09. Questionamentos
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Capítulo 9 - Questionamentos
Seus olhos brancos e frios observam na porta de seu castelo uma pilha de corpos ensanguentada aos quais matou em um surto de fúria.
Não consigo me lembrar.
Por que não conseguia se lembrar?
Sua cabeça doía como se dentro dela houvessem dedos apertando seus miolos. E, quanto mais se esforçava, mais claro ficava que não existiam memórias de como nasceu, de onde veio, se lembrava apenas de existir como existe agora e dar vida aos seus enguias. Conhecia tudo após isso, mas antes... Não havia nada.
Ela apagou.
Como era possível?
Não. Não era possível.
Não queria acreditar.
Aquela ruiva maldita disse aquilo só para lhe desestabilizar, não é?
Sim ou não, ela mexeu consigo. Como ninguém nunca foi capaz.
Mesmo rodeado de pessoas naquela caverna, distraindo-se com o novo acordo, as palavras recém ouvidas ficaram rodando em sua mente como se um diabo estivesse no pé de seu ouvido sussurrando sem parar.
"Eu lhe roubei as lembranças, assim como tudo o que tinha de bom"
"Eu te condenei à escuridão das profundezas"
Isso despertou novamente seu ódio, sua raiva, e frustração. Tinha vontade de descontar em algo, porém não podia fazer nada ali. Na terra. Na frente daqueles humanos. Mas tinha algo perfeito para o momento: um assunto pendente nas águas para resolver.
Portanto, fez seus enguias transformarem-se em humanos usando "pelo bem do destino" e os mandou ir para o castelo com os demais, com ordens de protegê-los, enquanto ele resolvia-se com os peixes demônios enviados por aquela ruiva desgraçada.
Acreditou que descontar os sentimentos negativos destroçando um por um ia resolver por um tempo, ao menos até poder acabar com a filha da puta. Só que suas palavras continuaram ali presas e passeando por sua mente, as memórias em branco continuavam a incomodar, mesmo depois de dar um fim violento naqueles seres nojentos.
Não queria acreditar que ela teve influência em sua vida, lhe tirado de seja lá onde for, lhe condenado e obrigado a viver como o "Monstro do Mar" que todos sentem nojo e medo. Lhe colocando para interpretar a porra de um papel.
Não podia acreditar.
Porque se acreditasse, isso significaria que os milhares e milhares de anos que viveu, toda sua existência, foi uma grande mentira. E, se ele não era quem acreditava ser, o Rei das Profundezas, das Criaturas Abissais, o cruel demônio portador da meia verdade, que faz acordos para distrair-se do tédio da imortalidade e se divertir às custas dos tolos, e o ser com mais riquezas do mundo… Quem ele era de verdade? O que foi apagado? O que foi tirado de si?
Em sua mão brilhou um fogo azul que jogou nos peixes demônios para os reviver por alguns segundos e ao mesmo tempo incinerar "vivos", fazendo com que gritassem tão alto quanto seus pensamentos, agonizando-os o tanto que sentia-se incomodado. Queria torturá-los. Queria que fosse a bruxa ali.
Depois de tanto surto e de resolver ao menos esse problema, fechou seu Castelo de Diamantes já que os enguias e Jungkook deixaram aberto ao fugirem dali, nadando devagar, o que não condizia com toda sua agilidade, mas no momento precisava para pôr os pensamentos em ordem. E estava tão preso neles que mal notava a beleza do mar ao seu redor. Não que achasse qualquer coisa no mundo bonita também.
Os últimos acontecimentos não o fazia sentir-se como si mesmo. Logo ele, tão certo de si, estaria se perdendo pela primeira vez em milhares de anos?
Primeiro, o que não admitiu: ficou confuso a respeito do hibridozinho. Tinha algo nele que mexia consigo, notou ao ver-se, de certa forma, encantado por ele, acatando suas vontades como nunca fez e não sentindo desagrado com isso. Fora que seus tentáculos pareciam gostar dele mais do que deveriam.
Então vem essa porra de Ivy dizer que apagou suas lembranças e o condenou as profundezas, lhe fazendo questionar quem ele é além do que acredita ser e também o que caralho a maldita fez consigo. Qual a razão de lhe colocar em um papel? Por que ele quem foi escolhido para ser o cecaelia considerado malvado e aterrorizante?
