02
O céu se abriu em um azul brilhante e limpo poucas horas depois da minha conversa com Hero. Durante o almoço, nenhum de nós dois disse uma palavra sequer, o que não foi tão estranho já que Hero por vezes era quieto e distraído em um mundo que era só seu.
Elle, por sua vez, não parava de falar nem por um segundo, contava animada sobre os preparativos para o seu casamento e em como ela estava feliz e radiante por eles terem tomado essa decisão, apesar de serem novos.
— Eu não pensei duas vezes em te convidar para ser uma das madrinhas Amy. – disse sorridente. – Você é a melhor amiga de Hero, sei que vocês dois têm uma ligação desde a infância e iríamos nos sentir completamente abençoados se você estivesse lá, não é, meu bem?
Os braços finos de Elle rodearam o tronco do rapaz ao seu lado enquanto seus lábios rosados deixavam um beijo carinhoso em suas bochechas. O sorriso nos lábios de Hero foi discreto e ele apenas acenou em minha direção, confirmando.
— Completamente abençoados. – o rapaz enfatizou.
Um sorriso debochado surgiu nos lábios de Brianna que, até o momento, estava em completamente silêncio. Todos nós olhamos para ela, incluindo seus pais que a olhavam confusos.
— Há algo errado, querida? – Rosie, sua mãe, perguntou.
— Eu não sei, há? – os olhos de Brianna repousaram em mim em um desafio. – Você acha que há algo de errado, Amy?
O olhar de todos na mesa se voltaram para mim, incluindo os olhos esverdeados de Hero, que me observavam com atenção e ansiedade – como um visitante em um museu de arte.
As palmas das minhas mãos foram tomadas pelo frio e eu senti um vinco de preocupação surgir em meu rosto.
— Não há nada de errado em ser madrinha de casamento do meu melhor amigo. – as palavras saíram de forma arrastada. – Estarei lá para Hero e sei que ele estará lá para mim quando for a minha vez.
Um nó se formou em minha garganta e o engoli, meus olhos castanhos cheios de dor alcançaram os do rapaz sentado à minha frente.
Elle se remexeu na cadeira visivelmente desconfortável, no entanto, um sorriso doce surgiu em seus lábios enquanto ela colocava uma mecha dos seus cabelos para trás e mudava de assunto, dessa vez falando sobre onde ela e Hero iriam passar a lua de mel.
— Lamentável, Amelie, lamentável! – Brie sussurrou para mim.
Alcancei o copo de cristal lilás cheio de água e o levei até os lábios, dando um gole apressado e ansioso, minhas mãos estavam levemente trêmulas e me obriguei a respirar fundo.
Os olhos do rapaz ainda estavam sobre mim e desviei os meus, passando-os pela sala de estar, ouvindo as vozes ao redor se transformarem em burburinhos.
Senti um leve chute em minhas pernas e, voltando meu olhar para a mesa, vi quando Hero se levantou e caminhou para a cozinha, indicando que eu devia segui-lo. Segurei meu prato de porcelana e pedi licença, seguindo para o cômodo que o meu amigo acabara de entrar.
Hero estava encostado na bancada de mármore branco e de costas para mim - seu corpo agora portava uma camisa de malha fina branca com mangas curtas, porém, eu ainda era capaz de ver os músculos e traços fortes do seu corpo.
Apoiei o prato sobre a bancada sem dizer nada, apenas fiquei estática, esperando que ele dissesse alguma coisa.
Eu podia ouvir com clareza a respiração do homem se tornar pesada e pelo modo como seus dedos se apertaram sobre o seu queixo. Sabia que ele estava lutando contra algo que pairava em sua mente – eu conhecia cada pequeno gesto de Hero, por mais insignificante que ele fosse para as outras pessoas, mas não para mim, tudo que rondava Hero Miller era extremamente importante para mim.
— Amylee... - sua voz soou arrastada. – Eu... Você... Merda! – lamentou.
As suas grandes mãos romperam seus cabelos e ele puxou os fios, dando um leve soco em sua cabeça, abaixando-a em seguida, resmungando e negando.
Dei um passo em sua direção, tocando com ternura seu braço, para logo depois segurá-lo e, com calma, virar o corpo do rapaz para mim.
— Tem alguma coisa errada com você, eu posso ver em seus olhos. – segurei sua mão. – Você pode me contar qualquer coisa, Hero, eu sempre guardo os seus segredos!
