Chapter Two
Com a bolsa a tiracolo, ando pelas ruas movimentadas do meu bairro a caminho do French Market. Além da minha vontade urgente de comer um beignet, estou parcialmente atrasada. Antes de sair de casa liguei para a Lindsay abrir a confeitaria em meu lugar. Geralmente, abrir a Sweet Dream é a minha responsabilidade. Para recompensá-la, irei fechar a loja hoje. Porém, se não for o bastante, posso melhorar o seu humor contando a ela que ontem à noite eu fiz a minha inscrição no concurso. Vou receber a confirmação da minha inscrição por e-mail. No site do concurso informa que, tecnicamente, ninguém que se inscreveu está participando, são quinze vagas para fazer as inscrições. Mas, haverá uma pré-seleção para determinar quem participará do concurso, serão apenas dez candidatos. Quem se sair melhor nessa pré-seleção estará oficialmente participando, fiquei sabendo desse detalhe quando me inscrevi. Se eu estivesse atenta às frases em letras pequenas que estão no rodapé do folheto, eu já estaria ciente dessa regra.
Passo por uma turma de turistas que, com brilho nos olhos, observam as casas e apreciam um grupo de pessoas tocando jazz. Alguns desses turistas estão com câmeras e tiram algumas fotos. Não consigo evitar sorrir para eles. A alegria e a admiração que eles sentem em estar aqui, contagiam os moradores também. Como eu disse, Nola tem o poder de seduzir as pessoas.
Finalmente, depois de cerca de quinze minutos, chego no meu destino. O meu celular vibra na bolsa e eu o procuro em meio aos itens que estão guardados. Tiro-o da bolsa, pronta para atender a Lindsay que, provavelmente, é quem está me ligando. Olho para a tela e não vejo nenhuma ligação perdida. O que há de novo é uma notificação na caixa de entrada do meu e-mail. Continuo andando enquanto faço um esforço para ler a mensagem, não posso ter o luxo de parar, estou muito atrasada. Desvio de algumas pessoas e baixo a cabeça para retomar a leitura. É um e-mail da organização do concurso.
Bom dia.
Informamos por meio desta mensagem que a senhorita foi aprovada em sua solicitação de inscrição. Iremos contar com a sua experiência e habilidade. Contanto, desejamos boa sorte. Segunda-feira da próxima semana, dia dezesseis, acontecerá a pré-seleção do concurso. É obrigatória a presença de todos os candidatos. A seguir, estão o local e o horário em que a senhorita deverá comparecer. A equipe do concurso agradece.
Apesar da minha suposta habilidade e do meu suposto talento, estão me desejando boa sorte. Não sei se é por educação ou porque o jurado misterioso deve ser muito crítico. Provavelmente, é a segunda opção. Acelero os meus passos e guardo o celular na bolsa novamente. Um homem alto anda, consideravelmente, ao meu lado com as mãos nos bolsos da calça. Uma vez, da pior maneira possível, aprendi que não é uma ideia inteligente andar com as mãos guardadas nos bolsos, porque se cair, não terá como amenizar a queda, apoiando as mãos em algum lugar. Avisto a barraca de comidas típicas, onde tem o melhor beignet da cidade, e sigo em direção a ela. Curiosamente, esse homem desconhecido permanece seguindo os meus passos ao meu lado, talvez ele esteja indo para outra barraca. Outras pessoas chegam na minha frente e formam uma fila.
Ele chega na fila primeiro, por apenas um passo de diferença, e eu me acomodo ao seu lado. Enquanto Jenna atende os primeiros da fila, eu me pego observando o desconhecido. Sua barba por fazer, olhos castanhos penetrantes e, uma pequena e sutil cicatriz perto da sobrancelha, me atrai, fazendo com que os meus olhos passeiam pelo o seu rosto. Ele não percebe a minha indiscrição, continua com as mãos enterradas nos bolsos olhando para frente. Tenho uma leve impressão de já ter presenciado esse olhar antes, mas como eu vejo várias pessoas todos os dias, essa sensação não é importante.
Mais uma vez pego o celular para verificar que horas são. Uma péssima ideia. Agora eu sei que estou trinta minutos atrasada. Não posso ao menos fingir que não sei o tamanho do meu atraso.
— Droga! — a insatisfação sai dos meus pensamentos através de um xingamento. Não foi baixo como eu pensei, o homem me olha dos pés à cabeça. Ofereço um sorriso sem graça e ele devolve o seu olhar para a sua frente de novo.