E, novamente, vem o príncipe tolo demonstrando no trato atualizado não ter nojo, receio ou pavor e sim certos desejos sexuais por si. Não era tão novidade pelas reações que ele teve anteriormente, mas era novo que alguém expressasse tal coisa. Geralmente era temido e odiado, não estava acostumado a ser desejado. E no fundo… Gostou? É. Não que vá admitir isso outra vez mas, sim, gostou pra caralho.
Desejado sendo ele mesmo era surrealmente gratificante, inflava seu ego como nunca.
Mas ele era realmente ele?
Quem era Park Jimin de verdade?
Acreditou durante toda sua vida imortal de milhares de anos ser um cecaelia terrível que promovia e amava o caos, buscava por intensidade e prazeres, e não tinha sentimentos, mas… Será que realmente era assim?
Cacete!
Por que de repente as coisas parecem estar mudando? Por que agora estava sentindo coisas que não conseguia por em palavras? Por que estava pensando tão profundamente? Exatamente como a porra de um humano inútil em crise existencial! Isso nunca aconteceu antes. No entanto, nunca havia duvidado de quem era, nem se questionado sobre sua vida.
Quanto estresse.
Isso tudo é culpa do Jungkook!, pensava.
Pois foi ele quem lhe procurou e trouxe essa caralhada de problemas.
Se tivesse aceitado que o papai rei se tornou um escroto, não teria nadado até si, mostrado seu segredo de transformação assim lhe atraindo para um acordo, por consequência não teriam se estranhado e tido um momento sexual pós-tortura. Jimin nunca o acharia bonitinho dormindo abraçado em seu tentáculo - o que negaria eternamente ter pensado. Muito menos se tornado ele brevemente e encontrado aquela bruxa. Logo, nunca teria dor de cabeça nem questionamentos sobre sua existência.
Ah, aquele tritãozinho inútil…
Mas estava feito. Essas coisas aconteceram. Agora era impossível não pensar, cogitar hipóteses… E se ele fosse uma farsa? E se sua vida era uma completa manipulação? E se ele fosse uma invenção, um personagem, para contribuir com as fantasias dessa bruxa?
Não, pensou firmemente.
Park Jimin era real. Um cecaelia. Rei das profundezas, monstro do mar, detentor das meias verdades. Egocêntrico, egoísta, que só se importa consigo mesmo e suas riquezas e se diverte com acordos dos mais diversos aos quais beneficia a si próprio. Ele não se importa com nada além de viver intensamente e comprir seus tratos, não pela pessoa, mas para prevenir consequências já que se não finalizá-los compromete seus poderes e sua imortalidade. Ele nunca foi bonzinho.
Argh, pensar, pensar, pensar. Isso é irritante para cacete!
Talvez seja isso. A bruxa só quer lhe desestabilizar usando sua mente contra si.
— Aquela maldita filha da puta quer me enganar e eu não aceito essa desgraça! — sua voz estava grossa, cheia de ódio.
De todo modo, mesmo se fosse uma manipulação barata, após o "despertar" que aquelas palavras trouxeram, por mais que tentasse, não conseguia voltar. Voltar a não ter preocupações. Voltar a não sentir ansiedade. Voltar ser o mesmo.
— Inferno! — em um impulso, vindo da vontade de se aliviar, jogou a primeira coisa que viu pela frente, a espatifando no chão.
— Mas que merda…?
Jimin estava tão fora de si que não havia notado que encontrava-se já vestido e dentro do Castelo Encantado. Mais especificamente no quarto de Jungkook com este deitado na cama a fim de dormir. Estava quase, se não fosse o estrondo dos cacos da garrafa de whisky - uma das muitas bebidas que o cecaelia trouxe para seu quarto no primeiro dia.
Por mais que seu susto tenha soado alto, Park não parecia lhe ouvir tamanho foco no próprio estresse. Quando ele fez menção de querer empurrar a mesa de canto para jogar no chão e quebrar mais objetos que estavam ali em cima, Jungkook pulou nas costas dele ao qual moveu para os lados tentando derrubá-lo mas ele o segurou forte com os braços e pernas.
