✭Paparazzi✭
Demoro um pouco para me recuperar do nosso último beijo, sentindo-me estranha, com uma sensação de estar perdendo algo. Pisco várias vezes até decidir seguir em frente, arrumo meu cabelo, visto minha roupa e logo estou na porta de casa indo para o trabalho.
Coloco meus fones e dou play na playlist aleatória com meus favoritos. Vemos que a vida me odeia mesmo quando começa a tocar Aperte O Play da Simone e Simaria. Quem me dera se eu pudesse apertar o play pra começar de novo, coleguinhas, só me resta as memórias que me deixam extasiada só de pensar.
Estou prestes a atravessar a rua quando noto um homem tirando fotos minhas. Olho para ele, sem entender nada, e quando ele percebe que foi visto, tenta disfarçar.
— Hey, seu maluco! Quem te deixou tirar foto minha? — grito para ele, e sua única reação é sair andando — MALUCO!
A tela do meu celular acende, me fazendo visualizar as horas e como estava super atrasada. Não dá para ficar pensando sobre o motivo das fotos, então corro em direção à estação. Entro no metrô, encontro um lugar para me sentar e começo a pensar por que alguém estaria tirando fotos minhas. Começa a tocar Caso Indefinido, provando de vez que tudo está contra mim hoje. Bate um arrependimento de não ter pego seu número. Quem sabe ele poderia vir me ver quando estivesse de bobeira nos EUA...
— Não Cristiano Araújo, ele não me quer nem por um momento e nem pela vida inteira.
Digo para mim mesma e mudo a playlist para uma internacional. Mas quando o piano de Easy On Me começa, me recuso a alimentar a fanfic da minha cabeça. Tiro a música e já ia tirar o fone, quando noto que um grupo de garotas me encaram e cochicham. Decido não tirar os fones, para ouvir a conversa:
— Será que é ela?
— Olha lá o cabelo, é ela mesmo.
— Gente, ela está olhando.
As três viram o rosto, tentando não deixar óbvio que estavam me olhando. Aquilo é estranho demais, primeiro o cara das fotos, agora essas garotas, a não ser que...
Vou para o fundo do vagão e abro meu celular, que está cheio com notificações dos meus amigos, tanto brasileiros como americanos e não foi preciso muito para saber o que está acontecendo. Está em todas as redes sociais e canais de notícia duas fotos: em uma, eu e Bang Chan estamos deixando um restaurante, e na outra, chegando ao meu apartamento.
Os fãs, insuportáveis, rapidamente descobriram meu nome e meu Instagram, que antes tinha pouco menos de 800 seguidores, agora estava beirando 10 mil. Minhas fotos estavam circulando nas redes sociais e, claro, o ódio. Fotos minhas em festas, com minhas amigas, fotos com Anthony que nunca apaguei do Instagram, e mesmo que trancasse meu perfil agora, já tinham muita coisa espalhada.
Aquilo sim era um caos. Até no Brasil, com minhas amigas de lá e parentes mandando mensagens, perguntando o que estava acontecendo, pois foi parar na Choquei: "Astro do kpop é flagrado num date com uma brasileira em Atlanta". Até o Leo Dias estava falando sobre na tv. Não tinha visto as notificações antes porque coloquei meu celular no não perturbe e tenho a péssima mania de esquecer de tirar.
Chego à estação que precisava descer e corro mais que o Usain Bolt, querendo me esconder no trabalho e evitar olhares curiosos, apesar que chamo muito mais a atenção correndo que nem louca. A gente não pensa quando estamos ansiosos por algo.
A We Coffee não fica muito distante da estação e em menos de cinco minutos de corrida, já estou lá, mas travo ao olhar para a porta. Há uma pequena agitação entre algumas garotas vestindo camisetas do Stray Kids além de paparazzis que já começam a bater fotos. Ao me notarem, as garotas começam a murmurar "é ela", "o que o Bang Chan viu nela?", "Ela não parece simpática".
Mantendo meu olhar fixo no chão, entro na cafeteria, que está repleta de clientes. Kate olha de soslaio ao me ver e eu rapidamente jogo minha bolsa para baixo do balcão e pego meu avental.
