5: Viagem ao pomar.

Desliguei o meu celular e o deixei de lado. Não aguento mais o Felipe me mandando um monte de mensagem perguntando para aonde vou amanhã e com quem vou. No relógio digital em cima da minha mesa de cabeceira, está marcando oito horas da noite e eu tenho que estar acordada às três da manhã, para conseguir me arrumar. É uma pena que não poderei usar os meus saltos. Lucas me disse que dormiremos lá de sábado para domingo, mas como sou uma pessoa exagerada coloque cinco conjuntos de roupa dentro da minha bolsa. Viro-me de lado e fecho os meus olhos, me deixando ser levada pelo sono.

Acordo com o meu despertador tocando, me arrasto para fora da cama e vou para o banheiro. Deixo a água gelada escorrer pelo meu corpo, me fazendo acabar de acordar. Assim que acabo o meu banho rejuvenescedor, seco o meu cabelo e coloco um short jeans, uma blusa de ombro a ombro branca e uma jaqueta jeans.

Elaboro uma maquiagem básica e calcei um Louboutin preto. Passei protetor solar em toda a minha pele exposta, coloquei o frasco na bolsa e desci para a cozinha. Olho para as belas frutas na fruteira e pego uma maçã verde, olho em direção ao relógio pendurado na parede, que está marcando quatro vinte. Lembro que o meu celular estava desligado e o Lucas ia me mandar mensagem quando chegasse. Sai correndo pela porta principal e eu vi um Audi R8 parado em frente de casa, Lucas saiu de dentro do carro com o semblante sério e abriu o porta-malas. O entreguei a minha bolsa e entrei no carro colocando o cinto de segurança e logo em seguida ele entrou.

- O Wi-Fi da sua casa caiu para você não estar recebendo mensagens?

- Não - me contendo em falar apenas um simples não.

Lucas respirou fundo e acelerou pelas ruas do condomínio, assim que entrou na avenida principal aumentou mais a velocidade fazendo o motor rugir. Coloco os meus fones, dando play na minha playlist. Encostei na janela e fui observando as belas passagens que as cidades tinham.

Sinto uma dor tomando conta do meu corpo e ao olhar para as mãos, minhas unhas estão perfurando a fina camada de pele do meu pulso. Lágrimas começam a escorrer pela minha bochecha e eu trato de as secarem antes que Lucas as veja. Paramos em um posto de gasolina e o loiro desceu e deu a volta no carro. Diferente de alguns postos, esse tem a bomba que o próprio cliente coloca a gasolina no carro. Arrumei o meu cabelo e olhei no espelho, conferindo se a minha maquiagem não está borrada. A porta do lado do motorista se abre e Lucas entra segurando uma sacola de papel.

- Comeu antes de sair de casa? - seu tom de voz é baixo e firme.

- Apenas uma maçã.

- Escolhe algumas coisas para você comer.

Ele me entregou a sacola e tirou a sua jaqueta de couro, a pendurou no banco e apertou um botão que abriu a capota. Lucas colocou os óculos escuro e voltou para a avenida. Os músculos do seu braço estão contraídos com a força que ele está apertando o volante.

- Acredito ter falado para não me encarar.

- Desculpe.

Dei uma mordida no sanduíche natural, me distraindo do homem ao meu lado.

- Como conhece essas fazendas? - ele abaixa a música para me escutar.

- O que disse?

- Como você ficou sabendo dessas fazendas?

- Tenho alguns amigos na região e nós entravamos nessa fazenda para comer frutas.

Olhei para a minha mão e mexi na minha aliança, a tirei e olhei para o nome de Felipe grafado na parte interna. Coloquei o anel na bolsa e dei mais uma mordida no sanduíche.

- Está tudo bem com você e o Felipe? - ele parecia interessado no assunto.

- Sim, - menti - só um pouco de ciúmes da parte dele.

Pego a aliança na bolsa e a coloco novamente no meu dedo, cobrindo a falha no bronzeamento do meu anelar. Olhei para Lucas, mas sem o encarar.

- Que horas são?

Ele virou o braço levemente, vendo as horas no seu Rolex.

- Seis e meia - ele balançou a sua cabeça, como se estivesse em uma guerra interna - Se quiser um óculos escuro, tem um, no porta-luvas.

Abri o pequeno compartimento e peguei um óculos escuro que se encontrava ali. Encostei a cabeça no banco, sentindo leves fisgadas no lado direito da minha cabeça, enquanto a minha unha voltava a perfurar mais a minha pele. Fecho os meus olhos na intenção de dormir, antes que eu comece a dar uma crise.

A lâmina escorrega pela minha pele, fazendo leves cortes superficiais. Um gosto amargo domina a minha garganta e logo vômito. O cheiro do sangue é intragável, a dor é reconfortante, as lágrimas queimam a minha pele e chão gelado é o meu refúgio.

Sei que não devia ser assim para eu resolver os meus problemas, mas a dor que uma pequena lâmina me causa, não está comparada à dor que eles me fazem sentir. Cada célula do meu corpo pedia por mais e mais dor, os cortes começavam a ficar mais profundos e a poça de sangue não parava de crescer.

