Luan Guedes
Amor Em Pétalas Eternas
Querido diário... detesto isso, mas minha querida irmã, Adina disse que seria bom fazer um diário para deixar registrado meus momento mais felizes e importantes.
Ela não faz isso, mas me diz que seria bom fazer.
Minha vida é um tédio e você deve estar se perguntando ... como a vida de um deus tão belo, inteligente, gostoso e incrível como eu pode ser um tédio, não é? Bom, pode.
Sei que parece inacreditável, mas eu sou solitário!
Aquelas festas e muitas mulheres não me trazem realmente prazer, digo ... trazem, mas não o que eu quero.
Agora você deve estar se perguntando— Você vai fingir que está.— o que eu, o deus dos mares e festas quer.
Eu lhe respondo, caro curioso que esta lendo meu diário: um amor.
Não um amor qualquer, quero um amor de verdade. Aqueles que te tiram o ar, te fazem sentir que pode voar onde quiser ou correr oito maratonas olímpicas sem pausas tranquilamente. É isso que quero e é exatamente o que não posso ter.
Fui amaldiçoado há alguns anos por uma daquelas fadas feias que vivem no inferno.
Também não sei o que diabos fui fazer naquele lugar, parece que pedi para isso, mas eu só queria ver meu tio Vivaí— E a bela esposa dele.— para tratar de assuntos do Paraíso.
Voltando ao que estava dizendo ... Fui amaldiçoado.
Me tornei indigno de amor. Ou seja, não importa o quanto eu ame, nunca serei amado de volta.
Triste ... eu sei, eu sei, também achei radical demais. Tudo isso por que me recusei a casar com aquela criatura horrenda de procedência insalubre!
Ok, me acalmei. Vamos falar sobre o dia que me fez querer escrever isso ... O dia que conheci ela, Hinadin, o ser que mudou minha vida.
Um dia, eu fui ao Japão passear. Queria me distrair do tédio que era o Paraíso.
Elias foi comigo, mas ele não pode ver um rosto bonito que já era, então estava praticamente sozinho.
Andando pelas aquelas belas ruas ... cheias de dança, música, comida, gente bonita, bordel barato... ah, que horror!
E ela, bom, ela estava com uma vassoura na mão e não, não estava varrendo, longe disso.
Ela apontava a vassoura para um garoto de mais ou menos doze anos. Ele estava com os pés imundos e pelo visto, havia sujado todo o chão que ela tinha acabado de limpar. Deu duas vassouras nele e eu ri. Nem percebi quando estava rindo, só notei meu grave erro quando a vassoura acertou minhas costas.
Sim, o primeiro contato com minha amada foi com uma vassoura estalando em minhas costas. Ela estava muito irritada e linda. Pelos céus, terra e tudo que há, ela com certeza era o ser mais lindo que já vi. Eu me apaixonei no mesmo instante que nossos olhos se cruzaram e uma cantiga japonesa antiga era tocada.
Não sei se foi coincidência, mas aquela se tornou nossa canção. Eu a amei ali. Estava parada, as mãos na cintura, irritada e batendo o pé no chão. Seus um metro e quarenta não me assustava em nada, sabe o que me assustava?
Eu estava apaixonado.
E pior ... pelo futuro oráculo do Paraíso.
♡
Voltei ali durante trinta e dois dias, essa foi minha meta. Trinta e dois dias para fazê-la me amar. Amar um ser que não era digno de amor, que não podia ser amado, mas eu tinha esperanças. Eu queria. Eu precisava dela, do amor dela.
Elias teve uma visão quando me viu escolhendo as primeiras flores. "Vocês terão um bebê e esse bebê vai crescer e dar a luz ao ser mais poderoso que o mundo já viu." Ali eu soube que podia investir, que minha amada— Até então sem nome— seria minha.
No primeiro dia levei margaridas. Não havia como errar, não é? São bonitas ... bom, havia sim, minha amada era alérgica. Anotei no meu pergaminho sobre ela: Sem margaridas.
No dia seguinte, levei Orquídeas. Ela perguntou o que eu queria e eu disse: você, eu te amo.
Ela não acreditou, claro, quem acreditaria?
♡
Querido diário,
A saga das flores continuou. Eu me comprometi, não havia volta. Trinta e um tipos diferentes de flores para Hinadin, uma a cada dia, até que ela, talvez, um dia me levasse a sério. E, claro, eu estava mantendo um diário detalhado de cada reação dela - Adina ficaria orgulhosa, mas nunca admitirei isso a ela. Não, não.
