CAPÍTULO 45

     O mês de maio passou rapidamente e no passar dos dias pude acompanhar a realização do meu projeto. Quando vi o processo de fabricação foi impossível não me emocionar. O senhor Leblanc informou-me que dentro de dois meses o projeto estaria completamente realizado. Senti o calor da esperança reacender mais uma vez no meu coração, em meio a bagunça que estava a minha mente. 

Meus pais não sabiam da existência do projeto, seria uma surpresa e seria um presente para o meu paizinho. Respiro fundo para manter meu controle emocional equilibrado. No sábado havia consultado a ginecologista e ouvi dela o que já sabia a muito tempo pois se tratava de algo hereditário. Engravidar seria um milagre, só através de um tratamento para poder prosseguir com a gestação, pelo fato da minha fertilidade ser baixa. 

Eu tinha três meses para me organizar para poder voltar para casa. Sentia tanta saudades dos meus pais e do meu vozinho e só não adiantava a viagem porque em breve seria o lançamento do meu projeto. 

— Viu que gatinho lindo que olhou para você? 

Olho para Alicia sem entender o que ela falou.

— Desculpa. Não ouvi o que disse. 

— Aquele loiro olhou para você! — Cessamos a corrida dando uma pausa para que Charlie descansasse. — Olha ele ali se alongando... 

Olhei para a direção apontada e o loiro que Alicia apontou, era sem dúvidas mais novo que eu. 

— Ele é um jovem, Alicia. Não faz meu tipo. 

— Ah, tá. Só um ceo de 32 anos, né? 

A olhei seriamente e a barbie riu. 

— Vida que segue, Kris. Você precisa se abrir para conhecer outros caras, quem garante que ele também não está fazendo o mesmo? —  alfineta de forma brincalhona. 

— Eu não modelo a minha vida baseando no que Dominic está fazendo da dele. 

— Isso é fato. Mas seguir em frente é saber que em um certo ponto da sua vida, você precisará se abrir para o amor mais uma vez. — Olha para o céu mergulhada nas palavras ditas — A vida é um ciclo cheio de fase, Kris. Não estou focada em amar agora, mas se acontecer vou mergulhar de cabeça. Amar não deve ser um fardo e nem a nossa própria sentença para não o provar novamente, só porque não demos certo com alguém. 

Nos encaramos e pela primeira vez permiti que a construção dos meus muros que se erguiam dia após dia caíssem. Eu estava me tornando outra pessoa só porque algo não deu certo, nunca fui rancorosa ou imperdoável. A minha essência é amável e sempre fiz questão de procurar a paz e viver amando dia após dia. Viver olhando para as cicatrizes esperando que em um dia elas amanheçam curadas, era como sonhar sem dar um passo no degrau da realização. 

Independente do temporal que cercava a minha vida, eu não desistia. Meus olhos se enchem de lágrimas, meu peito aperta e permito-me chorar para limpar-me das correntes que coloquei. Alicia me abraça apertado e afaga meu cabelo. 

— Você não precisa se isolar. Você precisa ser resiliente para superar todas as adversidades. 

— Obrigada, por tudo. 

Seu doce sorriso surge na medida que seus olhos brilham. 

— Sempre estarei aqui. Somos a âncora que nós precisamos, e incluo a Mel no meio. Se cair estaremos lá para levantá-la. 

 Após me recuperar, seco os rastros das lágrimas. Alicia começa a se alongar e eu faço o mesmo. 

— O que foi? — Perguntei diante do seu olhar desconfiado. 

— Nada demais. Só achei familiar aquele carro importado. 

— Ah, tinha um na frente da casa do Celso. Igualzinho a esse. 

— Hmm... 

— Hmm o quê? — perguntei, ficando em alerta. 

— Estranho. Parece que está nos seguindo. 

Um tremor passa pelo meu corpo com a lembrança que surge na minha mente, devido a palavra " nos seguindo". Mas logo passa a notar que é só um carro estacionado, e que havia muitos carros daqueles. 

— É só um carro, Ali. Aparenta não ter ninguém dentro. — pontuo. 

Voltamos a correr de volta para casa, mas Alicia insistiu de olhar para trás quando nos afastamos para ter certeza que a sua intuição estava certa. 

*

     Já estava pronta para sair e entrar no táxi que me esperava, quando Alicia grita avisando que tinha uma carta do banco. Paro abruptamente na porta da casa e viro-me para ela que vem em minha direção. 

