💔Capítulo V: Gardênia💔

U̷m̷ Minu̷t̷o̷ P̷a̷r̷a̷ F̷i̷m̷ d̷o̷ Mun̷d̷o̷

Sorria marotamente para o irmão das trevas, compreendendo que ceder favores era seu vício e entretenimento, que tinha passado tempo demais sem esse divertimento e, também, como poderia propor algo para Agust D em que o tédio no qual vivia ao torturar almas fosse sanado e abatido.

Mais do que isso, negociaria algo que a Morte desejava, mas nem por isso era algo que teria efeitos positivos na existência do anjo mortífero. Criaria um acordo e uma recompensa, mostraria para o anjo com as asas negras que a vida é mais divertida nos limites de uma escolha difícil. Provaria que sempre temos escolhas e que, na maioria das vezes, o que desejamos não é algo necessariamente bom.

O Tinhoso era mais novo que o irmão, mas nem isso retirava a prepotência de se achar, sempre, mais inteligente que ele.

– Em teoria... – a rouquidão da sonoridade de Lúcifer preencheu o tempo congelado, substituindo o tom estridente de minutos atrás – é impossível um ser humano ser um imortal, entretanto, posso tentar abrir uma exceção – criar expectativas para, em seguida, quebrá-las de maneira cruel era um hábito do capeta.

O ar rarefeito causava um sofrimento que beirava a linha tênue entre o suportável e o insuportável, mas nem isso, ou o garoto de cabelos castanhos paralizado a sua frente, tomava a atenção de Azrael. Assim, a Morte respirou fundo, resgatando de seus sonhos as esperanças do reino Sandman*. Negociaria com o Diabo.

– E na prática? – teve a audácia de perguntar e o demônio aproveitou a oportunidade dada com um ar de satisfação e arrogância ao levantar a ponta do nariz e endurecer os músculos da face.

– É outra história... mas – Jimin ergueu o dedo indicador indicando a necessidade de mais atenção por parte de Agust D, este olhava o irmão celestial com os olhos vidrados e sem piscar – mas... preciso impor uma condição – o anjo mortífero suspirou, sabia que algo terrível veria com isso. O irmão arregalou os olhos, não era de seu feitio negociar com o rei do Inferno. Mas, na situação atual, não parecia haver muitas alternativas.

– Me diga qual.

– É contra a ordem natural do universo um humano ser imortal nessa realidade criada por Deus. Mas eu posso criar outra, contudo, precisaria ser semelhante a um círculo infernal, única espécie que tenho capacidades de construir. Resumindo a ópera rock, para fazer Hoseok eterno e permitir que você conviva com ele, é preciso que a alma do garoto sofra as consequências de um ciclo do Inferno.

– Como?! – que condições terríveis eram aquelas? Como Lúcifer poderia falar tal absurdo de forma tão calma?

Agust D sabia que viria uma imposição cruel, mas para Hoseok? Achou que ele mesmo, o anjo do fim, seria punido e... até que fazia sentido. Até porque a tortura de sua alma favorita era digna de ser chamada de punição celeste. Se o garoto vivesse em uma espécie de Inferno, com toda certeza o anjo da Morte também se sentiria em um, já que amar é, acima de tudo, ser feliz pela felicidade do outro ou, neste caso, se sentir medíocre e infeliz pela infelicidade do outro.

Mas outro sentimento também tomava a criatura das trevas, um que chutava o amor com tanta força que o estava matando aos poucos...

– É simples, meu caro irmão – o capeta prosseguiu – Jung só pode ser imortal em uma realidade na qual a essência dele sofre pelos pecados. Não sou Deus, sou o Diabo, apenas tenho sabedoria necessária para criar círculos infernais, aqueles que fazem os humanos sofrerem psicologicamente ou fisicamente seus traumas.

– A condição é essa?! O garoto sobrevive entre aspas e sua alma sofrerá no Inferno?

– Não seria exatamente no Inferno, já que você não tem condições de ficar muito tempo lá, mas seria algo bastante semelhante. E respondendo sua primeira questão: essa não é a condição principal.

– E qual, então, seria?! Não posso permitir que ele seja torturado por toda a existência! Não posso escolher isso para ele! – Min Yoongi alimentava o amor dentro do anjo, já Suga... regava outro sentimento tenebroso que cogitava aceitar tal acordo.

– O que te resta, além disto, é a morte do menino e... sabe muito bem que depois deste momento, você nunca mais o verá. Não existirá mais com ele.

– Eu...

A voz de Agust D foi interrompida por um som arrastado e que durou três segundos, parecia muito com um trovão, fora o fato de que o estrondo repercutiu vagarosamente como um soco mudo na madeira. A melodia fúnebre que soou no ar fez o anjo e o capeta olharem para os céus e puderam notar como, de forma lenta e extremamente sutil, as nuvens tomavam a cor negra, pingos vermelhos se aglutinaram na atmosfera e começavam a cair devagar.

