Chapter Eleven
— Você vai passar o Natal na minha casa? Meus pais querem te conhecer. — Ashley pergunta para mim.
As garotas e eu estamos trabalhando na encomenda que será entregue hoje à tarde. São exatamente treze horas, quinze cupcakes precisam estar finalizados até às dezessete horas. Felizmente, ontem elas conseguiram fazer as três tortas de maçãs e o bolo de chocolate. Irei ajudar o máximo que eu puder com os cupcakes. De manhã conseguimos fazer dez, Lindsay está recheando agora. E eu estou fazendo a massa para o restante. Não saímos para almoçar, tivemos que pedir delivery.
— Sim, está decidido. Minha irmã e eu vamos para a sua casa amanhã. Tem certeza que seus pais não irão se incomodar?
Amanhã faz exatamente um ano que os meus pais foram embora. Antes, talvez há um mês, eu pensava que eu poderia passar a data sozinha no meu quarto, acompanhada somente pela tristeza. Ainda vou ficar triste amanhã, é impossível esquecer o acidente, apesar de tudo o que a tia Jenna fez para ajudar. Mas, estar cercada das pessoas que eu amo, está sendo mais fácil de lidar com as circunstâncias. E amanhã não será diferente, terei pessoas que vão enfrentar os meus medos e a minha perda comigo.
— Óbvio que não. Meus pais chegaram ontem. Eles não creem que o meu irmão está comprometido com alguém, segundo as palavras da minha mãe, então eles querem conhecer a nora.
— Comprometido? — questiono.
— Não precisa de cerimônia, Emy. — Lindsay fala — Nós já sabemos de tudo.
— Quando vamos sair para comemorar a sua vitória, Emily? — Ashley pergunta
Ontem no caminho para a casa eu contei para as garotas sobre eu ter ficado em segundo lugar. Também liguei para a minha querida tia Jenna, ela sempre estará na minha lista prioritária para saber as novidades. Todas ficaram felizes por mim, foi um dos momentos mais memoráveis que eu já tive, me senti muito amada e especial.
O resultado foi divulgado no site do concurso ontem e hoje de manhã foi publicado nos jornais. Paige disse que até o dia vinte e sete os prêmios serão depositados na conta de cada finalista. Com a generosidade da Emma, irei receber oito mil e quinhentos dólares, aumentando assim mil dólares e meio. Esse dinheiro tem destino certo. Além da doação que irei fazer para o orfanato e também o investimento que pretendo aplicar aqui na confeitaria, quero doar uma parte para a minha sócia.
Alguns clientes frequentes passaram aqui para me parabenizar. Incluindo a Sarah Smith, que fez questão de trazer consigo sua filha Caroline para que eu pudesse conhecê-la. Quem também veio com elas foi o Snow, um dos gatos da senhora Smith.
— Podemos marcar para o próximo sábado. Vocês estarão livres à noite? Inclusive, quero convidar a Emma e o Dylan para irem conosco. — despejo a massa da tigela para as forminhas e, imediatamente, levo ao forno.
— Onde vamos? — quis saber Ashley.
— Ainda não sei. Estou aberta às sugestões. A cidade é maravilhosa, não vai faltar o que fazer.
— Ótimo. — Lindsay fala.
Essa é a sua palavra da semana, hoje ela usou essa palavra inúmeras vezes, eu não consegui contar. Além disso, Lindsay também está com a mania de repetir as duas últimas palavras do seu discurso, para dar ênfase no que ela quer dizer. Estou tentando me adaptar a essa nova característica dela.
— Hoje é o meu último dia aqui. — Ashley diz ao abraçar a parede — Vou sentir falta dessa rotina.
— Nada é definitivo. As portas da Sweet Dream sempre estarão abertas para você. — minha sócia diz para ela — Sempre!
— Sim, exatamente. Você é muito bem-vinda aqui. Está livre para aparecer quando quiser. — completo.
— Muito obrigada, meninas. É um prazer estar aqui com vocês.
— Você é muito querida por nós e também pelos clientes. — Lindsay fala.
Deixo as duas garotas na cozinha e vou para o salão. Quero ligar para a minha tia, saber como ela está e também desejar que ela tenha um bom feriado amanhã. Não preciso esperar muito, rapidamente ela atende.
