– E aí? – Perguntou Derek, todo ansioso ao ver seu esposo retornar – Terei que chamar a ambulância? Afinal, a Senhora Black já está bem velha...Espero que você não tenha causado um ataque cardíaco nela...

– Ela escapou. Está doente. – Respondeu sentando ao lado do lobisomem – Mas encontrei Petúnia, a estagiária.

– E...?

– Acho que você devia mesmo chamar uma ambulância. Posso ter me excedido um pouco. – Disse em um tom sério, sem fitar o outro nos olhos.

Derek franziu o cenho, claramente preocupado.

– Isso é sério?

Stiles gargalhou e deu um tapa no ombro do seu marido.

– Até parece, Der! Você devia ter visto a sua cara!

Derek rolou os olhos, já devia estar acostumado com as traquinagens de seu humano.

– A Petúnia pediu desculpas e falou algo sobre compensar seus erros na peça...Sei lá... A verdade é que esse assunto não terminou. A professora Black terá que pagar.

– Lógico, mas não vamos estragar a nossa noite... Se Petúnia disse que iria tentar concertar as coisas, então vamos dar essa chance. Além disso, Tyler estava tão animado com essa peça.

– Verdade. Só quero que ele tenha uma noite inesquecível.

Ao terminar a sua fala as luzes do teatro se apagaram e sineta foi tocada indicando que se daria o inicio da peça. As cortinas foram abertas e as crianças fantasiadas entraram no palco. Stiles notou a ausência de Tyler e Noah. Será que isso fazia parte da tentativa de concerto por parte de Petúnia?

Era naquele momento que ele via o quanto a paternidade o havia mudando. Ora, se o Stiles do passado estivesse ali, teria morrido de tédio assistindo uma peça envolvendo crianças fantasiadas de bichinhos falantes que esqueciam suas falas e não tinham, em sua maioria, noção de interpretação do personagem! Nenhum deles ganharia um Oscar, isso era um fato, mas... Stiles do presente não perderiam nenhuma apresentação do seu filhote, por mais bobona que essa fosse. Já perdera a conta de quantos desenhos infantis teve que assistir desde que Tyler adentrou em sua vida. Desenhos em que o personagem tenta quebrar a quarta barreira e ficam falando com o espectador... Aquilo dava um tremendo calafrio em Stiles, pois era muito estranho! E as músicas de ninar? E as noites que passou em claro? As vezes que esquecia de si próprio para pensar no que o seu filho queria. Talvez o Stiles do passado não entendesse, mas o Stiles do presente não trocaria esse novo estilo de vida por nada.

– Ué...Quando é que Tyler vai aparecer? – Questionou Derek, ele estava segurando uma câmera digital e filmava tudo como um bom papai coruja que era.

– Pois é... – Stiles cruzou os braços e esperou. A história da peça era o cliché clássico natalino. Amar ao próximo, deixar o materialismo de lado, descobrir o verdadeiro sentindo do Natal...Blá Blá Blá. Stiles já tinha ouvido isso desde a tenra infância. Ele até entendia a lógica de repetir aquele discurso politicamente correto, mas o que adiantava ficar passando essa mensagem se ninguém parecia, de fato, entender? E se entendesse, não devia ser algo a ser aplicado em apenas um dia do ano! Ora, só uma vez ao ano você irá praticar a caridade? Tolerar o próximo para não meter uma voadora? Tentar ser o bonzinho? Isso não era correto! Era pura falsidade...

A peça continuou até o ápice em que todas as crianças agradeceram a plateia que aplaudiu como fosse uma verdadeira peça da Broadway. As cortinas se fecharam...

– Mas aonde está o Tyler? E o Noah? É assim que ela pretende concertar as coisas? Excluir de vez os excluídos? – Stiles estava pronto de começar uma guerra.

– Espera... – Derek tentou conte-lo, mas quando Stiles explodia, era melhor sair de perto.

– Não diga para eu esperar! Eu vou trucidar alguém! Juro!

– As cortinas! – Indico o lobisomem ao seu raivoso esposo. Às vezes, Stiles parecia muito mais um lobo feroz que o próprio Derek.

De fato, as cortinas se abriram novamente e Petúnia, vestida uma fantasia verde de ajudante de Papai Noel (com direito a orelhas pontudas e tudo), detinha o microfone na mão.

