Mais que Compaixão... Amor.
⚠️Avisos importantes: Algumas cenas desse capítulo fazem alusão ao tráfico humano, assédio sexual, condição vulnerável, exploração, trabalho escravo e homicídio. Se não se sentir confortável, por favor pule as cenas.
Em uma cena específica existe gatilho relacionado a estado depressivo e automutilação.
Como eu havia dito, esse capítulo é um pouco diferente e vai trazer a visão e explorar a vida de dois personagens importantes da obra e por mais incrível que pareça, ele é uma mescla de tensão e fofurice. Eu espero que gostem.
Outro aviso: neste capítulo aparece o personagem Lee Hoseok (Wonho) mas não se trata do mesmo Hoseok (irmão do Jungkook) da história principal que a gente já conhece, são dois personagens diferentes com nomes iguais.
Só para esclarecer, porque tem gente que confundi ou acha que é o mesmo Hoseok. Ele não vai aparecer muito, é mais um personagem secundário de uma história secundária que vai aparecer as vezes, assim como a família dele. É só isso mesmo.
Boa leitura.
❤🌈❤
Pov's da autora (vulgo eu)
O silêncio no local era quase perturbador, mas totalmente necessário. Tanto para o perfeito andamento da missão, tanto para que saíssem dali vivos.
A equipe composta por cinco alfas, dois betas e três ômegas preparados e fardados, era liderada por Jaebeom, que como sargento tinha o controle da situação, ao lado de Jackson, Hyejin e Hoseok, também conhecido como Wonho. Fora os outros policiais que estavam ali, para acompanhar a operação.
Aquela seria uma missão complicada, e cada um deles sabia que seria, desde que foram designados para tal. Eles estavam de tocaia já havia horas, esperando o momento certo de agir. A sorte era que a pequena residência ficava em um local um tanto afastado de um bairro periférico fora do distrito, o quê evitaria certos transtornos.
O movimento de pessoas era quase nulo, com exceção das pessoas que ficavam naquela casa aparentemente abandonada e que ninguém imaginava se tratar de um ponto de tráfico de drogas. E o que era ainda pior, de tráfico humano.
E dentre todos que estavam ali, Jackson provavelmente era um dos que menos queria estar. Quer dizer, ele sabia que todos ali tinham suas vidas e famílias, mas ele e Hyejin estavam praticamente presos à delegacia e à aquela missão faziam quase vinte e quatro horas e consequentemente nesse tempo, nenhum dos dois tinha ido para casa. E a alfa ainda recebeu uma breve visita da esposa, mas Jackson teve que se contentar apenas com a foto que Mark tinha lhe enviado no dia anterior, quando estava no seu intervalo do trabalho.
E mesmo que fosse pouco, o sorriso de seu ômega era o suficiente para lhe dar forças e enfrentar aquele dia, preenchendo papeladas e estudando o caso na qual entraria em missão. Que era onde ele estava agora, na madrugada daquela terça-feira. Esperando que desse tudo certo.
— "Equipe Delta, na escuta?" — o som do rádio comunicador de Jaebeom quebrou o silêncio, chamando a atenção dos policiais presentes, esperando as próximas ordens e o sinal para agirem, ansiosos.
— Positivo, sargento Im Choi na escuta. Câmbio. — o alfa respondeu, os ouvidos atentos aos próximos comandos.
— "Delta em formação. Vamos adentrar ao sinal. Câmbio. " — respondeu e uma pequena e silenciosa comoção se armou. Todos os policiais conferindo a posição dos equipamentos, o carregamento das armas, pondo os coletes a prova de balas e capacetes, prontos para o que viesse.
— Atenção, a situação aqui é de tráfico de drogas, provável tráfico humano, situação exploratória envolvendo pornografia e prostituição, escravidão, imigração ilegal e porte ilegal de armas. Isso é o que temos de conhecimento no momento, mas como sabemos, pode haver muito mais. — Jaebeom comentou, pegando o capacete da farda, se levantando para se comunicar melhor com os demais. — Vai ser uma ação rápida, apreensão, prisão, reconhecimento e possível resgate. Algum comentário ou pergunta?
Questionou colocando o capacete, aceitando o silêncio dos colegas como falta de dúvidas ou comentários, concluindo sua fala e passando a palavra para a detetive do caso, já que era Hyejin quem estava com todos os detalhes da operação.
— Todos tomaram os inibidores? É importante para que a nossa localização só seja descoberta no momento certo, é uma operação de risco, qualquer deslize pode colocar tudo a perder.
Informou, ganhando confirmações positivas dos militares. Os inibidores usados pela Polícia eram como uma variante dos remédios de cio, que serviam para neutralizar o cheiro dos lobos, assim, irreconheciveis à quem pudesse estar lá dentro. O único lado ruim era que durante o efeito do remédio, quem o tomava também ficava indiferente aos cheiros dos lobos alheios.
Mais algumas informações passadas e logo o informante no rádio comunicador do sargento deu o sinal para que assim adentrassem a resistência. Saindo do veículo onde se escondiam, eles seguiram em formação, com armas empunhadas até a entrada da frente e ao sinal de Jaebeom, Jackson, Wonho, um beta e uma ômega da equipe foram para a entrada dos fundos em completo silêncio, posicionando um militar em cada uma das duas janelas do local, de onde alguém poderia escapar.
Comandando o pequeno grupo, Jackson esperou que Jaebeom lhe mandasse o sinal de que poderiam entrar, dando voz de apreensão para quem estivesse lá dentro. O silêncio era quase ensurdecedor, e quem visse realmente pensaria que o local estava abandonado. Mas todas as pistas, casos e informações colhidas apontavam para aquele lugar.
— Abram a porta, é a polícia! — Jaebeom deu a voz de comando após certa sequência de batidas na porta não respondidas, atentando-se a qualquer som que viesse lá de dentro. Empunhando sua arma assim que ouviu o som de algo sendo quebrado, a porta porta foi arrombada e foi enviado um sinal no rádio para que Jackson fizesse o mesmo.