O primeiro a chegar, enfim, perto da superfície estacionou na bochecha daquele com as asas pretas e translúcidas; enquanto o loiro com camisa social branca suspirava entendendo que o tempo estava para acabar. A Morte tocou o rosto com as pontas dos dedos ossudos, limpou o líquido gosmento e escarlate, encarou a pintura na digital e juntou as sobrancelhas.

– Sangue? – sussurrou mais para si mesmo do que para o demônio a sua frente.

– Infelizmente, sim... essa é a primeira peste ou maldição que cai do céu quando o apocalipse está prestes a acontecer, não sei porque na Bíblia fala que tem sete cavaleiros e gafanhotos... bicho asqueroso – o Tinhoso fez uma careta de nojo e estremeceu o corpo num arrepiou após explicar de forma extremamente calma o que estava acontecendo. Agust D nunca tinha visto o apocalipse começar, já Lúcifer...

– Achei que o apocalipse apenas aconteceria quando todas as realidades estivessem colapsando.

– E estão – o capeta colocou as mãos para trás e começou a estralar os dedos, começava a ficar ansioso, não havia muito tempo para mais conversa.

– Por que? Por que salvei Hoseok?!

– Como disse a teoria do caos uma vez, o simples bater das asas de uma borboleta pode mudar a previsão climática. Achou mesmo que alterar o elemento do tempo em si dentro de uma realidade não causaria nada nas outras? Alguma vez, por acaso, voltou no tempo para entender as consequências imprevisíveis que isso pode causar?

– Mas foi somente um minuto e... – Lúcifer interrompeu o irmão.

– Não temos tempo, há menos de um minuto para o fim do mundo se não resolvermos a presença desse vivo mortal aqui... – Jimin apontou a cabeça para o garoto com os olhos semi-abertos e cabelos castanhos.

– Um minuto?!

– Não foi esse tempo que você voltou para salvar essa... coisa?! – o diabo falou olhando com desprezo para o adolescente de pele lisa, cabelos bagunçados, olhos estreitos e rosto oval.

– Sim... – Agust D sussurrou olhando com afeto para Hoseok.

Por um lado, queria aceitar a proposta do capeta, por outro, desejava que a alma do mortal seguisse o percurso natural: morte, purgatório e, depois, céu ou inferno. Com aquela luz que brilhava em harmonia com a resiliência e simpatia, dificilmente achava que o menino fosse para o espaço de tortura rotineira que era o reino das trevas.

Min Yoongi resgatava a linha frágil do amor que restava em Agust D, enquanto Suga reforçava o novo sentimento cruel que surgia naquele corpo celeste. A briga entre as duas entidades sempre foi muito acirrada, só que, perante pressão e desespero, somente um deles ganhava... nesta guerra, só há um vitorioso.

– A condição é... – o demônio disse sem mais delongas, fazendo o anjo encará-lo desesperado – que você abdique de seu posto como anjo da Morte e, assim, deixe a responsabilidade de seu ofício a meu encargo – Agust D deu um riso de nervoso, não poderia acreditar no que ouviram sem antes sentir a irritação tomar-lhe a mente. Yoongi não se importou com tal condição, sua maior preocupação era o destino e segurança de Hoseok. Já Suga ficou enfurecido, como assim não participaria mais da destruição?

– Quantas almas você não vai concretizar a morte e levar diretamente para o Inferno ao invés do purgatório?! – Lúcifer soltou um riso fino e maroto com a pergunta, deu de ombros com o questionamento, desviou o olhar para o chão e, quando voltou a olhar a Morte, fechou o rosto, mudando as expressões da água para o vinho.

– Quantas eu quiser.

– Não posso aceitar isso. Destino** e Deus irão se enfurecer comigo!

– E isso é problema meu? – assim que terminou a frase, outra gota terminou de cair do céu e pintou de vermelho a face branca e amarela do diabo – seu tempo está acabando, Azrael...

As asas escuras seguiram a direção do movimento do corpo do anjo mortífero, iam de um lado para o outro a cada vez que a criatura trevosa virava o torso para encarar Hoseok e, depois, mirar o irmão caído com os olhos em desespero. Nem a destruição personificada, muito menos o Desespero ou o Delírio saberiam o que fazer perante tal situação complicada.

Tinha duas opções óbvias: aceitar o destino certeiro daquela alma, e ele nunca mais a veria, ou inseri-la em uma espécie de círculo do Inferno para que pudesse conviver com ela.

Parou de se mover, congelou o corpo físico e encarou o capeta pelos próximos segundos que poderia. "A função de Lúcifer em garantir o percurso das almas, isso não envolve assegurar a existência das realidades? Até porque... são nelas que os seres humanos vivem, pecam, morrem..." a Morte pensava, mas não sabia se poderia esperar até o último instante somente para ver se o irmão tomaria uma ação antes do fim do mundo.

