✭Emoção Antes da Razão✭


Gunsun passa cedo pelo dormitório e nos encontramos. Ainda não contei aos outros membros porque a situação parece surreal. Uma parte de mim está cética. Afinal, eu usei camisinha. Quem em sã consciência teria relações casuais com quem não se tem um relacionamento sem sequer pensar em usar proteção? Portanto, há uma grande possibilidade de a Clara estar enganada.

Não acredito que ela esteja tentando me aplicar um golpe. Talvez tenha cometido um erro nos cálculos e eu não seja o pai. No entanto, há uma voz persistente em minha mente que se recusa a aceitar todas essas suposições. Vamos encarar os fatos: acidentes acontecem e talvez esse filho realmente seja meu. Esse assunto me perturbou e mal consegui dormir. Gunsun está certo: isso não pode se tornar público por hora, o fandom junto aos antis-SKZ vão me cruxificar e de quebra, os outros coreanos juntos. Além do mais vão massacrar Clara e eu quero evitar isso.

Não demora muito para estarmos a caminho do local onde a Clara está. Mesmo que eu não demonstre, estou muito ansioso. Além das preocupações sobre a paternidade, outras questões rondam minha mente: Como ela está? Como ela chegou até aqui? Está se alimentando bem? Sei que ela não tem muito dinheiro, pois estive em seu apartamento e ela me contou sobre sua vida. Portanto, estou genuinamente preocupado com tudo o que ela teve que passar para chegar à Coreia. Este é um dos motivos pelos quais minha consciência insiste que ela esteja falando a verdade.

Changbin me aconselhou a não deixar as emoções tomarem conta, pois ainda existe a possibilidade de ela estar mentindo, e só terei certeza disso quando o exame de DNA estiver pronto. Mas quem estou tentando enganar? Pensei que tinha superado aquela noite, mas ao saber que ela estava na Coreia, minhas emoções se tornaram confusas e tumultuadas. Pergunto-me como ela se sentirá ao me ver de novo.

Chegamos a um pequeno prédio e estacionamos o carro na primeira vaga disponível. Assim que saímos do veículo, alguns olhares se voltam para mim, mas já estou acostumado com esse tipo de atenção.

— Já avisei que viria. Não mencionei sua presença para evitar que elas planejem algo contra nós — Gunsun comenta, saindo do carro e observando o prédio com desgosto.

— Gunsun, pare com essas acusações, por favor — eu respondo, enquanto entramos no prédio.

O edifício é um conjunto com pequenos apartamentos e não tem elevador. Subimos até o quarto andar e, à medida que caminho pelo corredor, sinto minha respiração ficar mais difícil. O som de vozes vindas da cozinha me faz quase ter uma taquicardia, mas quando chego lá, não vejo Clara, apenas suas duas amigas que me encaram em choque.

— Onde está a Clara? — Gunsun pergunta, sem rodeios.

Eu me inclino para cumprimentá-las e digo:

— Bom dia...

Elas parecem totalmente atônitas com minha presença, pois não dizem nada, apenas me encaram. Achei que a garota de cabelos coloridos iria se jogar em mim, como a última vez, mas ela está chocada demais, acho que não esperavam mesmo a minha presença. Gun-sun perde a paciência e fala de forma áspera:

— Fiz uma pergunta e gostaria que fosse respondida.

— Em primeiro lugar, seja mais educado. Em segundo, ela está se sentindo mal, então íamos chama-la quando você chegasse... mas a gente não esperava ele — a garota de cabelos coloridos, responde, apontando para mim.

— Então, o que estão esperando? Chamem-na!

— Na verdade, eu... gostaria de falar com ela em particular primeiro — digo, enquanto Gun-sun me lança um olhar incrédulo.

— Isso está fora de cogitação.

— Gunsun, eu preciso falar com ela, está bem? Me dê pelo menos dez minutos. Entendo sua preocupação, mas preciso fazer isso sozinho...

— Cinco minutos. Vou começar a cronometrar a partir do momento em que se mover — ele responde, verificando seu relógio.