— Me larga, porra!
— Para. De. Ser. Maluco. — a cada palavra dava um soco no topo da cabeça dele.
— Jeon… — grunhiu, irritado. Isso causou um arrepio no príncipe, pois parecia que era um alerta antes de Jimin matá-lo de vez.
— Só te soltarei quando você respirar fundo e parar de ser maluco, seu maluco!
Puto da vida, ele deu passos para trás até chegar na cama e se jogou sem dó, amassando Jungkook com seu corpo.
— Au! — gemeu pelo cotovelo dele ter se chocado contra sua costela. — Você realmente está maluco! — usou o máximo de suas forças para empurrá-lo. Mas foi escolha dele sair de cima. — Isso doeu, sabia?
— Disse o fracote.
— Fracote seu rabo, demônio idiota.
Jimin lhe lançou um olhar afiado, seus olhos agora eram normais e escuros mas, de toda forma, causavam arrepios como se fossem aqueles brancos vazios.
— É melhor você calar a sua boca antes que eu te arrebente.
— É melhor você vir calar e, se for um malvadinho bom, posso pensar em te deixar acabar comigo de outro jeito.
Essa era uma tentativa de fazê-lo se soltar do foco desse ódio todo. Todavia, lá no fundo tinha suas próprias intenções. Porque ficar ali sozinho enquanto Namjoon e Yoongi apresentavam o castelo a Hoseok e Taehyung o deu tempo para pensar em tudo o que acontecera. Descobriu que era difícil ignorar o que sentiu estando com Park pois nunca havia tido tanta intensidade e, mesmo que pudesse ser loucura, queria mais. Só não sabia como dizer.
Como seduzir um ser do mar peculiar para trepar com ele?
O cecaelia parou, o analisando.
— Está tentando me comprar com atos sexuais para que eu pare de descontar meu estresse em suas coisas materiais?
— Ah… É… Mais ou menos isso. Pensando bem, é verdade que sexo desestressa. Super desestressa.
Jimin rolou os olhos ao notar em sua face e jeitinho idiota o que ele não sabia disfarçar: aquele garoto não estava pensando em seu bem estar, estava era, por alguma louca razão, doido para transar consigo de novo.
— Larga de ser cínico.
— A coisa está tão feia assim que você está negando os momentos mais quentes e divertidos que se pode ter na vida? Pensei que sexo era algo que gostasse. — o viu bufar e jogar o cabelo preto para trás contrariado, ato que na verdade pareceu muito sexy. — Me diga, que bicho te mordeu?
— A culpa é daquela bruxa do cacete. Desgraçada. Quem ela pensa que é para entrar na minha mente?
Jungkook ficou quieto por uns segundos porque precisava raciocinar. Nunca o viu desse jeito. O que sabia era que Park mandou todos irem para o castelo, ficando sob proteção dos enguias enquanto foi "resolver o problema lá embaixo". Agora aparece de repente tão possesso? E mais: não parecia ser do feitio dele se deixar abalar por alguém. O que estava acontecendo? Precisava de mais informações para entender.
— Ela quem…? — perguntou, sentando-se no colchão.
— Sua nova querida madrasta. — sorriu sem humor, um tanto macabro, como se planejasse a morte dela lenta e dolorosamente naquele instante. E realmente estava.
— Eu não a conheci. Certamente não gosto dela já que parece manipular meu pai e tentou me matar. Mas não acho que seja isso que está te afetando. O que ela fez contra você? — porque ele não ia ficar assim por outra razão além de algo pessoal, sabia que o cecaelia não fazia o tipo empático, era mais para o tipo egoísta.
— Na real? Não te interessa. Você é inútil, nada poderá fazer. — pegou outra garrafa, agora enchendo um copo.
Não queria falar. Falar iria expor. Expor seus pensamentos, questionamentos e frustrações. Nisso, o fazendo ser vulnerável como qualquer humano. Park Jimin era puro poder, nunca foi vulnerável e não estava a fim de ser como aquela espécie. Ela era divertida em certos pontos, mas frágil, fácil de ferir. E quem fere ali é ele.
