❤️‍🔥Capítulo I: O Trio Ardente❤️‍🔥

U̷m̷ Minu̷t̷o̷ P̷a̷r̷a̷ F̷i̷m̷ d̷o̷ Mun̷d̷o̷

Esgueirava-se pelas sombras das árvores, sentindo os galhos secos e deformados adentrarem a névoa de seu ser; durante os milênios infinitos de sua existência, notava como a invisibilidade beneficiava somente o seu ofício. Um lado de si era composto pelas emoções rasas, enquanto o outro era formado pela ebulição de sentimentos sem uma combustão física aparente.

Mas ele ardia em profundas trevas, sentindo-se só.

A sombra da Morte* evaporava, isso porque a obrigatoriedade de ser quem era o queimava de tal forma que alcançava seu vulto; a recusa dentro de si de assumir sua real forma pulsava e ardia em labaredas negras rodopiantes e infinitas. Dois seres haviam travado uma trégua dentro de si e, desde quando a marcha militar foi anunciada com o trovejar dos tambores, o trio já sabia que uma guerra iria começar. Fazia parte de si ser a personalização do início do fim.

Com tantas pessoas habitando sua mente, permitia que elas se juntassem e formassem aquele que mais odiava no mundo: ele mesmo. Se unidos e em paz, talvez aquele confronto nunca tivesse começado, ou pelo menos era isso que se supunha. Mas não conhecia esse lado de si, pois a luta sempre foi travada e assim permaneceria.

O anjo da morte era formado por três forças enigmáticas e contraditórias que tinham as respectivas nomenclaturas no submundo de Jeong-eon**: Min Yoongi, um nome coreano que significa "cresça e tenha uma boa vida"; Suga, a abreviatura de Shooting Guard em inglês, Guarda de Tiro e, por fim, Agust D – um nome anacrônico para D Suga, ou, Don't Suga.

Yoongi era aquele que continha o poder da vida e, assim, poderia tirar ela de quem estivesse à beira da morte – como também poderia entregá-la de volta. Suga era o guerreiro de seu interior, as habilidades na arte da guerra vinham dele, um poderoso samurai com uma cicatriz vermelha no olho esquerdo. Já Agust D era o oposto dos dois, não era a definição de "vida ou morte", era o meio termo, a mediação, quem de fato ficava comandando o corpo físico dos seres metafísicos. Era a ínfima parte humana que trazia consigo o corpo comum da espécie.

Com sua estatura média, a criatura mortífera continuou sua caminhada para mais uma missão: resgatar a alma que não ficaria mais no mundo dos mortais e iria, assim, para cima ou para baixo. Por isso, nunca tinha uma companhia, a labuta o proibia.

Ao continuar essa caminhada pelas sombras dos troncos cinzas que esfarelavam com o sutil toque de suas mãos, a criatura olhou para a copa das árvores, um verde escuro cobria os céus com as folhas se tocando como se fossem a continuação de si mesmas. Respirou fundo o cheiro de grama molhada e saboreou o som dos grilos ao fundo.

Ao recompor-se do suspiro amargurado, negou o raciocínio automático de Suga, ele dizia que a natureza não era somente um acessório na composição magnífica, a copas das árvores juntavam-se de tal forma que era quase impossível ver a luz do sol entrar. Estavam em total escuridão e o guerreiro não se referia apenas ao exterior.

Estavam na tormenta da solidão, na escuridão, era comum ambos estarem ali, no mundo dos mortais e naquele estado deplorável de ódio, tristeza e solidão. Poderiam ter escolhido qualquer outro lugar para peregrinar, mas é que o pedido ouvido por Yoongi exigiu tal situação. Além disso, a importância daquela reunião era gritante, nunca antes alguém havia pedido tanto a presença da morte.

Azrael*** temia que fosse, novamente, o chamado do mesmo garotinho de olhos estreitos.

O anjo olhou para cima procurando uma resposta para sua terrível existência, por meio de uma falha na cobertura natural e viva, a lua estava coberta por um fino véu cinza que ocultava a visão nítida da superfície com crateras. Era estranho notar como um ser celestial poderia ser tão sozinho, ao ser interrogado pelas vozes com a dúvida cruel de: "será ele de novo?", preferiu ignorá-las com amargura e permaneceu andando.

As asas negras se arrastavam no chão à medida que ele prosseguia, desviava da escuridão tentando encontrar às frestas raras de luz da floresta, mas compreendia que fugir de si mesmo era seu maior desejo e, este, não seria atendido. Ainda mais quando estava em ofício.