Suspirou várias vezes, sentia o coração na boca e o martelar dos batimentos ecoavam os tambores da guerra de sua essência. Suga enlouquecia, Min Yoongi sentia-se encurralado, mas Agust D já havia decidido, em tão pouco tempo, o que fazer. Ainda bem que ele tinha o comando das ações do corpo, não colocaria tudo em risco apostando que Lúcifer estava, na verdade, blefado para o ver sofrer.

Não cogitando esperar a possibilidade de intervenção por parte do Diabo, Agust D profanou sua escolha, já que o tempo começou a acelerar aos poucos; a ave branca ao longe começava a tocar o par de asas; os carros da avenida voltaram a rodar com mais normalidade e, as gotas de sangue dos céus, começaram a tomar o cenário, preenchendo o ambiente em tons escarlates, fúnebres e grotescos.

A gosma do líquido composto de ferro e demais elementos orgânicos banhava a superfície de toda a Terra a cada segundo que da contagem regressiva do tempo acabava. O anjo da morte estava ensopado quando abriu a boca e berrou para o capeta atender a sua escolha, feita de forma tão egoísta e cruel que todos os seres dentro dele choraram de forma silenciosa, desejando que aquela frase não tivesse sido falada.

Suga venceu a dita guerra, já que o amor alimentado por Min Yoongi não foi suficiente diante do novo sentimento que tomava o cerne de Agust D: o medo, o terrível medo de não ter Jung consigo.

– Deixe Hoseok eterno! – o loiro sorriu com a resposta, o vermelho dos céus escorriam por sua face, gota por gota navegavam das testas a bochechas, destas para o queixo, o sangue chegava a preencher o tom prateado de seus cabelos e depositava no rosto do capeta um véu gosmento e tenebroso que estava quase completo ao cobriu até os dentes brancos.

Assim, Lúcifer criou a primeira realidade semelhante a um pedaço do Inferno, um lugar aparentemente comum, mas que continha situações e acontecimentos meticulosamente feitos para torturar uma alma em particular, a luz interna de Jung Hoseok.

Olhou ao redor e viu a flor branca que preenchia aquele espaço da Coreia do Sul, sorriu maliciosamente. Nomeou o que criou como Gardênia***, a mesma nomenclatura da flor branca e pura de origem asiática, já que o novo mundo foi baseado em um amor proibido entre um ser celestial e outro mortal. Nessa simulação criada pelo diabo, Agust D poderia viver com a pobre criatura torturada, pois deixou de lado o propósito e o motivo de sua existência.

Nunca mais o anjo da morte andou só e invisível pelas sombras, pois teria a companhia do garoto castanho para si, mesmo que isso custasse, cruelmente, a felicidade de ambos. Nunca poderia sorrir ao ver o mortal sendo torturado psicologicamente, mas escolheu isso mesmo assim.

Ao notar como, em prantos, optou pelo mal de Hoseok para que pudesse coexistir com ele, Azrael entendeu que a ardência que sentia dentro de si tinha sido amor, aquela palavra tão dita pelos humanos em canções sobre relações românticas ou não. Mas também aceitou, com remorso e uma intensa culpa, que o mesmo sentimento tinha transmutado.

Quando a impotência e o medo preencheram o interior do anjo mortífero, antes de um minuto para o fim do mundo, ele imaginou sua vida sem o garoto e não pôde suportar aquela visão. A guerra entre Min Yoongi e Suga tinha um vitorioso: o guerreiro da destruição e não o pedaço celestial que transborda a vida.

Ao seguir em direção ao benefício próprio – não ser totalmente sozinho e com uma pessoa que admirava, Agust D negou a felicidade do outro, colocando sua carência acima disto. Assim, o amor que tinha se transformou e, agora, era somente a pobre, maligna e triste dependência emocional.

💔💔💔
Notas de rodapé:

*Sandman é uma referência ao universo criado por Neil Gaiman.

**O nome Destino é uma referência ao personagem de Neil Gaiman.

*** Gardênia é uma planta originária da África, sul da Ásia e Oceania com flores que variam do tom branco para o puro nevado e até creme. Ela pode significar pureza, sinceridade, doçura e também ser o símbolo de um amor proibido (nota de rodapé repetida).

E aí, meus amores! Curtiram?
Espero que sim!
Agradeço de coração por ter lido até aqui!

E, antes de colocar o recado de sempre, gostaria de falar que este conto é uma "espécie de prólogo" de um livro muito maior! No enredo da história mais longa, todos os membros do BTS aparecem!

Inclusive, tenho medo de pegar para escrever o enredo desse "rolê" porque é muito mirabolante, rs, mas vai que eu tomo coragem... o livro se chamaria Gardênia.

Vocês leriam? Me falem o que acham da ideia, por favor!
Vou deixar a capa do "possível futuro" romance aqui para instigar vocês, rs.

É isso!
Comente, vote e converse comigo!
Até a próxima obra!

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