As duas equipes entraram simultaneamente, deparando-se com dois cômodos divididos por uma parede quebrada e uma porta que dava acesso para um terceiro cômodo. Os dois primeiros estavam praticamente vazios, as paredes descascavam e estavam emboloradas, as únicas coisas que tinham ali era um armário grande e velho de metal que mais tarde eles descobririam estar trancado, uma mesa de madeira gasta com três cadeiras ao redor e uma poltrona gasta, cheia de furos e com o estofado saindo para fora ao lado da porta da frente.
Ainda com sua arma empunhada e olhar atento sobre o lugar, Jackson mandou um sinal para Jaebeom, dividindo os olhares entre o Im Choi e a porta encostada, dando o sinal que iria se aproximar da mesma e fazer o reconhecimento do cômodo.
Mas assim que abriu a porta, um homem saiu correndo por ela, empurrando Jackson que por pouco não caiu, apenas para ser pego por Hyejin, que o imobilizou e o algemou dando voz de prisão, sendo levado por um dos ômegas para fora. E só então Jackson percebeu que havia mais alguém ali escondido com ele, que foi pego ao tentar escapar pela janela do que parecia ser um quarto.
Cautelosamente, Jackson, Wonho e os outros dois que estavam com eles adentraram o cômodo, conferindo que não havia mais ninguém ali com eles, apenas uma cômoda que faltava gavetas e uma cama de hospital enferrujada sobre um tapete grosso e sujo, com um colchão de espuma que parecia em decomposição. A cena em si já parecia de um filme de terror e assim que Jackson pisou no tapete, ele teve certeza de que era um.
O som que o coturno do alfa fez ao pisar no tapete chamou a atenção dos demais, visto que não rangia como o piso de madeira escura e podre que estava em todos os cômodos, mas soou como se algo estivesse solto e era feito de metal.
Pedindo ajuda para Wonho, ambos viraram a cama de lado, removendo o tapete e se deparando com algo que parecia a porta de entrada de um porão, provavelmente um bunker de guerra. Dando sinal para o Lee, eles então puxaram a porta para que ela abrisse, e com um certo esforço - já que a mesma estava enferrujada - os dois conseguiram abri-la, sentindo o cheiro forte que saiu lá de dentro.
Logo a descoberta foi passada aos demais, que analisavam o lugar com cautela, buscando possíveis apreensões, enquanto outros cuidavam dos dois suspeitos. Dispostos a explorarem o que havia embaixo da casa, empunhando novamente suas armas e lanternas, já que além do odor forte, o lugar era totalmente escuro dali de cima.
Cautelosamente, Jackson foi o primeiro a entrar no lugar, que era bem maior do que parecia sendo seguido por Wonho, ambos prontos para encontrar o que fosse, inclusive um homem que escondido na escuridão, sacou uma arma e mirou no Wang, mas foi surpreendido por Wonho que atirou em seu braço direito duas vezes, fazendo-o errar o alvo e atingir a perna do Lee, que gemeu dolorido ao ser atingido.
— Porra! — o suspeito gritou, tentando pegar a arma com o braço esquerdo, sendo repreendido por Jackson que o impediu, chutando a arma e o rendendo, ouvindo passos descendo depressa e a detetive Hyejin aparecer ali na entrada, acompanhada de outros dois policiais.
— Tá tudo bem?! — ela gritou entrando no porão encontrando um interruptor que deu luz e os ajudou a perceber as reais condições daquele lugar.
Das paredes mofadas parecia escorrer um líquido preto e sujeira, haviam apenas duas tubulações que davam a entrada de ar, em um canto vários colchões em estados deploráveis estavam amontoados ao lado do que parecia ser um pequeno lavabo. E quase esquecido do outro lado, um sofá verde musgo velho tinha um buraco enorme em um dos três assentos.
— É, eu não usaria "bem" para descrever a situação. — Hoseok lamentou dolorido, apoiando-se em um pé só contra a parede para evitar forçar a perna atingida. Vendo a situação, logo a detetive foi ajudá-lo, e também ver qual era a situação do ferimento.
— Deu sorte Wonho, foi de raspão. Não vamos precisar amputar sua perna ainda. — a morena ironizou, dando apoio para que o Lee ficasse de pé.
— Ainda bem... Não sei se meu marido iria gostar tanto de mim com uma perna só. Mas ainda bem que foi só isso, se eu morresse, Hyungwon ia me matar... — disse irônico, entrando na da detetive que o ajudava a subir para sair dali e receber o cuidado médico. Enquanto isso, Jackson e outro policial cuidavam do terceiro suspeito, o algemando e o levando para cima, para que os paramédicos da ambulância pudessem cuidar do ferimento de bala e encaminhá-lo para um hospital se preciso.
Apenas Jackson havia ficado ali, avaliando e procurando qualquer coisa que pudesse ser apreendida, desde drogas até documentos e registros, já que para ele estava claro que alguém havia sido mantido preso ali. Os colchões ao canto, alguns rabiscos com pedidos de socorro e até o lavabo entregava, já que lá dentro haviam escovas de cabelo com alguns fios enroscados e escovas de dentes, além do que parecia ser uma panela e um fogão elétrico de uma boca, jogados junto à uma pequena televisão, onde deveria ser o chuveiro.
Saindo dali ele estava prestes a subir e dar lugar a perícia, quando um fungar assustado vindo do sofá lhe chamou a atenção. Ele se aproximou cauteloso imaginando o que seria, talvez algum animal ou talvez talvez algo estivesse escondido lá dentro e o som dessa coisa caindo se parecesse com um fungar. Mas nada pode lhe preparar para o que ele encontrou escondido ali.
Pegando sua lanterna ele iluminou a abertura do móvel, assustando-se quando viu dois pés pequenos que pertenciam a uma criança, magra e aparentemente desnutrida que estava encolhida no fundo da parte interna do móvel. Seus olhos arregalados vacilaram assim que a luz da lanterna iluminou aquele espaço tão pequeno, e seu medo era tanto que ele nem mesmo se preocupou em tirar os fios de cabelo cumpridos do rosto, talvez nem tivesse forças para isso.