As penas brilhavam com o toque sutil dos raios de sol que conseguiam com determinação passar pelo conglomerado de folhas, os pelos das asas estavam arrepiados e jurou que algo terrível aconteceria, mas não poderia parar. Havia sido chamado em um grito surdo de uma boca aberta em uma largura descomunal.

A visão de milésimos de segundos da face redonda e apavorada fizeram seu coração frio se derreter, não voou porque, assim, anunciaria sua presença de alguma forma e isto era o fim da vida, literalmente, de quem o olhasse. Por conta disso, ser invisível era seu fardo, já que sua função era a mais solitária de todas da terra, dos céus e do inferno.

Nunca teria o luxo de viver com alguém, nem mesmo com seus irmãos, ninguém desejava a companhia de um ser das trevas que, por onde fosse, levava uma tragédia consigo. Por muito tempo, desfrutou a solitude, mas aquele enredo ficou entediante e, depois, triste demais.

Nunca soube de fato o que era ter uma companhia, nasceu assim e pensava que iria existir eternamente dessa forma, mas esse conhecimento não o impedia de observar os mortais e ter inveja das pessoas e seus relacionamentos. Não tinha o hábito de se apegar a alguém, mas aquele garoto...

Ele tinha ganhado o coração de Agust D, por mais que a Morte julgasse nem possuir um.

Isso aconteceu porque aquele ser humano já tinha visto a mortalidade brutal mais vezes do que qualquer outra pessoa e, mesmo assim, não reprimia seus sentimentos; não lamentava com tristeza por muito tempo e, o mais impressionante, não se revoltava com o fato de que, uma hora ou outra, todos morrem.

Jung Hoseok vivia o luto, mas isso não significava que se prendia ao sofrimento.

A Morte correu ao encontro do garoto quando o miocárdio encolheu em angústias e lamentos. Yoongi pensava como era horrível nunca poder falar com o mortal sem antes matá-lo; Suga recusava com fervor o sentimento de compaixão e carinho, enquanto Agust D somente corria entre os troncos cinzentos.

Os únicos que falavam com ele eram seus dois egos, tão diferentes e dicotômicos que assustavam a consciência com poucas palavras. Além das criaturas de sua mente, outra coisa se fazia presente quando à existência lhe foi dada: o par gigante, preto e longo de asas. Elas não profanaram palavras, mas indicavam quando algo terrível iria acontecer.

Por isso, um milésimo de segundo antes, elas se arrepiaram ainda mais e, então, Azrael ouviu o grito novamente. Desta vez, correu com afinco, sem se importar com o corpo batendo nos arvoredos ao seu redor; queimou de uma nova forma, de uma maneira devastadora e cruel, queimou não somente de dentro para fora, mas de fora para dentro, da direita para a esquerda e vice-versa.

A Morte não queimava de fato, era um ser imortal, mas a sensação de chamas percorrendo todo o seu corpo eram as únicas que podiam descrever aquilo que sentia.

O trio não tinha uma definição para a emoção. Eles desconheciam a verdadeira palavra que definia o que sentiam; pensavam então que queimavam, pois uma vez sentiram uma sensação semelhante: quando foram criados nos confins do inferno pelo maior e mais conhecido anjo caído, quando deram o suspiro da existência e foram tomados por uma espécie de ansiedade com gratidão.

Yoongi, Suga e Agust D acreditavam que ardiam em chamas por ouvir a dor daquele ser humano. Mas, a significação correta é outra, eles amavam pela primeira vez, mas não poderiam colocar tal sentimento em palavras perfeitas, já que nunca antes tinham experimentado.

No amontoado de solidão e indiferença, Azrael começou um incêndio culposo e não sabia se tentaria apagar a luz ou se aceitaria queimar ainda mais naquela sensação que cutucava seu coração com a ponta fina de estacas flamejantes.

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Notas de rodapé:

*No texto, Morte com "m" maiúsculo se refere a personalização da mortalidade, o anjo, enquanto com a letra em minúsculo é o ato de morrer em si.
**Jeong-eon é a pronúncia em coreano da palavra Jardim.
***Azrael é o nome do anjo da morte na tradição judaico-cristã.

Obs.: Min Yoongi (o artista) possuí dois nomes artísticos: Suga (usado para produções do BTS), e Agust D, este é utilizado para as músicas fora do grupo BTS.
Obs2: incêndio culposo no último parágrafo é uma referência à música Arson de Jhope.

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