– Boa noite, pessoal! Por favor, não se levantem, pois, a peça ainda não acabou! – Anunciou a garota – Na verdade, guardamos o melhor para o final, mas antes uma mensagem importante. Sei que a peça que seus filhos apresentaram foi maravilhosa...Eles foram formidáveis! Contudo, não basta encenarmos uma linda história natalina que prega o amor e a fraternidade se nós, adultos, não praticamos essas virtudes em nosso dia-a-dia. Acho que esse dia do ano é o momento que paramos para refletir nossas ações, independente da religião que sigamos ou o que acreditamos. Devemos parar e pensar o que queremos para o nosso futuro... E para o futuro de nossos filhos. E não falo em estudo e carreiras. Não. Falo que mundo queremos que nossos filhos vivam. Vocês acham correto que atitudes preconceituosas se perpetuem? Que eles viviam em uma sociedade que os oprime e os julguem antes mesmo de lhes dar uma chance? Isso é justo?

Um silêncio constrangedor se alastrou pela a plateia. Stiles estava boquiaberto, Derek voltou a filmar.

– Bem... – Petúnia pigarreou – Como disse, a peça ainda não acabou... Que Entre os personagens principais!

Com o comando dela dois garotos entraram no palmo, um mais animado e outro tímido, arrastando os pés. Um usava uma fantasia de árvore de natal, todo os enfeites característicos, além de uma grande estrela amarelada no topo. O outro estava fantasiado de papai-noel e carregava até um saco vermelho. A árvore era Tyler e o mini-Papai-Noel era o Noah.

– Essas são os símbolos natalinos, conhecidos principalmente pelas crianças. Eles vieram aqui para entregar lembranças aos seus colegas de classe...

Ao ouvirem essas palavras, as crianças gritaram animadas. Muitas correram em direção a dupla de garotos.

– Mas vocês devem agradecer aos seus amiguinhos, afinal, quando vocês estavam na peça, eles dois estavam me ajudando a arrumar as lembranças de natal. Fizeram isso pois desejavam comemorar junto com vocês essa data maravilhosa.

Sarah foi a primeira a tomar a iniciativa, foi para perto de Noah que lhe entregou uma lembrança (um pacote de doces e biscoitos) para a menina.

– Obrigada, Noah e Tyler. – Disse bem alto.

– Ei! Eu sou uma árvore de natal agora... – Reclamou Tyler fazendo biquinho – Não revele a minha identidade secreta!

– Ho Ho Ho – Disse Noah fingindo ser o bom velhinho. Apesar da barba de mentira escorresse de sua face.

Sarah riu e rolou os olhos.

– Desculpe, senhora árvore e senhor papai-noel.

– Senhora? Mas eu sou um menino! – Tyler franziu o cenho.

Isso fez com que as crianças rissem e até mesmo alguns adultos. E assim outras crianças também se aproximaram para pegar seus presentes. Cada um agradecendo Tyler e Noah. Os adultos observaram, se alguém queria interver na brincadeira não o fizeram. A animação e alegria pura dos pequenos imobilizou qualquer argumento contrario da interação dos filhotes humanos com o único filhote sobrenatural da turma. Deve ter ficado mais que evidente que Tyler era, independentemente de sua raça, uma criança e como tal só queria brincar e fazer novos amigos.

– Tyler parece estar se divertindo. – Comentou Derek fungando, ainda filmando a cena.

– Der...Você está chorando? – Perguntou sentindo seu coração se derreter ao ver o grande Alfa lobisomem com lágrimas rolando de sua face.

– Só foi um cisco no olho. Não é nada. – Respondeu em um resmungo.

– Aham. Voi fingir que acredito. – Stiles deu um leve beijo na bochecha do marido. Petúnia realmente arrasou, conseguiu fazer as crianças interagirem com Tyler e Noah, além de dar uma lição de moral nos adultos. O preconceito não é algo genético é algo que é absorvido do meio a qual as crianças estão inseridas. Se desejamos um futuro diferente, devemos implantar a semente da mudança na próxima geração.

Aí sim está uma verdadeira lição natalina.