Não escondendo sua surpresa, Jackson não conseguia tirar os olhos da criança, especialmente do olhar amedrontado dela sobre ele, não escondendo sua indignação por sua situação tão precária.
— Oi, tudo bem? — ele disse, tentando fazer contato com a criança. Ela ou ele deveria ter uns cinco anos no máximo, embora seu estado o fizesse parecer ter bem menos. — Estava brincando de esconde-esconde?
Perguntou tentando não assustá-lo e o mesmo negou, se soltando um pouco na presença do alfa fardado ali. Tentando parecer um pouco mais amigável, Jackson tirou o capacete e os óculos, sorrindo amigável para a criança.
— O meu nome é Jackson Wang Tuan. Sou amigo, não vou machucar você. Quer conversar? — perguntou e o menino assentiu esboçando um sorriso mínimo que fez o Wang Tuan sorrir. — Legal, vamos lá, eu já te disse meu nome, falta você me dizer o seu.
— M-meu nome é Bhuwakul, Kunpimook Bhuwakul. — disse baixo após minutos em silêncio, rouco em sua voz infantil e Jackson sorriu mostrando interesse. Um nome é sobrenome tailandês, aquela criança provavelmente tinha algo a ver com a imigração ilegal.
— Bhu... Bhuwakul? Eu falei certo? — repetiu o alfa com a língua meio embolada fazendo o pequeno dar uma risadinha assentindo, um pouco menos tenso e acuado. — Então Bhuwakul, quantos anos você têm? Você sabe me dizer?
Perguntou e ele fez o sinal de quatro, contando os dedinhos e conferindo se estava certo, e Jackson assentiu, continuando a demonstrar interesse. Ele amava crianças, sabia perfeitamente como chamar a atenção delas e conversar, Mark dizia que ele era um pedagogo nato, e Jackson se orgulhava muito disso.
— Quatro anos, que legal! Você é muito inteligente e esperto Bhuwakul. Você pode me dizer o porquê está escondido dentro do sofá?
Perguntou e o semblante do garoto mudou de imediato, ficando mais sério e restrito, assim como quando Jackson o descobrirá ali, ficando cabisbaixo e fungando novamente, passando a mão pelo rostinho sujo.
— A tia me pediu para ficar aqui, pra eles não me levarem junto com elas. Ela disse que ia me buscar depois e que ia ficar tudo bem. — ele disse com os olhos cheios d'água, quase com a esperança perdida.
— Entendi... E quando sua tia te disse isso?
— Antes de levarem ela e os outros no sábado.
— Você está aqui esperando desde sábado? — perguntou tentando não demonstrar o quão chocado estava com a situação toda quando Bhuwakul assentiu. O garoto estava ali havia três dias, provavelmente sem comer ou beber, se escondendo das pessoas que controlavam aquele lugar.
— Jackson? O quê está fazendo aí? — Jaebeom quebrou o silêncio, descendo as escadas para saber o que o amigo estava fazendo, estranhando ao vê-lo debruçado sobre o buraco do sofá. Ao som da voz desconhecida o pequeno novamente se encolheu, sendo acalmado por Jackson que lhe afirmou que estava tudo bem.
— Tem uma criança aqui. — informou, sem tirar os olhos de Bhuwakul sorrindo sempre na tentativa de dizer a ele que estava tudo bem. Jaebeom imediatamente enviou um sinal no rádio, informando a descoberta aos demais para que fosse mobilizado um protocolo à respeito, igualmente espantado pela situação. Subindo novamente e dando espaço para que Jackson cuidasse da situação. — Está tudo bem Bhuwakul, eu estou aqui com você e enquanto eu estiver, não vou deixar que nada de ruim aconteça, tá bom?
Deu sua palavra, olhando nos olhos do menino que assentiu, sentindo-se acolhido e protegido por ele, assim como o alfa que sentia que poderia fazer de tudo para proteger aquele pequeno que com tão poucos anos já havia passado por tanto. Talvez fosse isso que o fizesse lembrar de Mark, toda vez que tinha o foco nos olhos amedrontados dele.
Ele não sabia explicar, só sabia que tinha que proteger aquele menino.
— Você deve estar com fome né? Vamos sair? Aí eu te arranjo algo pra comer, pode ser?
— M-mas, a tia disse que vai vir me buscar, e se ela voltar e eu não estiver aqui? — perguntou preocupado. Por mais que estivesse aborrecido pela "tia" não ter lhe buscado, ele ainda tinha esperanças de que ela viria.
— Olha, eu não sei onde a sua tia está agora, mas eu te prometo que vou procurar por ela até encontrá-la, e até lá vou encontrar alguém que vai cuidar de você. Aí você vai poder ir com a sua tia, pode ser? — explicou e ele assentiu e estendendo a mão para o menino, Jackson esperou que ele tomasse coragem para uma iniciativa, que não tardou quando ele aceitou a mão que o ajudou a sair dali de dentro.
O ajudando a ficar de pé e sempre perguntando se ele estava bem, Jackson se manteve ajoelhado ao seu lado, para que assim ficassem do mesmo tamanho e Bhuwakul não o visse como uma figura "ameaçadora" embora a farda é colete a prova de balas já passassem essa imagem muito bem.
Conversando com ele para que não se sentisse nervoso ou desconfortável, Jackson o pegou no colo, tomando cuidado para não assustá-lo ou despertar qualquer trauma nele, subindo a escada que dava acesso ao porão e o levando para fora. Ele sentiu as mãozinhas pequenas agarrarem sua farda com força e ele esconder o rosto em seu ombro assim que ele deu o primeiro passo para fora dali.
Já não era mais madrugada, o sol brilhava forte pelo raiar da manhã e as luzes dos carros de polícia e das ambulâncias davam medo ao menino, mas em nenhum momento Jackson o desamparou ou lhe desrespeitou no que dizia seu medo, sempre conversando com ele, o levando até a ambulância e perguntando para Hyejin se tinha alguma coisa para que ele pudesse comer.
