CAPÍTULO 51

    Olho para as minhas malas feitas e sinto o meu coração pesar tristemente. O dia tinha sido cheio e caótico em parte, ajudei a Melanie em sua mudança e com a ajuda da Alicia ajudamos a Mel a organizar o quarto. 

Às 09:00 horas da manhã a notícia de que Jade Ford estava presa, tomou conta de toda a mídia. Precisei me sentar ao saber que ela havia matado a prima e ao ver a foto da Amélia Ford, uma pesarosa tristeza apertou o meu peito. Havia uma semelhança em nós e a única coisa que mudava era a cor dos seus olhos, um castanho que lembravam duas gotas de chocolates. 

A tristeza sufocou-me e ali sentada na poltrona da sala, chorei. Não a conhecia, mas pareciamos tanto que era como se ela fosse uma irmã gêmea minha. Nunca senti um sentimento doído assim por outra pessoa que não é da minha família, sentimento esse que só senti na morte da minha vózinha e quando papai foi hospitalizado. 

Respiro fundo, ainda lembrando de cada detalhe da foto. 

A serena pele clara se realçava com o leve vestido preto, o sorriso estampado mostrava a felicidade capturada pela câmera e que não fazia mais parte do mundo real. 

O celular toca no bolso da calça jeans escura, me despertando da névoa dos meus pensamentos e sendo um número desconhecido, recuso. Hoje seria a minha última noite na casa noturna, pois na manhã seguinte voltaria para os braços dos meus pais. Meus olhos pousam sobre a carta que é para o Dominic, e tenho a certeza que é o certo a ser feito, precisava tentar. 

 Mesmo que as chances dele responder a minha carta fosse mínimas, eu entenderia perfeitamente a escolha tomada. Eu machuquei os sentimentos dele e também tive a culpa do fim do nosso relacionamento. 

Solto um riso contido de frustração. 

Saio do quarto, escuto as vozes das meninas vindo da sala. Ao me aproximar delas vejo-as rindo de alguma cena da série friends, parada no último degrau observei a cena com atenção. Ambas compartilhando a pipoca e sentadas no sofá. 

Inspirei fundo. 

Se pudesse eternizar momentos, não tinha dúvidas que elas estariam incluídas e ligadas ao tempo que a eternidade concederia. 

Charlie se aproxima de mim e tenta morder a minha calça, o pego no colo e faço um lento carinho na sua pelagem dourada e como recompensa recebi lambidas no meu rosto. 

— Não, Charlie. Na boca não. — O Afasto rapidamente e acabo rindo no final. 

Charlie ao ver Lolita passando em direção a cozinha, se inquieta em meu colo querendo descer. Ao colocá-lo no chão o mesmo corre em direção a gatinha que sai miando e correndo para longe. 

— Por que estão arrumadas? — questiono.

— Por que assim que o Luciano chegar, iremos para casa noturna do Lauro. 

— E como entrarão, se a entrada só é liberada para pessoas de classe alta? 

— Meu amor, quem você acha que liberou a entrada para nós? — Melanie comentou. 

Massageio minha nuca ao falar:

— É, devia ter imaginado quem seria. Nos vemos lá.

Ambas deram tchau e ao olhar hora que entrei no táxi, vi que chegaria atrasada. 

*

    Na pressa para vestir o figurino que me foi entregue na rapidez, só percebi o tamanho da saia ao pegá-la. E isso era  um problema seríssimo para mim. 

Abro a porta do provador e falo:

— Eu acho que me entregaram uma peça do figurino errada. — comunico mostrando a saia. 

— Ai, meu Deus. Eu esqueci de entregar o short de malha. — Marlene diz. — É que estamos atrasadas a três minutos e na correria acabei esquecendo. Me desculpe. 

— Sem problemas. 

O mini short de malha ficou colado ao meu corpo, vesti a curta saia látex preta que é plissada nas bordas e por último o top vinil de alças largas. 

No provador havia um espelho, encarei-me, observei todo o figurino exótico e mesmo que a dança fosse algo inovador para mim, não era isso que eu queria. Não mais. Pronta, sair do provador e sentei no puff, onde minha sandália pink de 10 centímetros se encontravam. Coloco a máscara que usei da última vez, e suspiro baixo. 

As meninas haviam cuidado do meu penteado e maquiagem, e o trabalho que elas fizeram em mim foi fantástico. 

— Prontas? — Bárbara entrou no camarim e fitou cada uma de nós. — Há um convidado especial e não pode haver atrasos. 

Todas as dançarina saíram e ao passar perto da porta, Bárbara tocou no meu braço. 

— Kris, você está bem? Parece abatida. 

— Sim, estou bem. Hoje só não foi um bom dia. 

Bárbara afagou o meu rosto e com um sorriso de acolher a alma, me abraçou apertadamente. 

— Posso ser ocupada, mas se uma das minhas garotinhas precisarem de ajuda, estarei acessível para poder ajudar. Não importa o momento. — Sussurrou. 

— Obrigada. — agradeci ternamente. 

— Agora vai lá e arrasa. 

Ando em direção a entrada do palco e vejo as meninas se posicionando para entrar no palco. Havia duas filas em formato indiano e eu fiquei no fundo, no meio da divisória. 

