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Atlanta 7:51PM
Chegamos no hospital e rapidamente me encaminharam para um quarto. Ainda não tinha dilatação necessária para Aria nascer, mas a obstetra confirmou que eu entrei em trabalho de parto. No momento eu me encontro andando de um lado para o outro no quarto enquanto sentia aquela dor maldita. Eles me deram uma anestesia e disseram que iria aliviar a dor mas ainda seria possível sentir todas as contrações. Olhava o tempo todo para o relógio e estava muito irritada:
— Cadê ele? — Pergunto.
— Clara, não passou nem duas horas que estamos aqui. Ele está saindo de Londres, são no mínimo oito horas de viagem então fique calma. — Gioh diz.
Como ainda estava no quarto, elas podiam ficar lá comigo, mas já fui informada que somente o pai poderia me acompanhar na sala de parto. Eu insisti muito mas era norma do hospital. Depois da pandemia, os partos ficaram bem restritivos, afinal o Covid ainda não foi erradicado, somente está sob controle graças a vacina. Mas eu não podia fazer isso sozinha, eu não queria fazer isso sozinha. Seguro nervosa o colar que ele me deu e continuo repetindo no pensamento que ele precisava chegar, eu não tenho forças pra trazer a Aria ao mundo sem suas palavras de conforto. Hannah e Somi voltaram para o quarto, elas saíram para comer algo. Já me ofereceram comida, mas eu não consigo comer sentindo essa dor.
— Porque você não deita e tenta relaxar? Sei que está doendo mas não acha que vai ficar é mais ansiosa desse jeito? — Somi diz e quando ela vinha me tocar eu me viro extremamente brava.
— Não toque em mim!
— Deixa ela. — Kate diz e assim eu volto a andar de um lado para o outro.
Chris você me prometeu que não me deixaria sozinha, prometeu estar comigo e cadê você? Eu estou com medo, eu depositei minha confiança de que você estaria aqui nesse momento dizendo coisas adoráveis para mim me distraindo enquanto essa maldita dor acontecia. Eu não posso fazer isso sozinha Chris, estou suplicando ao universo, Deus, Zeus, sei lá, quem tiver no comando disso aqui... não me deixe passar por isso sem ele.
Londres 00:58AM
Chegamos no aeroporto e caminhamos apressadamente até um avião particular que Gunsun conseguiu. Já estavam preparando tudo para descolar e nós entramos e escolhemos um lugar. Eu estava inquieto, ansioso, não acredito que Clara entrou em trabalho de parto comigo longe. Aria ainda não tinha completado nove meses, eu já ia ao encontro dela no dia seguinte. Ela vai me odiar para sempre se eu perder o nascimento de nossa filha e pensar nisso me deixa sem ar. Eu demorei a conquistar a confiança da Clara, não podia perdê-la.
— Droga meu celular. — Changbin diz tateando a roupa. — Acho que deixei ele com o Innie.
— Não dá tempo, vai ter que ficar sem ele. — Han o responde e vamos nos ajeitando em nossos lugares. — O meu ainda tem um pouco de bateria.
— Se fosse um Samsung você não estaria com problemas de bateria. — Changbin diz todo presunçoso.
Ele é o único entre nós que usa Samsung enquanto estamos no iOS. Recentemente a empresa está falando sobre fechar uma parceria com a Samsung e desde então ele vem tentando convencer a todos de que Android é melhor.
— Sabe qual é o melhor dos dois? Aquele que está em mãos. — Han diz com um sorriso de divertimento já que Changbin odiava não estar com seu celular por perto.
— Engraçadinho. — Ele fechou a cara.
— Pelo amor de Deus parem com isso. — Digo nervoso e os dois pararam imediatamente.
— Caros senhores passageiros o avião irá decolar, peço que ajeitem os cintos e desliguem os aparelhos celulares. A previsão de chegada é às 10AM horário de Londres e 6AM pelo horário de Atlanta. Tenham todos uma boa viagem. — Diz o piloto na cabine e seguimos as instruções.
— Hey Changbin, já desligou o celular? — Han alfinetou e Changbin arremessou uma caneta nele.
Eu até que queria relaxar um pouco mas tudo que se passava na minha cabeça é que Clara iria me odiar.
O voo decolou sem problemas e quando pude ligar o celular de novo, já entrei em contato com Hannah que me informou que o médico tinha acabado de avaliar Clara novamente. O mesmo disse que seria parto normal e isso me deixa mais aflito. Eu assisti a vários vídeos de parto no YouTube nesses últimos meses para me preparar. Eu sei que ela vai sentir dor, eu sei que vou ficar ansioso, mas eu também sei que eu preciso ser seu suporte e a ideia de ela passar por isso sem mim me deixa apavorado. Então disse para ela tentar fazer Clara comer algo mas eu conheço bem a peça, o que me faz pensar que eu preciso mesmo estar lá.
