CAPÍTULO 46

    Com o tempo passando tudo indicava que nada seria encontrado, mas com persistência conseguimos encontrar os membros corrompidos que frequentaram os mesmos locais de encontros dos capturados. Tínhamos a prova e um rosto que repassava as ordens dada por Alexander Zorkin. Mas ainda não tínhamos o nome do subordinado. 

Decidimos agir na madrugada enquanto dormiam, homens de confiança que também foram avaliados antes de serem chamados para fazer a limpa na sede da organização, entravam no dormitório dos membros corrompidos e injetavam um sedativo para poder os transportarem para a ala secreta. Uma ala que Hank Bennett e a equipe escolhida sabia da existência e que não estava presente na planta da organização assim como outras presentes. 

Acaricio a minha barba por fazer, enquanto observava a operação pelas câmeras. Todos se encontravam indo para o local passado por Bennett, que já o esperava lá. 

— A senhora Bosello está limpa. Já é a quarta tentativa e não encontro nada, nem os nossos hackers encontraram algo. 

— Você realmente não gosta dela… — comentei risonho devido a sua insistência. 

— O sentimento é mútuo. — respondeu.

— Talvez ela realmente esteja limpa. — respondi à White. — Ela trabalha a anos na organização  ao lado do Bennett, porque mudaria de lado? 

— Não sei, a minha intuição diz ao contrário. — tamborila os dedos na perna. — Não é estranho ela fingir que não tem nada acontecendo? As vindas delas aqui são tão controladoras. O senhor Hank a escolheu desde que iniciou tudo isso e parece que não há transparência entre eles. 

A olhei tentando entender o que falava. 

— Não é estranho, talvez ela tenha se cansado de tudo isso. Não seria a primeira pessoa a desistir, ela só não tornou pública a escolha. — respondi — E, sua intuição são noites mal dormidas. Não descansamos até encontrá-los e como já resolvemos essa etapa, você deveria ir descansar com o seu esposo. — Aconselho. 

— Só irei amanhã. Está tarde para ir agora. — da de ombros — Que diferença faz uma noite a menos? Amanhã ele estará aqui, temos uma reunião com Bennett. 

— Porquê você acha que Bennett e Bosello não se dão bem? 

— Dom, meu amor. Não acho, tenho certeza. Você nunca participou das reuniões dos conselhos para ver como a dinâmica deles é diferente. Ela parece estar sempre querendo insinuar algo dele. 

— Como ele reage? 

— Ele não a enfrenta. 

— Estranho. Deve ser algo bem revelador para ele se silenciar. 

— Pode crer que é. — balança a cabeça concordando. 

Encaramos as telinhas das câmeras que aparecem na tela à sua esquerda. Eu estava em pé, observando tudo atentamente e cruzei os braços ao encarar cada um dos capturados nas celas. Todos estavam isolados em celas que além de possuírem abafadores de som, possuía uma tecnologia que só poderia ter a porta da cela aberta pela leitura da digital do meu avô. 

— Dominic, conseguimos conter o sangramento. Mas lembre-se que a ferida pode ser mortal e ela precisa ser contida. 

— Seja quem for iremos pegá-lo. — declarei. 

Carmem White solta um lento bocejo e alonga as costas. 

— Bom, vou aproveitar o pouco de tempo que resta para dormir. Nos vemos amanhã no treino. — Assinto em resposta, Carmem deixa um beijo na minha bochecha e diz: 

— Bom trabalho. Amanhã pegarei pesado no treino, não falte. 

— Meu tônico já está preparado. Como diz a fonte minúscula "Mais forte do que nunca". — Rimos e recebo um tapinha de leve no ombro. 

— Seu bobo. 

Carmem se retira com o porte altivo, mesmo com o cansaço a corroendo por dentro, ela não demonstra quando sai. 

— Senhor Ford, Lisa Marano acabou de entrar na sala de treino. Posso informar aos vigias para tirá-la de lá? 

— Não, eu mesmo vou. 

Retiro-me da sala de controle e sigo em direção ao elevador. Aperto o número do bloco que ela está e quando o elevador se abre no bloco dois, caminho a passos silenciosos pelo corredor iluminado. As portas abriam com aproximação humana, de maneira silenciosa. 

Uso a passagem dos instrutores, digito a senha e o que aparenta ser apenas uma parede cinza, se abre revelando uma porta. Seguro na barra amarela, e fico observando lisa de longe. Ela apenas estava treinando golpes e pelo visto estava determinada em avançar no treino. 

— Precisa curva mais o braço. — digo ao vê-la tentar fazer nocaute usando Overhand. 

— Não é tão fácil assim. — Me olha e tenta seguir a minha instrução. — Tenho dificuldades em executar movimentos com o braço direito. 

