✭Papo de Grávida✭

A parte boa do Christopher ir para Paris é que fiquei sozinha e consigo colocar meus pensamentos em ordem. Estar na presença dele me ilude, pensando que ele gosta de mim. Ele é famoso e pode ter qualquer garota que quiser, enquanto eu sou apenas alguém que está lhe dando trabalho.

Minha barriga está ficando redonda, mas ainda dá pra esconder com camisas largas e moletons. Se as pessoas já me atacam gratuitamente por supostamente namorar com Bang Chan, imagina quando souberem de toda a verdade.

A parte ruim dele ter ido pra França é que fiquei sozinha, com um braço quebrado. Diz ele que não me deixará desamparada, vamos ver.

No meu primeiro dia sozinha, quero tirar um momento para mim. Os pelos das minhas pernas estão muito aparentes, minhas unhas estão horríveis e meu cabelo está um desastre. Nunca fui muito vaidosa, mas nunca estive tão fubanga como agora. Chris comprou um shampoo e condicionador importados, mas isso não funciona para o meu cabelo rebelde. E também não consigo lavar meu cabelo sozinha com esse braço quebrado.

Mas consigo dar um jeito na perna. Decido usar a gilete para tirar os pelos, é o que temos para hoje. Deixo meu celular tocando e quando "As Quatro Estações" de Sandy & Junior começa a tocar, canto com toda a emoção como se estivesse em um show particular. Sandy & Junior me lembram dos almoços de domingo na casa da minha avó, onde todos os meus primos se juntavam e cantávamos com toda emoção que podíamos.

Eu fui a típica brasileira que cresceu dançando "Ragatanga" e cantando "Baby Baba", usava as roupas das primas mais velhas e passava para as mais novas. Definitivamente, não tive nada de especial, fui uma criança comum com uma vida comum. Talvez seja por isso que tenho tanta dificuldade em acreditar que alguém como Christopher Bahng sinta algo por mim.

https://youtu.be/8ATG9jOgXcg

* As Quatro Estações, Sandy & Junior *

Ele é um homem incrível, rico, famoso e influente. O que eu poderia oferecer? Tive sorte de ter ficado com ele uma noite, e ousaria dizer que tive sorte de engravidar dele, afinal, a criança poderá ter uma boa vida. Mas o sentimento de inferioridade me deixa mal.

Ele tem um cuidado comigo, ele se preocupa, mandou várias mensagens agora mesmo dizendo que o vôo foi tranquilo e que chegou no hotel, como uma forma de mostrar que se importa que eu saiba onde ele está. Chris está pagando por esse apartamento, pagando por todas essas coisas, me proporcionando um padrão de vida que nem se eu vivesse com meus pais teria, isso é muito surreal.

Mas o que me assombra é a possibilidade de que a qualquer momento ele possa dizer algo do tipo: "você só vive aqui por causa desse filho" "você usa o meu dinheiro então tem que fazer o que eu quero". Homens são todos iguais e só mudam de casa, então não posso aceitar todas as suas ajudas sem esperar que ele sempre vá sorrir e amolecer meu coração.

Eu acabo me distraindo e faço um pequeno corte, maldita hora em que quebrei o braço, não consigo fazer nada direito. Chris disse que sua irmã viria me ajudar, a princípio não gostei muito da ideia, mas agora, onde ela está? Nem sequer consigo tomar um banho direito e isso me deixa irritada, não com a tal Hannah, mas com esse braço quebrado. Será que a Geovana não quer virar gerente aqui na Coreia? Se ela ou até mesmo Kate estivessem aqui, eu não estaria nessa irritação toda.

Saio do banheiro e vou pegar o band-aid no armário da cozinha quando me assusto com uma garota de cabelos pretos e mechas claras. Ela está na sala e usa roupas largas, a expressão no rosto dela é fechada. Não é possível que as sasaengs me encontraram aqui, eu preciso de paz.

— Olha, eu vou chamar a polícia, então te dou cinco segundos para sair daqui agora! — Digo, olhando ao meu redor em busca de algo para me defender.

— Ei, calma, calmaaaaaa, eu sou a Hannah, Hannah Bahng, irmã do seu namorado. Vim a pedido dele, desculpe a demora, o avião atrasou. — A garota diz, esboçando um sorriso.

Christopher avisou que mandaria sua irmã, mas ainda a olho desconfiada, ela se parece com ele, mas todos os asiáticos parecem iguais para mim, então tenho que ficar desconfiada.

— E pra você é normal simplesmente entrar na casa dos outros assim, sem bater?