— Então me conte os seus, Amelie! – disparou.
Soltei suas mãos imediatamente dando um passo para trás, contudo, não foi o suficiente para que Hero se afastasse. Seu corpo se colou ao meu e suas mãos tomaram meu rosto, puxando-me para perto mais uma vez, seu calor se misturando ao meu. Segurei seus braços assustada com sua ação repentina.
— Hero...
— Escute, Amelie Bennett. – seus olhos prenderam os meus. – Você me conhece melhor que qualquer pessoa nesse mundo, você sabe tudo sobre mim! Você conhece todos os meus defeitos, todas as minhas qualidades, todas as minhas facetas, e eu sei tudo sobre você, desde a pequena pinta em seu dedinho do pé até a pequena ruga de confusão que acabou de se instalar em seu testa, então me diga a verdade, Amylee, eu preciso saber. – suplicou.
Suas mãos se mantinham firmes em minha face e eu me encontrava completamente desnorteada, sem saber se havia entendido com clareza o que Hero queria de mim.
— O que você quer que eu diga? – sussurrei.
— Eu preciso que diga se ama! – disparou.
Pisquei diversas vezes até processar o que acabara de sair dos seus lábios, devido ao choque dei um passo brusco para trás tirando as suas mãos do meu rosto e apoiando-me sobre a bancada.
Meu coração batia disparadamente e eu acreditava que ele poderia parar de bater a qualquer momento, eu mal podia acreditar no que estava ouvindo.
— Do que você está falando? – tentei soar firme. – Você é o meu melhor amigo, é claro que eu o amo! – afirmei.
Um suspiro nervoso escapou dos seus lábios e ele voltou a se aproximar de mim. Imponente, confiante e determinado, com sua presença me sufocando.
— Amelie, não seja burra! – disparou ríspido. – Você sabe do que estou falando!
Minha boca se abriu em surpresa à sua rigidez e meu corpo foi tomado pela irritação. Apontei o indicador para o seu peito, empurrando-o levemente para trás.
— Não fale assim comigo, Hero Miller! – disparei.
Os olhos esverdeados do rapaz rolaram para cima e ele segurou meu dedo, puxando-me para perto do seu corpo e me girou encaixando-me no seu, enquanto seus braços fortes me prendiam pela cintura, apoiando seu queixo sobre a minha cabeça.
Relutei em seus braços para sair daquela posição, entretanto, ele era mais forte e um suspiro derrotado escapou por minha boca.
— Não faça nenhum movimento brusco, gatinha, você está perto demais! – uma risada rompeu seus lábios.
Minhas bochechas esquentaram e imediatamente a vergonha tomou conta do meu corpo, eu me encontrava incrédula, eu não podia acreditar no que Hero estava insinuando, ele nunca me dissera algo do tipo.
— Me solte, Hero! – ordenei.
Os braços do rapaz se apertaram mais sobre o meu corpo e eu relutei mais ainda para sair do seu aperto, o som de uma cadeira se arrastando na sala de estar fez com que ele me soltasse imediatamente e eu me afastasse do seu corpo. Ainda envergonhada e sentindo minhas bochechas queimarem, me virei para Her, voltando a apontar o dedo em sua direção.
— Nunca mais faça isso, você me ouviu?
Um sorriso sacana surgiu em seus lábios e ele tentou agarrar meu braço para me puxar, mas devido ao meu bom reflexo o recolhi imediatamente, dando um passo para trás enraivecida.
— Você sabe que não mete medo em ninguém com esse seu rostinho fofo e gorducho, não é? – brincou.
— Vá se ferrar! – disparei.
Caminhei para fora da cozinha ansiando sair do mesmo cômodo que Hero o mais rápido possível, meu coração em meu peito dançava pelo contato íntimo que eu acabara de ter e um frio gostoso se instalou em meu estômago. Um sorriso envergonhado surgiu em meus lábios no momento em que o rapaz assobiou para mim, e antes que eu sumisse de uma vez por todas do alcance da sua visão, virei-me imediatamente.
— Você não pode mais esconder, Amelie, você me ama, agora eu sei! – sorriu.
Meu rosto se fechou imediatamente, ergui minha mão mostrando o dedo do meio para ele e me voltei para frente, mal podendo evitar o sorriso que insistia tomar meus lábios.
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