✭O Dormitório✭


Uma enorme confusão se seguiu, e embora eu não consiga compreender nada do que está sendo dito, a gerência do aeroporto mostra-se visivelmente irritada com os acontecimentos. Christopher, por sua vez, parece resignado, apenas assentindo antes de me indicar que devemos continuar caminhando. O sigo em silêncio, supondo que ele está me conduzindo até minha mala, mas, para minha surpresa, ele marcha em direção à saída. Seguro-o pelo braço, um tanto indignada:

— Hey, minha mala.

— Não vou conseguir pegar sua mala agora, desculpe. Mas vão devolver — responde ele, acelerando o passo, enquanto eu me esforço para acompanhá-lo.

— Mas, o que eu vou fazer? Eu preciso das minhas roupas!

— Clara, se não quiser uma chuva de ódio agora, precisamos sair daqui, já — ele fixa os olhos nos meus e então observo ao redor.

Embora ninguém se aproxime, várias pessoas nos fotografam e filmam. Nesse momento, percebo o quão desastrosa fora a decisão de ouvir Christopher e desistir do voo. Voltamos a andar em passos largos até um carro preto estacionado próximo, e ele abre a porta para que eu me acomode. Assim que entro, meu celular vibra; é Gioh, avisando que um vídeo já circula nas redes sociais. Neste, Bang Chan grita e me impede de entrar no avião. Christopher assume o banco do motorista e parte rapidamente. Aperto 'play' no vídeo, e ele lança um olhar de soslaio:

— Não dê atenção... nas próximas horas nossos nomes podem estar na boca do povo, mas quanto menos você se importar, mais fácil será lidar com isso — aconselha ele, mantendo o foco na direção.

— Não quando "vadia" é a coisa mais fofa que te chamam — lamento. Aquelas pessoas exageram, chegando a ofender até minha mãe, que sequer está ciente dos meus problemas.

— Eu nunca tive a chance de me desculpar formalmente por isso... Eu sinto muito pelas coisas que fizeram com você — ele desvia o olhar da estrada para me encarar, exibindo um pequeno sorriso, mas logo volta a olhar para frente.

— E vão fazer de novo porque você me fez ficar... Deveria ter me deixado ir.

— Clara, eu já disse, é um filho, e isso é muito sério.

Eu sei que é sério, mas deveria ter pensado nisso antes de transar comigo...

É o que eu gostaria de dizer, mas permanece preso em minha garganta, e tudo que consigo murmurar é um:

— Hum...

O resto do caminho é envolto em silêncio. O celular dele toca repetidas vezes, mas ele escolhe ignorar cada chamada. Chegamos a um prédio que se destaca por sua grandiosidade e sofisticação, bem mais imponente do que eu esperava, e ele manobra o carro até uma vaga na garagem. Assim que o veículo para, ele desce e eu o sigo, caminhando juntos em direção ao elevador.

Chegando ao andar selecionado por ele, faz um gesto para que eu saia, e vem atrás de mim. Percorremos o corredor enquanto ele vasculha seus bolsos até encontrar as chaves. Abre a porta e me convida a entrar com um gesto. Adentro o espaço, tímida, observando a sala e notando vários sapatos em um canto e, do outro lado, uma cozinha:

— Onde a gente está? — indago, fixando meu olhar nele.

— Meu dormitório. Divido com mais três amigos.

A quantidade de sapatos ali é um claro indicativo da presença de mais pessoas. Lembro-me de Kate mencionando que asiáticos têm o costume de tirar os sapatos dentro de casa. Estou prestes a retirar os meus quando ele intervém rapidamente:

— Um instante, por favor — Christopher se dirige ao corredor e entra em um cômodo que suponho ser seu quarto. Retorna em seguida, trazendo um par de pantufas grandes e diz:

— Não fique descalça, não quero que pegue um resfriado.

