando minha bochecha esquerda.
(...)
Apesar de ter demonstrado toda aquela confiança perante a moça-da-mão-pesada-como-a-de-um-boxeador, eu estava extremamente inseguro e perdido. A Laís havia ido à festa, mas foi embora após nosso reencontro. Eu não fazia idéia de onde encontrá-la novamente e muito menos sabia se iria encontrá-la novamente algum dia.
Será que eu só sabia fazer escolhas erradas achando estar fazendo a coisa certa?
O dia já estava prestes a amanhecer quando pisei no carperte da porta da minha casa. Eu havia passado por todos os lugares possíveis, tentando encontrá-la, mas eu não a achei de jeito nenhum. E quando primeiro os raios de sol penetraram por entre os galhos das árvores, trazendo o crepúsculo... Eu entrei em casa, e fechei a porta, desesperançado.
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