✭Primeiro Dia✭

Quando os garotos chegaram, a reação deles foi de espanto, e tudo que eu havia pedido era que fossem gentis, pedido ao qual atenderam prontamente. Eu já esperava que eles se assustassem ao ver Clara ali, pois, pensando bem, eu poderia tê-la levado para um hotel. No entanto, minha mente estava tão preocupada naquele momento que meu único desejo era tirá-la do aeroporto.

Fiquei surpreso ao perceber que Han realmente se importava com ela e tentou se aproximar. Então, depois de me despedir — ainda contrariado pelo fato de ela preferir dormir no sofá a uma cama quente e confortável, apenas para me evitar, ao ver Han saindo do banheiro e digo em coreano:

— Hey, obrigado.

— O quê? Por ter conversado com ela? Bom, Bang Chan, ela vai ser a mãe do meu futuro afilhado, então preciso garantir que ela fique confortável enquanto estiver aqui.

Afilhado? Não consigo evitar de rir e o encaro:

— Então você acredita nela?

— No início, eu não estava certo, mas agora, olhando para ela, acredito sim — ele boceja e logo estica os braços — vou dormir e você deveria fazer o mesmo. Como você mesmo disse, amanhã será um dia longo.

Nos despedimos e vou para meu quarto. Deito na minha cama, mas o sono me evita. Fico remoendo o momento em que a vi chorar; meu coração doeu ao presenciar aquilo. Eu queria poder resolver todos os seus problemas, para nunca mais precisar vê-la chorar. Após um tempo considerável deitado sem conseguir dormir, decido levantar e verificar como ela estava.

Ao chegar na sala, vejo que ela estava adormecida, deitada de forma desconfortável no sofá. Aquilo me incomoda, então a pego delicadamente no colo e a levo até meu quarto, onde a acomodo na cama. A garota balbucia palavras incompreensíveis, mas não desperta, continuando em um sono profundo. Depois de cobri-la e me certificar que ela estava confortável, fui para meu canto e ajeito o travesseiro sobre o colchonete que já havia deixado separado no quarto — pois desde o início, meu plano era que ela dormisse na cama enquanto eu ficaria no chão. Somente após ter certeza de que ela estava confortável, consigo pegar no sono.

Ao despertar, a primeira ação que faço é sentar e contemplar a cama vazia. A observo com estranhamento, está arrumada e a coberta meticulosamente dobrada. Após dirigir-me ao banheiro, vou até a cozinha, onde me deparo com Clara e Han ocupados preparando uma massa, enquanto Hyunjin bate algo na batedeira e Changbin fica repetindo que está faminto. A cena que presencio é inédita e um tanto engraçada:

— E aí, líder, estamos fazendo panquecas — Han anuncia, acionando o fogo do fogão.

— Tentando fazer panquecas — Clara o corrige com um sorriso.

— Eles já queimaram a primeira fornada — Changbin comenta em coreano, apontando para um prato repleto de algo carbonizado.

— Estou ansioso para provar as panquecas, então — digo com um sorriso e vou até a geladeira pegar água.

— Já deu uma olhada nos portais de notícias? — Hyunjin indaga em coreano, ciente de que Clara não compreenderia o diálogo.

— Estou evitando por enquanto. Gunsun quer me encontrar e tenho uma reunião marcada com ele e o CEO. Também pedi a ele que providencie um lugar para Clara ficar enquanto estiver na Coreia. Preciso averiguar quando devolverão sua mala. Acredita que queriam que eu pagasse uma multa exorbitante apenas para embarcarem no avião e recuperarem a bagagem? Além disso, tenho que organizar mais detalhes para garantir o conforto de Clara durante sua estadia na Coreia... aigoo, são muitas coisas.

— Você não está sozinho. Primeiro, é preciso resolver a situação na empresa, que eu não queria dizer não, mas está bem complicada... no sentido de fãs estarem organizando protestos contra você na porta da JYPE — Hyunjin pondera, e eu assinto, estou evitando as redes sociais, o Bubble, qualquer coisa que possa me conduzir ao ódio que sei que estamos enfrentando.

— Hyunjinnie está certo, vamos te apoiar nisso — Changbin intervém, e eu o encaro.

— Então, vocês acreditam nela?

— Não posso dizer se ela está mentindo ou não. É a palavra dela contra a nossa, mas, na minha visão, se ela realmente estivesse atrás de dinheiro, teria causado um escândalo na internet, o que não aconteceu. Isso me leva a dar um voto de confiança... mas ainda assim é preciso fazer o teste de DNA — Changbin responde.