Desço a escada e me aproximo dela. Faço o movimento ilustrando a ela como se aplicava e analisando o seu braço. 

— Assim? — refez o golpe. 

— Sim, agora com mais força. 

— No fim, você está aqui me ensinando. — brincou. 

— E você infringiu uma regra. 

— Em minha defesa, quero aprender. 

— Senhorita Marano, não sei se considero bonito ou um pouco soberbo o seu desejo de aprender. 

— Porque diz isso? — Ela para de aplicar o golpe no ar e me olha séria. — Só pelo diálogo que tiramos uma vez? Você nem me conhece e está fazendo supostas observações que não equivalem a mim.

— Então me diz, por que querer aprender tão rápido? 

— Você não entenderia. 

— Eu posso tentar entender. 

— Não deve. Não é como se eu fosse me abrir para você e contar os pormenores da minha vida. 

Sua postura mudou mostrando-se na defensiva. 

— Ok, não precisa falar dos detalhes da sua vida. Mas precisa entender que a organização  é muito mais que um aperfeiçoamento de luta marcial, não é concretizado apenas no objetivo e desejo de matar homens criminosos. Aqui, aprendemos a trabalhar em equipe e a ter um pouco de confiança no nosso parceiro ou equipe. Sem união, confiança, paciência, harmonia e lealdade só resta um grupo que entregaria qualquer um para não morrer. — Dou um passo em direção à porta, mas paro e viro-me para falar:

— Irei reportar ao senhor Bennett, a sua visita à sala de treinamento. 

— Ah, e acrescenta também os dias. Três dias de treino. 

Ela pisca o olho e sorri. 

— Obrigado pelos detalhes, ficará mais interessante a sua ficha. — Seu sorriso se ampliou ainda mais. 

Balanço a cabeça sutilmente e decido ir para o meu dormitório.

*

    Forçado acordar com batidas fortes na porta do meu dormitório, me levantei e fui ver qual era o motivo da urgência. Deparo-me com um dos aliados selecionados por Hank Bennett e o cumprimentei, guardando o meu mau humor pelo fato de ter sido acordado de maneira grosseira. 

— Senhor Bennett pediu para lhe informar uma lamentável notícia. O mesmo conta com a descrição por hora. — Assinto, e sinto que a notícia é totalmente devastadora. — Carmem White foi assassinada no seu dormitório. A inspeção investigava já está sendo feita e o senhor Bennett lhe espera no local do assassinato. 

Balanço a cabeça atordoado com a notícia dada, isso não podia ser real. O homem sai e em seguida fecho a porta. 

Uma facada no peito doeria menos. 

Entorpecido ainda pela notícia faço tudo no automático. Escovar os dentes, banho, e vestir o uniforme negro, foi feito de maneira rápida. Coloquei a arma de choque no coldre de cintura e saí do quarto em passos rápidos, precisava ver com os meus próprios olhos e ter a certeza que não era real. Entro no elevador e digito o número do bloco dos instrutores. 

Não podia ser! 

Nego a aceitar! 

Carmem White não era simplesmente uma antiga tutora amiga, ela foi para mim uma tia que sempre precisei. O laço feito além do sangue, nos unia e foi também através dos seus conselhos que escolhi esperar pela mulher da minha vida, ela e a minha mãe foram uma inspiração feminina que deixaram bem cravadas os conselhos na minha mente, alma e coração. 

O elevador abre no bloco dos instrutores, e sigo em direção às pessoas que faziam a perícia do quarto. Bennett estava na frente da porta e olhava tudo com atenção. Aproximo-me da porta e vejo o corpo da Carmem ainda no chão, tento travar a batalha de emoção no peito. 

— A quanto tempo foi descoberto? — indaguei. 

— Há pouco tempo. — Bennett diz. — Havíamos marcado de nos encontrar pela manhã para falar sobre os membros corrompidos e ela não chegou no horário marcado. 

— E o esposo? — parecia irreal. 

— Está na enfermaria. Passou mal ao vê-la. 

Fecho os meus punhos, um negro sentimento tomando conta de mim ao percorrer todo o meu corpo. 

— Quem a encontrou? 

— Um vigia. Eu o mandei, White não é de faltar a um compromisso. Estranhei o fato e pedi para que viessem verificar se ela não havia simplesmente dormindo demais. 

— Quem foi que a viu primeiro? 

— O mesmo vigia. Ele me reportou falando que ela não o respondia e diante disso pedi para que usassem o controle de portas automático. O esposo dela chegou minutos depois que recebi a informação. 

Olhei para o corpo de Carmem e entrei no quarto. Observei a maneira que ela estava, a expressão neutra e os olhos abertos e vazios, olhavam para o lado da cama. 