Sinto meu rosto corar com seu cuidado, e piscando, tento resistir à tentação de ficar caidinha por ele. Aceito as pantufas, troco de calçado e sinto-me cada vez mais envergonhada, lamentando não ter embarcado naquele avião com minhas amigas. No entanto, o olhar dele naquela hora derreteu minha resistência, e pensei: "Por que não? Seria bom ter o pai presente no parto." Mas olhando para minha situação, me sinto humilhada.

— É melhor eu voltar para o miniapartamento. Seus amigos não me conhecem, e eu não quero invadir o espaço deles — busco de toda forma uma desculpa para me afastar dele.

— Não vou deixar que a mãe de um filho meu fique naquelas condições. E aqui é só por esta noite; vou providenciar um lugar para você — sua voz é gentil, e seu olhar, carregado de preocupação.

Suspiro, derrotada, e me sento no sofá. Ele permanece em silêncio. Seu celular toca novamente, e desta vez, ele se desculpa antes de atender, saindo do apartamento. Deve ser aquele manager maldito com mais um contrato. Cubro meu rosto com as mãos, incapaz de afastar a sensação de desolação.

Esta não é a vida que planejei ao sair da cama confortável na casa dos meus pais e me arriscar mudar de país. Luto muito, enfrento dificuldades inimagináveis para continuar sem um centavo no bolso, e agora, pior ainda, estou totalmente dependente de um homem que nem sequer é meu namorado, em um país cuja língua mal conheço.

Mas pelo menos ele acredita em mim né; se não acreditasse, não teria dito "mãe de um filho meu". No entanto, isso não muda o fato de que estou em uma situação desesperadora.

As lágrimas são inevitáveis. Por que tudo isso está acontecendo comigo? Por quê? Fui traída, humilhada com café quente jogado em meu rosto, perseguida e massacrada nas redes sociais, grávida e sem ter onde cair morta, e o pai, embora gentil, é alguém tão inacessível... Qual é o meu problema?

A porta se abre repentinamente, revelando Christopher. Ele desliga o celular e caminha em minha direção. Em um impulso, viro-me e enterro meu rosto na almofada do novo sofá, que já se torna cúmplice dos meus problemas. Continuo chorando, e de repente, sinto seus dedos tocando meu cabelo de forma delicada. Levanto um pouco o rosto e vejo seu olhar carregado de preocupação. Assim que contenho as lágrimas, ele esboça um leve sorriso e diz:

— Nada vai te acontecer... eu vou proteger vocês.

— Para de dizer coisas que você não pode cumprir — rebato, sem querer alimentar ilusões de que ele possa mesmo me proteger em qualquer circunstância. Ele é apenas uma figura pública, acostumado a relacionamentos passageiros, e eu acabei sendo a "felizarda" que engravidou — Me diz... toda garota que ficou com você assinou aquele contrato idiota?

Ele me encara, confuso com minha pergunta, enquanto meu olhar se torna desafiador. Ele realmente pensa que eu não sei que é um cafajeste?

— Não entendi bem seu posicionamento mas... Por mim, eu teria ido pessoalmente à cafeteria e conversado.

— Mas não foi, claro que não — o interrompo — E você não tinha por que ir, foi só uma noite que infelizmente me trouxe até aqui então... Não diga coisas que você não vai cumprir.

Ele continua a me observar, seu rosto expressando uma mistura de culpa e tristeza. Ele se agacha para ficar ao meu nível e oferece um sorriso fraco:

— Eu insisto. É uma promessa — ele alisa minha testa e nossos olhos se encontram.

Por um momento, quero afastar sua mão e dizer que não preciso de sua ajuda — o que seria uma grande mentira — mas não consigo repeli-lo. Seu toque quente me acalma e começo a acreditar que tudo ficará bem. Seu carinho me atrai irresistivelmente; desejo que ele me envolva em seus braços e repita que tudo ficará bem. Seus dedos deslizam da minha testa até minha bochecha, provocando um leve arrepio.

