Epílogo one: Adeus amor, bem-vindo sementinha.
39 semanas de gestação.
Isa passa sua mão pela sua barriga enorme, meus dois amores estão saudáveis, mas só de pensar na hipótese de eu perder um dele já sinto o chão desaparecer embaixo dos meus pés.
Quando a obstetra nos disse que se a gravidez passasse do primeiro trimestre, a saúde de Isa estaria comprometida e talvez a do bebê. Nesse período de trinta e nove semanas, eu levei Isa para jantares românticos, passeios que não colocasse a gestão em risco - mais do que ela já estava - realizei o seu sonho de ter uma joia feita somente para ela.
Isa sempre mantinha o sorriso nos lábios e sua fé em Deus cresceu, ela conseguiu perdoar aqueles que a feriram e todos esses atos me assustavam muito. Ela estava se despedindo aos poucos, comigo a apoiando a cada passo.
Eu não queria que ela fizesse isso, eu não queria que ela desistisse tão fácil da vida, mas essa era a minha garota vendo uma coisa que ninguém mais podia ver. A cada pessoa que ela visitava e relembrava os momentos felizes, arrancava uma parte de mim.
E ontem antes das contrações começarem, foi a vez dela se despedir de mim, cantamos, dançamos, rimos, conversamos e fizemos amor. O seu "eu te amo" veio com as lágrimas de nós dois.
O mundo está me sufocando e cada minuto, uma parte de mim morrer, eu queria me apegar a pequena fração de chance da minha esposa sair da cama e voltar para casa, mas essa luta precisa ser lotada por nós dois e eu sinto como se ela não quisesse lutar.
Por que você não luta?
Lute por nós, pela nossa sementinha.
Fique comigo, por favor.
Lute, lute, lute, por favor.
Eu gritava e gritava, mas minha voz não saia. Meu coração está em agonia, eu não podia perder a minha metade, a garota que amei silenciosamente por anos. Era só um pedido, eu queria que ela lutasse, o mundo não teria mais cor se ela se fosse.
O choro de Noah soa na sala, a enfermeira entrega para que Isa o segurasse, um sorriso largo se for ou em seus lábios e eu sabia que ela estava se despedindo do nosso filho.
- Cuide bem da nossa sementinha.
- Eu cuidarei.
- Eu te amo, sementinha. Eu te amo, Lucas.
As máquinas começaram a apitar e as enfermeiras corriam de um lado para outro. Dou um beijo na sua testa e a deixo ir, meu filho é retirado dos seus braços e levado pela enfermeira.
Escuto pessoas chamando pelo meu nome, mas me sinto tão perdido que não entendo nada. Caio de joelhos ao lado da cama e grito pedindo para que ela fique ao nosso lado, mas seu corpo já está sem vida e seu calor começa a ser substituído pelo frio.
- Não me deixei. Não deixe a nossa sementinha.
A sala está vazia e o cômodo se torna totalmente sufocante, o frio corta a minha pele e lágrimas salgadas não param de escorrer dos meus olhos. A minha outra metade tinha se partido para um novo mundo.
- Lucas.
Não consigo distinguir a voz de quem me chama, mas sei que quer me levar para longe do meu amor. Contudo, não quero ir a lugar nenhum sem ter Isa ao meu lado, a luz que clareou o meu caminho.
A pessoa que me ajudou a superar a morte da minha mãe, agora está morta. Quem irá me ajudar a superar a morte do amor da minha vida, a pessoa que eu decidi plantar a sementinha do nosso amor.
Por que ela tinha que me largar agora? Tínhamos planos para uma vida toda, o que será de mim sem a minha metade, o amor da minha vida? Os caminhos parecem mais escuros e tudo que fazia sentido parou de fazer, Isabelle morreu e nada podia trazer de volta para mim.
- Lucas.
A voz está ao meu lado, mas mesmo assim não tenho coragem de encarar o olhar do meu pai. Ele ainda sentia a dor de ter a mulher que amava e eu estou a sentindo agora também. Eu não quero olhar para ninguém, ouvir ninguém, falar com ninguém. Eu só queria a minha alma gêmea ao meu lado, me ajudando a cuidar da nossa sementinha, será que é pedir demais? Eu só a quero de volta, me deixando amá-la como merece ser amada.
- Filho, precisamos ir.
- Não.