O gosto amargo volta para a minha garganta, me fazendo vomitar novamente. A fechadura da porta roda, mas a pessoa não consegue entrar por a porta estar trancada. O corpo do outro lado da porta escorregou pela madeira áspera.

- Abelhinha - começa o meu irmão - Espero que você não esteja fazendo o que o cheiro me indica, mas se estiver, eu espero que saiba que estarei aqui do lado de fora para te ajudar a curar as feridas.

A lâmina entra fundo na minha pele, me arrancando um gemido agudo de dor. Do outro lado da madeira escuto o meu irmão chorando e os seus soluços abafados. Retiro a lâmina de dentro da minha carne, me odiando por fazer ele sofrer com a minha dor.

Acordo sentindo falta de ar, tanto para puxar o ar para dentro dos meus pulmões. Lucas parece não perceber que acordei, ele está com a cabeça apoiada na mão e seu braço está encostado na porta. Faço os exercícios de respiração na intenção de fazer que o meu coração se tranquilize, pela janela consigo ver o grande rio que corta o estado e uma placa indicando que estamos na avenida principal do estado.

- Estamos chegando? - ele leva um pequeno susto, mas logo recompõe a postura.

- Falta em média duas horas.

- A quanto tempo estamos na estrada? - me olho no espelho arrumando o meu cabelo.

- Sete horas, aproximadamente - ele parou de falar um instante - Devemos carregar lá para o meio-dia.

- Eu não estou cansado? - pensei melhor antes de falar - Deixa para lá.

- O que você ia falar?

- Se você não quer que eu dirija um pouco.

- Você não sabe o caminho! - sua voz está embargada.

- Você não precisa dormir - tento parecer confiante - Só vai se distrair um pouco da estrada.

- Ok. Estou mesmo precisando e acredito que você consegue dirigir por duas horas. - ele parou o carro no encostamento - Está com a sua carteira de motorista?

- Sim - trocamos de lugar e eu olhei para Lucas, esperando os seus comandos.

- No momento você vai só seguir reto.

Ele pegou a sacola de hoje mais cedo e retirou uma coxinha tamanho família. Liguei o carro e coloquei o cinto de segurança, acelerei entrando novamente para a avenida. Dirigir esse carro é melhor que dirigir qualquer carro do meu pai. Eu não sabia em que momento passei tanta confiança para Lucas, a ponto dele deixar eu pegar no seu carro. Eu namorava o Felipe a dois anos e ele nunca me deixo dirigir.

- Você confia em mim para dirigir o seu carro? - mantenho a minha concentração na estrada.

- Sim, só não me matando está ótimo.

O seu celular começou a tocar e ele pediu para eu atender através do volante.

- Oi, Victor - sua voz soa firme e autoritária.

- Senhor Calvin - uma voz grave e rouca soou pelos alto-falantes - Eu já conversei com os donos das fazendas, eles vão preparar o veneno às quatro e irão jogar às cinco e quarenta da manhã.

- Ok. Os quartos do hotel já estão reservados?

- O seu sim, mas preciso do CPF da senhorita Stones.

- Irem mandar por mensagem.

- Certo, precisa de mais algo senhor?

- Não, obrigado! - a ligação foi cortada logo em seguida - Qual é o seu CPF Isa?

- Quatrocentos e setenta um, quatrocentos e vinte nove, cento e dezesseis, cinquenta quatro - ele anotou no seu iPhone e o guardou no bolso.

- Vire a sua primeira direita devagar, porque é um trecho ruim.

Reduzo a velocidade de cento e quarenta para oito quilômetros por hora, viro na curva e a estrada é está em situação de calamidade, piso mais no freio fazendo o carro andar a quarenta quilômetros por hora. Desvio-me de alguns buracos e das podas d'água deixadas pelas irrigações das lavouras.

- Está tentando não sujar o meu carro ou não sujar a gente?

- Um pouco de cada.

Assim que o trecho ruim acabou, eu acelerei fazendo o motor rugir alto. Continuei dirigindo em frente por mais uma hora e meia, até chegarmos em uma fazenda com um enorme pomar de maçã. Os cheiros que as flores exalam e melhor do que o melhor perfume da butique Heir possuem, com certeza eles deveriam fazer um perfume com esse cheiro.

- Andará pela fazenda - ele olha com desprezo para os meus Louboutin - De salto?

- Poderia, mas não.

Abri o porta-malas e peguei a minha bolsa, tirei os meus tênis de corrida de dentro. Escorei-me no carro e troquei os meus saltos pelos tênis, passei protetor pela minha pele exposta novamente. Fechei o porta-malas e me deparei com o melhor colírio que os meus olhos poderiam receber, Lucas está sem camisa e seu corpo sarado está sendo banhado pela luz do sol, engulo em seco e tento desviar o meu olhar.

- Assim fica difícil não encarar você!