— Será que a Aria vai vir com os olhos puxadinhos? — Han perguntou olhando para mim.
— Não sei dizer, a mãe da Clara tem traços afro. Ela me mostrou uma foto, é uma mulher com a pele bem pigmentada e de cabelos muito mais cacheados que a da Clara. O pai dela é branco e a minha família eu nem preciso dizer né... — Eu também ficava curioso sobre como seria a aparência da minha pequena. O mistério estava para acabar finalmente.
— Como é que pode né, a mãe dela é negra, o pai é branco e a Clara veio igual leite. — Changbin diz.
— O Brasil é um povo misto sabe... não sei como ela virá ao mundo mas vou amá-la de qualquer jeito. — O respondo.
— Te corrigindo, você vai amá-la se for sua filha mesmo. Não se esqueça que temos um exame a fazer. — Gunsun que até então estava em silêncio entra na conversa e eu o olho irritado.
— Calado você é um poeta. Pare de duvidar do que já é bem evidente! — Changbin falou olhando de cara fechada pra Gunsun.
— Eu só acredito quando tiver a comprovação em mãos e digo mais. Se ela estiver mentindo, temos um contrato assinado onde vamos processá-la. Não aguento mais te ver gastando rios de dinheiro com uma mulher que pode muito bem estar te enganando. Você contou para eles quanto ficou a brincadeira da casa? — Gunsun pergunta e os dois me olham.
— Você não nos contou que comprou uma casa... — Han fala me olhando. — Mas não muda o fato que você está exagerando Gunsun, seja menos chato.
Eu não contei sobre a casa porque não havia necessidade de contar. Quando fui começar a procurar um lugar para Clara ficar em Atlanta, a primeira coisa que me passou foi que deveria ser bem longe do centro. Não que eu queria privá-la se sair ou algo do tipo, apenas achei que seria mais seguro. Então Hannah sugeriu uma casa em um desses condomínios fechados como os dos filmes e achei uma ideia excelente. Entrei em contato com uma corretora de imóveis em Atlanta e me mostraram as mais diversas casas. Apareceu uma grande e confortável e ao ver as fotos eu tive um vislumbre de minha garotinha com um vestido amarelo correndo pelo quintal então eu sabia que era ali.
De início eu iria apenas alugá-la, mas logo pensei que eu não queria mais essas mudanças. Eu queria ela feliz e confortável em um lugar só, onde pudesse criar laços e assim Aria poderia crescer bem. Não adianta eu querer fazer ela acompanhar meu ritmo, afinal Clara estaria com nossa pequena e seria eu que teria que me desdobrar para acompanhar o ritmo delas. Foi assim que gastei 789 mil dólares com a compra da casa e a documentação. Gunsun gritou horrores comigo e eu apenas disse que era o certo. Clara nunca iria aceitar que eu comprasse uma casa e colocasse no seu nome, então estava decidido a colocar no nome de Aria assim que ela nascesse. Teria que contar a Clara o que fiz e tenho certeza que ela vai ficar brava comigo mas eu estou pensando nela e na nossa filha. Espero que um dia Clara deixe um pouco desse orgulho de lado.
— Eu no início tive dúvidas mas conhecendo melhor a Clara depois eu duvido muito que ela esteja mentindo. — Changbin também a defende e Gunsun bufa.
— Vocês querendo ou não esse exame vai acontecer. Sabe quanto custou esse vôo particular às pressas para os Estados Unidos? Pois bem se ela estiver mentindo eu terei o prazer de processá-la. — Gunsun continua em suas ameaças.
— Vá se foder idiota. — Eu digo com muita raiva e ele nada diz.
Decido então mexer no meu celular. Resolvo voltar a trabalhar na melodia que estava criando para Clara, ouvir aquelas notas me fez ficar um pouco mais em paz, eu não me importava com o que o Gunsun dizia, Clara não mentiu para mim.