Dia três: Lírios. Achei que eles transmitiam algo elegante e puro, algo digno de um oráculo. Minha amada Hinadin pegou os lírios com um olhar de confusão total, suspirou e me olhou como quem diz "você realmente não desiste, não é?" Ela se apresentou: "Me chamo Hinadin.". Foi aí que ela me chamou pela primeira vez de "Baka" – sim, fui para casa e tive que perguntar a Elias o que significava.
Dia quatro: Cravos. Pensei que fossem românticos. Ela não deu muita atenção, mas ao menos aceitou, o que eu já considerei uma vitória. Fiquei la tentando criar coragem para um "oi" mais sincero, porém, ela simplesmente fechou a porta na minha cara.
Dia cinco: Tulipas. O que pode ser mais charmoso? Ela finalmente abriu um sorriso – ou quase, seus olhos brilharam um pouco, e eu fiquei paralisado. Mas, como sempre, Hinadin não se deixou levar. Sabe o que ela fez? Perguntou se era algum tipo de aposta, se algum amigo havia me desafiado a conquistá-la só para rir da cara dela depois. Disse a ela que, na verdade, eu era o prêmio. A aposta era comigo mesmo, sonemte.
Dia seis: Rosas vermelhas. Clássico, não? Bom, descobri que minha amada acha rosas muito óbvias e previsíveis. Pegou uma pétala, jogou no chão e me disse que eu teria que tentar mais. E eu tentei, claro. Já me viram desistir? Nunca!
Dia sete: Girassóis. Minha bela Hinadin olhou para o buquê, arqueou a sobrancelha e perguntou se eu estava tentando compará-la ao sol, ao qual respondi com um sorriso malandro: "E quem disse que não estou? Você brilha mais que ele." Ela me mandou embora. Mas houve um leve sorriso enquanto fechava a porta. Pequeno, quase imperceptível, mas eu vi.
E assim, dia após dia, eu voltava. Eu me sentia como um tolo — mas quem diria que o deus dos mares e das festas perderia a cabeça por uma simples humana? Claro, ela não era tão simples assim. Era o futuro oráculo, e havia algo tão magnético nela que mesmo a vassoura estalando nas minhas costas me fazia sorrir.
Dia treze: Jasmins. Ela gostou. Nem um olhar de reprovação. Apenas um sorriso sincero enquanto colocava as flores em uma jarra. Eu saí de lá com o peito explodindo e a certeza de que estava ganhando terreno. E que terreno ... ela estava tão linda, nossa!
E finalmente, no vigésimo sétimo dia: Hortênsias. Ela aceitou as flores, olhou-me nos olhos por um momento e disse, num tom que quase parecia brincadeira, mas tinha um peso: "Você é realmente insistente, cara." Mal sabia ela que era a única por quem eu lutaria.
Ainda tenho três dias. Meu plano de trinta e dois dias estava quase acabando, e sabe, querido diário? Estava começando a achar que talvez, só talvez, ela já estivesse se acostumando comigo.
♡
Querido diário,
Dia vinte e oito. Nesse dia, fui além das flores de jardim. Passei horas — literalmente, horas — trançando um buquê feito de um tecido fino e caríssimo, um dos mais raros que consegui encontrar no Paraíso. Cada pétala foi cuidadosamente dobrada, ajustada e presa, formando um buquê que, modéstia à parte, era tão belo quanto qualquer flor mortal. Sabia que, para conquistar Hinadin, eu precisava de algo eterno, algo que fosse além do efêmero. Precisava de um significado, o normal não lhe era suficiente. Ela era fora do normal, mais preciosa que tudo, então merecia o muito.
Ao chegar, ofereci o buquê a ela com um sorriso orgulhoso e uma frase ensaiada: "Essas flores nunca murcharão, Hinadin. São para deixar claro que meu amor por você durará até que elas morram — o que nunca vai acontecer." Por um segundo, o silêncio foi total, e eu quase temi que ela fosse rir, ou pior, ignorar.
Mas, então, algo inesperado aconteceu.
Ela olhou para o buquê com os olhos brilhando, aqueles olhos profundos que sempre pareciam saber mais do que diziam, e deu um pequeno sorriso. E, antes que eu pudesse me dar conta, Hinadin se aproximou e me envolveu em um abraço.
Foi um abraço leve, tão acolhedor e intenso que fez o mundo parar por um instante. Os sons ao nosso redor, as vozes das pessoas e até o vento pareciam silenciar, deixando apenas o calor dos braços dela. Eu, Ulisses, o deus dos mares, das festas, me senti sem chão — e foi ai que percebi que, ao lado dela, todos os meus outros desejos, todas as noites de festa e as aventuras eram vazias. Ela tinha o poder de me deixar sem palavras. De fazer sentir como algo além de um deus amaldiçoado.