A porta se abre, fazendo com que ele retire a mão de meu rosto e olhe na direção da entrada. Escuto vozes, mas estão falando em coreano, e são várias. Ele se levanta e se dirige às vozes, enquanto eu me ergo para ver o que está acontecendo. Três pessoas estão ali, aparentemente seus companheiros de grupo. Eles me encaram com expressões de surpresa enquanto Bang Chan diz algo em coreano. Sinto-me frustrada por não entender a conversa, imaginando que ele esteja lamentando para seus amigos que sua carreira acabou e que eu sou uma interesseira.

"Nem você acredita nisso"

Minha consciência, sempre crítica, tenta me convencer do contrário, me detesto por isso.

No final, não sei se por educação ou se Bang Chan os instruiu, mas os três dizem "oi" em uníssono e seguem para o corredor. Antes que eu possa dizer qualquer coisa, Christopher retorna e sugere:

— Por que você não toma um banho enquanto eu preparo algo para comer?

— Não vou andar pela sua casa... e eu não tenho outras roupas comigo, esqueceu?

Ele acena afirmativamente com a cabeça e, aproximando-se, toma minha mão e me conduz. Inicialmente, tento protestar, mas acabo o seguindo sem resistência. Percorremos o corredor até ele abrir a porta do que parece ser seu quarto. Hesitante, permaneço à entrada, observando enquanto ele se dirige ao guarda-roupa. De lá, ele retira um conjunto de roupas e uma toalha, estendendo-as em minha direção:

— É o suficiente. Tome um banho e relaxe, logo haverá algo para comer.

Me sinto estranha sendo cuidada por um homem, uma sensação nova para mim. Anthony, apesar de atencioso, nunca foi tão protetor. Porém, entendo que seu cuidado não é dirigido a mim, mas ao que carrego dentro de mim. Decido, então, afastar as distrações e concentrar-me no essencial. Dirijo-me ao banheiro, tirando minhas roupas. A situação como um todo me deixa constrangida, espero mesmo que ele encontre outro lugar, dado que seus amigos parecem não aprovar minha presença.

Me demoro no banho, o jato quente é tão reconfortante que a minha vontade é de nunca mais sair dali. Terminado o banho, me enxugo e examino as roupas que ele me entregou: uma calça de moletom cinza e uma blusa de moletom preta com a inscrição "Mahagrid". As peças ficam largas em mim, mas isso já era esperado. Recolho as roupas que usava antes, calço as pantufas e retorno pelo corredor à sala, onde os vejo sentados ao redor de uma pequena mesa, criando novamente uma atmosfera tensa. Ao lado de Christopher, há uma tigela com comida, enquanto os outros já estão servidos.

— Deixa isso aí e vem comer — Christopher instrui, referindo-se às roupas e à toalha que ainda seguro.

Embora relutante, a fome me vence e faço como ele sugere, sentando-me ao seu lado sob os olhares inquisitivos dos outros. Para minha surpresa, um deles quebra o gelo e diz em inglês:

— Oi, eu sou Han Jisung, mas pode me chamar de Han, Hannie, Hanji, esquilinho, o que preferir — Ele sorri, sendo todo simpático. Seus cabelos são de um loiro escuro, provavelmente tingidos, e suas bochechas, um tanto rechonchudas, justificam o apelido de esquilo. Suas unhas estão pintadas de preto, e ele exibe um semblante amigável.

*Han Jisung, All Rounder of SKZ*

— Olá, Han Jisung, sou Clara.

— Sabemos quem você é — interrompe um rapaz mais baixo, com cabelos pretos e uma franja que se divide ao meio. Seu rosto, embora cheio, tem contornos pontiagudos, e seus braços robustos sugerem que ele é marombeiro. Ele prossegue — eu sou Seo Changbin, muito prazer.

*Seo Changbin, Main Rapper and sub vocal of Stray Kids*

— Olá...