Atlanta 6:38AM
Aquela sem dúvidas era a pior madrugada que eu já passei. Primeiro: Chris não respondia e nem atendia nenhuma das ligações. Seu último contato foi por volta de uma da manhã quando ele avisou que já tinham decolado. Hannah ligou várias vezes, não só ela como Gioh e Somi também tentaram, mas foi sem sucesso. A agonia que eu estava sentindo era horrível e eu não sabia mais como fazer para me distrair. Tentei comer algo mas acabei vomitando de nervosismo e agora estou no soro porque não consegui comer nada. Segundo é essa dor. Sempre que alguém disser que não existe dor pior que a de parto acredite, não existe. Mesmo com a anestesia que era aplicada de tempos em tempos, eu sentia uma enorme pressão dentro de mim, minhas costas doíam juntamente com minha parte íntima. No início a dor dava uma trégua, a cólica era constante porém eram amenas graças a anestesia mas as contrações vinham e voltavam em intervalos de tempo.
Mas lá pras cinco da manhã os intervalos ficaram menores e a obstetra avisou que quando eles tivessem intervalos de menos de cinco minutos, significava que estava na hora de me levar para a sala de parto. Um médico entrou no quarto fazendo um pouco de barulho o que assustou Somi que estava apagada no sofá e depois de me avaliar ele disse:
— Já podemos aplicar mais anestesia. — Ele diz e a enfermeira sai para chamar o que acredito ser o anestesista.
Enquanto eles aplicavam a anestesia eu só conseguia pensar que mulheres merecem o mundo mesmo viu. Se com a anestesia ainda doía, imagine sem? Um dia no ano para celebrar a mulher e um dia das mães parecia pouco para tudo que a gente passa nessa hora.
— Já sabe quando vai nascer? — Gioh pergunta.
— Bom, diria que em umas duas horas no máximo já estaremos com ela na sala de parto. — O médico responde e minha agonia aumenta.
O anestesista chega e aplica mais um pouco da anestesia em mim e em questão de dez minutos já sinto as dores nas costas aliviar mas eu ainda estava nervosa. Porque ele não respondia? Onde ele estava? Quando percebo estou chorando novamente e as meninas vem todas para perto e antes de qualquer uma dizer algo eu falo:
— Porque ele não veio para Atlanta, eu tava sentindo que algo ia dar errado, o que era de tão importante em Londres? — Eu fiquei com tanta raiva que não fiz questão nenhuma de saber qual era esse compromisso que o impedia de estar comigo.
— Era uma entrevista nesses talking shows. Foi o primeiro que eles foram convidados então acredito que ele quis ser positivo e não pensou que ela viria mais cedo né... Acho que era importante para ele. — Hannah diz e de repente me sinto mal.
Eu estava destruindo a carreira dele, fiz ele mudar todas as suas prioridades, gastar rios de dinheiro comigo, tudo isso porque a camisinha estourou e não percebemos. Qual era a marca? Eu vou processá-los, Não consigo evitar aquele sentimento de frustração e começo a chorar de soluçar. Eu sou um completo desastre, não consegui acertar em nada nessa vida, só estou dando trabalho. Não consigo nem ser forte para aguentar essas dores que por sinal já estavam piorando de novo. Sinto uma nova contração e não consigo evitar um grito.
— Porra porque tudo dá errado pra mim? — Digo em meio aos soluços.
— Nem tudo deu errado amiga, para com isso. — Gioh diz.
— Eu sou um desastre, minha vida é um desastre, TUDO É UM DESASTRE.
A ansiedade misturada as dores me fazem gritar, eu sei que gente pobre tem que passar por provações na vida mas a minha vida tem se mostrado ser só derrota atrás de derrota. Eles não dizem "os humilhados serão exaltados?" Onde é que estou sendo exaltada?
— Chamem um médico, ela tá tendo um ataque de pânico! — Ouço a voz da Gioh mas não consigo vê-la.
Fico tentando puxar o ar, mas não conseguia. A dor estava piorando e eu precisava me concentrar, mas eu estava com medo, eu estava apavorada.
Eu não quero estar sozinha.
— Você não está sozinha Clara. — Ouço a voz da Hannah no fundo.
Sinto mãos me tocando mas não sei mais o que está acontecendo, só sinto medo, aquela vontade de gritar, quem sabe assim meu desespero passe... Então eu realmente ouço um grito, sinto algo me chacoalhar e o grito vai aumentando até eu conseguir ver quem estava gritando. Era Kate, ela segurou firme nos meus dois braços e gritava tão alto que todas aquelas vozes ao redor e medos que sentia se cessaram. Quando ela percebeu que tinha a minha atenção, disse:
— Puxa o ar, segura um pouco e solte. Vamos Clara reaja!
Começo a fazer o que ela disse e sinto aquela sensação de desespero começar a passar. As meninas olham em choque e nesse momento vejo que as enfermeiras conseguem me segurar e aplicar o que acredito ser um sedativo. Pouco a pouco vou me acalmando e Kate sorri:
— Que bom que deu certo.