~**~

– Eu disse que ser uma árvore era legal! Você viu, papa? Como eu estava? – Dizia o afoito filhote pulando no sofá. O retorno a casa foi um tagarelar constante do pequeno coiote sobre sua aventura sendo uma árvore de Natal. E isso continuou até o dia seguinte, 24 de dezembro... Já era noite e o assunto da peça sempre retornava.

– Eu vi. Esqueceu que eu estava na plateia? – Inqueriu Stiles acendendo a lareira da sala, as luzes de natal da árvore (uma verdadeira e não uma fantasia) estavam ligadas e piscavam, iluminando de forma colorida o ambiente.

– E...Eles não ligaram quando eu espirrei e...Me transformei...Até tocaram na minha cauda! – Falou saltando do sofá para outra poltrona. Sua energia parecia que não iria se esgotar tão cedo, ainda mais quando comeu todos os doces de biscoitos da lembrancinha preparada por Petúnia.

Stiles sorriu, se sentia aliviado pelas crianças terem aceitado Tyler. Quiçá ano que vem a vida escolar do seu filhote melhorasse. Haveria novas Senhoras Blacks no futuro, mas Stiles e Derek iriam lutar com garras e dentes para proteger seu filhote, para que aquele sorriso não apagasse da face do pequeno coiote.

– Noah também ficou feliz...Até os garotos que riam dele o trataram bem.

– Fico muito feliz por isso e...Opa! – Conseguiu capturar o saltitante filhote antes que esse pulasse para outra poltrona – Que tal você se aquietar? Pensei que estava ansioso para abrir os presentes!

– Mas...Só vamos abrir depois de comer o Peru. – Disse fazendo biquinho.

– Acho que esse ano poderíamos adiantar o ritual, o que acha?

Os olhinhos do garoto brilharam de alegria.

– Presentes! – Exclamou escorregando dos braços de Stiles e indo para debaixo da árvore de Natal.

– Você tem certeza? – Derek falou, vindo da cozinha, usando avental. Ele era o cozinheiro oficial da família, afinal de contas.

– Ele sempre fica sonolento depois da ceia, as vezes adormece enquanto está abrindo um presente.

– Isso você tem razão. – Riu o lobisomem.

Os dois observaram Tyler abrir de forma quase que selvagem um pacote só para descobrir...

– Um sabre de luz! – Exclamou maravilhado.

– Agora você já pode ser um guerreiro Jedi. – Piscou Stiles.

– Só espero que ele não destrua a casa com essa arma. – Comentou Derek vendo o seu filhote já ensaiando golpes no ar com o seu novo brinquedo, quase derrubando a árvore de Natal...

– Não seja um estraga prazeres, sour-wolf. Alias, eu comprei um sabre de luz para mim também! Não é só o Tyler que será um guerreiro Jedi!

– Isso não me surpreende, seu geek.

– Como se você não tivesse comprando a nave Millenium Falcon de Lego, para montar. Aquilo tem mais de mil peças! Seu Geek louco. – Disse dando soquinho no ombro do seu marido.

Derek apenas deu os ombros e sorriu.

– Papa Wolf! – Tyler veio correndo da árvore com um presente nas mãos – Esse é seu! Tem o seu nome escrito nele!

– Um presente? – O lobisomem aceitou o pacote desconfiando, olhou de relance para Stiles, mas esse tinha resolvido se concentrar em beberica sua caneca de chocolate quente.

– O que é? O que é? – Inqueriu o menor, curioso. Derek se sentou no sofá e Tyler se sentou ao seu lado.

– Vejamos. – Ele retirou a tampa da caixa colorida para encontrar uma espécie de objeto em formato retangular alongando. Derek quase deixou a caixa cair de suas mãos.

– O que é isso? – Tyler franziu o cenho.

Com delicadeza, Derek pegou o objeto, no meio deste havia um display digital a qual duas tiras vermelhas verticais eram exibidas na tela.

– Papa Wolf? – O menor ficou preocupado com a falta de resposta do outro.

– Isso... – Pigarreou o lobo – É um teste de gravidez, Tyler.

– Ah... – O menino tombou a cabeça para o lado, ainda sem entender.

– Ele analisa o xixi do seu papa...

– Eca! – Interrompeu o menor fazendo cara de nojo. Derek sorriu, mas continuou sua explicação.

