9: Triste saudade.

Yasmin vem correndo em minha direção e me abraça com força, me fazendo gemer de dor.

- Me desculpe! É que fiquei muito animada quando o Lucas falou que você ia passar mais alguns dias conosco - ela se afastou um pouco e me olhou vestindo a blusa do seu primo - Aquele imbecil cuidou bem de você?

- Se ela está aqui e sorrindo, significa que cuidei - Lucas foi para dentro do casarão.

- Ele não quis deixar eu te trocar e muito menos quis aceitar a ajuda da nossa avó.

- Não se preocupe, ele foi super atencioso e me ajudou no que precisei - e no que eu não sabia precisar.

- Vamos entrar, minha avó acabou de preparar um bolo de cenoura com chocolate derretido em cima.

Caminhamos pela trilha de pequenas pedras, na porta do casarão, o singelo sorriso nos lábios de Nora me faz sentir como se estivesse em casa. Sinto-me desconfortável por estar atrapalhando esse momento em família, eu deveria voltar para casa e buscar o Owen na casa da Mel e ficar com ele lá em casa até o meu irmão chegar.

- Nem pense nisso - Yasmin laça a minha cintura, me impedindo de fugir dali - Você não está atrapalhando nada.

- Eu não estava pensando em nada.

- Tem certeza que não queria fugir daqui o mais rápido possível? 

- Pode ser que não tão rápido, porque não estou com a chave do carro do Lucas.

Yasmin soltou uma gargalhada que ecoou por todo o pomar. Os seus cabelos estão escovados e presos em um penteado elegante, seus olhos levemente avermelhados indicam que ela esteve chorando, mas a maquiagem foi feita depois. Olho discretamente a sua vestimenta de cima a baixo, um vestido longo branco com alguns detalhes vermelhos, em seus pés um belo par de Louboutin branco. 

- Querida, que bom que decidiu ficar.

Nora também não fica para trás, seus cabelos grisalhos foram cortados no estilo Chanel. Seu rosto apresenta uma pequena quantidade de maquiagem. Quando me afastei do teu abraço, consegui observar o terninho creme, que parece ter sido feito sob medida.

- Entre o Samuel está na sala.

Entro no casarão e encontro Samuel sentado na sua poltrona, sua aparência física não está muito longe de Yasmin, mas mesmo assim ele mantém um sorriso no rosto ao me cumprimentar. O seu terno cinza chumbo encaixa perfeitamente em cada parte do seu corpo.

Sinto que estou sobrando no meio dos três, o gosto amargo voltou para a minha boca me obrigando a ir ao banheiro lavar o meu rosto. Olho meu reflexo e tenho certeza que a Isabelle do outro lado do espelho está tentando me contar algo. Minhas mãos começaram a tremer e o gosto amargo se espalhava rapidamente por toda a minha boca, me causando ânsia de vômito.

- Está bem Isa - a voz calma de Yasmin fez com que todo o meu corpo entrasse em estado de alerta.

- Está sim.

Saio do banheiro e a acompanho até a sala, Lucas está escorado no batente da porta principal. Seu terno azul-claro combina com os seus olhos, seus músculos força o tecido quando estão contraídos. Ele tira uma mão do bolso e a estica para mim, vou em sua direção, deixando os três com as suas conversas.

- Será que podemos dar uma volta no pomar? - sua voz é trêmula e desanimada.

- Claro.

Descemos os poucos degraus em frente a porta e começamos a andar pelo pomar. Por um tempo ficamos aproveitando a companhia um do outro, mas quando reparei que Lucas estava um pouco inquieto, me deixava mais ansiosa para saber o que estava o incomodando.

- Isa - olhei para ele - Não sei qual é a sua religião, mas eu queria saber se você quer ir à missa comigo, a Yasmin é os meus avós.

- Claro.

Não sou uma pessoa muito religiosa, não sei se consigo acreditar que tem alguém olhando por nós, quando ele vê coisas ruins acontecendo e não faz nada para intervir. Mas como para Lucas parecia importante, era um esforço que eu poderia fazer depois dele ter me ajudado.

- Mas eu preciso de uma roupa mais adequada. Você acha que dá tempo de passarmos em uma loja antes?

- Você não precisa comprar uma roupa nova. É apenas uma missa, não é nada em especial.

Quando eu ainda morava e Roma, ia à missa todo domingo, mesmo sendo onde o Vaticano é localizado, as pessoas não se arrumavam tanto para ir ver um homem falar sobre Deus. Vendo que todos da família estão bem vestidos, não acredito que seja uma missa de domingo comum.

- Prefiro comprar roupas novas, se não se importar com isso.

- Claro que não. Então vamos antes que as lojas fechem.

Pelas araras de vestido olho um por um, o tecido é de ótima qualidade e os designs são bem desenhados, mas não consigo escolher qual usar. Opto por um vestido azul bebê com uma única fenda nas pernas, na frente o decote em coração, que deixam os seios maiores e as costas tem um leve devote em U.