— Emy, querida. Aconteceu algo? — ouço sua voz um pouco abafada depois de uma tosse. Ontem ela comentou que está levemente resfriada.
— Não, tia, está tudo bem. Eu liguei para desejar Feliz Natal, sei que ainda é cedo, mas a senhora vai ir para a casa de seu irmão.
— Então, tivemos a mesma ideia. Eu iria ligar para você mais tarde. Obrigada pelas felicitações, meu amor. Desejo o mesmo para você e sua irmã. Sinto muito que amanhã não estarei com vocês. Se quiserem, eu posso permanecer em minha casa. Não quero que pense que estou abandonando vocês.
— Ah, tia Jenna, não se importe com isso. Eu sei que amanhã será um dia difícil, mas acho que não mais difícil como nos dias anteriores. Eu estou aprendendo a lidar melhor com tudo isso, agradeço imensamente por tudo.
— Ora, Emy. Não tem que agradecer. Só fiz o que tinha que ser feito. Graças ao Bom Deus você abriu o seu coração para receber meus conselhos.
— Eu te amo. — digo para ela — Tia, quando a senhora pretende me ensinar o segredo dos seus beignets?
— Fique tranquila, Emy. Antes do ano acabar, nós marcamos uma data. Pode ser assim?
— Claro. Tudo bem. Eu vou aguardar.
— Está combinado, então. — ouço algum objeto cair — Deixei o abajur cair. Podemos conversar depois, querida? Eu ainda não arrumei a minha mala.
— Sim, podemos, eu não quero incomodar. Além do mais, eu preciso cuidar de alguns cupcakes que estão no forno.
— Fique com Deus, Emy. Dê lembranças a sua irmã, amo vocês.
— Amo você. Beijinhos! — no momento em que digo essas palavras, o sino avisa a chegada de uma pessoa extremamente especial. Encerro a chamada e coloco o celular em cima do balcão. O meu coração neste momento está batendo como uma canção em ritmo de jazz, apenas por estar perto dele.
— Espero não estar incomodando. — ele caminha até aqui com passos temerosos.
— O senhor não incomoda. — saio de trás do balcão para ficar ainda mais perto — A que devo a honra, senhor Morgan? Voltou pelos doces ou pela confeiteira?
— Apesar de seus doces serem um primor, tenho que ser sincero e admitir que voltei pela confeiteira. — ele toma a minha mão direita que estava entrelaçada com a mão esquerda na frente do meu corpo e a beija suavemente, como fez ontem, sem desgrudar seus olhos castanhos dos meus.
— Encantada. — para completar a cena, coloco a mão que recebeu o beijo em meu coração e suspiro — O senhor sempre tão galante.
— Obrigado. — ele agradece com um sorriso lindo no rosto, iluminando essa tarde fria e nublada. Sorrio também em resposta — Eu vim para cobrar o favor que está me devendo. Lembra?
— Lembro sim. Pode cobrar como desejar.
Ashley aparece no salão com um pacote de bengalas de açúcar. Estamos distribuindo para os clientes, como forma de lembrança e agradecimento.
— Não pensei que fosse demorar tanto para chegar, John. — ela diz e despeja as bengalas no pote, para completar — Foi difícil manter a surpresa.
— Surpresa? Lindsay também sabia disso? — pergunto.
— Claro. Foi ela quem me ajudou a manter a boca fechada.
— A cobrança do favor é uma surpresa? — pergunto para o John
— Como a senhorita bem sabe, eu ainda não tive a oportunidade de conhecer a cidade. Quer fazer um tour comigo de bonde? — ele tira do bolso duas passagens.
— Qual linha?
— Saint Charles. Aceita passar a tarde comigo, Emily Bennett?
— Eu adoraria, John. Mas eu não posso deixar as garotas sozinhas. Temos uma encomenda para entregar hoje. — fico realmente triste por isso. Eu adoraria ficar o resto do dia com ele, no entanto, não posso deixar de lado as minhas responsabilidades. Que tipo de profissional e amiga eu seria?
— Lindsay e eu já estávamos a par da visita do John, não se preocupe, vamos conseguir terminar os cupcakes. Pode ir despreocupada. — minha funcionária avisa. John olha para mim, esperando a minha decisão.