— Eu estava tentando te ajudar de alguma forma, mas você é impossível. Se fode aí. Sozinho e não gostosamente. Só não quebre mais nada, grite ou seja barulhento de alguma forma para não atrair gente para cá e eu ter que me virar nas explicações.
Jungkook deitou-se e deu as costas, se cobrindo, já que sabia que para Jimin falar teria que insistir e usar suas melhores técnicas mas estava cansado pelo acúmulo de tantas emoções nos últimos dias. Queria dormir finalmente em sua cama macia e gostosa e descansar a mente.
Isso, por alguma razão que Jimin desconhecia, o frustrou.
Por que ele não vai insistir? Nada de choro e por favor?, perguntou-se.
E por que no fundo queria que ele implorasse? Talvez porque assim sentisse que estava no controle e o príncipe quem era fraco ali.
Sentindo-se confuso e deslocado, deixou o copo vazio na mesa, indo sentar-se no colchão ao lado dele. No fundo queria falar - como raramente acontecia na presença de seus enguias -, expor todas emoções esquisitas que passaram a lhe dominar. Mas ao menos tempo não porque ele era foda demais para demonstrar qualquer coisa que não fosse poder e força. Ainda mais a um serzinho tão inútil, frágil e insignificante. Também havia outro detalhe: Jimin não confiava em ninguém.
Realmente não confiava ou isso estava incluso no papel que aquela filha da puta estava o fazendo interpretar?
Nada tirava o fato de que se sentia estranho e estava destestando tudo aquilo…
Culpou a parte da alma de Jungkook que estava consigo. Ela certamente era o que estava sensível, provavelmente desejava exercer essas suas funções frágeis. Não devia ficar com ela. Tinha que resolver o que combinou com Jungkook e voltar para as águas, a ser um ser sem alma.
No entanto, por enquanto era obrigado a continuar com ela justamente pelo acordo não ter sido finalizado. E precisava proteger esse príncipe tolo para que não morresse, o trato desfizesse e lhe cobrasse parte do poder que não queria abrir mão.
Sentia vontade de continuar a quebrar coisas por causa dos sentimentos que não estava sabia lidar. Mas Jungkook estava certo em supor que chamaria atenção. Tinha que evitar isso. Mas então... o que fazer? Falar? Isso por acaso adiantaria alguma coisa? Duvidava.
Só que no momento lhe faltavam outras opções.
— Ela disse que já destruiu a minha vida uma vez. Que roubou minhas lembranças, o que tinha de bom, e me condenou à escuridão. — disse em um sussurro.
As palavras chamaram atenção do príncipe que se virou para o cecaelia agora com aparência humana própria, extremamente bela, atraente e no momento perdida, sem saber o que fazer e claramente incomodada com isso.
— Eu sou quem sou porque nasci assim, como sempre acreditei e nunca questionei, ou eu sou o que ela queria que eu fosse? Se sou a porra do inferno de algo que ela criou, deveria agir diferente para sair desse papel estipulado? Mas quem eu seria se estou acostumado a ser o monstro que sou? Não sei ser outra coisa. Não quero ser outra coisa. E não quero me sentir controlado por alguém. — fechou os olhos, apoiando a cabeça na cabeceira estofada enorme digna do título de príncipe.
Jungkook estava sem fala. Desde que o conheceu passou a esperar tudo dele, menos vê-lo tão… humano. Desabafando, admitindo o que lhe incomodava e aparentemente querendo alguma sugestão.
— Você sempre foi de acordo com que quis ser, age como quer livremente, nunca precisou pensar tanto, certo? Porque você só é você e ponto.
— Mas se eu estiver interpretando um papel? Eu não posso ser a porra de uma marionete!
— Eu… Não sei. Bem, eu sempre interpretei o papel que meu pai desejou. Um bom filho e um príncipe perfeito. Em partes, não é ruim, porque eu passei a me esforçar para respeitoso, altruísta, bondoso, empático, dedicado e responsável. Só que ao mesmo tempo sentia que podia viver mais, eu quis viver mais, sem tantas cobranças, descobrir mais de mim, do mar, tentei argumentar mas ele não entendeu...