— Eu tenho algumas barrinhas de cereal. — a alfa disse se aproximando de Jackson e do menino agarrado em seu braço, ambos sentados na abertura de trás de uma das ambulância enquanto a paramédica conferia se Bhuwakul estava bem, antes de encaminhá-lo para o hospital. Hyejin então se agachou frente ao menino, sorrindo gentil e amigável para ele, da mesma forma que Jackson sorriu para ele, lhe estendendo as três barrinhas de cereal. — Oi Bhuwakul, eu sou a detetive Hyejin, mas pode me chamar de Hwasa, é o meu apelido. Você tem um apelido?
— Você tem algum apelido? Apelidos são legais... — Jackson incentivou visto a falta de resposta do menino, indicando para ele que estava tudo bem, que ele podia responder a alfa e aceitar as barrinhas, que foi o que ele fez, abrindo a embalagem com pressa pela fome.
— A tia me chama de Bambam. — respondeu, mordendo uma barrinha e a comendo com rapidez.
— Bambam, é um apelido bem legal... — ela disse tirando um pequeno bloco de notas do bolso, ainda agachada frente ao menino, sorrindo para ele enquanto fazia algumas anotações. — Você morava ali?
Perguntou recebendo um aceno positivo do garoto que estava de boca cheia, balançando as pernas um tanto agitado.
— E você morava com quem?
— Morava eu, a tia Kulap, o tio Yeon, o tio Kyun, a tia Naomi, a tia Yzuma... — contava nos dedos melados e tanto Hyejin como Jackson prestavam atenção em cada palavra. — tinha outras tias e outros tios, mas eles iam embora no sábado.
— Você sabe para onde eles foram? — a detetive perguntou e o menino ficou novamente acuado, se refugiando para perto de Jackson, seu porto seguro no momento, negando com a cabeça. — Não precisa responder se não quiser, eu entendo. Deve ter sido muito assustador ficar ali né?
Perguntou e Bambam assentiu com a cabeça, pegando a última barrinha de cereal para comer, Hyejin continuou ali, puxando papo com o garoto e tentando inserir algumas perguntas no meio dos diálogos, tentando obter algumas informações prévias para complementar o estudo do caso. O garoto não falava de qualquer progenitora ou progenitor, o que era estranho tanto para a detetive tanto para o policial, que desde que conversou com o menino pela primeira vez notou isso, pensando que talvez se tratasse de um caso de sequestro. Era uma suposição infelizmente bem válida.
Eles continuaram a conversar até que Jaebeom viesse até ali, pedindo um momento com ambos para informar das novas descobertas sobre o caso e compartilharem informações. Porém assim que Jackson foi se levantar, duas mãos seguraram a manga de sua blusa, o impedindo de ir e implorando para que ele não o abandonasse.
— Eu não vou embora pequeno, eu só vou ali conversar com os policiais, para ver se encontramos sua tia...
— M-mas você ia me deixar a-aqui sozinho... — ele disse fungando, os olhos marejados implorando para que não fosse abandonado novamente, as mãozinhas tremendo enquanto o tentava manter por perto.
— Eu não vou te deixar sozinho, a doutora Young está aqui, cuidando de você, não está? — perguntou olhando para a paramédica de sorriso doce que havia o examinado tão bem e ele assentiu. — Viu? Você não está sozinho, e ninguém aqui vai te machucar. Eu vou ali bem rápido e já volto, tudo bem? É uma promessa.
Disse estendendo o dedo mindinho para que Bambam apertasse mas ele não entendeu, tocando então a ponta do dedo com o seu mindinho. Ele não tinha entendido aquilo, mas entendeu o que o alfa havia dito com promessa e esperava que aquela se cumprisse, enquanto assistia o mais velho ir à encontro da detetive e do sargento, sentindo a paramédica se sentar do seu lado.
— Você não está levando isso para o pessoal, né? — Hyejin perguntou assim que o Wang Tuan chegou mais perto, totalmente encucado com a situação.
— É meio difícil não levar para o pessoal, quando uma criança de quatro anos teve que se esconder por três dias dentro de um sofá, para que não tivesse um destino ainda pior do que ele estava passando. Conseguiram encontrar alguma denúncia de desaparecimento dele?
— Nada, nem denúncia, nem registros de hospitais e nem documentos, o garoto não existe legalmente. Mas a perícia encontrou algumas coisas no armário, aparentemente eles estavam tentando consumir com as provas mas não consumiram essas, acredito que eles usassem os documentos para fazerem compras e talvez vender para criação de identidades falsas.
Jaebeom comentou, mostrando algumas fotos já retiradas pela equipe da perícia. Em uma caixa, várias fichas com informações pessoais de várias pessoas estavam juntas e separadas com documentos, como identidades, vistos e passaportes, todos com uma coisa em comum: todos pertenciam à ômegas e betas e nenhum deles tinha uma denúncia de desaparecimento sequer.
E passando as fotos, alguns nomes eram reconhecidos por Jackson e Hyejin, que os viram serem proferidos por Bambam, minutos antes. Assim como os outros eram ômegas e betas jovens de dezenove à vinte e nove anos, todos sem qualquer denúncia.
— São pessoas sem família, nas próprias fichas essas informações são constatadas, a maioria são ômegas com baixa escolaridade e a procura de emprego, tem no mínimo umas quarenta fichas.
— Porra... E tem alguma informação de onde o menino possa ter vindo? — Hyejin questionou, passando a mão no rosto. Era horrível só de pensar.
— Têm duas fichas, Kunpimook Lawan e Kunpimook Kulap, irmãs de sangue. Na ficha da primeira diz que ela estava grávida e a procura de emprego junto da irmã, ambas imigrantes ilegais tailandesas, foi datado há cinco anos atrás.
-— Tá dizendo que ele nasceu aí dentro?!