Lindsay, que até então estava na cozinha, também aparece aqui. Segurando uma bandeja com biscoitos.
— Não pude deixar de ouvir a conversa. Ashley tem razão, Emy. Nós vamos dar conta de tudo, assim como fizemos um bom trabalho ontem. — ela entrega a bandeja para a Ashley, que a coloca dentro da vitrine — Um bom trabalho ontem! — novamente, ela aplica sua segunda mania.
— Senhorita Mackenzie. — John a cumprimenta. Ela responde cordialmente e volta para a cozinha.
— Já que vocês insistem, eu irei. Confio nas duas, Ashley e Lindsay farão um ótimo trabalho.
— Fico feliz em ter sua companhia.
— Preparado para se apaixonar por Nova Orleans?
— Certamente. — ele pega novamente a minha mão, entrelaçando nossos dedos — Quando podemos ir?
— Agora. — com a minha resposta sincera e sem rodeios, ele sorri novamente. Como eu amo esses sorrisos!
Hoje, provavelmente, é o dia mais frio do mês. Quando o vento sopra parece que cristais de gelos tocam a minha pele. Eu estou com cachecol, casaco e touca, mas sinto que estou sem nenhum agasalho. Depois que entramos no bonde, amenizou um pouco. A linha escolhida por John é a mais antiga que ainda está em circulação. Os assentos são feitos de mogno e as janelas são amplas, permitindo uma vista generosa da cidade. Carinhosamente, ele permitiu que eu ficasse no canto.
— Espero que desfrute do passeio. Quero que você tenha ótimas lembranças desse dia, para substituir suas memórias do último Natal. — ele diz ao apertar a minha mão suavemente, demonstrando afeto.
— Obrigada por se preocupar comigo. Muito generoso da sua parte. Acho que eu nunca contei o que aconteceu, não é?
— Não precisa falar. Não quero que fique triste.
— Quero contar. Confio em você o bastante para conversar sobre isso. — respiro fundo — Meus pais estavam indo à casa da minha tia Jenna me buscar. No caminho ocorreu o acidente. Um senhor alcoolizado estava totalmente errado, perdeu o controle do carro e houve a batida. Minha mãe faleceu no mesmo instante e o meu pai não resistiu até chegar ao hospital. Foi o que me contaram. Ainda não consegui sentar atrás do volante desde o acidente, tenho medo do que pode acontecer comigo. Eu não posso deixar a minha irmã. Melissa quem me leva para todos os lugares que eu preciso.
— Dou a minha palavra que farei de tudo para que você tenha um agradável Natal este ano.
Descanso a minha cabeça em seu ombro. Flashs de momentos que vivenciei atingem a minha memória com força, vindo à tona todos os sentimentos possíveis. Sinto-me mergulhada em um turbilhão de emoções, é como se os meus sentimentos estivessem girando dentro de uma batedeira. Recordo de alguns natais que eu tive ao longo dos meus vinte e três anos, dos momentos em que meu pai e eu fazíamos bolos juntos e também revivo algumas cenas do concurso que, naturalmente, John esteve presente em todas.
— Um doce Natal. — eu digo ao concluir o que todas essas lembranças significaram. Tia Jenna teve razão em tudo o que disse, não devo focar somente em momentos ruins. Eu tive e ainda tenho momentos agradáveis e doces — Quero ter um doce Natal.
— Decerto. Um doce Natal. — ele concorda, prometendo que fará o possível para realizar o meu desejo.
Levanto a cabeça ao ver a paisagem. Permaneço com os meus olhos atentos no horizonte. Estamos passando pelo Garden District. As ruas são repletas de carvalhos, essas árvores deixam as ruas sombreadas. Aqui é tão lindo, assim como em outros pontos da minha cidade, há mansões históricas e jardins deslumbrantes. As mansões do início do século XIX e as casas que possuem decoração vitoriana chamam atenção equivalente aos jardins. Antigamente a minha cidade era um pólo comercial importante da produção de algodão. Essas casas surgiram dessa época, pois muitas famílias fizeram fortuna com esse negócio, e construíram esses palacetes para exibirem seu poder aquisitivo. Depois do processo de urbanização, essas construções ficaram perdidas no tempo, por isso hoje em dia atraem a atenção de turistas e moradores. Definitivamente, é um bairro charmoso.