— Está sob magia daquela filha da puta. — a qual ansiava torturar dolorosamente por tê-lo feito ficar assim tão surtado.
— Sim, agora eu sei. O ponto é que eu sempre fui covarde, mantivendo somente esse lado que o agradaria e agradaria aos demais, não me incomodava tanto porque eu até gosto de ser assim, mas haviam coisas que eu queria. Eu queria me divertir como qualquer outro humano de dezoito anos sem pensar demais, sair para dançar, beber, beijar na boca, quem sabe terminar a noite na cama de algum gostoso. Pular do penhasco, sei lá, me aventurar por aí como você. Queria tocar o mar... E eu evitei tudo. Eu tentei me manter longe, principalmente dele, só que houve um momento que não deu mais e deu no que deu. Podia ignorar a vida toda, viver no conformismo, mas descobri que mesmo com medo, eu sei ser corajoso. Isso também faz parte de mim.
— O que quer dizer? — abriu os olhos, o encarando fixamente. Um olhar que mexia com algo dentro de Jungkook. Algo que ele não conseguia explicar.
Suspirou.
— Que você é o cecaelia e pode cumprir com esse papel, ser malvado e afins, mas não pode se resumir a somente isso. Também pode ser mais. Use sua liberdade para descobrir o que mais faz parte de quem você é.
Jimin parecia confuso.
— Eu nunca cogitei ser mais.
— Que existência imortal desapoveitada. — disse bem humorado. — Fala que sou tolo mas quem é o tolo agora?
— Ainda você.
Jungkook riu.
Ao vê-lo quieto nos minutos seguintes, perguntou:
— Está se sentindo melhor agora?
— Ainda estou pensando profundamente. Estressado. Talvez eu realmente seja mais do que sei e já saiba disso, mas não consigo me lembrar. Por mais que tente, minha mente está vazia e dói demais.
— Não precisa forçar. Você pode se reinventar. Como quiser. Seja quem você desejar ser!
— Eu quero ter conhecimento do meu passado, Jungkook. — disse sério.
Seu nome saindo da boca dele soava tão diferente. Por um instante o príncipe sentiu-se arrepiado. Notou que isso acontecia frequentemente quando estava com Jimin. E nem sempre eram arrepios de medo. Balançou a cabeça, para não se distrair já que a conversa estava sendo importante.
— Eu não acredito que direi isso, mas nesse momento queria que algum Deus de qualquer uma religião que os humanos criaram fosse real e detentor de todas as respostas. Assim eu poderia barganhar e descobrir tudo.
Dizer isso o fez lembrar de algo.
— Eu foquei em todo esse caos com você e comigo e esqueci de um detalhe. Você irá ganhar as suas respostas. Ao menos um de nós poderá descobrir algo útil no momento.
— ... Como assim?
— Há um ser escondido por aqui, que foi deixado por sua mãe, para lhe guiar. Ele parece saber de muita coisa, porém só falará para você.
— Então o que estamos esperando? Vamos lá! — foi se levantar e Jimin segurou seu pulso.
— Amanhã.
Pois via na cara dele o quanto o humano estava exausto. Foram informações demais de uma vez para ele nesses últimos tempos. Precisava que ele descansasse para absorver as respostas da melhor forma possível. Era o que dizia a si mesmo, não admitindo o sentimento novo que apareceu: preocupação com o príncipe.
— Mas que merda. — balançou o braço com brutalidade para obrigá-lo a tirar a mão.
— Vê se pratica a paciência até descobrirmos suas verdades. E eu espero que possamos saber de tudo antes que aquela desgraçada nos enlouqueça. Não acho que isso vai ser legal, né? Você quer me ver enlouquecido de verdade? — ofereceu um sorriso extremamente maligno.
Jungkook suspirou.
— Será que ele sabe sobre tudo, tudo, e poderia ser esse deus que barganha com você? Também quero que tenha suas respostas.
— Por que parece estar fazendo tanta questão?
— Quero te ajudar.
— Por que?
— Porque sim. — ele também não sabia dizer.
Quem sabe porque estivesse presenciando um lado diferente do cecaelia, mais humanizado, ao qual queria continuar vendo. Era bom saber que não só de mau vivia esse ser. Assim era menos pavoroso estar sentindo-se atraído por ele.