— Concordo plenamente com ele — afirma Hyunjin.

Ouço batidas na porta e me aproximo. Ao abri-la, vejo os outros membros do grupo, seus semblantes carregados de apreensão. Compreendo a situação delicada em que os coloquei, mas não podia apenas deixar Clara partir, sabendo que tenho recursos para ajudá-la:

— Perdeu o juízo de vez, Bang Chan? Além do episódio no aeroporto, ainda a trouxe para o dormitório? — Seungmin questiona, e me vejo sem uma resposta clara. Realmente foi um ato impulsivo, mas senti a necessidade de agir.

— Foi apenas por uma noite. Vou resolver isso com Gunsun ainda hoje — respondo a ele.

— Não acha desnecessário? Você nem tem certeza se é o pai. Seria melhor deixá-la ir e, se for verdade, correr atrás — Minho pondera, e eu balanço a cabeça em negação.

— Prefiro tê-la aqui.

— Entendo seu ponto de vista em querê-la por perto, mas e se ela estiver mentindo? Como lidará com isso? — Felix questiona, seu semblante carregado de preocupação.

Sinto-me mal por causar todo esse desconforto a eles, mas foi algo que julguei necessário e sendo sincero, não me arrependo. Não quero ficar considerando a possibilidade de ser uma mentira. Ao vê-la chorar, tive a certeza de sua sinceridade, então, com um sorriso tímido, respondo:

— Quero acreditar nela.

Minho ri com ceticismo, Seungmin e I.N apenas trocam olhares. Felix então diz:

— Se você acredita, então eu também acredito. Deixe-me entrar, quero conhecê-la.

Abro a porta conforme ele me instrui. Felix adentra e se dirige à agitação na cozinha, curvando-se para se apresentar a Clara. Seungmin e I.N, um tanto constrangidos, seguem o exemplo de Felix e se aproximam para cumprimentá-la. Minho permanece ao meu lado e sussurra algo que apenas eu consigo ouvir:

— Esteja ciente de que isso pode ser um grande erro.

Chego cedo à JYPE, com Clara ao meu lado. Os outros membros estão de folga, e achei que ela se sentiria mais à vontade comigo do que com eles. Felix e Han já estão demonstrando um cuidado especial com ela, Hyunjin e Changbin estão se esforçando, Seungmin e Jeongin estão mais retraídos, porém simpáticos, e Minho não demonstra muito interesse. Mas eu farei questão de provar a ele que está equivocado em seu julgamento. Clara desprende o cinto e sai do carro, e eu faço o mesmo. Seguimos em silêncio até alcançarmos os corredores, atraindo olhares curiosos. Chegamos aos elevadores, e o chamo:

— Tenho uma reunião agora da qual você não pode participar. Vou levá-la a um local e só saia de lá quando eu retornar. Não é seguro ficar perambulando pela JYPE sozinha.

— Está bem, capitão — ela responde sem me encarar, e entramos no elevador.

A levo até o estúdio do 3RACHA. Era o melhor lugar para ela ficar, pois ninguém entrava ali sem a minha autorização, e eu não queria que ninguém a incomodasse ou lhe causasse mal. Clara observa a sala, que parecia bem maior nas transmissões ao vivo, mas na realidade é um espaço pequeno. Ela se acomoda no sofá presente ali e me observa. Gostaria que ela falasse mais; ontem interagiu bastante com Han, mas agora fica em silêncio, esperando que eu diga algo. Odeio admitir, mas isso desperta em mim um certo ciúme.

— Tem um frigobar ali, num canto, com água... pode mexer em tudo, menos no meu computador — aponto na direção do frigobar.

— Por que não posso mexer no seu computador? — Ela arqueia a sobrancelha, um tanto desconfiada.

— Porque é o meu computador de trabalho, e não gosto que mexam nele... isso não foi um desafio.

Ela sorri de forma travessa e observa o computador. De qualquer forma, ela não conseguiria acessá-lo; coloquei uma senha depois que o Han tentou usá-lo para jogar. Apenas balanço a cabeça em despedida, e ando rapidamente pelos corredores, pois estou atrasado. Ao descer para o primeiro nível pelas escadas, dou de cara com Sana, do TWICE, que está mexendo no celular. Ao olhar para ela, tenho uma ideia instantânea:

*Sana, sub vocal of TWICE*

— Sana! Que feliz coincidência te encontrar.

— Não empresto dinheiro para idol caloteiro — ela diz sem nem me olhar, continuando a andar.