- Você acha que está exagerado ou ofensivo? - rodei no mesmo lugar.

- Você está maravilhosa, maçãzinha - Lucas segurou a minha cintura.

- As pessoas não vão falar de estar usando um decote desses?

- A opinião dos outros não importam. Se quer usar decote use, você deve se importar somente com o que pensa e nada mais. Foda-se os outros e suas opiniões.

- A sua opinião é importante para mim - abaixei o meu olhar - Será a imagem da sua família que será manchada e eu não quero que isso aconteça.

- Maçãzinha? - ele ergueu o meu queixo com o polegar - Você está perfeita, você poderia estar vestindo apenas um lençol velho que eu te acharia perfeita.

Quando seus lábios começaram a se aproximar dos meus, me soltei das suas mãos e comecei a andar pela loja, a procura de um salto alto. Do outro lado da loja vejo Lucas olhando para a tela do celular, com um sorriso casto no rosto. Uma atendente chegou perto dele e eles conversaram  por alguns minutos, até eu acabar de pagar as minhas compras.

Lucas retirou as sacolas das minhas mãos e fomos para o carro. Sentei-me no banco do passageiro e peguei alguns produtos de maquiagem que comprei, comecei a me arrumar e Lucas fazia o máximo para evitar o carro de tremer.

- Posso arrumar o seu cabelo?

Olhei para ele e permito, seus dedos começaram a movimentar em meio aos meus cabelos, passo um batom vermelho e espero que Lucas acabe de arrumar o meu cabelo. 

- Espero que goste.

Olhei pelo retrovisor, ele fez um penteado unindo três tranças de cada lado do meu cabelo. Ele pegou uma mochila atrás do seu banco e retirou dela um broche em formato de uma flor de maçã, a colocando no meu cabelo.

- Vamos entrar! - seu tom de voz é firme, como se ele estivesse entrando no modo defensivo.

Desço do R8, atraindo vários olhares, do lado de fora da igreja a um grupo de pessoas conversando em meio aos grandes enfeites de mix de flores. Quando entramos na igreja fiquei anestesiada com a decoração, flores brancas, velhas e lilás colorem o ambiente. Em frente ao altar um pano vermelho cobre algo que não consigo identificar.

 Me sentei ao lado de Yasmin, ela mantém um sorriso triste em seus lábios. Dou um abraço nela e Yasmin retribui me apertando com mais força.

- Você não sabe o quanto é importante a sua presença - ela sussurrou em meus ouvidos.

O padre começou a falar e todos se silenciaram, entrelacei os meus dedos ao de Lucas e repousei a minha cabeça em seu ombro. Todos estão prestando atenção nas falas do padre, enquanto eu me contento em ficar girando o anel de prata que Lucas usa no dedo anelar.

- Entediada, maçãzinha? 

- Só um pouco.

- Hoje se completa cinco anos que duas mulheres maravilhosas foram levadas para o reino de nosso pai. Quero convidar Lucas Calvin e Yasmin Calvin para subir aqui em cima.

- Já volto.

Lucas se levantou com a Yasmin e foram em direção ao altar. O pano vermelho foi retirado e dois quadros foram revelados, com a foto de duas belas jovens. Uma delas parecia um pouco comigo, as rosas-brancas formam dois enormes arranjos. 

- Há cinco anos, minha mãe e a tia Aline deram os seus últimos suspiros, juntos com elas meu irmão Carlos que não conseguiu ver a luz do mundo - ele superou e Yasmin continuou o discurso.

- Foi a alguns anos, mas para nós, foi como se fosse ontem que ouvimos as suas doces vozes pela última vez. O vazio que deixaram foi muito profundo e tornou todos os instantes das nossas vidas em momentos dolorosos prolongados.

- Saudade é o que mais sinto, como se tivéssemos largado as mãos, de forma súbita, e agora eu precisasse, de alguma forma, agarrar vocês de novo. Mães são pessoas únicas, capazes de proporcionar o maior amor que alguém pode ter - nenhuma lágrima descia do rosto de Lucas, mas elas estão forçando para descerem.

- Como queria que as lambanças pudessem diminuir a vontade que tenho de ter vocês de volta nas nossas vidas e talvez conseguisse seguir verdadeiramente a minha vida. A cinco anos uma dor insuportável se estendeu por todo o nosso corpo - Lucas abraçou os ombros de Yasmin que está em prantos.

- Espero que vocês estejam felizes no pós vida.

Os dois vieram para onde estavam sentados e todos presentes na igreja bateram palmas. Levantei-me e arrumei o meu vestido, dei um abraço forte em Yasmin que deixou as lágrimas caírem, molhando o meu ombro. Meus olhos viajam pelo rosto sereno de Lucas, até achar o pequeno brilho de tristeza.

- Vem aqui.

Ele hesitou por algum tempo e depois entrou no nosso abraço, suas lágrimas que antes estavam presas, agora estão escorrendo pelo meu ombro.

- Obrigado por estar aqui - ele sussurrou no meu ouvido.

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