— O que quer em troca?
— Eu não sou você, Jimin.
O cecaelia franziu o cenho para o sentimento estranho que surgiu em si ao ouvir seu nome na voz do príncipe.
— Nunca fui bom com você. Não entendo esse seu ato. Humanos são tão tolos.
— Já ouviu falar em empatia? É um ato espontâneo. Eu não quero nada. Quer dizer, a não ser descobrir o que houve e que você pare de surtar porque eu imagino o quanto isso seja ruim.
Ele lhe olhou desconfiado e Jungkook teve que dar uma desculpa:
— Certo. Porque se continuar surtando assim, você vai perder o foco do meu acordo. — parecia verdadeiro, mas não o motivo real.
— Esse medo é infundado. Eu preciso ir até o fim justamente para me livrar aquela desgraçada.
— Inimigo em comum. Certo. Faz mais sentido ainda nós nos ajudarmos. Hora de deixar nossas diferenças de lado e sermos parceiros, o que me diz?
Jimin ainda achava estranho porque nunca fez nada por ninguém sem cobrar, sem se beneficiar, ninguém nunca fez algo para si além de seus enguias.
— Estou fazendo por obrigação e você porque quer. Vou ficar te devendo uma.
— Você não entende mesmo a boa vontade e o lance da empatia, né? Se isso fará você dormir bem a noite, ok. — deu de ombros.
Para Jeon também era estranho. Estranho o fato de seus receios quanto ao cecaelia estarem menores a cada vez que se encontravam e se falavam. Era como se não ligasse para tudo o que ele fosse e só enxergasse desejos independentemente de quem ele é ou das coisas que já fez. Simplesmente o aceitava. Será que aqueles tentáculos além de lhe foder o corpo, foderam sua mente?
— Estou cansado. Vamos dormir. Amanhã conversamos sobre o que podemos fazer a respeito do meu lado da coisa e também da sua situação.
Para sua surpresa, Park assentiu. Ele se pôs de pé, deixando o príncipe confuso por um segundo até vê-lo começar a se despir.
Engoliu em seco ao ver cada centímetro do corpo humano dele sendo exposto, gaguejando:
— O q-que está fazendo?
— Eu não uso roupas no mar. Aqui elas apertam, são um saco, mas sociedade não me permite ficar sem elas. Ao menos dormir eu posso sem.
Recordou-se que em meio ao seu surto usou poder em um servo no caminho para pegar as peças que tirava agora então se esgueirou pelos corredores até o quarto do príncipe. Não tinha como ser pego por ser esperto e possuir magia para ser usada, mas caso alguém o encontrasse nos corredores, não estaria chocando a todos por estar nu. Agora pensava - mesmo sem notar - em fazer as coisas da maneira correta. Porque comprou com a bruxa uma briga pessoal e não podia correr riscos de pôr nada a perder.
— Você dormiu pelado estando no meu corpo… — a ficha do príncipe pareceu ir caindo aos poucos assim como as peças de roupas. — Você viu meu pênis?!
— Ah, eu vi. — sorriu malicioso. — E fiz mais que ver.
— Como é que é?! — seus olhos estavam saltados, maiores do que o comum, Jimin achou fofo.
Que fofo o que, realmente está maluco? Essa palavra nem faz parte do seu dicionário!, pensou.
— Eu me diverti muito na primeira noite aqui. Até comi o seu amigo.
— Você… Comeu… Você… Sabia que tinham transado mas não acredito que foi ativo! — disse indignado.
— E daí?
— Você era eu!
Ops...
— Isso é uma confissão? Se bem que eu já sabia. Pelo estado que ficou nos meus braços sua vibe claramente não é de foder. — o viu corar, achou divertidíssimo.
— Não é nada disso! Nam não notou nada? Porque, bem, ele sabe das minhas preferências.
— Ele estava feliz demais para se importar com essas besteiras.
— Ah, que seja!
Voltou a deitar-se. Mas fechar os olhos foi um grande problema pois passou a pensar em Park transando com seu amigo… Na sua cama... Sua curiosidade pedia para saber de mais.