— Eu sou Hwang Hyunjin, espero que tenha um bom descanso enquanto estiver aqui conosco — ele diz, mantendo a formalidade típica coreana. Hyunjin é o mais alto entre eles, com feições delicadas e cabelos loiros longos, ostentando uma beleza quase angelical.

*Hwang Hyunjin, main dancer, lead rapper and vocal of Stray Kids*

Ninguém mais se pronuncia e todos me observam, aguardando que eu comece a comer. Diante de mim, percebo dois palitos metálicos e logo recordo que os asiáticos fazem uso deles para comer. Porém, ao lado, encontro uma colher e opto imediatamente por ela. A comida está deliciosa e logo os rapazes retomam suas conversas em coreano, o que me deixa um tanto desconfortável. Han percebe minha inquietude explica:

— Não se preocupe, estamos conversando em coreano porque nosso amigo aqui — ele aponta para Changbin, que concorda com a cabeça — não fala inglês muito bem. Estamos discutindo sobre o Lollapalooza em Paris, onde vamos nos apresentar.

— Sério? Uau, isso é incrível! Eu estive no Lolla de Chicago há alguns anos, logo que cheguei aos Estados Unidos.

— Você mora lá há muito tempo? — Hyunjin indaga com curiosidade.

— Fui para lá aos vinte anos e, considerando que estou quase fazendo vinte e quatro, são quase quatro anos.

— Uau, isso realmente é bastante tempo — Hyunjin responde, e eu ofereço um sorriso em retorno.

A conversa é breve, mas flui bem até que todos terminam suas refeições. Hyunjin começa a recolher a louça enquanto Bang Chan já se ocupa com a limpeza. Permaneço sentada, sem saber exatamente o que fazer. Geovana já enviou várias mensagens, preocupada se estão me tratando bem, se comi e se estou bem. Minhas amigas do Brasil também mandam mensagens, pois a notícia de que estou na Coreia já circula pelo mundo e, a essa altura, parece inevitável evitar os tabloides.

— Ei, vai começar um programa musical na TV, quer assistir? — Han me pergunta, e eu aceno com a cabeça confirmando.

Caminho até a sala com timidez e me acomodo um pouco distante, enquanto ele liga a TV. O programa exibe diversos videoclipes, que assisto com atenção. Os clipes são muito coloridos e variados nos estilos musicais. Acabo entretida com aquela variedade de músicas e coreografias legais:

— Essa banda é legal — comento ao ver um garoto de cabelos loiros cantar.

— É o T.X.T, eles são muito bons.

— Sim, eles mostraram vários estilos diferentes, achei divertido.

— Como assim? — Ele me olha confuso.

— Ué, as músicas que passaram, todas diferentes e interessantes.

— Ah, mas já passaram mais de oito boybands aqui — ele ri ao ver minha expressão surpresa e continua — Você não conhecia o K-pop, né?

— Não, só ouvi falar.

Nunca fui fã do estilo. Lembro-me de uma garota na escola que era apaixonada por K-pop e era frequentemente zombada. Ela usava roupas no estilo e-girl, fones de ouvido em formato de gatinho e certa vez chorou na sala porque alguém chamou um tal de "T.O.P" de gay. Sempre achei ela um pouco estranha, mas nunca tive nada contra. Quando o BTS ganhou fama mundial, suas músicas tocavam no Graal, mas nunca me interessei muito, achava tudo muito colorido. Meu limite para músicas coloridas sempre foi Disney Channel, RBD, Restart e Manu Gavassi.

— Quer ouvir algo que goste? — Ele oferece o controle remoto.

— Ah, eu não acho que você vai gostar do que eu gosto — respondo, pensando nos modão de sertanejo que eu sempre escuto.

— Aigooo, como você sabe? Coloca aí — ele insiste, encorajando-me a compartilhar meu gosto musical.