-— Provavelmente...
— E onde está a mãe dele? — a alfa perguntou em cima da pergunta de Jackson, que tentava se controlar por sua indignação.
— A ficha deu ela como morta, mas não tem causas nem laudo. Apenas diz que ela morreu há dois anos.
— Que merda... — Jackson praguejou revoltado, passando as mãos pelos cabelos. As vezes seu emprego era uma merda.
— Calma lá Wang, você está muito alterado, tá começando a levar para o pessoal.
— Eu sei nonna, eu tô tentando me controlar mas eu não consigo deixar de fixar puto com tudo isso... Eu tenho um ômega em casa e ele tá grávido, eu sei que é quase absurdo mas eu não consigo deixar de pensar se fosse ele nessa situação, se aquele menino fosse meu filho...
— Eu sei que é complicado Jackson, acredite eu também não consigo deixar de pensar o que seria se fosse Youngjae ou até Jinyoung nessa merda de situação, mas você tem que tentar se controlar, pelo bem da sua carreira. Você já lidou com casos piores... — Jaebeom mencionou, e Jackson não pode deixar de rir.
— Quando eu lidei com esses casos eu não sabia que eu ia ser pai...
— A paternidade te deixou frouxo? Ou você só está nervoso? — a alfa debochou na ironia, por mais que soubesse que toda aquela explosão do Wang Tuan era pelo fato de que ele seria pai. Aquilo havia mexido com a concepção dele dentro da profissão.
— Voltando ao caso, foram encontrados essas fichas e documentos e também dois livros de registro, parece que tinham outros mas não os encontramos. Fora isso tinha cinco quilos de maconha e dois de cocaína para distribuição, encontramos três pistolas, fora a que o suspeito usou para balear um dos nossos e uma alta quantia de dinheiro em dólares. Agora temos que esperar os resultados finais da perícia para iniciarmos o interrogatório.
— E o garoto? — Jackson perguntou aflito para Jaebeom, ele não iria descumprir sua promessa para com o menor.
— Estamos entrando em contato com orfanatos e abrigos temporários, recebemos algumas respostas mas poucas foram favoráveis. A maioria já está em capacidade máxima, mas vamos resolver isso enquanto ele passar no médico.
— Entendi... — respondeu Jackson resoluto, ouvindo um grito e um choro alto que o alertou, deixando ambos colegas e indo até a ambulância para ver o que acontecia.
— Ele tá muito envolvido né? O emocional dele ficou uma desgraça de uns tempos pra cá.
— Dá um desconto pra ele, ele está esperando o primeiro filho, é normal ficar desse jeito. Eu fiquei pior no meu exame de admissão da academia de polícia, pensando que Jinyoung iria nascer a qualquer momento...
— E é por isso que eu não tenho filhos... — concluiu a detetive, vendo uma pessoa da perícia se aproximar apressadamente.
— Por isso e porque a Wheein não quer... — retrucou Jaebeom anotando algo, parando e dando atenção ao perito assim que o mesmo se aproximou.
— Nós encontramos corpos...
O perito mencionou e Jaebeom e a detetive os seguiram até os fundos da casa, onde a descoberta havia sido feita. Enquanto isso, Jackson foi até a ambulância onde uma pequena comoção acontecia e a paramédica tentava acalmar Bambam que chorava em desespero.
— O quê aconteceu?
— Temos que levá-lo para o hospital, ele precisa ser tratado. — outro paramédico o respondeu, também observando a situação enquanto Jackson se aproximava do menino, ajoelhando-se perto dele e sendo pego de surpresa quando ele o abraçou com força, tremendo.
Jackson ficou por algum tempo sem reação, mas logo retribuiu o abraço, sentindo aquele afeto e empatia que sentiu desde a primeira vez que o viu, sendo observado pelos paramédicos que compreendiam a situação. O menino tinha passado por um trauma muito grande e o alfa foi a primeira pessoa em quem ele pode confiar depois de dias sem ter contato com ninguém.
Young Soyoun, a paramédica e antiga médica militar, já tinha visto algumas situações parecidas e ela mesma foi até o sargento e a detetive para pedir a autorização para que o policial acompanhasse o garoto na ambulância, visto que ele aparentemente não se sentia confortável com mais ninguém. Compreendendo a situação e tendo autoridade para isso, como sargento comandante da missão Jaebeom liberou o amigo e colega para que fizesse esse acompanhamento, junto da policial Kim Yeon-Koung, uma ômega que estava na missão com eles.
A partir de então tudo ocorreu como devia. Jackson passou algumas informações para Hyejin e foi junto com Bambam para o hospital, conversando com ele no trajeto para que ele ficasse calmo, e embora o menino não respondesse se sentindo intimidado, aquilo estava funcionando, ele estava mais calmo com a presença do alfa. O garoto já tinha visto carros nas poucas vezes que saiu de dentro do porão com a tia, mas nunca tinha entrado em um, especialmente em uma ambulância e isso lhe deixava com medo.
Já no hospital, Jackson o ajudou a descer, mas o garoto estava descalço e com os pés ralados, tão fraco que mal conseguia se manter em pé, com medo do prédio que era grande demais, se agarrando ao alfa que o pegou novamente no colo, para levá-lo para ser atendido. Uma ficha rápida foi preenchida pelos paramédicos e como ele seria examinado e avaliado antes de qualquer coisa, Jackson pode acompanhá-lo até o quarto onde ele ficaria, junto da outra policial que acompanhava o caso.
A pediatra logo foi até eles junto de uma doutora clínica e então, a alfa e a ômega juntamente com Jackson que ajudava no que podia para manter Bambam calmo, realizavam os exames para saber o quadro do menino, com muita paciência e cuidado. Ele estava desnutrido e desidratado era óbvio, e com alguns problemas de saúde comuns em crianças que não tomavam as vacinas necessárias, então logo alguns exames de sangue e de tireoide foram feitos, para que um diagnóstico preciso fosse tido.