— Mas acho que não posso te julgar. O Nam é atraente… — retomou o assunto.
— Só notei o tamanho dele. Adoro subjulgar caras maiores que eu. No mar não é possível já que sou maior que sereias e tritões - podendo ficar ainda mais caso quiser - então se tornou um passatempo divertido de quando estou na terra.
— A-ah… — respondeu, mas em sua mente estava o pensamento intruso de que a versão humana dele era de estatura menor que a sua então acabava se encaixando nesse perfil. Será que Jimin não estava a fim de subjugá-lo também não? — Como… Como foi?
— Subjulgá-lo?
Jungkook assentiu.
— Na verdade ele é bem obediente. Mandei ficar de quatro e já foi obedecendo. Acho que ele nunca recebeu uma chupada tão gostosa na vida. Quanto mais eu metia minha língua, mais ele gemia. — sorriu cheio de malícia e ego porque sabia que mandava bem.
Jungkook engoliu em seco, imaginando. Constatou que a imaginação fértil poderia ser uma benção e uma maldição ao mesmo tempo.
— As costas dele são largas, musculosas, as coxas roliças e a bunda durinha. Foi excitante estapear e ver ficar com a marca da minha mão. Ou, devo dizer, da sua?
O príncipe se remexeu. Não podia endurecer com tão pouco, não é? Mas sua mente imaginando aquele sexo detalhadamente não estava ajudando. Buscou distração das cenas, questionando algo mais pessoal.
— Qual a diferença? Digo… sexo sendo humano e…?
— No geral humanos são mais receptivos e intensos. Creio que por eu focar em aproveitar cada segundo como se fosse o último, já que nunca sei quando poderei vir pra terra de novo, acabo conseguindo as melhores fodas. Nas águas não há muitos que me desejam espontaneamente, costumam me querer quando estão sendo torturados após meu veneno.
Jungkook sentiu algo estranho revirar dentro de si. O sentimento de não ter sido exclusividade. Foi só mais um nessa brincadeira de tortura sexual agonizante. Não devia ter gostado tanto.
— Você foi o único que gostou de verdade, que é louco ao ponto de continuar me querendo.
— Não é bem assim! — quis se defender por ficar envergonhado com esse fato.
Park sorriu debochado, deitando-se ao lado de Jeon.
— Não. Só colocou uma cláusula bem diferente no nosso contrato, mal me viu agora a pouco e veio insinuar sexo. Pensa que sou tolo como você? Eu percebo tudo. Inclusive deduzo que está todo excitadozinho agora.
Constrangido e com as bochechas queimando, mais uma vez Jungkook tentou desviar o foco.
— Tá, mas você usou o meu pênis, usar o seu próprio, sendo humano, tem diferença?
— As sensações são as mesmas.
— E em comparação com seu monster dick?
— Oh, que apelidinho carinhoso. — soou sarcástico. — Eu nunca tive a mesma intensidade. Humanos são mais… afetivos, cheios de toques e detalhes, se entregam de verdade ao ato. Com exceção de você.
— Como assim com exceção de mim?
Park aproximou seus rostos, olhando no fundo dos olhos dele.
— Você se superou no assunto se entregar. — sorriu malicioso, procurando aquela reação divertida.
E teve.
Jungkook ficou ainda mais vermelho e virou o rosto para esconder.
Não queria admitir que o desejava mesmo que isso já estivesse claro. Também pensava no quanto precisava esquecer da tortura que ele lhe causou, em como o protegeu daquele peixe demônio - ainda que por obrigação - e o quanto deu prazer em seguida, no fim o permitindo dormir grudadinho em seu tentáculo.
Tinha que buscar se convencer que não gostou, não queria tanto assim repetir. Porque, por Deus, onde estava com a cabeça? Aquele era uma espécie bizarra e terrível de demônio, o monstro do mar, que inclusive lhe enganou. Não devia ter desejos por ele. Nem devia ter gostado do que ele fez… mas o problema é que gostou e estava sendo difícil arrancar a memória que mexia com seu corpo, o fazendo reagir quando ele estava por perto.
Como seria capaz de simplesmente apagar da mente e esquecer?
Teve uma ideia: talvez provando que ele nem é tão bom assim.
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