Weenny Alves

Homenagem a Ronaldo Alves, meu adorado herói

Um gesto vale mais do que mil palavras?

Nem mesmo um milhão de palavras seriam capazes de descrever os incontáveis gestos de amor e dedicação que você, Ronaldo Alves, ofereceu aos seus filhos...

Graças a você, enquanto eu estava sendo formada, ainda no ventre da minha mãe, pude conhecer o verdadeiro amor, através de seus carinhos constantes, sua doce voz e as melodias que cantava para mim, meu coração aprendeu a pulsar, apaixonado por você, papaizinho.

Desde o momento em que souberam da gravidez de sua primogênita, você sabia que era a sua tão esperada menina, escolhendo com zelo o meu nome e verbalizando-o tantas vezes, com imenso orgulho.

Sua Weenny.

Sim, papai, conheci o furor, quando você e mamãe brigaram, lutei, ainda no ventre, por você! Mas, sem palavras, senti o seu toque quente e amoroso, acalentando meu pequeno coração.

Nasci, para coroar a sua felicidade, como seu melhor presente de aniversário...

Sua felicidade foi tão profunda, que você fez escândalo por todo o hospital, gritando e chorando, para que todos pudessem ver a sua vitória: ter a Weenny, sua primogênita, em seus braços amorosos.

Como benção da primogenitura, recebi seu doce e íntegro coração, com uma enorme capacidade de amar.

Nosso lar sempre foi repleto de melodias, mas também de brigas entre você e minha mãe, até que você partiu e custei a entender que você seria o mesmo pai zeloso, mesmo morando em outra casa.

Com loucura você me defendia e protegia, você sempre foi mais eu, suas palavras e colo me acalentaram centenas de vezes, para dizer que eu conseguiria, que eu sempre teria seu amor e apoio.

Você sempre esteve presente nos momentos cruciais da minha vida, nas apresentações de dança, sempre na primeira fila, chorando emocionado e me aplaudindo.

Quando fiquei frustrada e confusa, sem saber como agir, diante da menarca, com todo o alarde promovido pelas mulheres da família, lá estava você, contido e em silêncio, sempre me dirigindo as palavras certas e seu amor profundo.

Era chegado o momento de minha formatura, vi o pai orgulhoso e até ufano, dançar comigo por todo o salão, afinal, cada pequena conquista de sua primogênita, sempre foi a glória para você.

Meu herói exigente, que sempre cobrou a conduta justa e caráter na formação de seus filhos, corrigindo-nos em todos os aspectos, para formar pessoas íntegras, como você.

Diante da minha decisão de casar, recebi não apenas seu apoio, mas toda a sua dedicação, seus olhos demonstraram seu orgulho e felicidade ao me ver de noiva, me conduzindo ao meu destino.

Suas doces palavras, dirigidas ao meu marido, ecoam até hoje em minha mente.

— Estou te entregando toda a minha riqueza...

Quando chegou o momento dos cumprimentos, ao ver você diante de mim, chorei compulsivamente, como aquela criança que busca segurança no colo de seu primeiro e grande amor.

Quando me inscrevi na universidade, você me apoiou, por todo o tempo me incentivou, me protegeu e acalentou nos dias difíceis...

Chegou então o temido momento da apresentação do trabalho de conclusão do curso, estudei e me preparei arduamente, mas foi a sua presença que me deu a segurança e paz para prosseguir, mirando em seus olhos, tive força o suficiente para verbalizar meus saberes adquiridos, sua expressão de satisfação me fez ter a certeza de exercer um bom trabalho.

Sorri, quando o vi pressionar meus professores pela minha aprovação, afinal, nenhum de nós dois era capaz de permanecer na angustiante espera pela nota, então comemoramos efusivamente a minha aprovação.

Na minha formatura, lá estava você, se destacando entre os pais de todos os alunos, cantando e gesticulando para mim, demonstrando todo o seu profundo orgulho, da agora Dra Weenny.

Sim, papaizinho, fiz o juramento de lealdade à minha profissão, mas é para você a minha maior promessa, de tratar meus pacientes, como se eu estivesse cuidando de você, minha preciosa riqueza.

No momento do meu divórcio, meu consolo foi você.

Devido as muitas declarações de amor que fiz à você, me deu o incentivo de escrever, apenas você viu o talento que nunca julguei ter.

Quando você foi humilhado em seu emprego, eu fiz questão de lembrar que você é a minha fênix, ninguém pode deter a sua perspicácia e inteligência, sempre fomos, um para o outro, o porto-seguro, abrigo, consolo, força e firmeza para prosseguir.