— Consegue visualizar o porquê de eu amar incondicionalmente a minha cidade? É tudo tão incrível. Sem querer desmerecer outros lugares, eu preciso dizer que tudo é melhor aqui em Nova Orleans.
— Nova Orleans tem seus encantos. — John diz ao olhar no fundo dos meus olhos, com um meio sorriso brotando em seus lábios.
Sinto que não é somente sobre a cidade que ele se refere. O meu coração grita que eu também estou inclusa em sua constatação. Então, eu simplesmente acredito.
— John, ainda não tivemos aquela conversa e você não me disse a solução que encontrou para nos encontrarmos com a mesma periodicidade de antes.
— No momento em que te vi pela primeira vez, — ele começa a dizer, revelando em um tom baixo para que somente eu ouça — foi como se novos horizontes se abrissem para mim. Lembro perfeitamente, como se fosse ontem, eu estava caminhando pela Bourbon Street e pensei em atravessar para ir à confeitaria. E, então, uma senhora saiu de lá e, foi nesse segundo que eu a vi, você foi fechar a porta e varreu a rua com os seus olhos verdes. Eu tentei te afastar de mim, desde aquele momento.
Olho para ele surpresa em saber disso. Um sorriso aparece nos meus lábios e, sem permissão, um suspiro escapa de mim. Meus olhos teimam em piscar algumas vezes consecutivas. Quando eu observo os seus olhos, consigo recordar desse dia. Sarah Smith saiu da confeitaria e esqueceu de fechar a porta. Levantei do meu lugar e fui até lá fechar, pois o vento balançava a porta para frente e para trás. Foi então que eu olhei para o outro lado da rua e vi um homem usando um casaco cinza e um cachecol vermelho, olhando na minha direção. Fiquei curiosa para descobrir de quem se tratava, mas ele sumiu da mesma forma em que apareceu, de repente.
— Parece que o seu plano de nos mantermos distantes não deu muito certo. — toco o seu rosto. Encosto o meu polegar em seus lábios e passo a palma da minha mão na sua barba escassa. Em seguida, tomo a liberdade de deixar um beijo tênue em sua bochecha.
Ele sorriu.
— No início, sim, mas depois eu perdi o controle. É impossível não notar você. Eu poderia sentir a sua presença sem ao menos te ver. Você é extraordinária, Emy. — novamente ele beija a minha mão, que até então estava entrelaçada com a dele durante todo o tempo — A sua essência paira no ar, eu perceberia você facilmente.
Está tudo perfeitamente maravilhoso. O cenário, o passeio e a declaração que ele acabou de fazer. Eu poderia, com facilidade, beijá-lo agora mesmo. Eu poderia fazer tantas coisas.
— Quando foi que surgiu todos esses sentimentos? — decido perguntar. Desde que soube sobre o que ele sente em relação a mim, essa curiosidade apareceu em meus pensamentos.
Passamos pelo Lee Circle e prosseguimos na Avenida Saint Charles. Aqui é onde ocorre o desfile do Mardi Grass. É uma grande festa, com direito a carros alegóricos, colares de conchas e máscaras de gesso.
— Creio que foi no momento em que nos conhecemos no French Market. Aliás, espero que já tenha me perdoado pelas minhas palavras.
— São águas passadas. Além do mais, eu também não fui gentil naquele dia. — relembro a curta e imatura discussão que tivemos por causa de doces. Claramente são doces sublimes, mas ainda assim, são doces — Você se apaixonou quando discutimos. É surpreendente. — encosto novamente a cabeça na curva de seu ombro.
— Foi inesperado para mim também. Mas, convenhamos, não iria demorar para acontecer. — sorrio mais uma vez. Como não sorrir em meio a uma coleção de declarações? — E você, Emy? — ele faz carinho em minha mão.
— Eu não sei. Talvez tenha acontecido na noite em que me levou para a casa, quando fiquei lhe devendo um favor. Foi naquele momento que eu reparei melhor no senhor, vi o quão maravilhoso você é. E, agora que estamos aqui, é só mais uma prova disso. — será que estarei sendo precipitada se eu disser que o amo?