As batidas sensuais começaram a tocar e uma cortina de fumaça deslizou lentamente pelo palco, e ao entrar no palco as meninas se juntaram, e mais uma vez preparei-me para dançar. 

*


 — Você está bem? — escutei Lauro indagar. — Parece distante. 

Endireitei os meus ombros e lanço o meu olhar para o outro lado do sofá em que ele estava. 

— Vou ficar. Os acontecimentos vem exigindo muito de mim. 

— Sinto muito que não esteja mais namorando a kristal. E por tudo que vem passando. 

— É, eu também sinto. 

Volto a fitar o palco à minha frente. 

— Tem certeza que quer ficar aqui? Podemos ir para a sala Vip. Terá mais privacidade. 

Olhei para as pessoas à minha volta, eu estava na última mesa que ficava de frente para o palco. A iluminação escura facilitava que ninguém me reconhecesse. O capuz do colete que cobria uma parte do meu rosto, auxiliava no meu disfarce. 

— Por que não fala com ela? — me estuda — Se está aqui é porque ainda ama, certo? 

— Uma coisa não envolve a outra. — um trio senta na mesa perto do balcão de bebidas, reconheço apenas as duas garotas. 

Alicia e Melanie. 

— Você já teve um dia daqueles em que tudo parece sair dos trilhos? E tudo que você planejou, simplesmente toma um rumo diferente? — divago enquanto falo. — E no fim do dia, você quer apenas um pouco de paz, mas ver o apartamento ecoando uma profunda solidão e ver que a única coisa que pode dar o refúgio que você tanto precisa, é justamente aquela pessoa que você não pode ter?

Seu olhar pesa, pois ele sabia do que estava me referindo. 

— Escolhemos amar sabendo o quão arriscado pode ser, e mesmo assim damos um passo em direção a um amor que te liberta de tudo que um dia você escolheu ser. — O olhei novamente — Eu não sou um bom homem, Lauro. Mas com a kristal aprendi a despir a minha alma que era cercada de escuridão. Eu notei o amor aflorar e retirar sentimentos obscuros que nunca pensei em deixar de lado. 

— Todos temos nossas próprias batalhas, mas é com a perda que aprendemos o que realmente é importante para nós. — Seus olhos procuram por Morgana e pude radiografar a tristeza ocultada em sua face. — E você meu irmão, tem um grande coração. Não se atormente com o que fez no passado, não devemos nos atentar à escuridão. Tenha em mente onde quer chegar e saiba o que busca para o seu futuro. 

— E você, está bem? — mudei o assunto. 

— Eu pedi a Morgana em noivado. — revela, e bebe um pouco do seu whisky. — Ela saiu e parece que está me evitando. Então, eu fiz uma grande burrada em ter me precipitado ao fazer o pedido tão cedo. 

— Vocês vão ficar bem.  —  falei e ingeri a minha bebida. 

Voltei a minha atenção para o palco quando as batidas da música soavam invadindo todo o lugar. Como da primeira vez que vim aqui, havia dois pole ao lado do palco, mas dessa vez havia um na ponta do palco. Todas usavam máscaras femininas e estavam em filas indianas, e aos poucos abriram caminho para que a de trás surgisse vindo para o pole vazio.

Enquanto as de trás faziam movimentos sensuais seguindo o toque envolvente da música, eu encarei a da frente. Eu sabia que aquela era a feiticeira. 

A mesma segura na barra e gira ficando de costas para a plateia, e o movimento com as outras duas do pole dance foi feito de maneira sincronizada. Abrindo as pernas sensualmente, se inclinam para a frente de maneira provocadora. 

Inferno do caralho. 

Meus olhos não deixava um movimento dela passar despercebido, o balançar circundante dos corpos embalava cada atenção para a dança, duas garotas vem ao encontro dela fazendo uma troca de lugar. O doce magnetismo que eu ainda sentia por ela pulsava em cada poro do meu corpo, o poderoso encanto ofegava através das batidas do meu coração. 

E ao olhá-la, percebi que o fato de estar aqui me fazia ancorar na espera da sua volta. Mas o único tolo dessa história sou eu e infelizmente era preciso seguir em frente. 

E sou tão grato a Deus por ter o sortilégio de conhecê-la e tê-la por um breve tempo em minha vida, porque foi através dela que pude sentir e ver o quão fascinante é amar uma pessoa. 

A olhei pela última vez e saí sem dizer uma palavra a Lauro. 

Amar podia ser doloroso quando apenas um coração pulsava sozinho e doía com a falta do outro. Mas em meio a solidão, eu tinha a plena certeza que somos livres para ir e retornar se assim desejamos. Pois a alma sangra com a falta dela e o coração junto da razão se envolve para curar as vivas, dolorosas e abertas cicatrizes do centro da alma. 

Ao amá-la pude conhecer um pedaço da luz, e pude sentir que um coração pode sim, sobreviver vagando sozinho. 

Podemos sim, sobreviver, no entanto é necessário se recolher para curar os pedaços quebrados.  

1689 palavras...

Segue capítulo abaixo... ❤️❤️

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