Ele ajusta o idioma da televisão para inglês, acessa o YouTube e, gentilmente, me passa o controle remoto. Decido buscar algo leve e seleciono "Tempo Perdido", do Legião Urbana. A música inicia com os acordes suaves de uma guitarra ao fundo, capturando a atenção do coreano quase que imediato.

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Tempo Perdido - Legião Urbana

Ouvir essa melodia evoca lembranças de tempos longínquos. Na época, eu morava em um lugar isolado e estudava em uma cidade vizinha chamada Itaúna. Meus amigos adoravam rock brasileiro. Participávamos de um evento mensal, todo primeiro domingo, chamado "Cidade Conversa". Sempre que ocorria, eu passava a noite na casa da Fran, minha amiga. Nos esparramávamos na grama, bebendo Corote e catuaba que comprávamos no "postinho", o único lugar por perto que vendia bebidas alcoólicas para menores.

Diversas bandas se apresentavam, e, ao término das músicas, meu amigo Bruno sempre trazia seu violão, estendendo nossa diversão até altas horas da madrugada. Já fazia muito tempo que eu não via minha turma do Brasil. Mantínhamos um grupo no WhatsApp com Fran, Adri e Andressa, minhas amigas mais próximas da escola. Trocávamos mensagens ocasionalmente, mas cada uma de nós seguiu com sua vida, e eu estava certa de que todas estavam muito melhor do que eu.

— Uau, eu adorei! Por que disse que eu não ia gostar disso? Um rock bem suave. Do que fala a letra? — indaga Han, trazendo-me de volta à realidade.

— Ah... para ser sincera, nunca prestei muita atenção na letra. Acho que fala sobre como as pessoas são jovens, mas se tornam escravas do sistema e, por isso, não conseguem ter tempo e controle sobre suas próprias vidas... algo assim, eu acho. — respondo, quase certa de que essa foi a explicação que recebi quando perguntei a Bruno sobre o mesmo assunto.

— Profundo.

— Tem algum rock no K-pop? — pergunto, curiosa, querendo ouvir algo com o qual pudesse me identificar.

— Hm, estou com uma música na cabeça. Não é bem rock, mas acho que vai gostar.

Ele então seleciona uma música chamada "Man in Love" de um grupo chamado "INFINITE". Apesar da letra ser um pouco estranha, já que não estou familiarizada com a música coreana, a batida envolvente e a harmonização das vozes me agradam bastante, e sorrio em sinal de aprovação.

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Man In Love - Infinite

— Tá vendo? Escutei essa música no karaokê e não sai da minha cabeça. Talvez devesse nos acompanhar algum dia — ele sugere com um sorriso amigável.

— Jamais! Existem muitas coisas que eu não faço nesta vida e uma delas é cantar — a mera ideia já me deixa em pânico, imagina cantar na frente deles? Deus os livre dessa tortura.

Ele ri ao ver minha expressão de pânico.

— É sério, coreano, você não vai querer me ouvir cantar.

— Certo, me mostra outra que você goste. — Ele me entrega o controle novamente.

— Tá, vou te mostrar algo que era muito famoso e que, pelo menos na minha adolescência, todo mundo sabia cantar — literalmente, todos conheciam essa música.

Coloco "Carla" do LS Jack para ele ouvir, começo a bater meu pé no ritmo da música e murmuro a letra baixinho. Han parece encantado com a canção, que ele nunca ouviu antes. De repente, ele se levanta e caminha até o canto da sala, onde percebo que há um violão. Ele o retira cuidadosamente de sua capa e volta a se sentar ao meu lado.

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Carla - LS Jack

Então, começa a dedilhar as cordas do instrumento, tentando reproduzir a música apenas de ouvido, e eu fico impressionada. Sempre achei incrível quem consegue fazer isso, não que minha opinião importe muito, já que me tudo me impressiona.

Mesmo errando algumas partes, ele consegue acompanhar a maior parte da música e, quando termina, sorri e diz:

— Como posso ter passado a vida sem conhecer isso? Eu amei essa música, vou aprender a tocá-la.