— Nossa, você é intragável, hein? Siga por esse corredor até a última porta. Vai lá, lindo — a amiga de pele negra diz, e eu sorrio para ela.

Saio da cozinha e me encaminho para onde ela indicou. Observo a última porta e sinto minhas mãos começarem a suar. Não sei ao certo o que esperar ao revê-la, nem o que dizer. Por que isso é tão difícil? Todas as vezes que imaginei reencontrá-la, nunca envolviam uma criança. Conto até três e bato na porta.

Não conseguirei encará-la imediatamente, então desvio meu olhar para o chão. Escuto o som da porta sendo destrancada. Quando ela se abre, ouço apenas a respiração dela. Decido erguer meu rosto e lá está ela. Seus cabelos não estão mais ruivos, mas ainda têm os cachos que acho adoráveis. Ela veste um moletom e calça jeans, e está extremamente pálida. Parece atônita, sem saber o que dizer. Sua única reação é voltar para dentro do apartamento e correr para o banheiro, onde vomita e me deixa preocupado.

Tomo a liberdade de entrar, mas o espaço é tão pequeno que me sinto desconfortável. Ela dá descarga, lava o rosto e a boca, e sai do banheiro, fechando o box. No entanto, ela não se aproxima, mantendo-se o mais distante possível:

— Você está bem? — ela não parece muito saudável, sua palidez entrega que deve estar se sentindo fraca.

— Tô de boa. Não era necessário ter vindo aqui — ela diz com frieza, porém sua voz ressoa como música aos meus ouvidos; senti saudades dela.

— Acredito que o assunto é sério e justifica minha presença — respondo, enquanto ela fita o chão.

— Veio me chamar de golpista também? Não perca seu tempo, estou indo para casa.

— Clara... Como descobriu? — No momento, minha única preocupação é saber dela.

— Senti mal-estar na We Coffee e, como já estava se tornando frequente, minhas amigas compraram um teste de gravidez na farmácia e fiz... — ela diz, ainda com o olhar baixo, e coloca as mãos nos bolsos do moletom.

Ficamos em silêncio, apenas se encarando. O que mais devo perguntar? Droga... que situação. Preciso manter a calma, então pergunto:

— Já fez outros exames?

— Realizei um ultrassom e o médico disse que está tudo bem, já se passaram três meses.

— Três meses desde a última vez que nos vimos? Uau... — Observo-a, desejando me aproximar, tocar seu rosto delicado e dizer que senti saudades. Queria contar a ela que aquela noite nunca saiu dos meus pensamentos, queria muitas coisas. Mas devo seguir o conselho de Changbin: razão antes da emoção — Clara, olha... Você sabe que não quero duvidar de você...

— Mas se houver dúvidas, tudo bem, você não precisa acreditar em minhas palavras. Vim até aqui porque achei que tinha o direito de saber, afinal, terá suas responsabilidades. Quando o bebê nascer, avisarei, e então poderá se preparar para o exame de DNA.

— Clara... Me dá um tempo para pensar no que fazer. Esta notícia também me pegou de surpresa, tenho o direito de duvidar, mas quero acreditar em você — a encaro nos olhos e ela desvia, está na defensiva.

— Você não precisa decidir nada até o nascimento da criança. Sua responsabilidade é com ela, não comigo.

Minha mente está uma confusão, sempre tive uma resposta para tudo, mas pela primeira vez estou completamente sem palavras. Preciso encarar a situação com maturidade. Passei todo esse tempo sem vê-la. Conheço meus sentimentos, mas e ela? O que ela sente por mim? Me incomoda um tanto duvidar de suas palavras, mas estou tentando me manter racional.

— Peço doze horas para refletir.

— Impossível! Estou partindo para os Estados Unidos às seis da tarde. Como já disse, não há decisão a ser tomada. Não quero que faça nada por mim. Não serei motivo para prejudicar sua carreira — sua voz soa irritada e dou um passo em sua direção, mas ela faz um gesto com a mão para que eu não me aproxime.

