Capítulo 70 - Uns Caem, Outros Ficam de Pé

Naja, tão alucinado em sua idolatria, só percebeu que estava cercado tarde demais. Três armas eram apontadas para ele e uma veio com o cabo duro em sua cabeça. Era muito forte para cair com aquela pancada, mas desestabilizou-se, ficou tonto e mais uma coronhada levou-o ao chão. Desta vez, viu quem fez. Caio Antonelli! Quando deu por si, Franco Antonelli e o bastardo carregavam-no para fora da casa, pra longe dela.


***

Caio ficou com Júlia. Tirou-lhe o vestido e afofou-o embaixo dela. O medo de sua filha cair no chão quando saísse da barriga da mãe era grande.

Ela gemeu alto e dolorido.

Ele ficou de cócoras a sua frente.

- Olha pra mim! – Comandou. – Estou aqui com você e não vou sair do seu lado de jeito nenhum!

- Mas... Ele vai voltar!

- Meu pai não vai deixar.

Ela balançou a cabeça em desespero.

- Ele sempre volta!!!

A contração tomou-a. Gritou.

- Segura em mim e faz força, Júlia! – Falou duro e autoritário. – Ela tá vindo!... Força!!!


***

Franco empurrou Naja pra frente com tanta força que o bandido caiu de cara no chão de terra. Ele tentou se levantar, mas Franco não deixou. Meteu o pé em suas costas com violência e ele voltou ao chão.

- Onde está a prova?! – Franco esbravejou.

- Ah!... Então é isso! Quer levar Salomão Savoia à cadeia por causa da namoradinha do seu filho?

Naja levantou a cabeça só pra ver Camilo, um pouco mais afastado, com ele na mira.

- Não vou te entregar o único trunfo que tenho para me manter vivo aqui!

Franco chutou sua cara, o que o fez virar o corpo e bater as costas no chão.

- Filho da Puta!!! Cadê a prova?!!!

Naja tossiu e expeliu sangue.

- Por isso a polícia não chegou, não é? Querem a prova e depois a minha vida!

- Pai! Deixa que eu cuido desse verme! Você vai acabar matando-o antes dele falar qualquer coisa!

Franco se afastou pra Camilo assumir.

- Levanta, miserável! – Camilo gritou.

E Naja levantou. Porém, tudo aconteceu num piscar de olhos.

Camilo aproximou-se demais do crápula. Assim que Naja ficou de pé, trouxe terra na mão e jogou-a nos olhos do rapaz, pousou a mão no gatilho em cima dos dedos de Camilo e atirou em Franco que atirou de volta.

O fazendeiro caiu pra trás com um tiro na barriga. Já Naja desequilibrou-se pro lado com o tiro que levou no ombro. A arma acabou caindo no chão. Mesmo com a vista embaçada, Camilo chutou-a para o meio do mato e os dois caíram na porrada.

Naja era simplesmente um animal selvagem e feroz. Por mais que Camilo fosse casca grossa, começou a perder o embate para o assassino. E quando já estava sendo massacrado, com alguns ossos quebrados e o sangue que vinha da testa nublando a visão, a cobra pegou-o pela gola da blusa e preparou-se para dar o golpe final.

- Dá adeus à vida, bastardo!

Camilo, em seu delírio de dor, viu Henrique com a arma em riste e não teve certeza para quem estava virada. Podia jurar que ele ia matar os dois que fizeram mal às suas duas meninas.


***

A bebezinha começou a sair da mãe em meio aos disparos que aconteciam lá fora e que se misturavam aos gritos e à pressão que Júlia fazia para trazê-la ao mundo.

Caio rezou para que as balas disparadas fossem a favor dos Antonelli. Não podia sair dali naquele momento. Sua filha já despontava com a cabeça e, de repente, todo o corpinho dela saiu em seus braços.

Ele passou a menina para os braços da mãe, pegou uma adaga que estava caída no chão e, com ela, cortou o cordão umbilical da pequena Doralice. Tirou a própria blusa, pegou a bebê, limpou-a e embalou-a. Depois, devolveu-a para Júlia.

A criança deu sinal de vida e começou a chorar.

Olharam-se...

As testas se encostaram.

Choraram e riram juntos.

Beijou-as.

E mais um disparo aconteceu.


***

Henrique acertou Naja bem na cabeça para não restar dúvidas de que havia aniquilado a face do mal de uma vez por todas. O bandido largou Camilo, que caiu de lado. Os olhos de Naja vidraram no nada e ele tombou pra trás.

Foi esta cena que Franco viu antes de fechar os olhos.


***

Em sua suntuosa sala, Salomão Savoia olhava sua coleção de adagas num lindo armário de madeira de lei e lamentava que o único espaço vazio ali fosse justamente o da adaga medieval que continha suas iniciais.


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