Um Deserto Estranho [2/2]

Uma areia deslizando pela pele e sendo arrastada for um forte vento que traz mais areia não é uma sensação que Vinícius esperava encontrar no pós-morte, mas ele também não esperava uma mão aberta batendo na sua bochecha esquerda acordando-o definitivamente de seu suposto descanso eterno após ser sugado violentamente por um Buraco de Minhoca. Abrindo os olhos, Vinícius vê seu tio com o cabelo Black Power sujo de areia assim como seu jaleco que também estava rasgado e atrás dele estava um céu roxo.

— Vini, acorda, Vini!

— A gente morreu?

— Definitivamente, não. Mas se quer tirar a dúvida... — Lúcio dá uma beliscada na bochecha direita de Vinícius.

— Ai!

— E então?

— É, tô vivo.

Vinícius se levanta com apoio no ombro do seu tio, o jovem estava com o traje amarelo de segurança destruído só restando a parte do braço direito e a máscara com viseira rachada. Ao ver o chão que pisava, ele via o que restava da plataforma e de outras máquinas, algumas estavam amontoadas e montadas uma nas outras no seu pé.

— Você sabe onde a gente ‘tá?

— Um Deserto com um céu roxo, com certeza.

Lúcio e seu sobrinho se olham, Vinícius esperava mais informações e encara seu tio, já Lúcio estava não olhando para seu querido sobrinho e sim para o horizonte onde estava subindo uma poeira estranha. Apertando mais sua visão, conseguindo ver silhuetas humanoides robustas retangulares, com chapéus e olhos esmeralda que se destacavam na poeira. Antes mesmo de conseguir avisar Vinícius, o cientista sente seu braço queimar e um som agudo é emitido da poeira levantada por aquelas figuras estranhas. Aquilo era um bando de dezenas de robôs, com placas de metais enferrujados cobrindo seus corpos humanoides que variavam de corpos parrudos e corpos magros, sua cabeça tinha os olhos verdes chamativos e uma máscara de gás que já fazia parte de sua face de metal sombreada por um chapéu, em suas mãos tinham pistolas feitas de metais remendados uns nos outros.

Mas, já não bastando, o que mais assustava Lúcio, além de androides pistoleiros aterrorizantes, tinha também um ser semelhante á um peixe gigante com presas de 4 metros que faziam sombra sob as figuras robóticas, essa criatura estava atravessando as dunas de areia como se fosse água. A monstruosidade chegava a 2 metros atrás do grupo e abocanha um terço destes.

— Então, além de ser um deserto com céu roxo, tem um peixe medonho abocanhando um exército robô bem atrás de você — diz Lúcio, calmo contrastando com sua feição de confusão perante uma visão distante da normalidade.

— Para, tio — Vinícius olha para trás e vê o peixe entrando de volta na areia deixando apenas sua barbatana saltar para fora enquanto o resto dos robôs se atropelam e atrasam uns aos outros, o jovem olha de volta para o tio ainda se apoiando nele. — Como a gente veio parar nisso, tio? — grita Vinícius desesperado.

— Bom, provavelmente, a “Plataforma-de-Metal-que-Atravessa-Buracos-de-Minhoca” abriu um buraco de minhoca que era instável, ou estável, o bastante para nos transportar para um lugar destoante do nosso, pelo menos em habitantes desse lugar. É bem estranho pensar que a gente entrou e sobreviveu a um Buraco de Minhoca instável, nada sobrevive nem o próprio Espaço-Tempo, como meros humanos sobreviveriam isso? Então, quer dizer que a gente não só conseguiu alcançar um novo nível de estabilidade, mas também conseguimos confirmar que-

— Tá, eu ‘tô achando legal você animado pelo seu brinquedo, mas tem um peixe endemoniado vindo na nossa direção, acho bom você tido feito a nossa fuga enquanto eu dava uma soneca.

— Tanto antes quanto agora mesmo estou fazendo nossa escapatória daqui, é por isso que estava te acordando, você está em cima de uma parte crucial do plano, licença. — Lúcio fala se abaixando fazendo Vinícius perder o equilíbrio e cair para trás batendo a cabeça em algo metálico. — A única coisa que nós falta é o mínimo de energia, por sorte nós temos nossos celulares e essas outras 5 baterias que foi o que restou do resto dos meus “brinquedos”.

Vinícius olha para o que ele bateu com a cabeça e percebe que era uma espécie de plataforma de metais amontoados uns nos outros e ligados. Alguns metais não eram do mesmo material e muitos eram enferrujados. Lúcio estava com suas ferramentas, provavelmente vieram junto ou o cientista é louco o suficiente para levar ferramentas no bolso.

Enfim, o cientista estava levantando o que restou do painel que estava cheio de areia. O cientista conecta o painel com a réplica da plataforma com os fios de cobre restantes, depois ele desmonta o seu smartphone e tira a bateria a conectando com outras fontes de energia, incluindo a bateria do celular do seu sobrinho, posicionando paralelamente.

Os robôs estavam perto dos dois, reproduzindo sons vibrantes e distorcidos enquanto atiravam nas partes expostas do monstro que os perseguia. Vinícius percebeu que um deles vinha pra cima deles e iria passar por cima dele e do seu tio, mas ele não iria deixar que aquilo destruísse o plano de fuga do seu tio.

— Adianta aí, tio!

— Só mais alguns segundos!

Vinícius, com seus 16 anos, usa as forças das suas pernas para um pulo que o deixa na diagonal do robô dando-o uma voadora com o pé direito, fazendo o robô perder o equilíbrio e cair para trás, rolando a baixo da duna. Os que estavam atrás tropeçam no que caiu e perdem a velocidade, assim o peixe monstruoso surge da areia e pula contra o grupo de robôs para engolir eles. Mas, Lúcio consegue acionar a máquina, deixando a gravidade invertida, a areia no chão começava a girar no sentido horário surgindo um furacão de areia, e as peças dos robôs começam a desmontar junto com o peixe que começava a grunhir pelas areias estarem o ferindo por causa da agressividade dos ventos produzidos pela fenda que criava uma ferida na realidade se assemelhando a um túnel sem fim, assim, tudo para, Lúcio e Vinícius sentem seus corpos serem sugados junto com o peixe que tentava os abocanhar, mas uma das peças de aço que estavam se desmontando o perfura o deixando para trás sumindo na escuridão do Espaço Tempo.

Voltando ao laboratório, os dois humanos surgem da fenda como se fossem distorções, com peças dos robôs e porções de areia chegando junto com eles. Lúcio e Vinícius chegam atordoados e com ânsia de vômito, mas o cientista se levanta rápido e vê a fenda entrando em si mesma e desaparecendo.

— Será que gravou?

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