Que constrangimento.
Finalmente chega a minha vez de ser atendida. Jenna abre um sorriso tímido ao me ver e pergunta o que eu quero.
— Dois beignets, por favor, a senhora pode embrulhar? Vou comer no trabalho.
— Tudo bem, Emy. Ainda não sei o porquê de você não fazer esse doce na sua confeitaria. — ela ri — E o senhor? — ela dedica a sua atenção a ele — Pode fazer o seu pedido.
— Quero beignet também. — sua voz rouca convida a minha curiosidade para o seu rosto novamente. — Somente um, por favor.
Tia Jenna vai preparar os nossos pedidos e a alegria que antes estava em sua face desaparece. Percebo sua preocupação e ela olha para nós dois e diz:
— Sinto muito, só tem dois. O que eu posso oferecer para substituir, senhor, são bolos e biscoitos. Okay? O movimento tem sido grande e esses doces acabaram rapidamente. Só irei tê-los à tarde. — reparo que ele não gostou de eu ter conseguido o que ele também queria.
— Isso não é problema meu. Eu cheguei primeiro e é justo que a senhora os venda para mim.
Ótimo. Além de lindo, é um babaca.
— Realmente lamento. Mas você pode procurar em outro lugar. Beignets são populares por aqui. — Jenna não se abala com a grosseria dele — A senhorita Bennett já está acostumada a vir aqui nesse horário à procura do mesmo pedido. E, além do mais, ela é a minha afilhada.
Touché.
Ele me olha com desdém e, antes que saia outra grosseria da sua boca perfeita, eu coloco as minhas cartas na mesa.
— Quem você pensa que é para tratar a tia Jenna dessa maneira? O senhor está sendo babaca. — pego os meus doces das mãos de fadas da tia Jenna que estão guardados em um saco de papel pardo.
— E a senhorita está sendo imprudente. Não é necessário chamar a atenção do mercado inteiro.
— Só porque aumentei um pouco o meu tom de voz? Ora, não seja hipócrita. O senhor quem começou essa confusão. Aliás, eu poderia até me inclinar a te oferecer um doce, mas depois que conheci a sua falta de educação, não serei gentil. — falo tudo o que eu penso e a pobre Jenna faz sinal para que eu fique quieta.
Entrego o dinheiro a ela e me despeço, deixando o idiota no mesmo lugar. Depois de alguns passos, não consigo evitar e olho para trás. Ele está com um sorriso contido enquanto me observa e, não sei o porquê, resolveu tirar suas mãos dos bolsos e cruza os braços.
Quando eu cheguei na confeitaria, pedi desculpas a Lindsay pelo atraso e contei a ela o motivo principal de eu ter chegado uma hora depois. Ela não se importou, ficou feliz que eu fiz a minha inscrição e o imprevisto de mais cedo, rendeu boas risadas por parte dela.
— Isso deve ter sido fantástico. — ela disse entre risadas depois que eu terminei de contar o ocorrido.
Agora estamos aproveitando o movimento fraco da loja para fazer uma lista do que precisamos comprar, e pensando se realmente vamos ter que contratar alguém temporariamente.
— Já colocou chocolate na lista? — ela pergunta.
— Sim. — respondo — É o primeiro item que eu escrevi na lista.
— Você sabe que a Sarah Smith pode surtar se não tiver cupcake de chocolate com morango.
— Deixa comigo. Não podemos correr esse risco.
O momento descontraído acaba quando a porta abre revelando mais uma cliente. Arrumamos a nossa postura e eu coloco o caderno e a caneta em um lugar menos visível. Uma garota caminha pelo piso claro fazendo barulho com suas botas de salto.
— Olá! Bom dia! Vocês vendem beignet?
Acho que deveria nomear o dia de hoje como o Dia dos Beignet! Pode se tornar um feriado.
— Não temos. Mas temos outras opções de doces. — minha colega de trabalho responde.
— Ah, tudo bem. Vou querer uma fatia de torta de limão. É que o meu irmão está correndo a cidade à procura disso. Duas horas atrás ele me ligou contando que uma maluca o ofendeu no French Market.
— É mesmo? E como foi isso? — minha amiga pergunta e eu continuo quieta.
— Eu não sei muito bem. Parece que ele chegou primeiro e a senhora vendeu os doces para a tal maluca.
— Ai meu Deus! O seu irmão é o imbecil de hoje de manhã. — massageio as minhas têmporas tentando me acalmar.