Ela mexe no bolso e balança as chaves, Chris deve ter dado a chave pra ela. Ai que cretino.

— Clara, está escorrendo sangue pela sua perna, o bebê! Está tudo bem? — Ela pergunta, assustada e tenta se aproximar de mim, mas dou vários passos para trás.

— Ah, não é isso que você está pensando, eu estava tentando depilar a perna e acabei me cortando. Só estou com um braço útil e isso é uma droga — Digo, ainda em alerta.

— Quer ajuda? Aliás, é para isso que estou aqui, para ser seu braço esquerdo já que o seu está quebrado. Vamos colocar um curativo aí — Ela diz, voltando a caminhar em minha direção, mas eu dou um passo para trás — Ainda está com medo?

— Sim, estou. Não sei se seu irmão te contou, mas foi um bando de fã maluca que causaram esse braço enfaixado.

Ela assente, como se de fato entendesse essa questão de ter sido perseguida e pega o seu celular, me mostrando uma foto ao lado do irmão. É o Christopher, não há dúvidas. Relaxo minha postura e meus olhos brilham agora com a possibilidade de receber ajuda para lavar meu cabelo.

— Começamos com o pé esquerdo. Sou Hannah Banhg, irmã mais nova do Chris. Vim da Austrália para ficar com você, então por isso acabei me atrasando, me desculpe.

— Sou Clara... é um prazer — Ficamos nos encarando, sem saber o que dizer agora, mas ela veio para cá para uma razão — já que está aqui para me auxiliar, pode me ajudar com meu cabelo? Isso aqui está horrível.

— Claro, farei tudo pelo seu bem-estar, mãe do meu sobrinho. — Ela diz sorridente.

A campainha toca e olhamos curiosas para a porta. Hannah vai até lá, a abre e a própria Barbie entra na minha sala. Uma garota de longos cabelos loiros, saia xadrez rosa, camisa preta e botas sorri grandemente para mim, mas não faz questão de cumprimentar Hannah, que a fuzila com o olhar:

— Você é a Clara, uau, é tão bom finalmente te conhecer — Ela fala, com um sotaque canadense e me olhando dos pés à cabeça.

Antes que eu pergunte quem ela é, Hannah diz:

— Encontrou a chave do porão onde te esconderam? — Ela diz, sendo completamente perceptível a acidez em sua fala.

— Ah, que fofa, não sabia que Bang Chan chamou a dissimulada da irmã dele.

— Vai ver se eu estou na esquina, Somi — Hannah diz irritada.

Chris também me avisou que pediu a uma amiga chamada Somi para ficar de olho em mim nesses cinco dias em que ele está fora. Ele me disse que ela é canadense e seu inglês é perfeito, então não teria problemas para se comunicar. Pelo visto, as duas já se conhecem e não se dão muito bem. Somi se aproxima de mim e me abraça como uma amiga de longa data:

— Clara, é um prazer te conhecer, me chamo Jeon Somi — A garota diz sorridente.

Ela é tão linda, tão magra que não é exagero dizer que como uma boneca, o que me leva a uma crise existencial por ser alguém tão feia quanto uma porta, e se bobear, a porta é mais bonita que eu. Chris só pode estar de brincadeira mandando uma garota como essa pra me ajudar, é quase como ele querendo jogar na minha cara os padrões de mulheres ao redor dele.

— Pra que tudo isso, tá achando que tá indo pra uma festa? — Hannah pergunta, ainda de cara fechada.

— Nem todas as garotas gostam de andar com esses trapos que você chama de roupas, tá vendo isso aqui? É Chanel, desenhado por um dos estilistas que sempre entrega os melhores looks no Met Gala — A Barbie quase manda um beijinho no ombro pra Somi.

Hannah ri alto e diz com muito desdém:

— Aí querida, você nunca vai ser convidada pro Met Gala, tem que ser relevante pra estar lá.

— Talvez te chamem pra ser garçonete.

— Meu Deus, o quão desesperado o Bang Chan tinha que estar pra sequer me avisar que você estaria aqui também? — Hannah passa a mão pelo rosto, irritada.

— Eu que tenho que achar ruim! Ninguém merece gente amargurada que nem você.

As duas continuaram em seus showzinhos de egos inflados, enquanto eu observava descrente a cena desenrolar. Não acredito que aquelas duas garotas tão bonitas e perfeitas estavam ali tentando apontar erros uma da outra, enquanto a única acabada nesse recinto sou eu. Estava perdendo a paciência e disse um tanto alto:

— Já acabaram, Elphaba e Glinda? — Disse, citando duas personagens de um musical famoso que me passa a mesma vibe dessas duas.