— Olha só quem chegou, se não é a garota mais falada do momento — Kate diz com ironia.
— O que foi Kate? Feriu seus sentimentos estar com o cara que você é fã? — Digo, sem deixar baixo. Se ela quer arrumar uma briga, é isso que ela terá.
— Sim! Eu sou apaixonada pelo Stray Kids, por ele, e a minha própria amiga me trai assim pelas costas. Não deveria ter ficado com ele — Ela fala como se eu tivesse beijado o seu namorado.
— Larga de ser invejosa e não, eu não sou sua amiga, eu apenas te suporto. Agora, se tá incomodada porque ele não chamou você pra sair, então que você vá lá nas redes sociais e brigue com ele.
— Para de ser ridícula! O que ele viu em você é um grande mistério.
— Garota, não me provoca...
— Hey! Parem com isso! — Ashley nos interrompe e bufo.
Coloco a touca no cabelo e já ia começar com os atendimentos quando duas garotas se aproximam. Reconheço-as imediatamente; estavam aqui no dia em que Christopher veio pela primeira vez. Ótimo, não bastava a doida da Kate e agora vem mais essas:
— Você mentiu de propósito, não foi? — a loira pergunta, sem rodeio algum.
— Eu preciso trabalhar, não tenho tempo para isso — respondo, forçando um sorriso simpático e já me dirigindo ao cliente na fila.
Não se passaram nem três horas desde que me despedi do Bang Chan e todo esse caos já se formou, francamente, duvido que ele esteja sendo retaliado assim que nem eu. O cliente da fila sorri para mim, mas as garotas se colocam em sua frente, deixando claro que o assunto não encerrou:
— Mas você teve tempo para sair com o Bang Chan — a voz dela soa ácida, e aquilo é a gota d'água para mim.
— Nossa, que cheiro é esse? Parece inveja — devolvo a acidez.
— Clair, para com isso, não precisa descer ao nível delas... — Ashely intervém, aproximando-se por trás — Garotas, eu acho melhor vocês irem embora.
— Bang Chan devia estar muito desesperado para sair com qualquer uma — a garota de cabelos coloridos ignora Ashley e continua com seu ataque. Sua fala arranca uma risada da Kate, que vagabundas.
— É verdade, ouvi dizer que ele come qualquer desesperada... devia passar seu número pra ele — ao dizer isso, Ashely me belisca, e eu passo a mão no meu braço, olhando revoltada. Essas desaforadas estão me ofendendo, e eu tenho que ficar calada?
— Ouvi falar mesmo que mulheres brasileiras são todas putas, imagino o quanto se ofereceu para ele sair com você.
Para mim já chega.
— Olha aqui, vadia, vai embora daqui antes que eu te obrigue.
— Já chega! Garotas, peço que se retirem imediatamente — a voz de Geovana ecoa e, ao verem a gerente, as duas finalmente saem — Você, vem comigo — ela me olha, e eu bufo irritada.
Não acredito que essas loucas vieram me ofender no meu local de trabalho, e eu ainda vou me complicar por isso. Caminho até a sala da gerente um pouco à frente de minha amiga e já vou dizendo:
— Olha, eu não tenho culpa se essas vadias malucas estão no meu pé!
Ao adentrar a sala, sou tomada por um sobressalto inesperado. Diante de mim, há um homem asiático, vestindo trajes formais e aparentando ter cerca de quarenta anos. Ele se levanta e fixa seu olhar em mim enquanto Geovana, silenciosa, fecha a porta atrás.
— Esse é o Sr. Park Gunsun, manager do Stray Kids — anuncia Geovana.
— Você é Clara Dias Silva — diz ele, com um inglês impecável. Assinto, ainda um pouco desorientada — Sente-se, temos muito o que conversar.
Lanço um olhar apreensivo para Geovana, que sutilmente me incentiva a cooperar. Tomo assento na cadeira ao lado, enquanto ela permanece recostada no canto da sala. Sr. Park começa a mexer em alguns papéis e eu me calo, sem encontrar palavras apropriadas para a situação, embora eu conteste a gravidade atribuída ao ocorrido. Afinal, somos dois adultos que transaram; qual o problema nisso?