— E quando foi que eu te dei calote? — A sigo, e ela permanece focada no celular.

— Fizemos uma aposta sobre aquele jantar na casa do J.Y.Park, e adivinha quem não me pagou? Ah, é, você.

— Ah, mas você levou aquilo a sério? — Ela nem me responde, apenas continua andando, e eu começo a perder um pouco da minha paciência — Sana, por favor, pode parar e me ouvir?

— O que foi? — Finalmente ela me encara e se assusta com meu olhar apreensivo — se veio pedir ajuda para resolver suas confusões, estou fora. Seu vídeo correndo atrás  da americana já tem vinte milhões de visualizações no YouTube. Você não tem ideia do problema em que se meteu — ela diz, mantendo a cara séria.

— Primeiramente, ela é brasileira. Eu sei, pisei na bola, mas foi necessário e realmente preciso da sua ajuda. Quebra essa para mim, vai — dou meu melhor sorriso para tentar-la.

A garota me observa, relaxa os ombros e faz que sim com a cabeça. Então, digo rapidamente:

— A garota do aeroporto está aqui, lá no meu estúdio. Preciso que converse com ela, seja uma amiga, assim como é para mim, para que ela não fique sozinha.

— Vai me contar o que está acontecendo, né?

— Sim, por favor, faça ela se sentir confortável.

— Me deve uma... e eu acho bom parar de deixar sorvete para Chaeryeong na geladeira e deixar para mim — ela diz, piscando, e já começa a subir as escadas. Nem deu tempo de dizer que, na verdade, Chaeryeong rouba o sorvete que eu deixo na geladeira.

*Chaeryeong, main dancer, sub vocal and sub rapper of ITZY*

Sana é minha amiga de longa data ali na JYPE. Treinamos juntos, temos uma boa convivência e eu a considero uma entre meus melhores amigos. Tenho certeza de que ela e Clara vão se dar bem.

Chego na sala de reunião, onde já estão Gunsun, o gerente de marketing Seunghyun e J.Y.Park. Eu já sabia que não seria uma reunião fácil. Gunsun tinha gritado o suficiente comigo pelo telefone, então sei que ninguém ali está feliz.

— Sabe Bang Chan, sempre te julguei um cara sensato. Já sei de tudo e compreendo sua posição, mas entende o que fez? Entende o que isso pode significar para o grupo? — A voz de J.Y.Park soa de forma fria.

Termino de fechar a porta e me sento no outro canto da mesa. Levo as duas mãos para cima da mesa e cruzo meus dedos. Estou disposto a ouvir todos os sermões, afinal, o que aconteceu foi de muito descuido da minha parte. Isso que dá ser emocionado.

— Colocou toda a sua dedicação em risco por causa de uma pilantra — Gunsun vocifera e eu o encaro.

— Já falei para você parar de se referir a ela assim. Que provas você pode dar sobre isso? — Eles podem jogar todo o ódio em mim, não precisam atacar Clara.

— Ele está certo. Só teremos certeza quando a criança nascer. Mas e aí, Bang Chan? Acha que pode lidar com tudo isso? — J.Y.Park pergunta.

— Para ser sincero, eu não sei... até anteontem, eu não esperava nada disso. Mas é minha responsabilidade e farei o que for preciso para lidar com tudo.

Seunghyun mexe no seu iPad e começa a ler várias notícias e seus comentários tendenciosos, as atrocidades ditas contra Clara. Além disso, me mostram imagens das câmeras de segurança onde uma comoção de STAYs se juntaram para reclamar da minha péssima postura como idol, contrataram até um caminhão onde, em uma placa de led dizia "Queremos a expulsão do Bang Chan".

Aquilo estava passando de todos os limites. Subitamente, tenho vontade de entrar em uma live e mandar essa galera ir procurar o que fazer. Porém, sei que não vão me deixar ser franco, e foi exatamente isso que Gunsun disse:

— Sei que deve estar doido para ligar sua câmera e dizer o que quiser, mas deixe que a JYPE cuide disso. Já que você decidiu manter essa garota na Coreia, creio que outras coisas vão te ocupar agora.

— Sim... conseguiram o lugar para ela ficar? — Era isso que me interessava desde o início.

— Sim, um apartamento em Geumcheon-gu. Dois quartos, uma sala, cozinha, banheiro e área de serviço. É o melhor por hora. Não tem mobília e, obviamente, a empresa não vai bancar nenhum custo — Seunghyun diz. Eu não estava contando com a ajuda deles de toda forma.

— Certo, vou providenciar tudo.