O ar já não entra com facilidade para dentro dos meus pulmões. Eu a queria de volta, eu queria o seu calor me esquentando, suas mãos me acariciando, seus lábios me beijando. Eu só queria que ela se levantasse da cama e fosse comigo, ver nosso filho. É tudo que eu queria, isso não é pedir demais, é?
- Lucas, você tem que se manter forte, para o seu filho. Você tem que ajudá-lo a crescer.
Levantei-me do chão com as pernas trêmulas e depositei um beijo suave nos lábios frios de Isa. Seu semblante está sereno, com um grande sorriso nos lábios, ela está em paz eterna e eu em angústia eterna.
Deixei outro beijo em sua testa e segui meu pai para fora da sala. Ela tinha se entregado, agora era a minha vez de parar de lutar e me entregar a saudade eterna de amor curto e intenso.
Todos estão na sala de espera e Yasmin vem correndo até mim, me abraçando com força. Minhas pernas ficaram fracas e nós dois caímos no chão, ajoelhados. Aperto minha prima com mais força em meus braços e ela retribui com a mesma forma.
- Eu sinto muito por ela não ter conseguido.
- Por que ela também tinha que deixar.
Yasmin me apertou mais em seu abraço e lágrimas escorriam pelos nossos olhos. Ninguém podia entender a dor que sentimos, mesmo que tentassem, não conseguiriam. Eu perdi o grande amor da minha vida, a mãe do meu filho. Yasmin perdeu a sua amiga.
A pessoa que trouxe de volta a felicidade para nossas vidas, agora está pegando de volta só para ela. Não era justo ela ir embora e as pessoas desgraçadas que a feriram estarem andando com toda saúde pelas ruas.
Ela ainda está com o seu sorriso lindo nos lábios tingido de vermelho, ela está vestida com o vestido do nosso casamento, a aliança de ouro branco com diamante está em seu dedo anelar.
Isa está linda, como se estivesse apenas dormindo um sono tranquilo. Como eu pagaria qualquer coisa para ela estar apenas dormindo. As rosas-vermelhas e brancas estão espalhadas pelo caixão. Todos esperam para que eu toque a música que Isa me fez prometer que escreveria para esse momento e tenho que dizer que foi difícil escrever uma linha sem molhar completamente a folha.
Max olhou para mim e eu soltei um suspiro profundo, eu não ia conseguir tocar e nem cantar. Eu ia quebrar a última promessa que fiz para a minha ama. Max começou a tocar os primeiros acordes e meu mundo voltou a ficar nublado e uma forte tempestade se aproxima, querendo acabar com o resto que sobrou de mim.
Você vê que eu não posso chorar para sempre
E eu não posso ficar assim para sempre
Eu me sinto tão mal, eu só quero chorar
Eu continuo pensando que isso nunca vai funcionar
Não quero chorar, mas eles mentem
Eles mentem dizendo que vai passar
Por favor, acredite que eu não vou chorar
Por favor, acredite que eu não vou chorar
Por favor, acredite que eu não vou chorar
Eu caí e depois caí
Você disse que estava se sentindo melhor
E que tudo era uma consequência
Então você começou a chorar, por toda a cidade
Como você pode estar? Ah, como eu poderia acreditar?
Eu sinto a necessidade chorar
Então eu tenho que encontrar um caminho
Por favor, acredite que eu não vou chorar
Por favor, acredite que eu não vou...
Eu não vou chorar
eu caí e depois caí
Max larga o violão de lado e me abraça com força, minhas lágrimas não queimam os meus olhos, mas preciso ser forte para o meu filho. Ele precisa do pai, para não sentir tanta saudade da mãe, como eu vou sentir.
Isa agora estava embaixo da terra, o nosso ciclo de amor tinha se encerrado mais um capítulo e agora eu ia seguir para o próximo capítulo sozinho, sem a minha luz guia.
- Oi sementinha! - apoio a mão no berço médico e olho para meu filho - Chegou a hora de irmos para casa.
Agachei-me, ficando da mesma altura do berço e Noah me olha com seus grandes olhos azuis. Sua toca esconde os fios de cabelo castanho-claro. O fruto do amor lindo e intenso que eu e Isa tivemos.
- Bem-vindo, sementinha - olhei para o teto contendo as minhas lágrimas - Eu vou cuidar de você aqui terra até o meu último suspiro e sua mamãe vai cuidar de você lá de cima.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top