Capítulo 6 - Encontro e reencontros

Eu não conseguia acreditar nos meus olhos. Eu não podia acreditar nos meus olhos. Ela não podia estar com outro cara. Depois de tudo o que tive de passar para ficar com ela... Não podia ser ela. Senti meu coração bater descompassado, minhas mãos suaram frio e minhas pernas fraquejaram. Eu estava atonito, desnorteado, prestes a chorar.

Mas antes de entrar em desespero, resolvi ir andando em passos lentos, em direção à ela, eu precisava me certificar, ter certeza que aquilo não era coisa da minha cabeça, que devia estar perturbada devido a tudo que aconteceu em minha vida. A cada passo dado eu tinha mais certeza de que não era coisa da minha mente, mas eu me recusava a acreditar. Aquilo não podia estar acontecendo comigo. Seu corpo, suas curvas, sua feição agora já era a de uma mulher adulta, mas eu ainda conseguia enxergar a minha Laís por trás daquela mulher crescida. E foi por isso que resolvi ir até ela e me revelar, dizer que estava de volta, que sumi para o nosso bem, que ela deveria ter entrado comigo na máquina, que agora poderíamos ficar juntos, que ela não podia ficar com outro cara. Por quê? Porque eu a amava mais que a minha própria vida.

Mas algo não deixou.

Uma mão me puxou para longe dela.

Minha mãe.

— Por que você me puxou? - protestei irritado.

— Porque eu não posso deixar ela te levar para longe de mim de novo. Ela estragou as nossas vidas, Lucas!

Então era realmente a Laís...

— Mãe, me solta. Eu preciso falar com ela - tentei me desvencilhar da mão, mas foi inútil, ela continuou me segurando firme.

— Não, Lucas. Você não precisa. Será que já esqueceu que teu pai morreu de remorso por você ter viajado no tempo para ficar com ela? O que falta acontecer para você perceber que essa garota só faz mal para você? Eu morrer também?

Isso me fez parar por um instante. Mas era ela... Logo ali, há alguns metros de distância. Eu não podia deixar essa chance escapar. Eu não sabia se conseguiria encontrá-la de novo.

— Não coloca meu pai nessa história. A senhora não entende e pelo visto nunca vai entender: eu amo ela! E não importa quanto tempo passe, meu amor por ela nunca irá passar - falei mais alto do que devia. Àquela altura era impossível continuar falando manso.

Então ela me soltou.

Mas quando me virei para falar com a Laís, me deparei com ela se beijando novamente com aquele cara. E isso me fez parar de novo. E então, minha mãe não deixou a oportunidade passar...

— Viu só por que você não deve ir atrás dela? Ela nem sequer lembra que um dia vocês namoraram, se é que se pode chamar aquilo de namoro, e se lembra, parece estar muito bem você.

Essas palavras me atravessaram a alma.

Então eu percebi que eu não tinha mais o que fazer.

— Vamos embora!

(...)

Os dias daquela semana se sucederam cinzentos. Pelo menos para mim tudo estava cinza, sem cor, sem graça, solitário... Os pesadelos só pioraram a ponto de me deixarem dois dias seguidos sem dormir só para não ser invadido por aquela cena da Laís beijando aquele filho da... Você entendeu. Mas dormir ou ficar acordado, dava no mesmo, a todo momento eu lembrava daquilo, e eu já estava prestes a enlouquecer. Eu precisava encontrar algo para me distrair. Esquecer esse martírio. Será que o Thiago ainda morava nas redondezas? E será que ele ainda mantinha o título de rei das festas? Pois ele não perdia uma festa sequer, estava em todas, pegava todas. Talvez ir a uma festa, beijar alguma desconhecida qualquer fosse a solução para a dor que insistia em continuar maltratando meu coração.

— Alô? - pergunto, torcendo para que esse Thiago fosse O Thiago, meu amigo, pois eu já estava perdendo as esperanças de encontrá-lo na lista telefônica.

Thiago: Alô! Quem fala?

Sua voz continuava a mesma. Grave.

Eu: Fala, Thiagão!!

Thiago: Lucas? É você? Não acredito. É você mesmo?

Eu: O próprio. Quanto tempo, cara!

Thiago: Verdade. Você sumiu do mapa, cara. O que aconteceu? Cansou da nossa cidadezinha?

Contar sobre a viagem no tempo o faria achar que eu estava enlouquecendo. Por isso, tive de mentir...

Eu: Não aconteceu nada... Apenas quis dar um tempo.

Ele pareceu entender que eu não estava confortável para falar daquilo.

Thiago: Entendi... Mas e aí, por que me ligou? Tá precisando de alguma coisa?

Eu: Estou bem, sim - menti de novo. - E aí, você ainda é o dono do título de reis das festas? Tava afim de me divertir um pouco...