— Você não está pensando em morar com ela... ou está? Isso pode pegar muito feio para você, já basta um filho fora de um casamento — Gunsun diz, negando com a cabeça..

A Coreia é um país muito conservador. Eu sei que inúmeras pessoas vão criticar e falar mal porque Clara nem era minha namorada, e eu definitivamente não queria ver sua imagem suja por minha causa. Porém, ela me odeia. Sei que ela preferirá mil vezes ficar sozinha do que viver comigo, então acho que não há outra opção.

— Não, mas a visitarei todos os dias.

— Chan, como seu amigo, ainda acho que está cometendo um erro... Você não precisa se responsabilizar enquanto não tiver certeza dos fatos... você vai se apegar e, e se não for verdade? — Gunsun diz, mas acho que nada que ele ou alguém disser vai me fazer mudar de ideia.

— Gunsun, Chan é um homem adulto. Vinte e cinco anos nas costas não é um adolescente que tem que ser vigiado e controlado. Ele já tomou sua decisão mesmo antes de chegar aqui, então nada que você disser vai fazê-lo mudar de ideia — J.Y.Park fala, e eu o observo, um tanto grato por fazer Gunsun parar com suas acusações. — Entretanto, devo alertá-lo que se essa garota estiver mentindo, vamos processá-la, e não há nada que você possa fazer para defendê-la, está bem? — Assenti, e J.Y.Park continua. — Bang Chan, por hora, pedimos que não se pronuncie, não diretamente. Deixe que a JYPE tome essas medidas.

— Devemos anunciar uma nota de namoro e depois sobre a criança. Primeiro, o fandom tem que engolir a Clara, depois a gravidez — Seunghyun diz.

Parece surreal que a fama me obrigue a ter que anunciar isso como se fosse um crime. Infelizmente, a indústria tenta nos forçar a ser perfeitos, então quando essas coisas acontecem, as pessoas perdem o controle e ficam destilando palavras de ódio. Eu não deixei de ser o Bang Chan porque tinha uma garota na minha vida, apenas estou um pouco mais inacessível, como se eu já não fosse antes... fico mais um tempo ouvindo seus conselhos e opiniões e vejo que já passava da hora do almoço. Mando uma mensagem para Sana, pedindo que leve Clara para comer algo, pois preciso resolver sobre o lugar em que ela irá ficar.

Durante a tarde, providencio o que posso, mas as coisas só começarão a chegar no dia seguinte, então seria melhor para Clara voltar para meu dormitório. Retorno para a empresa, indo direto à Sala do 3RACHA, onde Sana ainda está. Estou muito grato a ela:

— Meninas — digo, e Sana se levanta num pulo.

— Bom, perdi um dia de ensaio, mas ganhei uma nova amiga — ela pisca para Clara, que sorri — Eu acho que mereço ser madrinha, viu?

Clara deve ter contado a ela, obviamente.

— Falamos disso depois, vou levá-la para casa. Obrigado — digo, abraçando minha amiga em agradecimento.

— Por nada, tchau Clair — Sana da um tchauzinho com a mão, gesto esse que Clara correspondeu.

— Já estão tão próximas assim? — digo me referindo ao fato que somente os mais íntimos podem chamá-la de Clair.

O semblante da brasileira se fecha enquanto encara o computador. Ela parece me odiar e terei que lidar com isso até conquistar sua simpatia. Antes de chamá-la, ela já se levantou e caminhou em direção ao elevador. Seguimos todo o trajeto até a garagem em silêncio, e pego o carro da empresa. Ao chegarmos no dormitório, ela desce primeiro que eu, e eu pego algumas sacolas de coisas que comprei que estavam no porta-malas.

Clara olha com curiosidade as sacolas, mas nada diz, fica aguardando o elevador que rapidamente chega e nos leva até o andar desejado. Abro a porta com minha chave, e a garota entra na minha frente. Changbin está num canto fazendo alguns abdominais, Han está com seu violão e telefone no colo, e não vejo Hyunjin por ali. Han, ao ver Clara, esboça um sorriso:

— Clara, você voltou!

— O apartamento ainda não está pronto para recebê-la, então ela vai ficar aqui por hora. Tudo bem para vocês? — digo, olhando para eles e repetindo tudo em coreano para Changbin.

— Aham, ela pode ficar o tempo que for necessário. Vou tentar me comunicar mais com ela — ele então se levanta e diz no seu inglês modesto — Seja bem-vinda de volta, Clara.

— Obrigada — ela responde, fazendo uma leve reverência a ele.

