09
A maior parte da minha adolescência se baseou em desejar que Hero olhasse para mim a ponto de me desejar como sua. Passei diversos momentos reclusa em um sentimento de insuficiência a cada vez que o via com uma garota; cheguei até mesmo a questionar o que havia de errado em mim, até chegar à conclusão de que não havia nada de errado. Eu apenas não fazia seu tipo, assim como não fazia o tipo de vários garotos que conhecia e tudo ficou mais difícil quando Elle apareceu.
A garota era simplesmente perfeita. Sua pele e cabelos eram incríveis, seus trejeitos e falas, ela era incrivelmente perfeita para qualquer garoto e, principalmente, perfeita para Hero.
E foi imediato, na primeira vez que o garoto pôs os olhos nela ficou encantado e eu não o julgo por isso, afinal, quem não ficaria?
Não demorou muito para que os dois começassem a sair e virassem um casal, fazendo-me afundar mais ainda os sentimentos que existiam dentro de mim. E, assim, eu segui durante longos anos: sendo invisível para Hero.
Ao menos era o que eu pensava, pois tudo mudou há poucos dias e agora estava uma bagunça.
Peguei o celular do bolso da minha calça, olhei o ecrã pela milésima vez naquele dia e, como esperado, não havia nenhuma mensagem de Hero. Suspirei frustada, voltando a guardar o celular em meu bolso e caminhando pelos enormes corredores da Biblioteca Municipal de River Falls, mais conhecida como Recanto dos Perdidos, pois eram assim que os poetas e artistas anônimos da cidade eram conhecidos por aqui.
Senti o vento gélido contra o meu corpo e estremeci levemente de frio, apressei meus passos na tentativa de entrar logo no biblioteca e só notei que eu estava praticamente correndo quando meus pés tropeçaram um no outro, fazendo-me desabar no chão - felizmente, consegui cobrir o rosto antes que ele atingisse o concreto.
— Ei, você está bem?
Tentei me levantar, mas minhas pernas doíam e uma leve tontura se instalava em minha cabeça.
— Eu não sei.
O garoto se aproximou, envolveu minha cintura em seus braços e me ajudou a ficar de pé. Apoiei minha mão em seu ombro e segui com ele até um dos pequenos bancos de madeira existentes ali.
— O seu joelho está sangrando. – disse.
Ergui a cabeça e finalmente olhei para o garoto que estava me ajudando, e notei que nunca o vi por aqui.
— Me sinto um pouco tonta. – disse.
Os dedos do garoto seguiram para o meu queixo e ele inclinou minha cabeça para trás, analisando-me.
— Aparentemente não há nenhum trauma. – disse. —A tontura se deve ao choque e ao susto.
— Você é médico?
— Residente.
Suas mãos ainda continuavam em meu rosto e ele me analisou mais uma vez, seu rosto estava tão próximo do meu que senti minhas bochechas esquentarem e a vergonha começar a se espalhar pelo meu corpo.
— Eu sou um pouco desastrada. – sorri sem graça. — Obrigada por me ajudar, acho que já estou melhor.
— Tudo bem, só me deixe certificar o seu joelho. – ele levou suas mãos até o local e começou a analisá-lo. — Aliás, me chamo Noah.
— Ah, eu sou...
— Amelie, o que está acontecendo aqui?
As mãos de Noah pararam de se movimentar em minha perna e seu olhar seguiu para a mesma direção que o meu: para Hero, que estava parado há poucos metros de nós.
Suas mãos estavam cruzadas sobre seu peito e a expressão em seu rosto era de confusão e irritação.
— Ela caiu, só estou ajudando ela. – Noah disse.
Não consegui dizer nada, meus olhos ficaram completamente presos ao homem e ao modo como estava agindo.
— Sério? – a sobrancelha de Hero se arqueou. — Parece que está fazendo bem mais que ajudar.