— Vou te ajudar com isso, Han — sorrio para ele.

Começo a pesquisar a cifra no meu celular e a mostrar para ele, e sem demora, Han já está tocando. O que ele realmente não consegue é cantar a letra em português, mas considerando que português e coreano são línguas muito distintas, isso não me surpreende.

— O que estão fazendo? — pergunta Christopher, entrando na sala. Nós dois olhamos para ele.

— Clara me ensinou uma música brasileira. Como é mesmo o nome? Vou adicionar na minha playlist — Han responde animado.

— "Carla", do LS Jack — digo rapidamente.

— Han, desculpe interrompê-los, mas acho melhor deixar a Clara descansar. Amanhã o dia vai ser longo — diz Christopher, e Han concorda.

— Certo, bom descanso, Clara.

— Boa noite — respondo, grata pela consideração dele, pelo menos alguém além de Christopher.

Han, com suas bochechas rechonchudas, se levanta, guarda o violão e se retira para o seu quarto. Desligo a TV e fico encarando Christopher, que também me olha, esperando que eu diga algo. Ele decide quebrar o gelo:

— Arrumei a cama do meu quarto, você pode dormir lá.

— Sem chance, já fiz amizade com o sofá — digo, alisando a almofada.

— Clara, aqui não é tão confortável, por favor, vá para meu quarto.

— Christopher, desista. Estou muito bem aqui.

Ele suspira impaciente, mas não insiste. Desde que nos reencontramos, meus sentimentos estão confusos e tumultuados. Me recuso a ficar num quarto sozinha com ele, especialmente porque foi ficar sozinha com ele num quarto que nos levou a essa situação complicada. Parece que ele desiste, pois não diz mais nada, vai até o corredor e volta trazendo uma coberta e um travesseiro, o que aceito de bom grado.

— Boa noite, se precisar, pode me chamar no quarto.

Apenas sorrio em resposta e me acomodo no sofá. Gente rica às vezes não tem noção do que diz; o sofá do meu apartamento era duro como rocha, mas este aqui parece um monte de algodão de tão confortável. Me aninho nele e, antes de dormir, verifico as mensagens. Geovana mandou mais algumas, e respondo todas antes de pegar no sono.

Eai queridos, tudo bom?

Quero expor 3 coisas haha. A primeira:

A menina E-girl taxada de estranha na escola realmente existiu e era eu :3. Muita gente fazia bullying comigo por eu gostar de kpop e nossa, foi uma época horrível e a história da menina chorando na sala pelo T.O.P era eu também kkkkkkk ah perolas, ainda bem que meu ensino médio jaz morto e enterrado lá no passado.

A segunda coisa é que o evento "Cidade Conversa" realmente é real e eu ia todos os possíveis onde a gente se sentava na grama da praça junto 27637864 cachorros que brotavam, enchíamos a cara de vodca barata e catuaba enquanto ouvíamos bandas de garagem tocar no coreto. No final, a gente ia para uma pracinha carinhosamente apelidada de "Pracinha dos boys" porque se localiza num bairro de classe alta da cidade onde sempre aparecia alguém com um violão e novamente ficávamos lá bebendo, alguns usando suas ervas e outros se pegando enquanto cantávamos as mesmas musicas de sempre. 

Essa sou eu no final do Cidade Conversa com uma das minhas várias camisas do Batman.

Essa aqui é uma foto famosa do rolê onde estamos na tal praça dos boys e vou poupar vcs da minha cara de bêbada haha

A terceira é que eu fui vocalista de uma banda de garagem por um tempo onde o guitarrista foi meu namorado e apesar dos pesares foi uma época divertida. Eu gravei um pedacinho de "Carla" que era uma das músicas que a gente sempre cantava juntos e desculpe a voz péssima, um resfriado me pegou de jeito aqui.

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É isso galerinha, espero que tenham gostado e não esqueça a estrelinha

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