Feito o que deveria, as doutoras deram lugar para a enfermeira que trouxe um pijama do hospital e alguns produtos de higiene para ele enquanto Jackson parabenizava o garoto pela coragem. Após convencer o garoto a tomar banho, a beta que o auxiliava levou o garoto para o banheiro para ajudá-lo a se banhar, e Jackson rapidamente saiu dali avisando à Kim, disposto a falar com Mark urgentemente.
Ele estava sem seu celular, o quê era comum quando estava em missão, costumava deixá-lo na delegacia. Então foi até o telefone mais próximo ao fim do corredor, discando o número do esposo, o qual tinha gravado mentalmente.
— Alô? — a voz de Mark soou assim que ele atendeu fazendo Jackson suspirar. Era sempre ótimo ouvir a voz dele, especialmente depois de um dia daqueles.
— Oi? É o senhor Wang Tuan falando? — brincou é pode visualizar a imagem do ômega revirando os olhos, o sorriso crescendo em seus lábios quando respondeu.
— Muito engraçado Jackson. Como você tá? — perguntou e só de ouvi-lo suspirando aliviado por saber que ele estava bem, o alfa se sentia menos tenso, mesmo com o pedido que estava para fazer ao marido.
— Eu estou bem meu amor, e você? Como você está? E o nosso bebê?
— Nós estamos bem. Acabei de chegar no serviço, tive que levar Jimin para casa, mal chegamos e ele começou a passar mal, mas ele está bem melhor agora. Sua voz parece cansada, tem certeza que está bem?
— Tô, eu tô sim... É que o meu dia também está sendo uma loucura...
— É por causa da missão? Deu tudo certo?
— É por isso sim, mas ainda está sendo investigado. Meu bem você lembra que nós fizemos aquele cadastro, uns cinco meses atrás para sermos tutores legais?
— Eu lembro sim, o quê têm?
— Bem é quê, hoje durante a missão eu encontrei um garoto, ele tem quatro anos e eu não sei... Eu sinto que eu tenho que protegê-lo.
— Jack...
— Eu seu o que vai dizer, mas eu realmente sinto que devo fazer isso. Acho que de certa forma ele me lembra você e ele já sofreu tanto, eu queria dar isso para ele. Seria um lar temporário até concluirmos a investigação e encontrarmos algum familiar dele ou uma vaga em um orfanato.
— Jackson, você sabe que nós dois temos que trabalhar, quem vai cuidar dessa criança? Fora os gastos a mais que tivemos com o conserto do carro e os gastos da gravidez...
— Nós damos um jeito. Eu só peço para que você pense nisso, eu sei que teremos mais gastos por conta do bebê e que nós dois temos que trabalhar, mas você sabe que se fizermos tem o auxílio que o governo dá, e também eu posso pedir uma licença.
— Jack eu admiro muito sua iniciativa, e você sabe que eu não me oponho à sua ideia, mas estamos falando de uma vida. Há cinco meses atrás eu não estava grávido e tínhamos uma renda para a tutoria...
— Eu sei mas... Eu nunca me senti tão mal por ver uma situação assim. Eu sei que posso estar muito envolvido, mas eu me sinto ligado à ele, e ele confiou em mim, me confiou para tirá-lo dali.
— Onde você está?
— No hospital, estão fazendo alguns exames nele.
— Tá bom, eu vou aí e já levo os documentos, avisa para os seus superiores que temos interesse em abriga-lo, está bem?
— Ok, eu te amo. — disse extremamente empolgado, e mesmo pela chamada pode sentir o ômega sorrir.
— Eu também te amo.
Foi a última coisa que ouviu, antes de desligarem a chamada e então, Jackson rapidamente discou o número de Jaebeom, lhe perguntando se havia obtido êxito com os abrigos e orfanatos e após ouvi-lo negar, contou da decisão dele e do marido, sendo parabenizado pelo colega.
— ... Pode deixar que eu cuido dos papéis, acredito que não haverá nenhuma oposição.
— Eu também não, a nossa documentação é recente e está atualizada, a única coisa é que eu vou ter que pegar uma licença da polícia por um tempo.
— Licença? Por quê?
— Porque eu não posso simplesmente jogar isso para o Mark ou para minhas sogras sendo que fui eu que tomei a iniciativa. O Mark está estudando e trabalhando agora, está prestes a terminar o curso e vai entrar de licença em alguns meses, não posso simplesmente tirar isso dele...
— E você está mais que certo... Tenho certeza que vocês dois serão ótimos tutores. Só não sei o quê vai ser do menino depois desse período em que ele vai ficar com vocês.
— Como assim?
— Foram encontrados cinco corpos no terreno ao fundo da casa, estavam em um bunker no quintal, todos mortos com um tiro na testa.
— Mas, no que isso afeta o menino?
— Bem, não está certo ainda, a perícia tem que fazer o corpo de delito, reconhecimento dos corpos e as circunstâncias da morte, mas está claro que se trata das cinco pessoas que estavam em cárcere com ele, inclusive Kunpimook Kulap, a suposta tia dele.
Disse deixando Jackson sem reação. Então era por isso que a tia não tinha ido buscá-lo, ela morreu antes que pudesse ter feito. E aquilo tinha feito o estômago do alfa embrulhar.
— Jackson? Ainda está aí? — Jaebeom perguntou visto a ausência de resposta, fazendo o Wang se concentrar antes de responder qualquer coisa.
— Tô... Eu tô sim.
— Você está muito sentido com tudo isso, essa licença é a melhor coisa que você pode fazer. Ficar com o Mark, curtir a gravidez, cuidar do menino, isso vai te fazer bem.
Disse e logo após eles se despediram e finalizaram a chamada e então Jackson voltou para o quarto onde Bambam estava, o encontrando em pé sobre a cama, enquanto a enfermeira colocava o pijama nele.
— Viu só? Eu disse que ele já ia voltar. Agora sente-se meu bem, vou trazer seus remédios e uma coisa bem gostosa para você comer. — a enfermeira disse, sentando o menino no colchão que sorriu para ela, assim como a Kim que observava tudo com um sorriso no rosto.