— Obrigada, eu tenho mesmo o carisma da Glinda — Somi sorriu, como se fosse o maior elogio do mundo.

— O carisma de uma porta você quis dizer, né! — Hannah resmunga.

— Aí garota, sinto que cada palavra trocada com você, suga toda a minha vitalidade — Somi responde.

Olho um tanto sem graça para elas e digo baixinho, vendo que era uma causa perdida fazer elas pararem de bater boca:

— Eu só queria alguém pra me ajudar com meu cabelo...

— Eu — As duas ouvem e respondem em uníssono, se entreolham com ranço.

— Preciso de ajuda para lavar o cabelo e não molhar o gesso — falo rapidamente antes que outra briga começasse. A ajuda de qualquer uma das duas será útil.

— Vamos dar um jeito nisso — Hannah diz, sorridente.

Depois de colocarem um plástico no meu braço para proteger o gesso da água, elas começam a lavar meu cabelo. Isso aumenta meu sentimento de invalidez, mas não consigo fazer isso sozinha com um braço só, então tenho que aceitar a ajuda delas. Percebo que qualquer coisa é motivo para elas discutirem, o que me deixa curiosa sobre o que aconteceu em off, porque essa rivalidade toda não pode ter vindo do nada.

Depois de lavarem meu cabelo, Somi pede comida e assim comemos juntas. Estava cansada demais e sem a menor vontade de ser simpática, então aviso que quero cochilar e as duas falam que vão ficar na sala. Deito na cama com a intenção de dormir, mas minha mente está agitada. Sinto falta do Chris aqui, dizendo coisas carinhosas para me fazer derreter.

Inquieta, levanto para ir ao banheiro e quando estou perto da sala, ouço a seguinte conversa:

— Será que o Bang Chan está fazendo tudo isso por obrigação? Ela não tem o perfil das garotas com quem o Channie já namorou. Isso me faz ter pensamentos pensantes — Somi diz. Olho de soslaio e vejo as duas sentadas no sofá, assistindo televisão.

— Eu não sei, pode ser por moral mesmo. Nossa mãe disse que se ele abandonasse a garota grávida de um filho dele, ela ia virá-lo do avesso... mas eu acho que ele gosta dela, sei lá. Ele ligou para o meu pai quase chorando quando ela caiu — Hannah fala, mais interessada em uma revista que segura do que na televisão.

— Nossa... quando o Channie estava com a Sowon, eu dizia que os dois eram tão lindos que seus filhos seriam um crime contra a humanidade. Às vezes, ainda não acredito que eles terminaram. Isso me faz pensar... será que essa criança vai nascer asiática ou ocidental?

— Não consigo dizer, depende dos antepassados dela. O Brasil é uma mistura, né? Talvez o lado dela seja predominante.

— Sempre fui péssima em biologia.

— Você é ruim em muitas coisas — Hannah diz, e as duas começam a brigar de novo.

Volto para o quarto e me sento na cama. Minha cabeça está cheia de pensamentos, me fazendo querer pesquisar quem é essa garota. Quero esquecer isso, mas não consigo, então acabo pesquisando. Não sei como digitar o nome dela corretamente, mas só aparece uma opção no Google. E, caramba, que mulher linda.

Ela tem uma pele de porcelana, cabelos negros, cumpridos e sedosos, um corpo de fazer inveja além de suas feições perfeitas que a faz  sua beleza parecer digna de miss, além de ser uma idol, alguém do mundinho dele. Será que ela é o padrão dele? Não tenho nada a ver com essa garota, sou pior do que feia se comparada a ela. Cada linha do seu rosto parece ter sido esculpida para ficar assimétrico, como posso competir com isso? Talvez Hannah esteja certa, talvez ele esteja comigo por obrigação moral. Quem escolheria ficar comigo quando se pode ter uma deusa como ela?

Sentindo que a depressão ia me pegar de novo, ligo para Geovana e quem atende é Kate. No começo, reluto em falar com ela, mas acabo desabafando. Estou de saco cheio de me sentir inferior e acabo até chorando, pois meus sentimentos estão mais explosivos que dinamite. Com muito custo, consigo por pra fora como me sinto inferior ao ver a foto da ex do Chan. Depois de ouvir todas as minhas lamentações, Kate diz:

Não acredito que o Bang Chan namorava com a Sowon do Gfriend e ninguém ficou sabendo. O dispatch já foi melhor.

