Um Deserto Estranho [1/2]
Era mais um dia comum na Casa-Laboratório do brilhante cientista Lúcio Torres e seu sobrinho Vinícius Torres.
O cientista estava no laboratório que se localiza abaixo da sua casa, enquanto o menino cozinhava ovos que tinha comprado na feira da sua cidade. Por já estar de férias de sua escola, o garoto estava tranquilo com o dever de ser o responsável da casa enquanto seu tio se concentra nas suas experiências com Buracos de Minhocas, Espaço Tempo, Exoplanetas e entre outros termos que Vini não teve paciência de decorar.
Vinícius rachava a lateral dos ovos das galinhas na borda da panela que já fervia com a manteiga, a clara dos dois ovos é derramada no meio e com uma colher, o garoto começa a mexer os ovos da panela.
No laboratório, Lúcio estava no meio de diversas ferramentas normais e específicas para seus projetos, além de algumas peças robóticas espalhadas e ocupando toda a sala. Mas, esses apetrechos estavam um em cima do outro para não atrapalhar o trabalho atual de Lúcio: uma plataforma que abre um buraco de minhoca estável.
Essa máquina tem uma base circular de aço branco com alguns fios de cobre soltos entre suas placas metálicas, além disso tinha um fio grosso o conectando com uma pequena coluna, de um metro e quarenta centímetros, em formato de um paralelepípedo metálico com um painel com botões faltando e a placa mãe exposta. Ao redor da plataforma principal tinha três placas de metal curvadas para o seu centro, onde estava Lúcio que conectava os fios de cobre de forma sistemática para funcionar do jeito que deveria. E mais para o canto da plataforma estava um copo americano com suco de uva, claramente não deveria estar ali.
Lúcio é um homem negro com o cabelo Black Power amarrado em um coque, olhos castanhos claros e um corpo magro. Ele vestia um jaleco sujo, provavelmente não costumava limpar tanto quanto deveria.
Vinícius já acabava de fazer os ovos mexidos e coloca nos 2 pães que já estavam cortados e que também estão em pires, então o garoto desce as escadas da casa levando os dois pires com cada mão. Ao chegar no fim das escadas ele se direciona a garagem na sua direita, essa área estava lotada de caixas de papelão, ele entra em uma parede do fundo. Lúcio, que já estava no laboratório, sente uma pequena corrente de ar entrando na sala.
— Tio, os pães com ovos 'tão pronto vai fazer uma pausinha na máquina-nome-difícil-que-abre-portais? — pergunta Vinícius que tinha pele negra retinta, cabelo moscarré com os lados raspados em degradê, vestia uma camisa do santos com o nome do seu músico favorito “Charlie Brown Júnior” e uma bermuda cargo preta.
— Valeu, sobrinho querido, pode vir aqui e pode deixar perto de mim? — fala Lúcio no meio dos maquinários amontoados.
— Folgado, como eu vou atravessar esse labirinto de lata velha?
— É só pegar essa reta, depois a esquerda, direita, segue a direita, depois, com cuidado, atravessa o Foguete Exo ECP-27Y, depois só segue reto.
— Obrigado — ironiza Vinícius, que não entendeu a orientação de forma concreta.
— De nada — diz Lúcio, não identificando a ironia do seu sobrinho.
Vinícius tentava se orientar pelas instruções do seu tio, até que ele vê um cilindro de metal medindo 65 metros de altura e 20 de circunferência com uma plataforma que agora estava toda quebrada, seus fios de cobre estavam expostos e soltos com “ECP-27Y” escrito na sua casca com uma tinta verde e em letras geométricas. Ele consegue passar por aquele projeto de foguete que foi feito pelo seu tio, mas aquilo ali, segundo Lúcio, era apenas um protótipo em miniatura do real foguete ECP-27Y. Segundo o que Vinícius ouviu sobre esse projeto, o foguete era feito para atravessar buracos de minhoca com uma tecnologia que possibilitava passar neles sem ser obstruído. A ideia foi financiada e o foguete, que no projeto final virou uma nave, foi construído mas não foi bem sucedido. Esse final foi pouco detalhado nos relatórios que Vinícius teve acesso.
— Ei, por que você ainda guarda essas velharias? — perguntava Vinícius enquanto estendia um dos pires para Lúcio.
— Alguns são protótipos que não terminei, outros são projetos que foram bem sucedidos, eu guardo isso tudo para ter memórias de meus trabalhos. — Lúcio parava de conectar fios de cobre com outros e iria até seu sobrinho com uma aparência suja fruto de seu empenho com o projeto atual. — Obrigado. — pegava o pires com a mão direita e com a esquerda movia o pão com ovo mexido para a boca, o cientista se senta na plataforma ao lado do seu copo com suco de uva — mas ‘cê acredita que tem alguns projetos que eu me esqueço que eu fiz?