— Eu vou ali com a enfermeira, pegar algo para comer também, vai querer algo? — Yeon-Koung perguntou, indo até a beta rapidamente, a seguindo assim que Jackson negou, se sentando na poltrona ao lado da cama do garoto.
— Onde você foi? — quis saber o menino assim que a porta foi fechada, ajoelhando-se sobre a cama e ficando de frente ao alfa.
— Fui falar com o meu marido, ele está vindo aqui te conhecer.
— Por que ele quer me conhecer?
— Ah, porque eu disse pra ele que você é um garoto muito legal e muito inteligente. Ele é professor sabia?
— Professor? Ele ensina as letrinhas?
— Isso, ele ensina as letrinhas e um monte de coisas legais para várias crianças, é bem legal. Quem te ensinava as letrinhas?
— A tia Kulap, mas ela não sabia todas, só as do meu nome, do nome dela e da minha mamãe.
Disse inocente, e Jackson sentiu o coração apertar. Era a primeira vez que ele mencionava a mãe, embora fosse muito pequeno quando a mesma tivesse morrido. Ele sentiu ao vê-lo citar a tia, imaginando o que aconteceria com ele se aquele corpo fosse mesmo dela.
Ele continuou a conversar com ele, até a enfermeira retornar ao quarto trazendo uma bandeja, junto da policial com quem conversava alegremente, ambas com um rubor no rosto que não passou despercebido por Jackson, que zoou a colega assim que a enfermeira deixou a bandeja sobre a cama e se assegurou que Bambam tivesse tomado os remédios prescritos.
Ele ficou ali com ele enquanto o mesmo comia apenas vendo-o se alimentar, ajudando a colocar a bandeja de lado assim que ele terminou de comer, voltando então a conversar até que Bambam adormeceu, em um sono do qual não acordaria tão cedo.
Perdido em seus próprios pensamentos e com os olhos pesados, não demorou para que Jackson também caísse no sono na poltrona ao lado da cama. Voltando para o quarto após passar a hora de descanso da enfermeira que estava cuidando de Bambam com ela, Yeon-Koung não conseguiu conter o riso, tirando uma foto da cena, assim como havia feito durante o todo resgate do menino, para usar no caso e também guardar de recordação.
Ela ficou ali até um enfermeiro ir até o quarto junto de Mark e Jaebeom, que estava ali para averiguar a situação do suspeito baleado, saber da situação de Hoseok e Bhuwakul, pegar a documentação de Jackson e Mark para a tutoria e entregar a licença de três semanas do alfa. Entrando no quarto, Mark foi direto até o policial adormecido, o tocando delicadamente no rosto para que ele acordasse.
— Jack? Jack acorde. — o chamou baixinho, e aos poucos ele abriu os olhos, vendo o sorriso no rosto de seu ômega, o fazendo sorrir também.
— Oi... Meu bem... Que bom que você veio. — arrastou a fala se espreguiçando, só então reparando em Jaebeom ao lado de Yeon e de um enfermeiro que olhava a prescrição médica de Bambam.
— É claro que eu viria, nós estamos fazendo isso juntos, certo? — ele diz lançando um sorriso para Jackson, olhando então para a cama onde o menino descansava serenamente. — É ele?
— É sim... — Jackson respondeu se levantando, enquanto via o marido observar Bambam dormindo, e mesmo entregue ao sono, seu olhar cansado dizia muito e sua situação física também. Mark tinha imaginado o que o garoto podia ter passado quando seu alfa lhe contou em ligação, mas nunca imaginou que pudesse quase sentir aquilo que o menino havia sofrido, e naquele momento, Mark sentiu uma imensa compaixão, acompanhada de um sentimento que ele mesmo não sabia explicar. — Você está bem?
— Eu estou sim... Eu já li e assinei minha parte do documento para a tutoria, falta você assinar. E eu trouxe uma muda de roupa para você, caso queira trocar, Jae disse que pode levar os equipamentos de volta para o batalhão de polícia.
— Está bem, eu vou ver mais alguns detalhes do caso, assinar os documentos e aproveitar para me trocar, você quer vir ou prefere ficar aqui?
— Eu fico aqui, vai que ele acorda e percebe que não tem ninguém. Vai ser bom para mim conhecê-lo.
— Tudo bem, só não estranhe, ele não fala muito no começo mas depois que pega confiança, já sabe. — disse rindo, abraçando o ômega pela cintura, dando-lhe um beijo na bochecha que lhe arrancou um sorriso, ambos olhando para Bambam.
Jackson se despediu com um breve beijo e então acompanhou Jaebeom e Yeon-Koung para ter mais informações sobre o caso e quem sabe dar alguma informação a mais, caso os pequenos fragmentos de Bhuwakul tivessem relevância.
Mark sentou onde o marido anteriormente estava sentado e passou a refletir na loucura daquele dia. Ele havia ido pra faculdade e logo nos primeiros cinco minutos encontrou Jimin e Taehyung discutindo por conta do cio do último que parecia estar perto. Não demorou e logo uma pequena confusão foi armada ao que aparentemente, um ômega havia entrado no cio e um professor - que ele descobriu ser Yoongi - abandonou a sala pois estava passando mal.
Na hora da saída, Jimin parecia ter corrido uma maratona e logo Mark foi entender todo o contexto da confusão e o cansaço do amigo. Na cafeteria ambos descobriram que Jin não sabia do "segredo" do irmão, e não demorou para que Jimin estivesse passando mal, por conta de todos os ferônimos a qual ele foi exposto. Ele já tinha levado o Park para casa, se assegurado de que ele estava bem e voltado para o serviço quando seu celular tocou.
E agora lá estava ele.
Ele queria muito a tutoria, inclusive foi ele mesmo quem propôs para que Jackson e ele fizessem o cadastro para abrigarem crianças órfãs ou abandonadas, mas enquanto esperavam, surgiram um problema ou outro, a gravidez é outras coisas que acabaram custando um pouco mais do que planejavam, e foi quando eles recorreram a poupança.