— Houve uma emergência no hospital mas o obstetra já está vindo. — A enfermeira diz e todas assentimos.
Encosto na cama cansada, a dor não passou e acredito que meu desespero fez com que o efeito da anestesia retardasse, de modo que agora sinto mais dor. A contração, a pressão que sentia dentro de mim estava se tornando insuportável e por fim elas se tornaram frequentes. Quando a obstetra chegou, rapidamente já chamou por ajuda e disse:
— Sua filha já vai nascer, vamos te levar para a sala de parto.
— Mas... O Chris ele... Não podem. — As lágrimas voltam a escorrer.
— Amiga, estaremos lá do vidro te dando forças tá? — Gioh diz. — Seja corajosa.
Não tinha outra opção, eu precisava encarar isso, Faço que sim com a cabeça e todas elas sorriem, desculpe Aria, eu não queria que você nascesse sem seu pai, mas não posso mais aguentar essa dor, preciso ser corajosa.
Atlanta 7:27AM
Não foi nada tranquilo dentro do voo. Primeiro foi uma briga com Gunsun. Ele continuou a falar besteiras a modo que eu me exaltei, tivemos uma discussão que quase acarretou em trocas de socos mas aconteceu algo. No calor daquele momento meu celular caiu com tudo no chão e simplesmente não queria ligar. Han rapidamente usou seu celular para mandar uma mensagem para Hannah mas como tudo é propício a dar errado, estava sem sinal e com bateria fraca. Não tínhamos carregador nem serviço de bordo, já que era um voo particular num avião pequeno. Changbin deixou o celular em Londres com I.N. então foram horas de agonia sem saber da Clara.
Sem notícias de Clara eu fico visivelmente ansioso. Estava inquieto, queria que esse avião fosse mais rápido, queria chegar logo mas a não ser que eu aprendesse a aparatar no hospital, tive que me contentar em olhar para o breu do céu pela janela do avião
Quando o piloto avisou que havíamos chegado em Atlanta respiro um pouco aliviado mas nem de longe acabou meu tormento. Depois que pousamos, conseguimos um táxi e assim seguimos até o carro parar num engarrafamento. Eu não podia acreditar que absolutamente tudo tinha que dar errado.
— O que está havendo? — Pergunto ao motorista, era um homem de pele escura e de aparência indiana, no rádio tocava Is This Love do Bob Marley e ele aparentava estar calmo demais pro meu gosto.
— Horário de pico no centro. As pessoas estão indo trabalhar brow.
— Eu preciso chegar rápido no hospital, minha filha está nascendo! — Digo tentando não demonstrar o desespero na minha voz.
— O que? Você vai ser pai? WOW meus parabéns brow. — O homem diz com um sorriso largo no rosto.
Gunsun que estava no banco da frente diz irritado:
— Eu te disse que era melhor esperar o carro do aplicativo, mas você não me ouviu.
— Eu não quero sua ajuda para mais nada, ok? — Eu estava completamente irritado com ele.
— Gente não briguem de novo. Senhor, não consegue pegar um desvio? — Han perguntou ao homem que o olha pelo retrovisor.
— Brow claro que não, vocês precisam se acalmar, vai ficar tudo bem. Eu não consigo dar a volta agora.
Olho para trás e realmente havia muitos carros ali. Mas nesse ritmo eu realmente não iria conseguir chegar no hospital então pergunto:
— Como chego no hospital?
— Simples, vai pegar essa avenida aqui, virar a esquerda no próximo contorno, aí você vai seguir a rua, virar a direita e vai ter uma praça. Chegando na praça você vai ver um morro, desce o morro e segue a direita e vai ver o hospital... meio longe. — O motorista diz e eu faço o possível para memorizar.
— Obrigado.
Não dou tempo dos membros tentarem me impedir, abro a porta do carro e começo a correr. Nem de longe eu estava com roupas propícias para corrida, mas logo parei ao ver uma estação de metrô. O homem podia ter dito que tinha metrô ali. Sem nem pensar muito eu adentro na estação, pego a informação e rapidamente já estava dentro do trem que levava para as proximidades do hospital.
As pessoas me olhavam, consigo até perceber que um garoto me filmava, mas eu não ligo mais para essa exposição toda. Entrou uma senhora no metro e percebi que ninguém se moveu imediatamente para que ela se sente, então me levanto e indico para que a velhinha se acomode ali.
— Muito obrigada, jovenzinho. Uau, você é tão bonitinho, parece com aqueles meninos coreanos. — Ela diz deixando um sorriso simpático.
— É, pareço mesmo. — Digo com um sorriso simpático no rosto e vejo que um grupo de meninas riu pela confusão da senhora.