— Clara, eu fiz um progresso! Aprendi a cantar a primeira linha da música — Han diz, como uma criança querendo atenção.

— Só acredito vendo — ela diz, já se sentando ao lado dele e observando a cifra da música no celular de Han.

Percebo que não teria vez ali e os deixo na sala. Hyunjin está no quarto desenhando e eu o cumprimento antes de ir para o meu. Deixo as sacolas em um canto e ligo para minha mãe, dando a notícia que ela já sabia: impedi Clara de ir embora.

Meu pai entra na ligação e me dá um sermão de quase meia hora sobre como fui irresponsável por engravidar uma garota que nem sequer conhecia. Não sei muitas coisas sobre ela; sei o básico como por exemplo que ela já é maior de idade. Depois de falar muito, eles apenas dizem: "traz ela aqui, queremos conhecer nossa nora". Meus pais parecem ser de outro mundo. Clara ainda não é minha namorada...

Ao desligar o telefone, percebo que Clara está na porta do quarto me observando. Ela caminha em minha direção, mas não se aproxima muito:

— Seus pais? — Assinto, e ela continua — já contou para eles?

— Sim, eles são minha base, então conto tudo para eles... e você, já contou para seus pais?

— Não, meu pai está doente e minha mãe é maluca. Se ela souber, vou matar a coitada do coração. Ainda estou preparando o terreno para revelar essa bomba.

— Não sei muito sobre seus pais, na verdade, sei quase nada sobre você. Quem é você, Clara Dias Silva? — olho curioso para ela, desejando saber mais sobre sua história.

Clara pensa por um momento e acaba se sentando na cama. Ela continua pensando no que dizer, até que tem uma resposta:

— Meu sobrenome Dias vem da minha mãe, Magda Carneiro Dias; e Silva, do meu pai, João Cunha Moreira Silva. Meu pai veio da roça e meus avós ainda vivem lá, mas, minha cidade também é quase roça, a diferença é que minha rua tem asfalto e a dos meus avós é só terra. Não sei cantar, não sei dançar e minha maior especialidade é não ser boa em nada — senti um leve amargor enquanto ela afirmava isso, mas não a interrompo — Gosto de cozinhar, minha cantora favorita se chamava Marília Mendonça, e meu filme favorito é "As Patricinhas de Beverly Hills". Ah, e eu também amo "A Pequena Sereia" da Disney... não gosto de insetos, mas as aranhas são as piores. Quer dizer, aranha nem é inseto, né? Não sei nadar, não gosto de praticar esportes... — ela esboça um sorriso tímido — sou bem irrelevante, parando para pensar.

— Não foi isso que me pareceu. Vejo uma garota autêntica, não alguém que tenta ser outra pessoa — tenho certeza de que ela é boa em algo. Já percebi que ela é do tipo que apenas se deprecia sem tentar enxergar o melhor de si.

— Ah, não basta ser ruim em tudo, ainda tenho que ser falsa? — Ela diz, e rimos juntos, mas logo ela para de rir e continua — não pense que estou te dando intimidade. Aliás, preciso de mais roupas. Onde está minha mala?

— O pessoal do aeroporto disse que entregará até o final desta semana — então me levanto, pego as quatro sacolas e as coloco na cama ao lado dela — espero que sirva.

Clara mexe na primeira sacola, revelando duas calças legging e um moletom todo rosa claro com uma listra branca. Em outra sacola, há algumas camisas aleatórias, inclusive uma do Central Perk, que ela pega e me olha desconfiada, mas segue examinando as camisas e suas diversas estampas. Na terceira sacola, há uma jaqueta mais reforçada para o frio, apesar de já estar quente, mas nunca se sabe. Quando ela se prepara para abrir a última sacola, viro meu rosto envergonhado:

— Você me comprou calcinhas? — Sua voz sai um tanto incrédula.

— B-bom... e-eu só quis ajudar.

Ela observa e eu continuo tentando não encarar seu rosto. Então ela ri, gargalha alto, juntando tudo e colocando na sacola, sorri de forma divertida:

— Obrigada pelas calcinhas e sutiãs... e todo o resto. Posso ir tomar banho?

— À vontade — digo, mexendo em meu guarda-roupa, entrego uma toalha e ela sai.

É possível se apaixonar completamente por uma pessoa por causa de uma noite? Porque quando ela sorriu, meu mundo floresceu; todo o medo e receio que eu estava sentindo com a situação sumiram, e percebi que só queria vê-la sorrindo.

Ah, ele é um fofo né hahaha

Não esqueça a estrelinha e compartilhe com seus amigos

BIG HUG

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