É claro que amor é carinho não faltaria para aquele menino, mas crianças precisam de dinheiro para serem sustentadas, e agora com duas as coisas tendiam a apertar um pouco. Mas para ele isso era o de menos.
Perdido em seus próprios pensamentos, ele apenas voltou à realidade quando ouviu o pequeno se mexer, abrindo os olhos ainda sonolentos e passando as mãozinhas sobre os mesmos, se acostumando com a claridade do lugar. Assim que lançou o olhar para a poltrona, ele estranhou que o moço que o ajudou não estava ali, e sim outra pessoa que ele não conhecia, mas que sorria meigo e acolhedor para si, assim como o policial.
— Oi... — Mark falou tentando ter algum contato, vendo o menino se sentar, se encolhendo um tanto acuado pela sua presença, ainda desconhecida. — Meu nome é Mark, sou casado com o tio que estava aqui com você, ele foi trocar de roupa e já volta.
Disse e o pequeno logo se lembrou do que Jackson havia dito, sobre o professor que ensinava as letrinhas e outras coisas legais para as crianças.
— Você é pro... Profeussor? — se embolou um pouco fazendo Mark sorrir. Agora que ele estava acordado, dava para sentir que o leve aroma dele era de um ômega.
— Sou sim, foi o Jackson que te contou? — perguntou e ele assentiu, ganhando outro sorriso. — Jackson me falou que você é muito inteligente e esperto, e que é muito legal, mas ele não me disse o seu nome. Pode me dizer?
— Meu nome é Bhuwakul, mas pode me chamar de Bambam. — ele diz, se sentindo menos tenso, cruzando as pernas ao se sentar um pouco mais perto.
— Bambam, que legal! Esse é um apelido muito bom, combina com você.
— Você tem apelido? — perguntou após ficar um tempo em silêncio, reparando em algo "interessante" no braço do ômega.
— Eu não tenho, pelo menos não um legal que nem o seu...
— Você foi arranhado por um tigre? Ou é marca de nascença? — ele perguntou mas Mark não o entendeu, e só quando percebeu onde os olhos do menino caíam ele pode entender do que ele estava falando. As cicatrizes.
Elas estavam bem melhores do que comparadas à quando ele as fez, em um surto depressivo aos quinze ou dezesseis anos de idade, nem ele se lembrava mais. Entretanto as marcas de mutilação continuavam ali, para lembrá-lo daquela época onde tudo o que mais desejava era não estar mais vivo.
Aquilo entretanto, não era apenas uma lembrança daquela época sombria de sua vida, mas também uma lembrança de quando Jimin entrou na sua vida, e mesmo que de uma forma não muito boa no começo, o ajudou a voltar a enxergar a vida como algo que valia a pena. E não só Jimin como Jackson também.
Ele era mais que grato por tê-los em sua vida.
— Ah não, eu não fui arranhado por um tigre, eu me machuquei quando era mais novo, e meus amigos me ajudaram. — respondeu de forma que o menino compreendesse e então Bambam levantou uma das pernas da calça, mostrando uma marca grande de queimadura que ele tinha e que ocupava grande parte da coxa até o joelho.
— Eu tenho essa marca de nascença, a tia disse que foi por isso que eles não me levaram quando eu nasci e eu pude ficar com ela. — Bambam disse e Mark evitou aparentar confuso.
Aquilo obviamente não era uma marca de nascença, parecia ser uma cicatriz provocada por algo quente sendo derramado em sua pele, água talvez. Mas vendo a confissão do menino, ele não duvidava que alguém pudesse ter feito aquilo para protegê-lo e mais do que tudo Mark se sentiu ligado ao garoto.
— É uma marca de nascença bem interessante, ela dói?
— Não dói, e eu gosto dela, se contornar dá pra formar um desenho.
— É mesmo? Que legal... — disse demonstrando interesse, enquanto Bhuwakul dedilhava a pele marcada, levando Mark a fazer o mesmo.
— As suas também formam desenhos né?
— É eu, eu acho que sim. — respondeu, limpando o canto do olho por onde uma lágrima teimosa descia.
— Quando eu desenho nela, dá pra imaginar um monte de coisa legal, isso dá um bonito diferente pra ela, você devia tentar. — o garoto respondeu, e mesmo que embolado e um pouco atrapalhado em sua fala, Mark não podia ter entendido melhor.
Foi aquela lembrança esquecida da cicatriz de Bambam que o permitiu ficar com a tia em certa segurança mesmo naquele lugar precário e assim também, aquelas cicatrizes que Mark tinha em seu braço o faziam lembrar de todas as coisas boas que ele poderia ter perdido, o quanto ele era amado e o quanto ele amava estar vivo e viver tudo aquilo.
O quanto ele amava estar ali, e o quanto amou conhecer aquele garoto que precisava daquele amor e que mesmo tão novo, já tinha sofrido tanto. E ele entendeu o que Jackson quis dizer, quando confessou que Bambam o fazia lembrar dele, e entendeu tudo o que o alfa havia sentido ao encontrá-lo durante aquela missão e sentiu o mesmo.
Era simplesmente amor.
— É... É eu devia...
❤🌈❤
Um minuto de silêncio para imaginarmos como a Hwasa ficaria uma deusa de farda... Pronto.
Quase 8k de palavras meus amores, é mole? Me desculpem a demora, esse capítulo foi reescrito por completo, o rumo de algumas coisas foi alterado e eu tive que acrescentar certas coisas que na versão anterior não faziam sentido nenhum.
Espero que vocês tenham gostado do capítulo, eu amo Markson, foi um dos ships que me trouxeram para as fanfics, e eu amo eles de paixão.
Espero que também gostem do nosso Bambam (criança preciosa) que vai fazer parte do nosso cast de fofura.
Por hoje é só, novamente espero que vocês tenham gostado, um beijão na bunda, bebam água e até mais.
💜💜💜
Peço des
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