–...Buscando por um hormônio que indique que ele...Bem...

– Tyler. – Interpôs Stiles vendo que o Alfa já estava começando a se emocionar, se ajoelhou na frente do seu filhote e falou:

– O que acha de ganhar um irmãozinho ou irmãzinha?

– Seria muito legal! Tipo, podemos brincar e eu poderia ensinar tudo que sei! Como amarrar os cadarços do seu tênis, eu já sei fazer sozinho!! E...E.., Podíamos brincar de super-heróis! Podia mostrar ele para o Noah e a Sarah! Eu podia levar ele para explorar o bosque comigo e o Scotty!

O cachorro que até o momento estava cochilando perto da lareira deu um latido animado ao ouvir o seu nome.

– Mas aonde está meu irmãozinho ou irmãzinha? Ele também é um presente de Natal? Está na árvore?

– Não. Ele ou ela está aqui. – Stiles apontou para a sua barriga.

– Você comeu ele?! – Tyler ergueu as sobrancelhas, claramente assustado com a possibilidade.

– Oh! Deus... – Stiles gargalhou.

– Campeão, os bebês crescem nas barrigas dos ômegas e de alguns alfas e betas. – Tentou esclarecer Derek.

– Sério? Uau! – Agora Tyler estava impressionado – E como ele entrou ali? Se o papa não o comeu...Então...Como ele foi para aí!?

– Er... – O lobisomem lançou um olhar desesperado para Stiles que ainda estava rindo e muito da situação.

– Depois explicamos isso. – Concluiu nervoso – Mas... O importante é que...Nossa família irá aumentar.

– Exatamente. – Concordou Stiles limpando as lágrimas dos olhos – Teremos mais um filhote para mimar.

Derek puxou o seu humano para o colo e o beijou, mas o momento não durou muito tempo, pois Tyler se intrometeu no meio também querendo compartilhar o colo do alfa.

– Eu amo vocês. – Declarou o lobisomem dando um beijo na cabeleira do seu filhote e depois na testa de Stiles.

– Isso significa que você gostou do meu presente? – Inqueriu o ômega risonho.

Derek assentiu abraçando os seus dois, ou melhor três amores que detinha em seus braços.

– Quero só ver a cara do Scott quando eu contar para ele, quando formos visita-lo em Beacon Hills, amanhã. – Sussurrou Stiles – Na verdade, todos irão ficar surpresos! Podíamos entregar o meu teste de gravidez embalados também para eles...Veremos quantas horas Scott irá gastar para ligar os pontos e concluir o que está acontecendo. Aposto que será mais de duas!

O lobisomem iria responde-lo quando ...

– Papa Wolf...Sinto cheiro de queimado! – Anunciou Tyler farejando o ar.

– O peru! – Exclamou Derek saltando do sofá, quase derrubando o filho e esposo no processo.

Stiles gargalhou novamente e Tyler o acompanhou, assistindo o desespero do Chef Derek em salvar a ceia.

Sem dúvida, aquele estava o melhor e mais especial Natal que a família Stilinski-Hale já tivera.

– Se não tiver peru podemos pedir uma pizza! – Sugeriu.

– Eba! Pizza! – Exclamou Tyler já correndo para pegar o telefone.

– Pizza no Natal? Isso não é meio...Peculiar? – Gritou Derek da cozinha envolta em fumaça.

– E daí? Gosto de coisas peculiares! E se é para jantar Peru...Mais tarde, quando formos dormir, posso até comer um delicioso Peru no nosso quarto.

– Você tem um peru no seu quarto, papa? – Tyler perguntou.

– Stiles... – Alertou Derek.

Stiles apenas riu e Tyler continuava a pergunta-lo sobre o tal Peru, para o desespero do já embaraçado lobisomem.

Sem dúvida, aquele estava o melhor e mais especial Natal que a família Stilinski-Hale já tivera. 

~~**Palavras da autora**~~

Agora sim acabou! Espero que tenham gostado dessa história e dessa fofa família! 

Queria deseja-los a todos um feliz natal e um próspero ano novo!

Apesar de todos os problemas que todos enfrentamos e dos retrocessos que o Brasil está vivendo, que lutemos sempre pelo o que acreditamos e por aqueles que amamos!
Beijos!