Não quero assustá-lo.
— Podemos ter um encontro ainda nesta semana? Depois pretendo visitá-la em sua casa, é uma solução temporária que encontrei para nos vermos.
— Sim, claro. Por que não? Amanhã vamos nos ver na sua casa, mas à noite, se não for inconveniente, nós podemos pegar o bonde da linha do Canal Street. As luzes natalinas deixam o trajeto mais lindo do que já é.
— Imagino que sim. Podemos providenciar esse passeio para amanhã à noite. Em relação ao encontro, eu gostaria que fosse na minha casa.
— Na sua casa, senhor Morgan? — pergunto com um tom travesso — Não acha que a sua casa é um lugar íntimo para o nosso primeiro encontro?
— Vou me comportar, não se preocupe, a menos que você não queira. — ele responde no mesmo tom que eu usei.
Rio baixinho do seu comentário. John Morgan tem sim um lado descontraído. Fico alegre em presenciar essas ocasiões. Estou colecionando todas elas na minha memória e em um cantinho especial em meu coração.
Passamos ao lado da Lafayette Square, um dos parques públicos mais antigos da cidade. Há um vasto gramado verde, com bancos e estátuas. No centro da Praça está a estátua de bronze de Henry Clay e também algumas de Benjamin Franklin.
— Está gostando do passeio? Mesmo sendo barulhento e um tanto devagar?
— Estou sim. — ele responde — Sua companhia complementa a graça de todo o percurso.
Agradeço o elogio e decido contar um pouco do que sei para ele. Informações contribuem para deixar o passeio ainda mais interessante e produtivo.
— Diversas pessoas assistem os desfiles do Mardi Grass aqui. Passam carros alegóricos e bandas por toda a Avenida Saint Charles. Além do Mardi Grass, essa Praça também é um espaço popular para casamentos.
— É muito bonita. Eu estive somente na Jackson Square. Pretendo voltar aqui novamente com mais tempo, para apreciar um pouco mais.
— Você tem todo o tempo do mundo para conhecer e apreciar as maravilhas da cidade.
— Nós temos todo o tempo do mundo. Faço questão de ter a sua companhia, Emy.
Ao descermos do bonde na Common Street, gentilmente John estende a mão para me ajudar a descer. Ele realmente é muito gentil. Depois, já com os meus pés no chão e a bolsa a tiracolo, seguro em seu antebraço, ficamos assim, de braços dados. Caminhamos juntos em direção a rua Bourbon. Aqui é, sem dúvidas, o coração do bairro. Agora já está muito movimentado, provavelmente quando anoitecer a rua estará ainda mais agitada. Há um grupo de rapazes tocando jazz, várias pessoas param para apreciarem a música. O Preservation Hall, situado na Peters Street, é uma casa de show muito indicada para quem procura boa música em bares. Mas, ainda na rua onde estamos, também há bares, restaurantes, lojas de voodoo, como a Marie Laveau House of Voodoo. Essa cultura tem origem dos imigrantes vindo da África, que foram trazidos para o trabalho escravo.
— Você sabia que a cidade possui o título de mais assombrada do país? — pergunto.
Não é à toa que Nova Orleans já foi inspiração para várias histórias de terror. Muitas pessoas já disseram ter presenciado acontecimentos estranhos e visto pessoas que já faleceram andando pelas ruas do bairro. Ainda bem que eu nunca presenciei nada.
— Já ouvi rumores.
— Alguns moradores dizem que há um fantasma para cada residência do French Quarter. Minha tia Jenna afirma já ter visto. Essas histórias sobre fantasmas atraem inúmeros turistas. Inclusive, os cemitérios daqui são famosos, incluindo o cemitério Lafayette, onde os meus pais estão enterrados.
Ele percebe que o assunto deixou o clima mais triste, quando mencionei mais uma vez a morte dos meus pais. John segura a minha mão, com um aperto suave, passando apoio.
— Você está bem? — ele pergunta, preocupado.
— Sim, estou bem. Obrigada. — respondo.
Mudamos de assunto quando observamos o coral, formado por jovens e crianças, cantando músicas natalinas, como Santa Claus is coming to town. Paramos para assistir o final da canção, depois aplaudimos fortemente. Mais pessoas se aproximam para admirar a apresentação, o coral segue com o repertório e John e eu prosseguimos com a nossa caminhada, em direção a Sweet Dream.