E então, em um sussurro quase inaudível, Hinadin me disse: "Eu sei quem você é, Ulisses. Sempre soube."
Por um segundo, fiquei paralisado. Como ela poderia saber? Eu nunca havia mencionado meu eu verdadeiro para ela. No entanto, algo em seu olhar dizia que não havia dúvidas. Ela, o oráculo em formação, já tinha visões, já via além do tempo e dos segredos do nosso mundo. De nossos, deve saber do Paraíso também.
"Você sempre soube?", perguntei, tentando entender o quanto ela sabia, e talvez, no fundo, querendo saber se alguma dessas visões mostrava o amor que eu queria tanto.
Ela assentiu, com um sorriso triste e ao mesmo tempo cheio de esperança. "Eu tive visões... visões de você, de mim... de nós. Mas as visões são fragmentadas, Ulisses. Elas mostram apenas possibilidades, nunca certezas."
"E qual é a nossa possibilidade?" arrisquei, tentando parecer seguro, mas meu coração batia tão forte que temi que ela pudesse ouvir.
"É uma possibilidade incerta," murmurou, desviando os olhos para o buquê em suas mãos. "Mas ainda assim, eu gostaria de acreditar nela."
Esse era o maior sinal de todos, eu sabia. Para um oráculo, um "gostaria de acreditar" era quase como um "sim" dos mortais. Com o coração disparado, dei um passo à frente e toquei sua mão com uma reverência que nunca havia dado a ninguém. Ela era preciosa, intocável de uma maneira que me deixava em reverência. Quase me dobrava a ela e tudo que essa garota significava.
"Então, Hinadin, deixe-me fazer dessa possibilidade uma realidade ... Venha comigo para o Paraíso."
♡
Querido diário,
Pois é, la estava eu, pousando no Paraíso com a mulher que virou minha vida de ponta-cabeça. Ah, Hinadin... A cada dia que passava, eu tinha mais certeza de que o destino tem dessas, ele te faz topar com uma pessoa de um jeito maluco e, quando você vê, já está apaixonado.
Nós estávamos bem ali, perto do Palácio principal, e eu tomei coragem para perguntar: "Posso segurar sua mão?" – claro, com todo o charme que um deus dos mares e festas deve ter, não pode perder a pose.
Ela só ergueu uma sobrancelha, me analisando como quem tenta entender o que se passa na mente de uma criança arteira. "Você quer segurar minha mão pra me proteger ou só porque quer uma desculpa pra ficar mais perto?"
Eu, sendo o deus charmoso e ligeiro que sou, dei uma risada e rebati: "Ora, é pra garantir que você não vai sair correndo daqui. Nunca se sabe quando uma linda mortal decide fugir do deus mais bonito do Paraíso."
Ela me olhou daquele jeito que mistura desafio e diversão e, antes que eu pudesse piscar, segurou minha mão de uma vez, com firmeza" Eu nunca faria isso, mas respeito seu medo."
Pisquei de volta. "Medo? Só do quanto você é irresistível, minha linda, meu diamante mais precioso."
E foi aí que as portas do Paraíso se abriram pra nós.
Assim que Hinadin pisou o primeiro pé lá dentro, senti sua mão tremendo e percebi que algo estava errado. Seu pulso começou a queimar em uma tatuagem de Fênix surgindo ali como se fosse parte de sua pele. Ela cambaleou, e eu a segurei antes que pudesse cair.
Naquele instante, foi como se nossos pensamentos se misturassem. Uma confusão de sentimentos, visões, tudo acontecendo ao mesmo tempo. E então, surgiu diante de nós a primeira visão dela como oráculo completo, e eu estava lá dentro com ela: vimos uma menina, uma criança com asas brilhantes, tão serena e poderosa. Aquela era Ambiel, a minha futura filha... Nossa filha.
Antes que eu pudesse entender tudo aquilo, senti alguém se aproximando. Tony, o deus da guerra, apareceu com um sorrisinho sarcástico, aquele típico ar de quem adora uma confusão. Vagabundo, nojento. Detesto ele.
"Ah, Ulisses," ele riu, dando umas tapinhas no meu ombro. "Trouxe o oráculo pra gente de bandeja, é? Que gentil da sua parte."
Afastei ninhada amada dele. "Eu não trouxe ela aqui por isso. Ela está aqui porque é o amor da minha vida."