— Espera, então você é a maluca que gritou com ele? É, essa cidade parece ser tão pequena. — a moça ri — Você não parece ser maluca e nem histérica.
— Isso está sendo interessante. — Lindsay sorri de uma maneira estranha e entrega a torta de limão para a nossa cliente.
Ela recusa a se sentar à mesa para comer e come em pé com o prato em cima do balcão.
— Prazer, Ashley Morgan. E o meu irmão imbecil se chama John. Mudamos a pouco tempo para cá.
— Sou Emily Bennett e essa é a minha sócia, Lindsay Mackenzie.
— Não acredito que estou de frente para a pessoa que colocou o meu irmão no lugar dele. Emily, já sou a sua fã número um. Eu não sei qual de vocês duas fez essa torta, mas essa pessoa tem a minha admiração também. Está deliciosa. Foi o John quem pediu para que eu viesse aqui. Acho que ele ganhou um ponto comigo.
— O seu irmão babaca, com todo o respeito, já esteve aqui? É, isso está ficando cada vez mais interessante. — Lindsay diz.
— Não, ontem à tarde ele passou nessa rua, mas não entrou. Pelo menos foi o que ele me contou. — ela come o último pedaço da torta e deposita o dinheiro em cima do balcão.
— O que você está achando daqui? Já conseguiu se adaptar? — pergunto.
— Eu estou adorando. Aqui é tão divertido e alegre. É uma cidade acolhedora. O John veio a trabalho, eu não sei exatamente quanto tempo nós vamos permanecer aqui. Então, eu espero aproveitar o máximo que der.
— Se precisar de alguma coisa, pode contar conosco. — disponibilizo a minha ajuda.
— Vou lembrar disso, obrigada. Não pensei que seria tão rápido para fazer amizade. Muito obrigada, meninas.
— Disponha. — Lindsay diz.
Tive que deixar a conversa para entregar um bolo que foi encomendado. Depois de eu ter cumprido essa simples tarefa, me juntei a elas para participar do assunto. Ashley é uma garota adorável, não parece em nada com o seu irmão, se ele tem esse humor azedo todas as manhãs, eu não sei como ela faz para o suportar. Depois de uma boa conversa acompanhada por um café e alguns biscoitos, ela teve que voltar para a sua casa. Alegou que o irmão mandou algumas mensagens questionando sobre o seu paradeiro. Passamos o telefone da confeiteira e os nossos números pessoais a pedido dela. Após isso, com a promessa de voltar outro dia, ela foi embora com suas botas barulhentas.
— Creio que já achamos a nossa funcionária temporária. — Lindsay sugere — Fantástico!
— Embora acho ela uma pessoa legal, não sei se ela vai querer trabalhar para nós, Ashley está praticamente de férias.
— Não custa nada tentar. E, se ela recusar a oferta, podemos criar um anúncio para recrutar alguém o mais rápido possível.
— Combinado, sócia.
— Podemos conversar com ela quando ela aparecer novamente. Assim que eu atender a Senhora Smith, que já deve estar chegando, vou sair para fazer as compras. Você vai fechar a loja hoje, certo?
— Vou sim. É o mínimo que eu posso fazer depois de ter chegado uma hora atrasada.
E como foi o combinado, Lindsay saiu duas horas mais cedo. Ela abandonou o seu avental na cozinha, pegou a lista de compras e saiu pelas ruas frias da cidade. E eu, antes de ir para a casa, me permiti pela primeira vez nesta semana debulhar-me em lágrimas silenciosas ao ver um porta-retrato com uma foto dos meus pais. Organizei a bagunça, apaguei as luzes, tranquei a porta e prometi a mim mesma fazer o possível para me sair bem nesse concurso. Preciso deixar minha marca em algum lugar, mesmo que seja em um simples concurso de confeitaria.
❣
Jingle bell, jingle bell, jingle bell rock!!!
Dezembro chegou tão rápido. E como prometido, aqui está mais um capítulo. Eu espero que os seus corações fiquem quentinhos com esse livro. Eu tenho um carinho muito grande por essa história. Podem comentar o que estão achando, viu? Eu amo a interação de vocês, é muito especial.
O que acharam do capítulo? O que será que vai acontecer? Estou muito animada! Vou tentar postar três vezes por semana, ok? Já ouviram a playlist? Precisam ouvir para acompanhar a leitura, por favor.
Faltam vinte e três dias para o Natal!
Beijos e bengalas de açúcar!
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