CAPÍTULO UM

Pesadelos Maternos

       Enfim, o tão esperado dia das mães havia chegado. Naquela manhã fria, Jill acordou assustada, os ecos de seus pesadelos ainda reverberavam na mente. O silêncio opressivo da casa a envolveu enquanto se sentava na cama, lutando contra o pânico crescente. O relógio digital piscava zombeteiramente em vermelho, contando o tempo perdido em sonhos perturbadores.

Levantou-se lentamente, sentindo os lençóis frios grudados na pele suada. O ar parecia espesso e pesado, carregado com o peso de medos mais profundos. Jill hesitou por um momento, um pressentimento enraizado na mente, antes de colocar os pés descalços no chão frio de madeira.

A pálida luz da manhã entrava pelas janelas, lançando padrões fantasmagóricos no corredor escuro. Cada sombra parecia viva, dançando e contorcendo-se em resposta aos passos cautelosos.

Enquanto caminhava até a cozinha para preparar o café, espiou o quarto de Michael. Ao chegar à porta fechada, parou, o coração batendo descontroladamente no peito. Um pressentimento frio apertou sua garganta, enquanto se preparava para enfrentar o desconhecido. Michael ainda dormia profundamente, alheio à agonia da mãe. Sorriu ao vê-lo, massageando suavemente o peito. Fechou a porta e seguiu para a cozinha.

Mãos trêmulas serviam o café, enquanto as memórias repetiam-se incessantemente. O sonho da noite anterior a levou de volta ao lar da infância, chamando a mãe por quartos vazios. Mas nenhuma resposta, apenas uma sensação esmagadora de total solidão.

Bebendo café na sala de estar, Jill olhou para uma foto antiga dela com a mãe, ambas sorridentes. No entanto, a realidade era muito mais sombria. Sua mãe, sempre controladora e abusiva, transformou sua infância em um pesadelo com seu comportamento tóxico. Embora tivesse falecido há muitos anos, as lembranças dolorosas continuavam a assombrá-la, deixando cicatrizes que o tempo não conseguia apagar. O rosto distorcido e zombeteiro de sua mãe permaneceu na mente, relembrando cada humilhação e crueldade que sofreu. Cada palavra afiada ecoava, alimentando a angústia e a dor carregada desde então.

Com um suspiro pesado, desviou o olhar, sentindo o peso opressivo da história sobre os ombros. Sacudiu a cabeça levemente, tentando apagar as imagens que a assombravam, especialmente diante dos estranhos acontecimentos em casa. A sensação de terror era mais tangível do que nunca.

Foi então que ouviu um som vindo do corredor. A princípio, pensou ser Michael se levantando para tomar café, mas logo percebeu que o barulho vinha do antigo quarto de sua mãe. Congelada de medo, aproximou-se lentamente da porta fechada, pressionando o ouvido contra a madeira. Ruídos de movimento vinham de dentro. Com a mão fremida, girou a maçaneta e abriu a porta devagar, prendendo a respiração e sentindo um medo incompreensível.

— Devo estar enlouquecendo... — pensou.

Foi então que notou, pelo canto do olho, um movimento no corredor. Virou-se lentamente. Era Michael, mas ele já não era o mesmo. Envolto em sombras, seus olhos antes brilhantes estavam agora escuros e sem vida, refletindo uma escuridão que o consumia por dentro. Suas bochechas pálidas, marcadas por círculos escuros, pareciam a marca de um pesadelo sem fim. Ele sorriu-lhe, mas seus lábios rachados e ensanguentados expressavam mais sofrimento do que alegria.

Instantaneamente, o terror invadiu a mente de Jill, transportando-a de volta àquele fatídico dia das mães, cinco anos atrás. Viu-se dirigindo com o filho ao lado, enquanto o sol brilhava no alto. A alegria deles foi interrompida por um pneu estourado e gritos agudos quando o carro rolou violentamente. Os sons metálicos e os gritos de dor ecoavam na mente, enchendo-a de angústia e desespero. Viu o rosto do filho girando na cadeirinha, os olhos arregalados de terror enquanto o mundo girava ao seu redor. Então, tudo ficou escuro, interrompido apenas pelo silêncio ensurdecedor após o impacto.

Voltando ao presente, o coração batia forte no peito, o corpo tenso e trêmulo com a lembrança do terrível acidente. Olhou para a figura distorcida de Michael diante dos olhos — a mente lutando para aceitar a realidade do que via. Era como se a morte tivesse deixado sua marca indelével no menino, transformando-o na sombra medonha da criança que ela conhecia.

— Mike... — disse num sussurro oscilante, carregado de uma mistura de dor e terror.

— Mamãe, estou com tanto frio... — a voz do menino era apenas um sussurro fragilizado, carregado de uma melancolia arrepiante.

O corpo de Jill endureceu com as palavras do filho, a mente lutando para entender o que estava acontecendo. Mas, mesmo enquanto tentava convencer-se de que aquilo era apenas um sonho horrível, a presença da criança diante dela era muito real, muito tangível.

— Venha aqui, querido, a mamãe vai te aquecer. — sussurrou com urgência, a vontade de proteger o filho superando o medo crescente.

— É dia das mães e vou fazer um lindo cartão para a senhora, mamãe. A senhora gosta dos meus cartões? — disse com voz rouca, estendendo a pequena mão deteriorada em sua direção.

Os dedos miúdos estavam pálidos e descarnados, como garras frias de um cadáver ressuscitado. Uma enorme ferida podre marcava seu pescoço, uma cicatriz grotesca que parecia cortar até os ossos. O cheiro de decomposição pairava no ar, sufocando-a com uma mistura nauseante de horror e desespero.

— Meu precioso menino... meu presente perfeito... — balbuciou em meio a soluços abafados.

O lamento ecoou nas paredes ocas, quebrando-se em suspiros e risadas tristes que coagularam o ar com uma insanidade de partir o coração. Os braços se fecharam em uma camisa de força de tristeza, os olhos brilhando com um vazio assombrado que expunha as trincheiras escavadas em sua psique devastada.

Foi deslizando o corpo até o piso gelado, como se estivesse sendo arrastada para as profundezas de sua própria mente torturada. Cada pulsação dentro de seu crânio batia como um canto fúnebre contundente, a cacofonia dissonante, ecoando em sua mente até que ela não pudesse mais suportar. E então, em um suspiro final de exaustão e desesperança, ela afundou na escuridão da inconsciência, deixando para trás um rastro de desespero e terror no mundo ao seu redor.

E num instante, tudo era só escuridão...

(Total de palavras: 1009)

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