Capítulo Dois

Adam Lewis

Eu sentia a adrenalina percorrer minhas veias devido à corrida matinal, uma rotina que tinha em Massachussetts e fazia questão de manter todas as vezes que vinha para cá. Diminuo as passadas ao avistar a casa onde cresci e vivi os melhores anos da minha vida. Todos os anos, tiro férias em dezembro para passar as festas de final de ano com meus pais e com meus avós.

Cheguei ontem bem tarde, peguei a chave embaixo de um vaso e entrei, desabando logo em seguida depois de dirigir algumas horas.

Assim que paro em frente a casa, passo uma das mãos em meus cabelos úmidos, sei que estão despenteados pelo exercício e percebo que eles estão precisando de um corte, deixando essa questão de lado, por enquanto, adentro o hall no mesmo instante que Sônia vai passando.

— Bom dia menino, quando chegou?

— Bom dia Nina — retribuo seu cumprimento com um beijo na testa. — Cheguei ontem, muito tarde, não quis chamar ninguém, entrei com a chave do vaso.

— Sei, agora saia, está todo suado, vá tomar um banho para tomar seu café — sorrio quando ela ralha comigo. Mesmo fazendo 2ºC, o ritmo imposto por mim, me fez transpirar bastante. — Adam Lewis Richardson, você continua um menino levado.

Sônia está trabalhando com meus pais desde que eu era um bebê e mesmo depois de homem feito, com meus 28 anos, ela ainda me chama de menino.

— Onde eles estão?

— Onde mais eles estariam essa hora da manhã? Na sala de refeições e na mesma implicância de sempre. Seus avós ainda não desceram.

— Obrigado. Vou subir e já venho — dou-lhe mais um beijo, ela tenta me bater, me esquivo e vou para as escadas, subindo de dois em dois degraus.

Sorrindo, sigo para o quarto, pensando na saudade que sinto daqui, mesmo gostando da minha vida independente, este sempre será o meu lar.

Foi aqui que cresci cercado de amor, ouvindo as histórias de aventura e amor dos meus avós.

Ele era um caixeiro-viajante, que vivia de cidade em cidade vendendo seus produtos, segundo ele, um dia, encantou-se com a beleza de uma jovem que viu numa praça, e sem que ela soubesse, procurou saber quem era seu pai e pediu sua mão em casamento. Minha avó ficou furiosa com sua audácia naquela época, deu um pouco de trabalho, mas por fim, se rendeu aos encantos dele. Ele continuou com sua vida de caixeiro, sempre com ela ao seu lado, porém, com a chegada do primeiro filho deles, meu pai, eles escolheram um lugar para se fixar e meu avô abriu sua primeira loja e assim nasceu a The Dream Lewis. Ainda tiveram um segundo filho, que faleceu ainda jovem em um acidente aéreo.

Hoje, aposentado, meu pai é quem está à frente de tudo por aqui e sempre que posso dou uma força.

Já os meus pais, se conheceram na faculdade e logo eu nasci. Eles implicam um com o outro quase que o tempo inteiro, mas não se largam. Amam-se acima de tudo. É um amor daqueles que não se vê com frequência por aí, apenas em filmes. Um tipo de amor que eu acredito, mas que acho, não seja para mim.

Não sei se por ser filho único; ou se porque eles formaram família logo cedo, o fato é que vivem me cobrando uma esposa e filhos. Meus avós dizem que só partirão tranquilos, quando mimarem muito os bisnetos e souberem que tenho minha própria família.

Enquanto tomo banho, penso que quero manter as coisas como estão. Eu pretendia continuar com minha vida de solteiro por um bom tempo ainda.

Vivo muito bem em Northampton, onde possuo um bom apartamento. Cuidando dos negócios da filial de lá e quando não estou atrás de uma mesa fazendo contas, estava enfiado no meio das pernas de uma bela mulher. Não ligo para a fama de mulherengo que tenho, afinal, sou jovem, rico e solteiro. Todos os encontros são apenas para satisfação carnal, sem nenhum envolvimento emocional.