Sem aviso prévio paramos de caminhar, como se fosse o certo a ser feito. John encara diretamente os meus olhos, como só ele sabe fazer, depois aproxima um pouco mais de mim, como se ainda houvesse uma distância imensa entre nós. Ele toca em meu rosto, causando uma sensação reconfortante quando o tecido da luva encosta na minha pele. Com os dedos ele acaricia a minha bochecha e revela mais uma vez o brilho que os seus olhos castanhos possuem.
— Eu adoro quando você faz isso. Eu me sinto muito querida. É uma sensação diferente de quando tivemos aquele contato mais íntimo na tarde de ontem.
— Um cavalheiro sabe quando usar suas armas secretas. — ele responde ao arquear a sobrancelha.
— Estou percebendo isso.
Então, ele continua passeando os dedos da mão direita pelo o meu rosto. Eu fecho os olhos por um instante, para desfrutar do seu toque calmo e confortável. John chega mais perto, mas ainda me dando espaço para permitir ou negar a sua próxima atitude. Abro os meus olhos devagar, admiro os seus traços, observo a sutil cicatriz perto da sobrancelha até os seus lábios que, agora, estão irresistíveis. Sinto a sua respiração mais acelerada que o normal e, novamente, ele sorri, da mesma forma que sorriu na confeitaria, quando ele revelou que estava apaixonado.
— Pode fugir, se quiser. — ele sussurra, quase que sem descolar os lábios.
— Não vou a lugar algum, John. Tudo é melhor aqui em Nova Orleans. Lembra?
— Impossível esquecer. — ele sorri com a mesma intensidade de antes — Eu ainda seria um cavalheiro se roubasse um beijo seu?
— Você está com sorte. — digo ao traçar uma rota com o meu dedo indicador da sua bochecha até a sua boca — Não é roubo se eu deixar.
Sendo assim, John Morgan cola os seus lábios frios nos meus e, ao contrário do que eu imaginei sobre esse dia gélido, eu me sinto internamente aquecida. Um calor flutua entre nós, mas, quando ele se afasta, eu continuo sentindo a sua presença. Observo os seus olhos, agora totalmente expressivos e sorrio involuntariamente. Toco o seu rosto da mesma forma que ele fez comigo, decorando cada característica.
— Espero que tenha sido melhor que o seu primeiro beijo.
— Pobre Brian Collins, seria injusto comparar com o seu beijo, John. Naquela época eu e ele não sabíamos o que estávamos fazendo.
Um vento forte vem em nossa direção, interrompendo o assunto, recolho a minha mão de seu rosto e cruzo os braços, abraçando o meu próprio corpo. Mexas do meu cabelo escapam da touca e se movimentam na frente do meu rosto, causando uma pequena bagunça. John, atenciosamente, retira a touca da minha cabeça e arruma os meus cabelos, colocando a touca novamente.
— Suponho que o meu foi melhor. — ele tira o seu casaco e coloca nas minhas costas, tento negar, mas não obtenho sucesso. Após isso, ele deposita mais um de seus beijos castos em minha testa.
— Ora, presunçoso. Eu preciso de um segundo beijo, só para ter certeza.
Dessa vez eu aproximo a minha boca da sua, sem esperar um instante sequer, seguro o seu rosto e o beijo com todo o meu coração. Foi como se toda Nova Orleans se tornasse minúscula, perto das sensações que, somente ele, me causa.
❣
Não sei o que dizer, só sentir. Eu amo essa cena, amo esse primeiro beijo e, definitivamente, amo esse casal maravilhoso. É um dos meus momentos favoritos. Meninas, por favor, não aceitem menos que John Morgan.
O que acharam do capítulo de hoje? Espero ter conseguido arrancar de vocês um ou dois suspiros.
Estão preparados para o último capítulo? Eu não estou, foi um prazer compartilhar com vocês essa história e é ruim ter que me despedir, mas vamos permanecer juntos até os agradecimentos. Leitores fantasmas, votem no capítulo para ajudar no engajamento do livro, por favor.
Faltam dois dias para o Natal!
Beijinhos e bengalas de açúcar!
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