— Jura? É com isso que você tá preocupada? Com a vagabunda que ele namorou? — Nem consigo por pra fora a raiva que senti ao ver que ela só se preocupou com uma fofoca que nunca foi parar nos tabloides.

É claro que eu me preocupo com isso.  Eu sou fã do Bang Chan. E outra, não é certo você chamar a garota de vagabunda, você nem a conhece, só tá irritada. Ele tinha fama de arrasador de corações, mas nunca poderia imaginar que...

— KATE! — Minha voz sai mais alto do que pretendia enquanto as lágrimas escorriam com ela me confirmando que ele é um safado, cachorro, sem vergonha.

— Se te serve de consolo, eu te shippo com ele tá?

— Foi uma péssima ideia conversar com você, vai a merda tá?

Já ia desligar o telefone, quando ela começa a falar:

Escuta Clara, não vou mentir, entre nós três, você é a menos vaidosa, mas isso é totalmente culpa sua.

Grande amiga você Kate, depois eu me pergunto porque você só tem a Gioh de amiga.

— Clara, me escuta com a atenção caramba! Você se matou de trabalhar e estudar, não tirou um tempo para si mesma e nunca pensou "hoje vou cuidar de mim". Você está esgotada, não porque é feia, mas porque um estado mental cansado acaba afetando sua aparência também. Sabe por que essa garota com quem ele falou é maravilhosa? Porque os idols têm todo um processo de estética para seguir, para manter uma aparência impecável, e você precisa se amar um pouco mais. Nem sei porque você está se doendo com essa garota, se ela fosse tão gente boa, eles não teriam terminado e olha só! Ele tá com você agora.

— Porque ele foi forçado a isso Kate, ele não gosta de mim, ele não ganha nada ficando com uma garota como eu, quer dizer, ganhou né, uma enorme dispensa pelos próximos dezoito anos...

Kate respirou fundo e continuou:

Pela primeira vez vou ter que discordar da Gioh... foi uma péssima ideia de deixar aí sozinha com seu humor instável desse jeito. Clara, amiga, você disse que o Bang Chan deixou o cartão de crédito com você, né? Bem, então cuide de si mesma! Vai no shopping, compra umas roupas, arruma o cabelo, passa uma maquiagem , sei lá, fique bonita para você.

— Ficou maluca é? Não vou usar o cartão dele, especialmente comigo.

Você disse que ele está com você por obrigação, não é? Então não tenha dó de gastar dinheiro dele mesmo não, eu hein, pense comigo: mamãe feliz, bebê feliz. Você está triste, se sentindo inútil e nutrindo sentimentos depressivos. Isso não é bom para uma gravidez. Cuidar de si mesma é uma necessidade também, ele que se vire.

Tento me segurar, mas não consigo deixar de rir, e Kate continua:

Ei, escute. Você não é feia, muito menos inferior a essa tal de Sowon. Você não precisa ser bonita como uma asiática, assim como ela não precisa ser bonita como uma ocidental. São pessoas diferentes, belezas diferentes, e, assim como toda mulher no mundo, o segredo dessa beleza estonteante na maioria das vezes está na maquiagem e num bom editor de fotos. Então cuide de si mesma, tire um tempo para isso.

No final, Kate conseguiu me acalmar . Agradeço seus conselhos e desligo. Será que devo mesmo fazer isso? Bang Chan afirma com todas as letras que gosta de mim, mas o que ele poderia gostar aqui quando pode ter garotas como a Sowon? Eu quero ficar bonita, mas não por ele, que se dane. Quero ficar bonita para mim mesma. Então é isso, já decidi.

Ainda está bem cedo e somente Hannah se encontra no apartamento. Saio do quarto e vou direto para a cozinha, onde pego uma banana para comer. Hannah parece estar preparando o café da manhã:

— Bom dia, você teve uma boa noite de sono? — Ela me olha com um sorriso simpático. Hannah é uma pessoa legal, embora ainda não tenhamos muita intimidade, ela está se esforçando para ser agradável.

— Na verdade, não. Estou com um desejo terrível de comer queijo, não consigo tirar isso da minha cabeça— digo, tentando parecer convincente.

— Ah, eu posso ir ao mercado e comprar pra você. Eu sei que as mulheres grávidas têm desejos estranhos, então eu vou lá — Hannah desliga o fogão e limpa as mãos em um pano de prato.

— Mas não é qualquer queijo, o problema eu só quero saber desse queijo — Faço um bico com os lábios.