Pelo menos é assim desde aquela noite... A única em que me senti conectado intimamente com alguém.

Deixo os pensamentos de lado e depois de pronto, desço para encontrá-los e sorrio mais uma vez ao ouvir o murmúrio habitual das vozes dos dois encrenqueiros.

— Você está ficando um velho muito teimoso.

— Eu sou muito jovem ainda e você continua implicante.

— Qual o motivo da discursão agora? — pergunto entrando na sala, meu pai que estava com o jornal aberto em sua frente, abaixa imediatamente.

— Adam, meu filho. Que bom que chegou — minha mãe diz abrindo um sorriso.

Com seus 48 anos, ela esbanja elegância e sempre chama a atenção por onde passa, o que deixa meu pai de orelha em pé de ciúmes.

— Bom dia! — dou um beijo em sua cabeça e depois na do meu pai e me sento. — Então, qual o motivo dessa discursão logo cedo?

— Seu pai que é muito teimoso — diz me estendendo o queijo. — Imagine que ele está apoiando as ideias malucas do seu avô, que quer repetir a loucura do ano passado e substituir o papai Noel contratado pela loja e ficar horas a fio ouvindo os pedidos das crianças.

— Sua mãe que está cada dia mais implicante — rebate. — E não entende que este ano será diferente, eu serei o papai Noel...

— Tudo isso é culpa sua... — diz meu avô entrando no ambiente.

Levanto imediatamente para puxar a cadeira para minha avó que está ao seu lado e respondo.

— Minha?

— Isso mesmo. Se me desse um bisneto, eu não precisaria me distrair com as crianças dos outros e nem o seu pai.

Reviro os olhos. Começou cedo...

— Não ligue para ele, meu querido. Embora queira muito um bisneto, prefiro que seja quando você encontrar um amor de verdade — isso está difícil de acontecer – penso. — Venha me dar um beijo e sente-se para terminar sua refeição.

Apesar dos seus 70 anos, minha avó tem uma fisionomia que faz com que pareça surpreendente jovem e seu espírito alegre, contribui para isso.

— Sem essa meu velho — faço o que ela disse e sorrindo, aponto o dedo para ele. — Você faria isso de qualquer jeito, mesmo se tivesse dez crianças correndo pela casa. Vi como se empolgou ano passado e como interagia com aqueles pirralhos. Você adorou aquilo.

O brilho em seus olhos me dizia que eu tinha acertado em cheio.

— Ainda sou jovem e aguento muito rojão. Mas, por causa daquele médico de uma figa, o Stuart vai em meu lugar...

Ele fala do Dr. Brent que é o médico da família há muito anos.

— Mas existe algum impedimento para que não possa fazer isso esse ano? — questiono.

— Papai tem se cansado com mais facilidade.

— Besteira... — resmunga.

— Diga isso ao respirador — minha avó lança um olhar severo em sua direção.

Olho para ele querendo entender, respirador? Desde quando?

— Foi uma vez só e apenas porque cometi a tolice de pegar um charuto do seu pai, escondido, e acender — diz olhando para mim.

— Então ele teve um acesso de tosse e o médico o proibiu de fazer qualquer esforço — minha mãe conta.

— Ele sabe, mas é teimoso...

— Mas agora está tudo resolvido. Assunto encerrado — meu pai fala, evitando mais discursões. — Eu serei o papai Noel.

Aquele assunto encerrou-se, porém, o café se seguiu com os meus avós ralhando um com o outro, igualzinho aos meus pais. Eu os observava calado, me sentindo finalmente em casa.

