Chapter One


Nova Orleans é uma cidade encantadora. Os motivos podem parecer simples à primeira vista, mas são muito especiais e essenciais para a história, a bagagem e a cultura que esse lugar carrega. A cidade é constituída por boa música, boa gastronomia e arquitetura incrível. Aqui é o berço do jazz, que revelou Louis Armstrong para o mundo, que é um grande músico. Para tomar o típico café com leite acompanhado por um beignet, basta fazer uma parada ao French Market. Também é incrível passear pelo French Quarter e contemplar as obras de artes que os artistas exibem nas cercas de ferro e, é claro, o famigerado Rio Mississipi com toda a sua beleza. Eu amo a minha cidade, não troco esse lugar por nada. Nova Orleans tem o poder de seduzir seus moradores e os visitantes. 
 
Recebemos turistas durante todas as épocas do ano, mas a quantidade aumenta consideravelmente no mês de dezembro. Provavelmente, as pessoas de fora da cidade são atraídas pelo Great River Road, que é o caminho entre a minha cidade e Baton Rouge, nessa região as luzes de Natal não são feitas com as tradicionais e comuns lâmpadas coloridas, a iluminação é feita com fogueiras de Natal, em formato de pirâmides flamejantes com aproximadamente dez metros. Então, com todas essas atrações, a cidade fica extremamente movimentada. Há um ano eu achava incrível a decoração natalina, os preparativos, as músicas e esse sentimento que aquece nossos corações nesta data. Mas, agora, tudo o que sinto é um vazio no meu peito quando recordo de como os meus pais foram tirados de mim. Eu sei que a culpa não é dessa data, porém, tudo o que envolve o Natal contribui para eu lembrar dos meus queridos pais. Mamãe e papai sofreram um acidente de carro quando foram me buscar na casa da minha madrinha. Depois do almoço de Natal, eu decidi ir à casa dela para entregar o presente. 
 
Eu não presenciei o acidente, mas só o fato dos dois terem sido arrancados sem misericórdia de suas filhas, já é trágico o suficiente. Então, não tem como eu fingir que o dia vinte e cinco de dezembro é um dia de comemoração. Todas às vezes em que ouço as canções natalinas nas lojas e vejo a cidade decorada, eu não me sinto bem. Sei que é egoísmo da minha parte, porém, eu só queria encontrar uma forma de cancelar o Natal desse ano. 
 
Decido parar de pensar sobre isso para evitar outra sessão de choro compulsivo. Coloco os biscoitos no forno e marco o tempo exato que eles devem permanecer assando. Saio da cozinha e, ao mesmo tempo, confiro se o meu avental está sujo. Vou à porta da frente e mudo a placa de "sorry, we're closed" para "come in, we're open". Vou para atrás da vitrine e posiciono os doces em outra ordem, para ficar mais atrativo aos olhos dos clientes. 
 
O sino acima da porta anuncia a chegada da minha melhor amiga, Lindsay. Ela caminha animadamente até o balcão e abre o maior sorriso quando me vê adicionando fatias de brownie na vitrine. 
 
— Eu tenho uma ótima novidade. — Lindsay diz e tira um folheto da pasta vermelha que está segurando. 
 
— O que foi? — pergunto. 
 
— Isso. — ela estende o folheto na minha frente e eu pego de suas mãos — Não é fantástico?
 
Esse folheto é um anúncio de um concurso de confeitaria especial de Natal. O vencedor do concurso receberá como prêmio dez mil dólares mais um pacote de aulas em uma escola gastronômica bastante renomada. 
 
— Você quer participar? — questiono. 
 
— Eu? Claro que não, Emy. Você quem vai participar. Vai ser fantástico. 
 
— "Fantástico". Acho que alguém aprendeu uma palavra nova. — sorrio.
 
Lindsay Phobe Mackenzie é uma bailarina confeiteira que tem a mania de incluir no seu vocabulário a cada semana uma palavra diferente. Ela faz questão de incluir a palavra nova em todas as frases que são possíveis. Ainda não comprovei a minha teoria, mas creio que ela estuda um dicionário nas horas vagas. A palavra da semana passada era "quimera", então, ela fez questão de dizer frases em que pudesse usar esse substantivo. 
 
— Engraçadinha. Não vamos sair do foco dessa conversa. — ela suspira — Esse concurso vai trazer mais visibilidade para a Sweet Dream. E você terá a chance de mostrar o seu talento para todos. O que é simplesmente fantástico. — ela gesticula com as mãos enquanto fala animadamente. 
 