— Hm, que tipo de queijo é esse? — Será que ela vai cair na minha chantagem emocional?

— Queijo canastra.

— Nunca ouvi falar disso na minha vida.

— É considerado um dos melhores queijos do mundo, produzido na minha terra. Eu adoraria comê-lo — digo, observando sua expressão. Ela está realmente acreditando.

— Acho que será impossível encontrar esse tipo de queijo por aqui. Não pode ser outro?

— Não, droga, meu filho vai nascer com cara de queijo agora — Minha voz soa melancólica e ela me encara.

— Como assim? — Ela fica um pouco perplexa.

— É verdade, se a mãe tem um desejo de comer algo e esse desejo não é satisfeito por muito tempo, a criança nasce com a aparência daquilo que ela queria.

Ela me encara por alguns segundos e então diz:

— Vou ver o que posso fazer, tem alguns mercados com iguarias por aqui. Mas se eu não encontrar, é melhor você ter desejos por outras coisas.

Hannah finaliza suas tarefas no fogão e sai. Meu plano superou minhas expectativas. Eu queria ir até o salão sozinha. Embora pudesse pedir ajuda a ela ou a Somi, eu precisava de um tempo longe de gente famosa. Calço minhas rasteirinhas, pego o cartão que está sobre o balcão e chamo um carro por um aplicativo semelhante ao Uber, não ando sozinha por aí nunca mais.

Eu pesquisei por salões de beleza e encontrei um altamente elogiado por seu atendimento para estrangeiras. Não quero correr o risco de ser humilhada em meu dia de princesa então marquei procedimento lá.

Ao chegar, entro um tanto tímida. O salão, embora parecido com os demais, é chique e espaçoso, nada comparado aos que frequentava no Brasil. Uma asiática se aproxima de mim com um sorriso caloroso e pergunta:

— Olá, bom dia. Seu nome?

— Clara Dias Silva. Tenho um horário marcado para as nove.

— Por favor, me siga.

Ela me conduz até uma cadeira em frente ao espelho. Pouco depois, a cabeleireira que irá me atender chega e sorri na mesma hora:

— Você é a namorada do Bang Chan!

Saco, eu tô parecendo aquelas subcelebridades que ficam famosas por sua ligação com algo. Não tem como negar então apenas sorrio.

— Me conta agora como conseguiu conquistar esse homem. Nunca consegui nem mesmo apertar a mão dos meus bias — Ela diz tão descontraída, que suspeito que também é estrangeira, apesar de ter aparência asiática.

Ela é linda, com cabelo curto, óculos e estatura baixa, além das roupas coloridas e o all Star cheio de glitter.

— Não quero falar sobre... vamos ao que interessa? —  Ela faz que sim e começa a mexer no meu cabelo, como se pensasse nas opções para ele, eu continuo — Estou cansada desse cabelo sem vida, horrível. Tenho pensado em fazer uma progressiva, já que estamos na Ásia e todos têm cabelos lisos.

— Você enlouqueceu? — Ela me olha chocada, como se eu tivesse dito algo absurdo — Seu cabelo está muito danificado, muito ainda é um elogio, mas todas as asiáticas dariam tudo por esse volume. O problema é que aqui não temos tratamentos específicos para cabelos cacheados.

— Eu já esperava por isso — pesquisei na internet, mas não encontrei nenhum salão que pudesse me ajudar.

— Bem... que tal uma super-hidratação com selagem para seu cabelo? O que acha?

— Selagem? O que é isso? Já ouvi falar, mas não sei o que é.

— É um procedimento que age internamente nos fios, proporcionando um efeito semelhante ao da progressiva. Reduz o frizz e a opacidade. Não vai desfazer seus cachos, apenas os deixará um pouco mais abertos devido à hidratação intensa. Com o tempo, seus cachos voltarão ao normal. Quando estiver fora da Coreia, poderá cuidar melhor deles para mantê-los bonitos. É o melhor que posso oferecer agora — Ela explica enquanto avalia meu cabelo — aceita?

— Sim! — Respondo com pressa, e ela sorri.

— Perfeito, vamos começar seu dia de beleza, Clara.

Apenas conversando, eu realmente fui a típica brasileira que cresceu cantando Sandy & Junior e Kelly Key com os primos nos almoços de domingo. Fora Ragatanga que a gente dançava na escola, acho que toda pessoa que cresceu nos anos 2000 teve experiências parecidas.

Não esqueça a sua estrelinha, compartilhe com seus amiguinhos

BIG HUG

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