Ele soltou uma gargalhada, aquele tipo de risada debochada que te faz querer socá-lo. E eu iria, mas ele sabia onde me ferir. "Ah, vai, Ulisses... Você sabe que não é digno de amor. Se esqueceu da maldição que aquela fada velha do inferno lançou em você? Ela deixou bem claro que, não importa o quanto você ame, você nunca vai ser amado de volta."
Senti meu sangue ferver, mas, antes que eu pudesse responder, Hinadin interveio, firme e decidida. "Eu amo Ulisses, sim. Calado, seu cabeça de ânus sujo."
Porra, eu amo essa mulher, eu aaaamo essa mulher!
Tony a encarou, como quem olha para alguém que não sabe a gravidade do que está fazendo. "Garota tola! Você aceitou amar esse ser indigno? Provavelmente terá um fim horrível. Já é difícil um mortal amar um imortal. Agora, um imortal que ama o oráculo? O destino de vocês é a tragédia."
Talvez ele esteja certo, diário. Mas quer saber? Se o destino for a tragédia, então que seja a tragédia mais linda que esse Paraíso já viu. Porque, no final, prefiro um amor verdadeiro e impossível a uma eternidade vazia.
♡
Querido diário,
Imagino que todos pensem que tivemos incontáveis momentos de paixão ardente, Hinadin e eu. Mas a verdade é muito mais dolorosa e sublime ao mesmo tempo. Nunca pude mostrar a ela o quanto eu seria capaz de satisfazê-la na cama, como seria capaz me lambuzar em cada detalhe de seu corpo, nem tampouco pude conhecer toda sua essência através de toques mais íntimos. Não. Tocá-la dessa forma não era uma opção. Eu... eu não era digno disso, nunca fui.
Hinadin era pura. Não no sentido de virgindade, porque disso ela já havia se despedido(eu tive ciumes do homem que a tomou no passado, mas eu sou louco, fazer o que, ne?). Mas pura em alma, em essência. Um ser de uma bondade e um poder tão intensos que apenas estar ao lado dela já era um privilégio. Eu sabia que entre deuses e oráculos completos, relações carnais não eram permitidas. Não por imposição divina, mas uma do próprio destino. Nossos corpos se repeliam. Tocar Hinadin poderia fazer um de nós sangrar até à morte. Por isso, tudo o que pude fazer foi segurar sua mão, beijar seus lábios e admirar cada detalhe dela com a devoção de alguém que só ama uma vez na eternidade.
Ela engravidou de Ambiel, mas não houve sexo, nem o calor de um corpo contra o outro. Foi um milagre, magia pura, o amor dela e o meu transbordando em algo que nenhum mortal jamais entenderia. Aquele foi o presente mais incrível que Hinadin poderia me dar.
Quando nossa filha nasceu, tudo fez sentido. Eu tive mais um motivo para amá-la profundamente. Nosso amor não era algo que precisava de momentos íntimos. Era algo muito mais forte, uma conexão que ultrapassava qualquer limite de carne ou de desejo. Mas, então... então, o destino decidiu se manifestar.
A maldição não havia sumido, afinal.
A Grande Profecia, a maior de todas em quatro mil anos, a tomou. Hinadin a entregou com a mesma beleza e intensidade com que fazia tudo na vida, e, ao terminar, desfaleceu nos meus braços. O oráculo dela, sua alma, se desfez ali, sem que eu pudesse fazer nada para trazê-la de volta e eu quis, eu daria tudo para tê-la comigo. No fim, eu jurei que a amaria por toda minha existência eterna, porque Hinadin era o único amor romântico que conheci.
Agora, só me resta a lembrança dela. E aquela primeira pancada que levei — sim, aquele golpe com a vassoura. Foi o que mudou minha vida. A marca que aquilo deixou... Eu poderia curar, claro, sou um deus afinal. Mas nunca quis. Nunca quis ver desaparecer a única marca física que carreguei por causa dela.
Então, é isso. Eu trago um roxo nas costas como prova do gesto que nos uniu. E talvez, em algum lugar do universo, ela ainda sinta isso também.
Eu amei, e amarei por toda a minha existência eterna,
O único ser que, por destino cruel, não deveria ser amado.
Em cada batida do meu coração, ecoa essa verdade,
Um amor que desafia as estrelas, os deuses, o natural, o Paraíso. Esse amor proibido.
Assim, mesmo na eternidade, eu permaneço,
Prisioneiro da paixão por quem não deveria ter espaço no meu ser. Minha Hinadin.
Talvez, em algum outro universo, eu possa vê-la e ser digno de ama-la novamente.
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