— Senhorita Silva, quero que assine este termo — Ele desliza um documento em minha direção. — É para assegurar que você jamais divulgue detalhes do seu encontro com Bang Chan a qualquer meio de comunicação. Se você tiver fotos em seu celular, também está garantido que não poderão ser publicadas. Além disso, o documento impõe restrições quanto à aproximação de qualquer membro do Stray Kids. Por favor, leia e mantenha-se distante; não queremos mais escândalos envolvendo o grupo.
— Uau... Longe de mim querer causar problemas ao grupo, nós apenas saímos... — começo, perplexa — Desde quando dois adultos não podem se encontrar?
— Entendo sua posição, mas é uma situação que pode gerar complicadores, então precisamos proteger o grupo — explica ele, com um tom de pragmatismo.
— E como isso me protege? Já viu a quantidade de fãs na porta? — questiono, enquanto folheio o termo sem muita atenção, incrédula com o absurdo daquela situação.
— Bem, além dos dez mil dólares pelo seu silêncio, vamos garantir proteção por algum tempo para você.
— Perdão, você disse, dez mil dólares? — indago, quase engasgando.
— Sim, e se o contrato for quebrado, terá que devolver o valor acrescido de juros. Está tudo detalhado nos termos, fique à vontade para ler com calma.
Pego os papéis e começo a ler com mais atenção . É um absurdo pensar quão complicada a situação pode se tornar apenas por sair com um idol. Sinto-me humilhada, quase como uma garota de programa, mas então me lembro da cirurgia do meu pai. Os quinhentos dólares que consegui juntar renderam aproximadamente dois mil e quinhentos reais, mas a cirurgia custaria cerca de dezesseis mil reais e precisaria ser repetida periodicamente. Ainda preciso de dinheiro para a faculdade, e dez mil dólares, convertidos, são mais de cinquenta mil reais...
— Eu preciso pensar... — murmuro, ainda indecisa.
— Claro, estarei esperando lá fora — Park Gunsun se levanta e, com um gesto, Geovana abre a porta para ele, fechando-a em seguida. Ela se aproxima de mim e diz:
— Não tem o que pensar, assina logo isso aí.
— Mas...
— Clara, seu pai precisa da cirurgia, você precisa de dinheiro para a faculdade. Qual a dificuldade em assinar?
— Não quero que ele pense que estou me aproveitando da situação... — confesso, ainda emocionada com o encontro — Eu realmente gostei dele. Sabe aquela sensação de "eu sou você e você sou eu"? Até nos vestimos de forma idêntica sem perceber. Algo me diz que, se a situação fosse inversa, ele não assinaria.
— É dele que você está preocupada? Sério? Ele é só mais um famoso que amanhã nem vai se lembrar de você. Imagine quantas garotas já devem ter assinado esse termo. Assina isso e segue em frente, não quero estragar seu encanto mas caia na real, provavelmente vocês nunca mais vão se ver. Aceite o dinheiro e ajude seus pais.
— Acho que você tem razão... — Uma das melhores partes de ser amiga da Gioh é por ela ser uma pessoa muito racional.
Eu estava emocionada, por ter saído com alguém famoso. Não duvido que, antes de deixar os EUA, outra pessoa acabaria em sua cama... Tocando aquela obra de arte que ele chama corpo enquanto seus lábios macios deslizam sobre uma pele desnuda... Chega.
Pego a caneta e assino com meu nome completo. Gioh chama o manager e eu entrego as folhas. Ao notar que estavam assinadas, ele sorri e diz:
— Foi a melhor decisão. Manterei minha palavra e daremos proteção contra as sasaengs. Tome meu cartão — Ele me entrega um cartão preto com apenas um número de telefone — Se algo muito ruim estiver acontecendo e envolver o fandom do Stray Kids, pode me ligar.
— Obrigada — Peguei o cartão e o coloco na capinha do celular.
— Ah, Bang Chan me pediu para te dizer que lamenta pela situação. Se me derem licença, eu preciso ir.