— Que cara é essa? Você parece aflito. — Ela diz e eu assinto.
— É, eu tô um pouco atrasado. — É tudo que eu consigo dizer.
— Vai ficar tudo bem, tenho certeza que vai conseguir chegar seja lá pelo que está atrasado.
Aquela velhinha novamente me direcionou um sorriso tão simpático que me confortou. Apesar dela não fazer ideia, aumentou minha positividade. Então quando a voz robótica anunciou a estação que eu tinha que parar, eu pego nas mãos daquela adorável senhora e digo:
— Obrigado. Tenha uma vida longa e feliz minha senhora. — Sorrio e não dou tempo dela me responder, já me dirijo a saída.
Quando saio da estação, peço informação sobre onde ficava o hospital e realmente era três quadras dali. Volto a correr o mais rápido que posso e vejo a placa do hospital que a amiga da Clara disse que ela estaria. Entro afobado e um pouco sem ar, mas não perdi tempo, já vou direto na recepção.
— Moça, Clara Dias Silva. Ela veio pra cá em trabalho de parto, já nasceu? — Digo rapidamente e a moça faz sinal que eu me acalme.
— Vou conferir um instante. — Ela diz e pega o telefone e faz uma ligação, depois que desliga continua. — Está na sala de parto.
— Eu preciso chegar até lá, eu sou o pai! — Falo ainda puxando o ar.
— Ah certo, fica calmo vou chamar uma enfermeira. Seu documento por favor.
Sigo todo o procedimento e a enfermeira me leva para tomar um banho e trocar de roupas pois não podia entrar naquela sala com roupas que tiveram contato com a rua. Sem perder tempo a mesma me leva para a ala da maternidade e a cada passo que eu dou é como se eu me sentisse pesado, eu estava ansioso, não podia deixá-la sozinha nesse momento. Vejo Hannah, Somi e as duas amigas da Clara e elas pulam e gritam ao me ver mas eu nem às cumprimento, entro direto na sala e a primeira coisa que escuto é o grito agudo de dor que Clara fez. Respiro com um pouco de dificuldade ao ver essa cena, mas eu já tinha em mente que seria exatamente assim. Pisco algumas vezes e foco no que eu precisava fazer, então ando até ela e pego em sua mão, nossos olhos se encontram imediatamente:
— Eu tô aqui tá bom? Eu tô aqui meu amor, eu cheguei.
— C-Chris? — Ela pergunta e eu faço que sim. Ela sorriu e eu limpei suas lágrimas.
— Eu tô aqui tá, eu... — Sou interrompido com a mesma apertando a minha mão com muita força enquanto ela gritou mais uma vez, mesmo que eu sei que isso é normal, fico assustado.
— Clara você precisa fazer mais força, empurre Clara. — A médica diz.
— Eu não consigo mais... — Ela fala em meio às lágrimas.
— Consegue sim, você consegue tudo que você quer, Clara, faz o que ela tá pedindo. — Digo alisando seu rosto, tentando não demonstrar que estava assustado.
Clara volta a gritar e eu junto a médica vamos conversando com ela. Não sei exatamente quanto tempo passou, mas de repente eu ouvi um choro e quando percebi, vi aquele pequeno ser humano nos braços da médica. A obstetra entregou a criança para uma enfermeira e ainda não acabou. Ela instrui Clara a continuar fazendo força até que finalmente todos os excrementos estivessem fora do corpo dela. Quando finalmente acabou, Clara relaxou o corpo exausta e vejo a enfermeira voltar segurando Aria no colo envolta a um pano azul e entrega para Clara que a segurou com seus olhos cheios de amor pela criança:
— Oi meu amor... oi Aria... — Clara diz com um sorriso enorme em meio as lágrimas de dor, alegria e cansaço.
Eu ainda não conseguia acreditar no que meus olhos viam, eu não conseguia dizer uma palavra. Aquele serzinho parecia tão frágil, tão pequeno, mas ainda sim roubou toda a minha atenção. Levei meu indicador para sua mãozinha, e seus dedinhos o apertaram e dessa forma, ela abriu seus olhinhos e olhou para mim. De repente eu não conseguia ouvir o som de mais nada, eu estava preso naquele par de olhos negros e puxados, suas feições eram delicadas e quando ela fez um bico e voltou a chorar, por um instante eu posso jurar que conseguia ouvir uma sinfonia. Ali eu já sabia que eu daria minha vida para continuar ouvindo essa melodia.
E a Aria finalmente nasceu!!!
Muito obrigada pelo apoio, deixa sua estrelinha
BIG HUG
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