— Clara, é um filho, é algo muito sério. Não deveria estar pensando na minha carreira... — sei que estava preocupado com a mídia, mas ao vê-la, a última coisa em minha mente agora é como isso afetará minha carreira. Encarando seu rosto, só consigo me preocupar com como ela vai se sustentar com meio salário e morando em um apartamento que precisa urgente de reformas.

— Bem... sua carreira é importante, já que me fizeram assinar um contrato para ficar longe, então sim, não quero ser o motivo para arruinar sua carreira — sua voz soa áspera.

Estou prestes a formular uma resposta quando a porta se abre e vejo meu manager com o contrato em mãos:

— Seu tempo acabou, volte para o carro e eu assumo daqui.

Meu olhar encontra o de Clara, mas ela desvia novamente. Se ela não gostou do contrato, por que o assinou? Tudo isso está confuso demais para mim. Decido não confrontar Gunsun e me despeço, porém ela permanece em silêncio. Saio do pequeno apartamento, mas não vou em direção ao carro; sigo andando sem rumo. Minha mente está tumultuada, preciso organizar meus pensamentos.

Não é que eu não queira ser pai, mas nunca me imaginei assumindo esse papel de repente, no auge da minha carreira. Embora eu tenha o apelido de "pai" do Stray Kids, é algo completamente diferente.

Caminho até que a fome começa a me incomodar e encontro um restaurante onde como algo rapidamente para saciar a fome, mas a comida desce como chumbo. Preciso compartilhar isso com alguém, então decido mandar uma mensagem para a pessoa mais sábia que conheço: minha mãe. Ela certamente saberá o que fazer, mas como posso aparecer do nada e contar a ela sobre isso? Felizmente, ela não responde, e acredito que nem responderá por enquanto. Então retorno à empresa, onde encontro os outros na sala de treino. Entro sem dizer uma palavra, apenas fecho a porta.

— Ei, Chan, foi comprar cigarros? — Seungmin pergunta segurando o riso, e demoro a entender a piada, olhando para Han e Changbin que estão em um canto.

— Não olhe para mim assim, foi ele quem contou — Changbin aponta para Han, que fica indignado por ter sido entregue tão facilmente.

— Eu só comentei sem querer... — ele se defende, mas não estou irritado; em algum momento todos saberiam.

— Chan, existe algo chamado preservativo, não te ensinaram na escola? — Hyunjin diz — até o Innie usa, como você deixou isso escapar?

I.N fica vermelho e ri. Ele não gosta muito de expor suas intimidades entre todos.

— Mas eu usei... — é uma das coisas que tenho pensado a noite toda.

— Então é pouco provável que seja seu — Minho diz, apoiando-se no ombro de Han.

— Nenhum método é 100% eficaz, se não quer correr riscos, é só não transar — Felix comenta descontraído, arrancando risadas de todos.

— Ou ficar com homens, cof cof Han — Changbin provoca Han, que o encara.

— Ei! ... não consigo discordar disso.

— Chega desses assuntos, preciso distrair a mente — digo, e todos concordam.

A tarde passa lentamente, e ainda me sinto estranho, tentando relaxar, o que parece impossível. Os membros perceberam o quanto estou ansioso e evitam tocar no assunto, focando apenas no Lolla. No Bubble, os fãs continuam cobrando minha presença, então decido enviar uma mensagem apenas para verificar algo.

"O quanto o STAY ama o Channie?"

Uma pergunta boba, mas que rapidamente repercute. Estou testando todos, sabendo que metade desses fãs que enviam mensagens afetuosas para mim me odiarão assim que a notícia sobre Clara e a criança se tornar pública. Ainda assim, espero encontrar apoio entre aqueles que afirmam nos apoiar.

Meu celular começa a vibrar e, ao pegá-lo, percebo que é minha mãe ligando. Peço licença a todos na sala de treino e me retiro para outra sala vazia, buscando um lugar tranquilo para conversar com ela:

— Omma!

Chris querido, o que houve? Recebi uma mensagem sua dizendo que precisava falar comigo urgente. O que aconteceu?