Eu pensava que você nunca ia me deixar, na minha vã e tola esperança, para sempre eu poderia alcançar seu colo, sua doce voz e proteção.... mas conhecemos a mais dura guerra e derrota de nossas vidas...

Aba, a doença sobreveio sobre você, mas aquele mal estava sobre mim, cada dor e angústia que permearam seu coração, era eu quem esmorecia e me exasperava.

Sem me importar com a distância, tempo, locomoção e hospedagem, abandonei meus pacientes e emprego, apenas para permanecer ao seu lado naquele momento.

Mas nenhuma dor pôde ser comparada ao instante em que seus olhos buscaram os meus, o vi deixar sua dedicada pesquisa, para verbalizar aquela que foi a nossa sentença perpétua...

— Filhinha, eu sei o que eu tenho, glioblastoma grau 4, vou morrer em no máximo três meses.

Me acertou em cheio, como uma explosão em meu interior, quis chorar, urrar de dor, desejei ardentemente que tudo não passasse de mentira...

― Quero que me prometa que vai levar o meu corpo para São Paulo e permitir que toda a família se despeça de mim.

Aba, você sabia em seu íntimo, que eu não permitiria que aquela família que sempre te afrontou e o repelia, o olhassem e proferissem impropérios diante de seu corpo sem vida. Havia a certeza em seu interior, que eu brigaria contra o mundo todo, apenas para defender sua vida, honra e legado.

A contragosto, afirmei que faria seu último desejo, ainda que nenhum deles merecesse, mas apenas para que sentisse alegria e paz nesse momento.

Pranteei, solitária, nos corredores do hospital, com loucura por sua cura, mas Deus fechou seus ouvidos para mim.

Mas o vi tranquilo, em paz e exercendo sua fé, sem ao menos se importar com sua condição, você caminhava pelos quartos e leitos, orando em favor dos enfermos, deu exemplo de fé e coragem aos que pensavam que iam te visitar para te consolar, saiam consolados.

O dia da sua cirurgia chegou, com ela, a minha aflição e pânico, fiz questão de o entregar diante do cirurgião, até que sua maca foi adentrando a sala e eu não podia mais ver sua face.

Voltei apressada para seu quarto, de joelhos, me inclinei sobre seu leito, chorei, implorei ao nosso Deus, o Rei dos Reis, aquele a quem você me ensinou a ter fé, para que Ele guiasse as mãos do cirurgião, o amparasse e protegesse, que nenhum mal sobreviesse à você...

― Weenny, vai descansar, tudo vai correr bem com o Senhor Ronaldo, estamos rezando por ele. Quando a cirurgia acabar, te mando uma mensagem. – Clara, uma das enfermeiras, tocou a mão em meu ombro e disse.

Segui seu conselho, enquanto a angústia tomava conta de mim, horas depois, Clara me mandou uma mensagem para dizer que a cirurgia havia terminado, não vi mais nada em minha frente, corri ao seu encontro.

Esperei até que você despertasse, o levaram para a UTI, horas depois, permitiram que sua namorada e eu entrássemos.

O alívio veio quando vi seu lindo rosto, um largo sorriso em minha direção, um curativo imenso em sua cabeça, rapidamente, você segurou a minha mão e se pôs a falar comigo, amenidades.

Mais uma vez, declarei o meu amor à você.

No dia seguinte, você retornou ao seu leito, com a visita e comemoração de todas as enfermeiras do setor, que já o admiravam e nutriam carinho e respeito por você.

Sua alta veio brevemente, passamos a lutar incansavelmente por sua cura, pela quimioterapia e radioterapia, mas os tratamentos não eram propostos, então você decidiu buscar uma cura alternativa e seguimos, novamente para o sudeste, você no Rio de Janeiro e eu em casa, em São Paulo.

Então, você retornou à Aracaju, pleiteou uma vaga no hospital de Barretos, meses depois foi admitido, rapidamente programaram e realizaram uma nova cirurgia em seu cérebro, no dia seguinte, nos falamos, por intermédio de sua namorada, perguntei o que desejava que eu fizesse, se sentia vontade de me ver, sua resposta foi afirmativa.

Preparei tudo e viajei para Barretos apressada, cheguei no dia 06 de junho as seis da manhã, nós nos alegramos muito juntos, conversamos sobre diversos assuntos, o alimentei zelosamente, você me pediu três coisas: pão com margarina, que tive que recusar, visto que só estava comendo alimentos pastosos, azeitona, que eu não tinha como buscar e halls, que eu prontamente lhe dei, mesmo com os protestos de sua namorada.

