Capítulo 54 - A Pior Notícia de Todas
Suzi sentou-se no sofá do escritório e passou os olhos pela imponente estante com tantos títulos diferentes e a aura do encanto de mundos maravilhosos. Ali estava o melhor remédio para acabar com as preocupações; pelo menos por algum tempo, já que voltar à realidade era inevitável.
Franco entrou no escritório atrás do seu Dalmore 18¹ anos. Deu uma leve pausa no trajeto quando a percebeu no sofá. Foi um olhar rápido, porém demorado o suficiente para notar que o vestido escorregou no ombro, deixando-o de fora.
Suzi!... Suzi!...
Franco foi até o bar, pegou a garrafa e dois copos. Conhecia-a muito bem. Sabia que Suzi passou a festa inteira cravando o olhar nele. Não precisou devolver a atenção para senti-la.
A mágoa pelo sumiço dela durante um ano levou-o a retribuir o interesse que Adriana Soares vinha demonstrando há algum tempo. A vizinha se insinuara várias vezes, mas ele manteve distância até que soube da vinda de Suzi para o casamento.
Queria muito provar que ela era passado e estava conseguindo. Tudo por achar ter sido posto de lado. Por dentro, era um animal ferido por seu silêncio. Um silêncio direcionado apenas a ele.
Antes que Franco saísse, Caio entrou seguido de Henrique.
- Achei que era só com Caio e comigo que você queria falar. – Disse Henrique, olhando o pai.
Suzi não pensou em inserir Franco na conversa. O clima entre eles estava pesado demais. Qualquer um dos meninos poderia falar com o pai depois.
- O que está acontecendo? – Franco perguntou com a testa franzida.
Os três inquiriram Suzi com o olhar.
Caio sentou na poltrona a sua frente, Henrique foi para o beiral da janela e Franco, dessa vez, não ia ignorá-la, sentou-se ao seu lado no sofá.
- Eu vou ser rápida, Caio. Não quero que Júlia nos pegue conversando. – Ela estava visivelmente alterada. – Naja fugiu da prisão.
Caio deu um pulo de onde estava.
Lembrou da noite em que conheceu o assassino de Gael.
Franco percebeu que o assunto era sério.
- Quem é Naja?
- É o assassino do primeiro namorado da Júlia. – Caio murmurou.
- O cara que matou por causa do violão? – Henrique ainda se lembrava de Ellen contando aquela triste história.
- Sim. – Suzi prosseguiu. – Na época em que Naja foi preso, Júlia fez o reconhecimento, mas, não sei como, ele tomou conhecimento de quem ela era. O próprio advogado dele nos contactou e disse para tomarmos cuidado pois ele estava obcecado por Júlia. Bem, eu e Ellen não fizemos muita coisa além de nos mudarmos. Ele já estava preso mesmo e, um tempo depois, Júlia acabou indo para Portugal. Achei que a história da fixação de Naja por ela havia morrido... Não foi o caso. Eu comecei a monitorar esse canalha assim que Júlia voltou a Portugal depois do casamento de Ellen. Ela me disse que deu de cara com ele numa manifestação aqui no Brasil e, inclusive, me contou que você, Caio, estava com ela e que Naja te ameaçou.
- O quê?!!! – Franco se levantou. – Você foi ameaçado por um assassino?!!!
- Calma, pai! Eu vi nos jornais, uns dias depois da manifestação, que esse Naja havia sido preso novamente. Júlia já estava voltando para Portugal, então achei que não haveria mais problema.
Suzi odiou ter que ser portadora daquela notícia num dia tão especial para Caio.
- Acontece que tenho um amigo na procuradoria. Assim que ele soube que eu estava no Brasil, me ligou... Justamente, quando eu saía do hotel para vir ao casamento. Por isso, me atrasei. Tem pouco mais de um mês que Naja fugiu da prisão.
- Você acha que ele vem atrás da Júlia? – Caio começou a ficar apreensivo.
- Não sei, Caio. Mas acho que todo cuidado é pouco. Não só com Júlia, mas com você, com Dani, com todo mundo que seja do convívio dela.
- Inclusive você. – Franco completou.
Dessa vez, se encararam.
- Meu pai tem razão. Você vai ficar até quando no Brasil? – Caio perguntou.
- Não... Não vou mais voltar para Portugal. – Ela falou baixo.
Resposta certa para um Franco enjaulado.
- Você vai ficar aqui na fazenda até resolvermos esta situação. – Franco foi taxativo.
- Eu não...
- Tia Suzi, se todo mundo estiver aqui em Santa Helena, fica mais fácil proteger até pegarem esse cara. – Henrique se meteu.
- E se nunca pegarem ele?
- Então você fica na fazenda pra sempre! – Rebateu Franco, bem irritado.
- Minhas coisas...
- Suas coisas vêm pra cá e assunto encerrado! Caio, passa a noite de núpcias aqui na fazenda. É mais seguro. Amanhã, eu e seu irmão vamos levar vocês para o aeroporto e estaremos lá também quando vocês voltarem. Aproveito e pego a bagagem de Suzi. E é melhor que Júlia saiba o que está acontecendo.
- Pai, eu vou contar..., mas prefiro que seja depois da lua-de-mel. – Caio pediu. – Deixa ela ficar tranquila esses dias.
- Tudo bem! Vai curtir um pouco mais a sua festa e inventa uma desculpa pra não passar a noite no hotel do Rio. Vou aumentar a segurança da fazenda e, principalmente, do meu neto. Também vou arrumar uma foto desse Naja. Todo mundo em Santa Helena vai ter ciência do perigo que ele representa. Henrique, vai pensando no que você vai fazer com Doralice, porque aquela ali não vai querer ficar aqui na fazenda de jeito nenhum.
Como ele ia fazer isso, se Dora não estava nem olhando pra sua cara?!
- Mas eu também... – Suzi começou.
Franco cortou sem dó.
- Vão pra festa, meus filhos. Eu vou ter uma palavrinha com tia Suzi.
Suzi engoliu em seco.
Caio e Henrique se entreolharam, mas saíram.
E aí o negócio esquentou. Ele a puxou do sofá e ficaram cara a cara.
- Eu tenho compromissos no Rio! – Ela afrontou-o.
Tudo dito com raiva.
- Mentirosa!
- Intrometido!
- Orgulhosa!
- Mandão!
- Metida!
- Grosseiro!
- Egoísta!
- Antipático!
Ele deu um passo à frente.
Ela deu um passo atrás.
Ele chegou bem perto, abaixou a cabeça e cheirou seu pescoço do lado do ombro despido.
Tudo dito em sussurro.
- Irresistível.
- Sedutor.
Ele beijou o pescoço dela e arrastou os beijos até o queixo.
Ela gemeu entregue.
Ele aproveitou-se dessa entrega e encostou-se nela.
Tudo dito com posse.
- Minha.
- Meu.
As bocas quase se encontraram.
- Franco! – A voz da vizinha encheu o espaço.
Eles se afastaram constrangidos.
- Estou atrapalhando alguma coisa?
- Não, Adriana... – Franco respondeu sem tirar os olhos de Suzi.
Ela aproveitou a presença da mulher.
- Vou voltar pra festa...
Passou na pressa por Franco.
Passou na pressa pela outra.
Ele que se explicasse sozinho!
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¹O Dalmore 18 é um uísque maturado em barricas de carvalho americano por 14 anos e transferido para passar três anos em barricas de Jerez Matusalém. Ele é então finalizado por mais um ano em barricas de carvalho europeu de ex-jerez e engarrafado a 43% de graduação alcoólica.
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Suzi acabando com a pouca paciência de Franco
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