Noah olhou para mim confuso e rapidamente o encaro, e depois me viro para Hero. As mãos do rapaz se afastaram de mim e ele se levantou.
— Bom, eu acho que você vai ficar bem. Foi apenas um tombo feio. – disse. — Tome cuidado ao andar por aí, mocinha. – brincou. — Foi um prazer te conhecer.
— Aposto que foi. – Hero murmurou, chamando nossa atenção.
Voltei minha atenção para Noah, totalmente sem graça.
— Obrigada por me ajudar e me desculpe por isso. – pedi sem graça.
Noah se despediu e seguiu pelo corredor em direção à porta principal. Voltei minha atenção para Hero e balancei a cabeça negativamente, levantando com cuidado e me virando para a porta.
— Ei, Amy, onde você vai?
— Eu vou trabalhar, Hero.
Comecei a mandar com cuidado pelo corredor, pois meu joelho ainda doía assim como minha cabeça.
— Eu preciso falar com você Amelie.
Não olhei para Hero ou ao menos parei de andar, apenas segui meu caminho, ignorando-o assim como ele fez comigo nos últimos dois dias.
A cada passo que dava, sentia minhas pernas relaxarem e doerem menos, com isso me apressei em direção à grande porta de vidro.
Infelizmente meu ato foi impedido pela mão de Hero, que alcançou o meu ombro e obrigou-me a parar.
— Amy. – disse. — Olha pra mim.
Não me mexi e fechei os olhos, respirando fundo, pois sabia que não importava o que Hero diria, ao fim da conversa eu o teria perdoado.
Quando abri os olhos, ele estava parado na minha frente, olhando-me atentamente como se não quisesse perder nenhum movimento meu.
— O que você quer? – perguntei.
— Me desculpar.
Sorri sem graça para ele, olhando de um lado para o outro e levando as mãos até os bolsos da minha calça, apoiando-as ali.
— Você não acha que é um pouco tarde para isso? – perguntei chateada. — Você simplesmente me ignorou depois de ter dito todas aquelas coisas! Você fugiu de mim quando eu fui até a sua casa! – disparei.
— Amelie, eu...
— Não! - brandei interrompendo-o. — Não precisa explicar nada! – senti um nó se formar em minha garganta. — Eu não sei o que você está tentando fazer ou que droga de jogo é esse, mas se você não quer ficar comigo, basta me falar, Hero, não precisa fugir de mim como se eu fosse uma louca!
Senti as lágrimas envolverem os meus olhos e uma pequena gota escorregar pela minha bochecha, mas tão rápido quanto se formou eu a limpei, tirando-a do meu rosto.
As mãos de Hero seguraram o meu rosto e ele se aproximou de mim.
— Amy, não é nada disso! – disparou nervoso. — Eu quero estar com você, tudo o que eu disse era verdade, eu juro!
— Então que merda aconteceu com você? Por que não me ligou? Por que me ignorou daquele jeito? – questionei.
Segurei suas mãos e as tirei do meu rosto, logo me afastando dele para encará-lo.
O olhar de Hero vacilou para longe do meu e ele suspirou derrotado, passando as mãos sobre os cabelos e, então, foi como se tudo se esclarecesse.
— Amy, eu posso explicar.
— Você estava com a Elle, não é? – sussurrei. — Você foi atrás dela!
— Não! – disparou rapidamente. — Claro que não! Eu já disse, eu viajei com o meu pai, Amy!
— Então por que você estava me evitando?
Aproximei-me dele e suas mãos voltaram para o meu rosto, enxugando os resquícios de lágrimas presentes ali.
— Eu não sei... Eu só fiquei com medo por não saber como agir. – esclareceu. — É só isso!
O seu olhar se prendeu ao meu e seus dedos se apertaram em voltam do meu rosto, puxando-o. Segurei os seus braços e fechei os olhos quando a sua testa se encostou na minha e nossas respiração se juntaram.
— Você jura? – sussurrei.
— Eu nunca mentiria para você, Amy.
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