— Tipo quais? — fala Vinícius mordendo seu pão com ovo mexido no meio.
— O próprio foguete, não lembro de quase nada, só que não deu muito certo no final.
— Que estranho. Mas, qual é a dessa nova invenção?
— Pra alguém que odeia ciências você tá bem curioso com o que seu lindo tio faz, não é?
— Isso se chama tédio, na verdade.
— Você pode chamar do que quiser, mas eu chamo isso de “Conhecimento-Sendo-Adquirido”. Enfim, essa plataforma aqui condensa todos meus experimentos com Buracos de Minhocas e Mundos Paralelos numa única invenção só. — o cientista levanta animado. — O que poderia ser impossível agora poder ser além de possível, pode ser real! Apresento para você: “Plataforma-de-Metal-que-Atravessa-Buracos-de-Minhoca”.
— Tio, acho que é melhor você ficar só com os nomes que tem letras aleatórias e números mais randômicos ainda.
— Pra um jovem você é bem sem graça, você ainda vai gostar desse nome. Bom, quer ver o primeiro teste?
— Mesmo com essa apresentação estúpida, sim, eu vou — Vinícius aceita aquele convite para mais uma das bizarrices do seu Tio Lúcio, o que um jovem entediado não faria para ter algo para fazer?
• • •
— Teste da... “Plataforma-de-Metal-que-Atravessa-Buracos-de-Minhoca” iniciado, gravação um, hoje é quatro de janeiro de 2026. — Vinícius fala de frente para uma câmera colocada em um tripé e em um ângulo que mostra a plataforma e eles dois. Ambos estavam com trajes amarelo que protege de radiação. O jovem se distância da câmera e se coloca ao lado de Lúcio.
— Foi tão difícil falar o nome?
— É ridí-
— Esse projeto — fala Lúcio atrapalhando a fala do seu sobrinho colocando a máscara do traje do jovem, assim abafando seus comentários sobre sua nova invenção. — se baseia nas minhas anotações e de alguns cientistas, Os Irmãos Crawls e Darlan Leal, sobre a estabilidade e instabilidade dos Buracos de Minhoca. Em teoria, os Buracos de Minhoca funcionam como ponte para dois pontos distantes no espaço-tempo, na qual seu percurso faz essa distância encurtar, porém todos nossos experimentos envolvendo esses eventos mostram que essas “pontes” são instáveis, fazendo com que qualquer ser, e até mesmo o próprio Espaço-tempo, seja obliterado — Vinícius olha preocupado para Lúcio após ouvir sua explicação e repensando se deveria estar ali mesmo. — Mas, por causa de meus estudos, eu consegui obter uma máquina na qual um buraco de minhoca será aberto e estabilizado. — Lúcio após falar por muito tempo recupera seu ar, e abre um sorriso para a câmera e depois vira a cara para seu sobrinho, que agora estava com a cara fechada.
Lúcio, agora totalmente trajado com aquela roupa de segurança, vai com seu sobrinho na frente do painel com o sistema coberto.O cientista tenta falar com a câmera de como aquela máquina funcionava, mas ao ligar seu novo projeto o motor começa a fazer barulho.
Vinícius não entendia o porquê do seu tio está usando alguns aparatos tão simples, e o porquê dele está numa cidade tão afastada das grandes metrópoles, esse cientista, mesmo aparentando ser alguém muito atrapalhado, é respeitado no meio científico e já ganhou prêmios famosos por suas invenções. Por quê viver desse jeito simples? Por quê não trocar esse maldito motor que só faz barulho? Por quê dele abrigar o filho de uma irmã que ele mal via? Vinícius não sabia a resposta, pensar na sua mãe e na sua atual situação o deixava triste e deslocado do mundo. Mas, enquanto ele se distraia no meio dos seus pensamentos, Lúcio estava na frente dele o dando tapas na cara e gritando com ele com a máscara abafando sua voz.
Então, o jovem vê que o desespero do seu tio tinha motivo, os seus projetos, protótipos, folhas, camisas e sapatos estavam flutuando e girando no sentido horário de forma agressiva batendo uns com os outros produzindo sons que incomodava qualquer um. No meio da plataforma estava uma espécie de fenda escura que fazia o espaço se dobrar no seu contorno parecendo com que o espaço estava entrando em um túnel escuro sem saída.
— Vinícius, o motor! Desliga! — Lúcio urrava desesperado com as mãos no ombro do jovem enquanto papéis batiam no seu corpo.
Vinícius retomava a consciência e iria correndo em direção ao moto enferrujado que gerava a energia para aquele experimento. Mas, de repente, aquilo que estava girando de um jeito caótico para no ar, Lúcio e Vinícius que ainda estavam no chão começam a flutuar. Vinícius estava perto daquela máquina metálica enferrujada, mas não consegue desligar, e só sente seu corpo e sua consciência serem puxados com toda força em direção a fenda.
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