Neste momento, fico paralisado. Não sei como abordar o assunto com ela, minha respiração torna-se pesada e sinto uma tontura. Ela logo percebe que algo está errado e diz:

Filho, se algo estiver acontecendo, preciso que me conte para que eu possa te ajudar...

— Omma... podemos falar sobre situações hipotéticas?

Claro... hipotéticas... sim, claro que podemos — minha mãe não era ingênua, mas preferia manter a conversa nesses termos.

— Certo, vamos supor que, hipoteticamente, eu tenha contribuído para algo que pode mudar minha vida inteira, porém existe a possibilidade de a pessoa estar mentindo. Isso está me consumindo, pois não sei como agir... tenho todos os recursos para ajudar essa pessoa, mas fico me questionando... e se ela estiver mentindo? O que devo fazer?

Ouço minha mãe suspirar do outro lado da linha, o frio na barriga aumenta e começo a bater o pé ansioso. Então, ela diz:

Filho, deixe-me dizer uma coisa. Se ela não estiver mentindo, você vai se arrepender profundamente por não ter ajudado — será que ela já entendeu a situação toda? — Se for mentira, sua consciência ficará limpa, pois você fez a sua parte. E vou te dar um aviso... se essa garota estiver com um neto meu na barriga e você negligenciar isso, vou virar a sua pele do avesso... estamos entendidos? —  É... como eu disse, ela não é nada boba

— Sim, omma... — Respondo, esquecendo por um momento até como se respira.

Ótimo, não te criei para ser irresponsável, te criei para ser um homem sábio. Você sabe o que fazer... agora resolva isso e me ligue depois.

Ao desligar o celular, verifico as horas e percebo que já são 17h32. Ela disse que o voo era às dezoito, eu preciso correr. Dirijo-me até a área dos funcionários e pego emprestado um carro da empresa. O aeroporto internacional não fica tão longe, mas acelero ao máximo.

Chego por volta das 17h56 e corro em direção à sala de embarque. Não a vejo em lugar algum, ela provavelmente já está lá dentro e apenas permitem a entrada de quem tem a passagem. Vou até o guichê e compro a maldita passagem enquanto uma voz anuncia:

Última chamada para o voo 335 da companhia Asian Airlines com destino a...

Eu preciso correr, senão não terei tempo. Adentro a sala de embarque, esbarrando em diversas pessoas enquanto a procuro por todos os cantos, até finalmente avistá-la. Clara mostra sua passagem ao segurança e eu corro em sua direção. A garota é liberada para prosseguir e não me resta outra alternativa a não ser gritar:

— CLARA! CLAAARA!

Ela para e vira-se. Suas amigas estão logo atrás, observando-me com expressões confusas. Avanço em sua direção, ignorando comentários maldosos sobre furar a fila. Ao me aproximar o suficiente, digo:

— Não posso permitir que você parta com a possibilidade de estar esperando um filho meu. Fique na Coreia e permita-me ajudar da maneira que puder.

— Não preciso da sua ajuda, nosso assunto só começará daqui a seis meses.

Ela responde e começa a se afastar, mas seguro seu braço, o que a faz me encarar com indignação.

— Clara, por favor, não posso virar as costas para isso. Se precisar de ajuda, será mais fácil se estiver aqui. Então, pegue suas coisas e venha comigo.

Ela não responde, apenas me encara sem saber o que dizer. Sua amiga morena se aproxima e intervém:

— Clair, ele está certo. Aceite a ajuda dele. Mas vou te dizer uma coisa... — a garota se vira para mim, emitindo uma ameaça velada — se suas fãs fizerem mal à minha amiga, vou explodir sua empresa com você lá dentro. Está me ouvindo? Não duvide de mim.

— Combinado — respondo, tentando parecer simpático, mas ela não retribui o sorriso.

— Isso é um erro... — Clara entrega sua passagem à amiga e a abraça em seguida.

Ela decidiu vir comigo.

Nada como o velho clichê do boy correndo atrás da girl no aeroporto, mas como gostamos de uma boa dose de clichê, espero que estejam servidos. Até o próximo capítulo

BIG HUG

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