Permaneci ao seu lado até dez horas da noite, beijei sua mão e você a minha. Perguntei a você se o honrei, conforme o mandamento do nosso Deus...

― Claro que muito me honrou, filhinha, você é meu orgulho! – você respondeu.

Lágrimas vieram à minha face nessa despedida alegre, entrei no ônibus e me encaminhei para casa, você fez questão de me ligar na manhã seguinte, para fazer o que sempre fizemos, dizer que amamos um ao outro, disse para eu me cuidar e que o Raj, meu gato, a quem trato como filho, cuidasse da mamãe e a ligação caiu.

Aba, logo depois você teve alta e foi ao alojamento dos internos do hospital, mas quando sua namorada foi o alimentar, você teve um enorme mal-estar e foi desacordado de volta ao hospital.

Intubaram e monitoraram você, embora não respondesse mais a qualquer estímulo, sua namorada me contou sobre seu estado, ameacei sair e ir apressada para Barretos, mas ela disse que eu jamais suportaria o ver assim, altivo como sempre foi, agora nessas condições precárias.

Orei, clamei, supliquei, desejei estar em seu lugar, que a minha vida fosse dada em troca da sua, mas Deus decidiu fechar os olhos e ouvidos para mim.

Iniciaram o protocolo de morte cerebral, enquanto eu me mantinha sentada no chão, orando, chorando, me consumindo em desespero e agarrada a qualquer chance de uma reação sua...

Mas antes de iniciar a terceira e derradeira avaliação, você mesmo decidiu o seu destino e expirou, decretando, naquele instante, a nossa morte.

Sim, Aba, meu coração, alma e espírito estão em você e contigo...

08 de junho de 2014: Data da nossa morte.

Todos esperavam de mim o que eu estava disposta a fazer, quebrar toda a casa, gritar a plenos pulmões, prantear até o ápice da dor e loucura, mas o sofrimento era tão profundo, que fiquei catatônica, apenas ouvi de sua ex-mulher, que o rejeitou e expulsou de casa, exigindo o sepultar no jazigo de sua família, por meu pai, não discuti.

Seu corpo sem vida foi levado para São Paulo, conforme seu último desejo, mas eu o estava aguardando, o recebi, pranteei, falei ao seu ouvido e acarinhei seu rosto, peito, mãos, suplicando que tudo fosse ilusão, que você levantasse e me acarinhasse mais uma vez.

As pessoas foram chegando, orando, perguntando e alguns chorando por você, fiz menção de pegar meu celular para avisá-lo sobre os que o amavam, me dando conta de que o perdi logo em seguida.

Uma sensação de dor profunda e um vazio tomaram conta de mim, a partir desse momento, o meu herói, minha fênix, meu porto-seguro, protetor e incentivador, havia me deixado sozinha nesse mundo....

Minha alma gêmea partiu e levou a minha vida em seus braços.

No horário determinado, fechei o seu esquife e o conduzi à sepultura, baixei ao jazigo toda a minha riqueza, devolvendo a Deus tudo de mais precioso que tive nesse mundo, além do meu coração, alma e espírito, a partir daquele momento, me tornei um corpo vazio vagando pelo mundo, aguardando que a eternidade reúna de novo pai e filha.

Aba, anos mais tarde, decidi cursar uma nova faculdade, mas não tive a alegria de apresentar o trabalho de conclusão em sua presença, para ver em seus olhos o grande orgulho que sempre teve de mim, nem de bailar em seus braços ou fazer o juramento da profissão direcionado a você, como uma promessa eterna de cuidar e zelar por todos, como faria e fiz por você.

Novamente, a sua Dra Weenny.

Reflito hoje, que todos os seus gestos, palavras e melodias, construíram a mulher que sou, sua morte é a minha morte, mesmo enquanto eu vagar por essa vida, hei de honrar seu nome e seu legado.

Meu luto é e será eterno, assim como a dor de ter perdido tudo o que me é mais precioso o único, seu amor.

Por onde eu for e enquanto eu respirar, proclamarei esse amor de pai e filha aos quatro ventos, afinal, nossas memórias serão eternas.

A única posição que me importa é ser a filhinha do Ronaldo Alves, sua riqueza, orgulho e honra, nenhum status é maior do que esse em minha vida.

Por você, com você e em você,

Minha obra, vida e meu ser.

Weenny Alves

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