Duvido muito que ele realmente lamente algo; eu fui apenas mais uma garota, como as várias que devem ter passado por esse contrato humilhante. Eu é que tenho que me lamentar pela maldita hora em que aceitei sair com ele.
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Bang Chan Pov
Eu ainda estava tentando entender como conseguiram fotografar a gente. Na minha cabeça, alguém do restaurante deve ter avisado algum fotógrafo, e agora o STAY estava enlouquecido. Me senti mal por ela, mas tinha concordado em não ter seu número, o que me impedia de ligar para pedir desculpas. Tudo que pude fazer foi pedir ao manager que se desculpasse por mim.
Tudo aconteceu muito rápido. Num instante, eu a beijei e me despedi, desci as escadas ainda triste por saber que não a veria mais e então chamo um táxi. No segundo em que entrei no carro, o Gunsun ligou avisando sobre as fotos, e de repente a internet surtou. Os idols sempre acabam se envolvendo em escândalos de namoro, e esse foi o primeiro do Stray Kids; a mídia junto aos fãs estão massacrando a situação, então meu manager agiu rápido.
É tarde e estávamos ensaiando no palco. O primeiro show seria na sexta-feira e o último no sábado, precisamos acertar os últimos detalhes para o espetáculo. Minha cabeça está distante. Eu realmente queria encarar aquilo como apenas uma noite e nada mais. Não era como se isso nunca tivesse acontecido, mas depois de tê-la beijado e sentido seu toque em meu corpo, eu desejo mais.
A pele dela, quente e macia, ainda está muito presente em minha mente. Ainda posso sentir o gosto doce de seu beijo. O momento em que ela se deitou em meu peito e eu acariciei seus cabelos tornou-se minha nova memória favorita dessa turnê. Clara é tão linda. As garotas ocidentais sempre chamaram minha atenção, mas havia algo nela que me atraía muito mais. Talvez fossem seus olhos; seu olhar aluga minha mente e me faz sorrir. Eu queria que, de alguma forma, as coisas fossem diferentes.
— Chan, você está muito disperso, tudo bem? — perguntou Han, e eu aceno com a cabeça afirmando.
— Só estou preocupado com a situação. Queria vê-la de novo e pedir desculpas.
— Não se preocupe, o Gunsun disse que resolverá isso, ela vai ficar bem — comenta Hyunjin, e voltamos a passar o som.
O manager planejava enviar o típico contrato que oferece dinheiro em troca do silêncio. Mas eu não sabia dizer; ela não parecia ser o tipo de pessoa que aceitaria dinheiro dessa maneira. Na verdade, sentia que ela apenas guardaria as memórias, sem a necessidade de compartilhá-las com ninguém. Confesso que, se isso acontecesse, eu teria certeza de que ela era a garota perfeita para mim. Eu quero pensar que ela é perfeita, pois nossos momentos juntos foram perfeitos. E, sendo sincero, eu queria vê-la de novo. O contrato garante que ela fique distante. Eu tenho certeza que na menor brecha, poderia ir atrás dela.
Quando Gunsun me informa que ela havia assinado o contrato, senti uma pontada de decepção. Afinal, parece que todo mundo tem seu preço, e o que estava feito, estava feito. Ela não poderia mais tentar se aproximar de mim. Uma pena.
Os dias que se seguiram foram marcados por dois shows lotados, e eu vivi momentos preciosos ao lado dos STAYs. No entanto, minha noite com Clara continuava fixa em minha mente. Após o último show, precisamos correr para o aeroporto e partir para Los Angeles. Juntamos tudo no hotel e entramos no carro rumo ao aeroporto.
O veículo segue adiante, e, enquanto observo a rua próxima a We Coffee, uma parte minha quer ouvir minha própria emoção, mandar parar o carro e ir até a casa dela. Mas isso é apenas um devaneio, algo reservado para minha imaginação. Então, em silêncio, despeço-me dela, pensando que, seja lá quem conquistasse seu coração, seria um cara de sorte.
É sempre um bafafá quando surge um idol namorando ou de rolo com alguém, o que não deveria acontecer né, eles são seres humanos, precisam viver suas vidas e não tem nada de errado com isso
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