Lucas jogou a camisa em cima do ombro e veio andando lentamente até mim, me prendendo entre ele e o carro, em seus lábios um sorriso malicioso permanece.

- Talvez o Felipe devesse mesmo ter ciúmes.

Ele me deu um selinho no canto da minha boca e vestiu a blusa que estava no seu ombro, Lucas seguiu para um caminho de pedra que leva até uma casa a moda antiga. Fechei a capota do carro e o tranquei, saí correndo até alcançar o loiro que está com um sorriso divertido nos lábios.

Paramos em frente a uma grande casa e Lucas subiu as escadas, tocando a campainha ao lado da porta, não demorou para uma senhora de cabelos grisalhos aparecer na soleira da porta e abraçar Lucas.

- Lucas, quando tempo - ela o soltou e alisou o seu rosto - Pensei que você não vinha mais aqui para ver a gente.

- Eu nunca deixarei de ver vocês - ele se virou em minha direção - Essa é a minha colega do trabalho da faculdade que falei com você.

- Oi - a comprimento com um sorriso no rosto.

- Oi, me chamo Nora - a senhora me cumprimenta com um singelo sorriso.

- Onde está o Samuel? - Lucas atrai a atenção de Nora.

- Está lá atrás no pomar, vigiando os trabalhadores - ela revira os olhos e Lucas deixa escapar uma risada.

- Nós vamos lá, mas voltamos para comer a sua comida.

- Eu vou querer ajudar para fazer as tortas - a senhora dá um beijo na bochecha de Lucas - Melhor vocês irem.

Ele desceu as escadas e saiu andando para trás da casa, comecei a segui-lo, mas parei um pouco antes de chegar perto do Lucas e do senhor que ele está conversando. Liguei o meu celular e vi que tem duzentas mensagens e cem ligações perdidas do Felipe, disque o número dele na intenção de dar um basta nisso tudo.

- Onde você está Isa? - sua voz é firme e autoritária.

- No momento estou em um pomar de macieiras.

- Não tem pomar de maçã na cidade - a ligação ficou muda por um instante - Onde você está e com quem, Isabelle?

- Sim, Felipe. Estou com o Calvin.

- Para onde ele te levou?

- Eu realmente não sei. Não perguntei.

- Você não perguntou para onde ele estava te levando?

- Não.

- Seu pai sabe disse?

- Claro - menti.

- Isa vem aqui, o Samuel mostrará algumas coisas para nós - Lucas me encara com um olhar questionador.

- Tenho que ir, Felipe.

- Isabelle Stones, não desligue o celular.

Encerrei a ligação e fui para perto deles e cumprimentei Samuel, começamos o nosso tour de aprendizagem pelo pomar. Lucas pegou uma maçã vermelha e a me entregou.

- Pode comer, não usamos agrotóxicos aqui na fazenda.

Dei uma mordida na maçã e o seu gosto adocicado tomou conta da minha boca. Continuamos a andar entre as árvores, enquanto Samuel explicava passo a passo como fazia para manter as maçãs seguras das moscas e suculentas.

Lucas não parou de me entregar maçãs e quando percebi já estava com a minha jaqueta cheia de maçã. Andamos pelo pomar de maçãs vermelhas e começamos a andar no meio das verdes, Samuel continuou a compartilhar os seus conhecimentos. Quando Lucas ia me entregar uma maçã verde, Samuel se virou e o encarou.

- Lucas, para de encher a garota de maçã, assim ela não conseguirá almoçar.

Lucas veio até mim e tirou a minha jaqueta lentamente, roçando os seus dedos pelo meu braço, até tirá-la por completo do meu corpo. Ele transformou a minha jaqueta em uma espécie de bolsa de ombro e continuou colocando maçãs.

- Se vocês me derem licença, só vou falar algumas coisas com o caminhoneiro - ele seguiu para onde as maçãs são colocadas no caminhão.

- Me desculpe - Lucas colocou a minha jaqueta sobre as pétalas das flores das macieiras.

- Pelo o quê?

- Pelo o que farei agora.

Lucas me empurrou até as minhas costas estarem encostadas no tronco de uma macieira. Seu rosto está a centímetros do meu, me fazendo sentir o seu hálito quente, seus olhos assumiram uma tonalidade mais escura.

- Me impeça, para que as coisas não fiquem estranhas entre nós depois.

Juntei nossos lábios e Lucas passou a língua entre os meus, invadindo a minha boca, suas mãos escorregaram pelo meu corpo, até chegar na minha cintura. Solto um gemido quando ele dá uma leve mordida no meu lábio inferior, minhas mãos seguram firme em seus bíceps musculosos.

Ele encerrou o beijo me dando vários selinhos. Lucas encostou a testa na minha e nossas respirações estão aceleradas e descompassadas. Me dando mais um selinho, ele se afastou e pegou a jaqueta no chão.

Meu coração bate com força e um nó se forma na minha garganta. Escorrego pelo tronco até estar completamente sentada no chão, as feridas feitas pelas minhas unhas estão ardendo e me fazendo lembrar o porque elas estão ali.

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