— Sim. — leio mais uma vez o folheto — É uma grande oportunidade, mas eu não tenho chances de ganhar. Você viu quem são as juradas? São Rebecca James e Stacy Evans. Elas são famosas e reconhecidas porque são confeiteiras excelentes. E, além do mais, está escrito que vai ter um jurado misterioso. Se estão fazendo esse suspense é porque ele é muito crítico e os organizadores não querem desanimar os participantes. 
 
— E daí? Isso não quer dizer que você não é capaz. Recebemos muitos elogios e nenhuma reclamação grave durante esse tempo, isso significa que estamos fazendo um ótimo trabalho, e você é a confeiteira profissional daqui. 
 
Às vezes me pergunto se não fomos muito precipitadas em investir nesse negócio, mas, ao mesmo tempo, fico grata e satisfeita por tudo que já alcançamos. Após a morte dos meus pais, Lindsay e eu investimos nossas economias para colocar o nosso sonho em prática. Desviei a minha atenção da dor para o trabalho e tem dado certo desde então. Em janeiro vai fazer um ano que a Sweet Dream foi inaugurada. O que fez uma boa diferença para atingirmos o nosso objetivo, foi o dinheiro que os meus pais deixaram para mim e para a minha irmã mais nova, Melissa. Infelizmente eles não puderam assistir e fazer parte dessa conquista.  Lindsay batalhou muito para que a confeitaria fosse um sucesso, apesar de que seu sonho principal seja ser bailarina. A confeitaria para ela é como um hobby, mas ela leva muito a sério, afinal, é o trabalho dela agora. Lindsay pretende guardar sua parte dos lucros para investir nesse sonho. No entanto, engana-se quem pensa que ela não sabe fazer doces. Ela não tem um diploma de confeiteira, pois não fez o curso, mas posso dizer com orgulho que Lindsay Mackenzie nasceu com o dom. 
 
— Tudo bem. Acho que posso pelo menos tentar. Esse prêmio vai contribuir muito para melhorar a loja e, também, para alcançarmos os nossos desejos. Bom, eu só não sei se vou conseguir conciliar tudo. Com certeza temos algumas encomendas importantes.
 
— Já pensei nisso. — ela abre a pasta novamente e analisa algumas anotações em uma folha — Para esse mês só tem uma encomenda grande para uma festa de aniversário. As outras encomendas são menores e mais rápidas. Vamos dar conta de fazer tudo dentro do prazo, e você sabe que podemos contratar outra funcionária temporariamente. 
 
— É, você pensou em tudo mesmo. Então acho que eu preciso fazer a minha inscrição. 
 
— Fantástico! — ela põe a pasta sobre o balcão e aplaude.  

O aroma de biscoitos recém-assados preenche a confeitaria. Aviso para ela que vou à cozinha para checar os biscoitos. Enquanto isso Lindsay se prepara para atender os clientes. Retiro os biscoitos do forno e volto para o salão. 
 
— Os biscoitos estão prontos. Eu vou recheá-los. 
 
Olho para o relógio digital em cima do balcão para calcular o tempo aproximadamente que vou gastar para terminar o trabalho com esses biscoitos. Nesse momento ouvimos uma movimentação na calçada com alguns resmungos e constatamos ao mesmo tempo de quem se trata:
 
— Senhora Smith. 
 
A senhora Smith é uma mulher de sessenta anos de idade que vem aqui todos os dias úteis religiosamente às quinze horas para comprar seu precioso cupcake de chocolate com morango. Todos os dias, às quinze horas e o mesmo doce. Ela adora conversar sobre os seus gatos e sobre os seus filhos que casaram e mudaram de cidade. Geralmente essa confusão que antecede a sua entrada são um de seus gatos que quer escapar de seu colo. Ela sempre traz um deles em sua compra de cupcake diária. Apesar de serem um pouco cansativos os diálogos repetitivos, temos que reconhecer que a senhora Smith é a cliente mais assídua que temos. 
 
— Não, não. Ontem foi o meu dia de atendê-la, Emy. Hoje é a sua vez, não tente escapar. Pode deixar que eu mesma irei confeitar esses biscoitos, não vou suportar mais uma conversa chata sobre gatos. Boa sorte! — ela gira seus calcanhares e vai para a cozinha. 
 
Tento exibir o sorriso mais gentil em meus lábios para atendê-la. Volto para o meu devido lugar atrás do balcão e espero o sino anunciar a sua presença. Como previ, um gato de pelagem clara está mostrando suas garras afiadas e, definitivamente, essa atitude não é só uma ameaça. 
 