— Sinais de luta? 

— Não houve. 

—  A pessoa que a assassinou, já estava aqui quando ela entrou. — escuto Bennett falar da porta. — A investigação foi aberta. Em breve pegamos o assassino. 

 Não houve luta, uma alternativa provável é que houve diálogo e a pessoa presente aparentava ser inofensiva até atirar no lado esquerdo do abdômen. 

— O segundo tiro foi de misericórdia, queria poupar o sofrimento. — digo, abaixo-me perto do corpo e encaro o tiro que foi dado ao lado da sua têmpera. — Mas os olhos estão abertos e isso nos mostra que o assassino estava com pouco tempo. 

Olho para a cama e estudo a linha traçada da investigação do quarto. Eu não queria deixar o emocional tomar conta de mim no momento, mas não sou de ferro e com a pressão que o aperto da perda causava na minha alma, retirei-me dali e fui para o mais longe possível. Era impossível não lembrar de todos os momentos juntos, instruções, conselhos, ordem, provas, e sorrisos. Parecia um redemoinho de lembranças, misturando-se e dando voltas. 

A ficha havia caído e saber que uma pessoa querida por mim, havia sido assassinada a sangue frio e sem direito a defesa, despertava em mim o sombrio desejo de vingança que vinha crescendo cada vez mais. 

Apesar da tristeza querer tomar conta de mim, não permito. Não importa quem fosse, receberia o mesmo tratamento da minha parte. A fera dentro de mim estava louca para atacar e devorar o filho da puta covarde! 

*

    Se havia uma forma de descontar o que estava sentido, era através do saco de pancada. Era apenas eu, o ódio e o saco. Não existia nada à minha volta que fosse mais importante que descarregar o que sentia através dos socos desferidos no saco. Sentia o suor escorrer pelo corpo, e podia sentir que me encontrava na linha tênue do limite. 

Parei, segurei o saco de pancada e encostei a minha cabeça no couro vermelho. Soltei uma longa respiração, e limpei a minha mente de todo lado emocional que impedia de pensar claramente. 

O celular começa a tocar e me afastando do saco de pancada, vou até um dos bancos e pego. 

— Fale. 

— A pessoa que entregou a nossa localização foi a Nabokov, e tem mais Dominic... — me preparei para o que iria ouvir, pois sabia que não seria nada bom. — Enquanto você conversava com eles na festa, fiz outra coisa que não estava no planejamento, conseguir acessar o celular dela e baixei os dados confidenciais. Por estar criptografado em uma língua que não conheço, precisei de uma ajuda externa. 

— Prossiga. — falei atento às próximas palavras. 

— Cindy Nabokov é a culpada pela morte da sua mãe. Todo esse tempo ela vem trabalhando para Alexander Zorkin. Igor, seu falecido esposo foi morto porque as provas que ela plantou para se livrar das suspeitas levaram diretamente para sua mãe e ele. 

Travo a mandíbula sentindo o ódio culminar em todo o meu corpo. 

— Sobre o pedido de investigação de Katarina Boselo, ela é a responsável pelo corropimento. Enviarei as fotos dela se encontrando com Martim, braço direito do Zorkin. — Ian disse sem rodeios. 

— Mande matar Cindy Nabokov. — foi a primeira coisa que falei — Katarina será nossa caça aqui. 

Respiro fundo e conto o que está se passando aqui, Carmem era como nossa tia aqui e tanto eu quanto Ian a amávamos muito. Não deixo nada de fora e devido a situação, deixei claro:

— O plano era ficar apenas um mês, mas só voltarei quando pegar o desgraçado.

Olhei à minha volta e não havia ninguém como anteriormente. 

— Qualquer coisa pode contar conosco. — falou. 

A ligação logo depois foi encerrada, passo as mãos nos cabelos para os tirar da testa que estavam grudados e descarto a luva no banco. 

— Iniciou cedo hoje o treino. — Lisa se aproxima e logo outras pessoas adentram a sala de treinamento. 

Permaneci em silêncio e inexpressivo. 

— Está bem? — perguntou depois de olhar-me. 

— Agora não é um bom momento, Lisa. — não queria ser grosseiro mas não estava em um bom momento para ser cordial. 

— Ok, entendi. Não é uma boa hora para conversar. 

Afastou-se. 

Com os pensamentos bem calculados e determinados mais do que nunca a encontrar o assassino, pego as minhas coisas e sigo para o vestuário masculino para tomar um banho. Não seria hoje que o pegaria, mas seria hoje que a minha caçada se iniciaria. 


2222 palavras

Segue capítulo abaixo... ❤️❤️

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