Ao final da refeição, seguimos para loja, meu avô fez questão de ir, pois tinha algo que queria me mostrar. Quando chegamos, olhei para a enorme construção com o nome Lewis imenso na fachada, além dos quatro andares que fazem o prédio parecer um shopping, ainda conta com uma ampla área externa, com estacionamento, três locais com atividades de lazer para as famílias locais e alguns turistas que passam pela cidade e um restaurante. Atualmente temos 230 departamentos bem distribuídos e aproximadamente mil funcionários, ou seja, boa parte da população trabalha conosco.

— Querido, vejo você daqui a pouco no escritório — minha mãe fala comigo. — E o senhor, nada de se cansar muito ou minha sogra briga comigo.

Ela se afasta e meu pai fala.

— Vou deixá-los um minuto e já volto.

Aceno que sim e viro para meu avô que vai logo falando.

— Venha, quero que veja o local onde pretendo fazer uma vila do papai Noel, para divertir as crianças, o projeto já está pronto e começam a montagem amanhã.

— Vila? Suponho que minha avó não saiba desse seu plano e que estão tão adiantados.

— Saberá amanhã... — sorri matreiro e eu o acompanho. — Seu pai sabe e aprovou tudo. Está tão empolgado quanto eu, quem sabe você não dê continuidade a isso no futuro.

— Eu não tenho jeito para isso e muito menos com crianças.

— Quando tiver os seus, aprenderá a ter, agora venha.

Andamos em direção a um local, à esquerda do estacionamento, que estava com uma fita amarela de plástico demarcando toda área que seria usada.

— Estive pensando em fazer um local para o papai Noel aqui, mas descartei a ideia, visto que a temperatura pode cair e como esperamos neve, o melhor é que seja lá dentro mesmo.

— Concordo.

Depois de vistoriar o local, seguimos para uma sala no térreo do prédio, meu pai estava lá. Vovô me mostrava com toda empolgação, cada detalhe do projeto. Analisei o cronograma e pelos meus cálculos, se tudo sair de acordo, até primeira quinzena, tudo estará pronto, tinha que estar ou não faria sentido.

— O que achou? — pergunta em expectativa.

— Perfeito. Vai ficar muito bom.

— Eu também acho. E o principal, vamos trazer um pouco de magia para o Natal de crianças, jovens e adultos — meu pai responde.

— Está um velho muito sentimental, meu pai.

— Mesmo sem demonstrar, tem muitas pessoas que se sentem só, ainda mais nessa época do ano — meu avô completa.

— É verdade — digo o abraçando pelo ombro quando deixamos a sala, e me pergunto se eles já se sentiram assim alguma vez.

Meu avô continua falando.

— Temos que compartilhar o amor e deixar o milagre acontecer — ele olha para uma família que está em frente a uma vitrina de doces. — Pensando nisso foi que resolvi que nesse mês, como as crianças estão de férias, tenho muitas funcionárias que são mães de crianças pequenas e se veem no dilema de não ter com quem deixá-las, sendo assim, teremos uma creche especial de Natal.

— Sabe que vai ter um custo tudo isso — digo.

— Sei. E o pessoal da contabilidade já falou com seu pai, eles que se danem. Começamos a funcionar em uma semana — paramos em frente ao elevador. — Mais do que entreter, esse projeto dará as crianças acesso direto a vila e elas terão atividades com o propósito de incentivá-los a conhecerem o verdadeiro espírito do Natal, estimulando a formação de bons hábitos e o respeito às crenças, aos sentimentos alheios e à religiosidade de cada um e, além do mais, estimula a socialização deles, enquanto os pais trabalham cientes de que seus filhos estão seguros e bem próximos.

— E as crianças da creche ainda vão ensaiar para formar um coral infantil e se apresentarem no dia de Natal — meu pai completa.

— E viva a magia do Natal — falo brincando...

Continua...

Adam seu lindo 😍😍😍😍 muitos suspiros do lado daqui e daí?

Ele também não esqueceu aquela noite e agora ambos estão na mesma cidade... O destino gosta de brincar né?

Beijos e até mais.

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