— Snow, comporte-se. — ela diz para o bichano e, imediatamente, ele fica calmo. Senhora Smith está tendo mais controle sob seus pet's, isso é ótimo. 
 
— Boa tarde, senhora Smith. Como posso ajudá-la? — sei qual é o seu pedido, mas vale a pena perguntar, ela pode ter mudado de ideia. 
 
— Boa tarde, querida. Quero o de sempre, por favor. 
 
Escolho o seu cupcake favorito da vitrine e coloco-o em uma embalagem decorada. Guardo essa embalagem em uma sacola e entrego para ela. 
 
— Obrigada, Emily. — ela pega a sacola de minhas mãos e me entrega o dinheiro logo em seguida — Esse doce vem bem a calhar. Sinto-me melancólica e muito sozinha agora que a minha filha mais nova casou-se e foi embora para outra cidade. Não sei o que a Caroline viu em Baton Rouge. Minha filha e o meu genro não quiseram ficar aqui. Aliás, não sei se ela vai vir passar o Natal em minha casa. 
 
Tudo estava indo tão bem até Sarah Smith pronunciar a palavra que virou sinônimo de tragédia em minha vida. Eu não vou permitir que as lágrimas escapem dos meus olhos. Não posso chorar na frente da minha cliente, não é nada profissional. Tento demonstrar que estou ótima e respondo ao seu comentário: 
 
— Concordo com a senhora. Tudo é melhor aqui em Nova Orleans, — posso dizer com sabedoria, pois eu já conheci outros lugares e nenhum foi capaz de me cativar tanto quanto a minha cidade natal — mas acredito que Baton Rouge tem seus encantos também. Caroline provavelmente vai vir passar as festas de fim de ano com a senhora, nada é mais importante que a família. 
 
Sempre passei os feriados e as datas comemorativas com a minha família, era o melhor lugar que eu poderia estar. Agora preciso me acostumar que só terei a presença da minha irmã.  
 
— Espero que você esteja certa. Bom, tenho que ir. Estou esperando uma ligação do meu filho mais velho. Tchau, Emy. Amanhã nos vemos novamente.
 
Despeço de Sarah e acompanho com os meus olhos sua saída da confeitaria. Ela não fechou a porta e uma rajada de vento frio balança a porta para frente e para trás. Vou até lá para fechá-la. Quando passo os meus olhos pela rua, vejo um homem do outro lado usando um casaco cinza e um cachecol vermelho observando a minha loja. Penso que ele vá atravessar a rua para vir até aqui, no entanto, ele permanece no mesmo lugar mirando seus olhos em minha direção. Mantenho a minha mão firme na maçaneta e me distraio com a Lindsay atrás de mim.
 
— O que foi? 
 
— Nada. — respondo e olho novamente para a rua à nossa frente, mas dessa vez não há ninguém observando a Sweet Dream — Achei que eu tivesse visto algo. Não foi nada. 
 
— Okay... — ela sai da loja, me obrigando a deixar a maçaneta livre, e olha pela rua afora. — Deve ter sido coisa da sua cabeça, Emy. Não há nada de estranho aqui. 
 
— Tudo bem. Vamos voltar ao trabalho. 
 
Fecho a porta sob o olhar curioso da Lindsay e fomos fazer nossos afazeres. Definitivamente, esse dia trouxe uma surpresa, um novo compromisso na minha agenda. Vou participar de um concurso e não faço ideia do que terei que enfrentar.


Não, isso não é um delírio coletivo! Realmente está acontecendo. Houve a votação e ficou decidido que o primeiro capítulo do livro seria publicado neste mês. O que vocês acharam? Quero saber tudinho! Estou muito curiosa e ansiosa. Ainda é cedo para perguntar, mas a autora quer saber se vocês já têm alguma teoria. Eu estava louca para mostrar a história. 

Agradeço imensamente a Emily, a Luana e a Laura. Quando digo que eu não teria conseguido sem vocês, estou sendo totalmente sincera. Também sou muito grata a Vanessa, a Raquel e a Dandara, obrigada pelo apoio, é muito importante para mim. Amo todas vocês! E, obviamente, não posso deixar de agradecer a todos que ficaram aguardando pacientemente o livro. Vocês são demais! Irei deixar para agradecer mais nos "agradecimentos" que é a parte do livro específica para isso. Agora, só quero comentar uma coisa, o mocinho dessa história é maravilhoso, mas ainda não sei se ele vai conquistar todos. Vamos ter que esperar para descobrir.

Faltam seis meses para o Natal!

Beijos e bengalas de açúcar!

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