Thiago: Não vou mais a tantas festas como antes, mas... de vez em quando surge uma festa aqui... outra ali... Inclusive, terá uma festa hoje na casa da Giovanna. Lembra dela? Ela era apaixpnada por você.

Eu; Lembro, sim - Ignorei o comentário sobre a Giovanna.

Thiago: Então fechou. Se quiser ir, é só aparecer lá em torno das onze da noite. Beleza pra você?

Eu: Beleza! Até mais tarde. Falou!

Thiago: Falou!

Por volta das vinte uma horas eu já estava debaixo do chuveiro me preparando para a tal festa. Após o banho, parei em frente ao espelho e vi que minha barba estava por fazer. Fiz a barba, vesti minha melhor roupa e logo já estava saindo para aquilo que seria obviamente uma tentativa falha de me distrair um pouco, mas não custava tentar.

— Não precisa me esperar. Estou com minhas chaves e não sei que horas volto - avisei a minha mãe quando já estava na porta, prestes a sair, sem dar tempo dela protestar. Eu ainda estava chateado com ela e acho que deu para perceber pelo modo que falei, não é? Mas somente o fato dela ainda implicar por eu amar a Laís já me causava uma certa revolta. Como se por acaso eu tivesse controle sobre o que sinto por ela.

Até parece que somos capazes de escolher a quem amar...

Por não ser muito longe da minha casa, fui andando mesmo até a festa. Em quinze minutos já estava lá.

— Lucas? Caraca! É você mesmo? O que aconteceu? Como é possível você está exatamente igualzinho desde a última vez que nos vimos há seis anos atrás? - Thiago me bombardeou de perguntas assim que me viu cruzar a porta da casa onde estava rolando a festa.

Thiago estava com um copo em uma das mãos, carregado de um líquido desconhecido por mim. Sua expressão estava divertida. Seja lá o que estivesse dentro daquele copo, com certeza era alcoólico. Foi estranho vê-lo novamente. Na verdade, foi estranho reencontrar com todos meus antigos colegas de colegial, que também estavam na festa, pois agora estavam todos adultos e somente eu continuava igual quando todos tinham dezenove anos.

— Não aconteceu nada. Já disse. Deve ter sido apenas minha viagem que fez bem para minha pele facial - brinquei.

Thiago gargalhou e me puxou para dentro, me apresentando a todos que ali estavam. A música estava muito alta, mas as pessoas pareciam não se importar. Uns se beijavam nos cantos, outros bebiam, outros dançavam, outros dançavam bêbados agarrados em suas garrafas. E eu, eu fiquei apenas observando todas aquelas pessoas ao meu redor, sentado, encolhido no sofá, me sentindo um peixe fora d'água.

Eu estava desconfortável demais para continuar naquele lugar. Por isso, me levantei para procurar o Thiago para agradecer pelo convite e que eu já estava de saída. Não fazia sentido continuar ali. Rodei por todos os lados e não o encontrei e eu já estava cansado de procurar. Outra hora eu agradeceria. Quando já estava prestes a cruzar pela porta para ir embora, o motivo de eu estar ali, naquela festa, cruzou a porta antes de mim e se chocou comigo.

— Lucas? - seus olhos verdes quase saltaram para fora de suas órbitas após se recompor do choque entre nossos corpos. Em seu rosto era visível toda sua confusão, um verdadeiro abismo de questões.

Aquele com certeza foi o momento que mais esperei, estar frente a frente com ela, face a face. Mas, infelizmente isso aconteceu nas circunstâncias erradas. Era impossível olhar dentro de seus olhos e não enxergar a cena dela se beijando com aquele cara. Talvez minha mãe tivesse razão... Ela já havia seguido em frente, e eu não tinha o direito de estragar isso. Não tinha o direito de voltar para sua vida, assim, do nada, como uma fênix que ressurge das cinzas. Por isso... Eu tive de fugir.

Nossos corpos estavam praticamente colados e desta vez sua expressão havia mudado de confusão para algo como contemplação "Meu Deus... É você mesmo." ela disse devagar, como se realmente estivesse me contemplando e isso fez eu me perder em seu olhar... Minha vontade era de beija-la e levá-la dali para algum lugar para nos amarmos até que toda saudade que sentimentos um do outro deixasse de existir. Mas seu toque delicado em meu rosto com a ponta de seus dedos me fez despertar do meu estado de torpor e cair na realidade. Uma realidade cruel. Ela agora estava comprometida e não era comigo.

— Desculpa, mas eu não sou esse Lucas que você está falando. E-eu... Eu preciso ir agora - então eu passei por ela o mais rápido que pude e juro que, por um instante, senti o cheiro do mesmo perfume que ela estava usando naquela mesma noite da viagem.

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