Abro a carta com certa rapidez e faço uma rápida leitura, arregalo os meus olhos e sinto a minha garganta secar ao ler a última linha. 

— Ai, meu Deus! Fala logo, vou ter um ataque devido a tanto suspense! 

— E— eu... — encaro novamente as últimas linhas, antes de olhar Alicia. — Fui sorteada pelo banco e ganhei uma premiação de vinte mil dólares. 

A carta é tomada das minhas mãos e faço uma careta diante do seu potente grito. 

— Ai, meus tímpanos. — Levo as mãos aos meus ouvidos. 

— ESTAMOS RICAS! — seus braços envolvem-me ao redor do meu corpo. — Quer dizer, você está rica. 

— Isso deve ser algum erro. Isso não acontece, Ali. — solto saindo da bolha de surpresa. — Irei resolver isso na hora do almoço. 

— Não...! Marcamos almoçar juntas com a Melanie. — Choraminga. 

— Eu não vou demorar. Tentarei ser o mais breve possível. 

— Ok, mas o almoço fica por sua conta. 

— Ei! 

— Você agora é rica, baby. E eu faço parte da classe média. Preciso economizar minhas verbas. 

— Ok, nos vemos no almoço.

*

    Passei a manhã toda ansiosa, ainda não havia caído a ficha que logo eu havia ganhado vinte mil dólares! E quando cheguei no banco o atendente me levou até o gerente. 

— Sente-se, Senhorita Hernandez. 

Sentei-me diante do pedido educado e agradeci com um singelo sorriso. Antes de falar, encaro a plaquinha na mesa que mostrava o nome do gerente. 

Wilson Turner. 

— Senhor Turner, Hoje pela manhã recebi uma carta do Banco, onde informa que fui a ganhadora do sorteio. Mas acredito que possa ter havido algum engano. 

— Senhorita Hernandez, não há engano algum. O banco faz parte de um programa, e todo ano uma pessoa é sorteada por esse programa. 

— Uau! Nossa! É inacreditável que algo assim seja verdadeiro. 

— Uma surpresa e tanto! Bom, já que está aqui, você só precisará assinar um documento que consta que você recebeu o prêmio na sua conta. — Wilson Turner liga para o atendente e solicita o documento. — Gostaria de informar que a empresa Ford, já fez o pagamento do seu tempo de contratada. 

— Oh, claro. 

O assistente entra na sala e entrega os documentos ao gerente, Wilson Turner verifica se está em ordem e depois me entrega o documento. Leio atentamente e assino, me despedir do gerente e ao sair do banco vejo o carro da Melanie do outro lado estacionado. Atravesso a rua rapidamente e entrei no carro. 

Enquanto Melanie dirigia, indaguei a escolha do almoço. 

— Compraram comida? Achei que iríamos comer na lanchonete da Stela. 

— Hoje a gente pagou. A próxima é a sua vez. — Alicia falou enquanto devorava sua porção de batatas fritas. — E não venha com indagações, era para ser o nosso momento apenas almoçando na nossa lanchonete de sempre. 

— Porquê lanche? 

— Foi Alicia que escolheu. 

— Não me olhem assim! Era uma promoção bacana. Eu não resisto... — apronta-se em falar — E de brinde vem os refrigerantes e as batatas fritas. 

— Não sei vocês, mas eu irei almoçar perto do lago. — Melanie estaciona o carro perto do central Park, descemos do carro e com o almoço escolhido por Alicia seguimos para perto do lago. 

— Não canso dessa vista. 

Nos sentamos no chão, além do lago à nossa frente, tinha alguns prédios. 

— Eu também não. — Falei admirada. 

— Kris, o que o gerente falou? — Alicia pergunta. 

— Que o banco faz parte de uma programação, e que todo ano uma pessoa é sorteada. — faço uma pausa —   Ainda não consigo acreditar que isso realmente aconteceu comigo. 

— kris, se concentre nos vinte mil dólares. Não é todo dia que se tem uma chance dessas — fecha os olhos sentindo o leve calor do sol na pele e depois encara a Mel. — Melanie, o carinha mandou alguma mensagem?

— Mandou uma mensagem pra ser específica. Mas ainda não o respondi. 

— Bom, é uma escolha. — comentei. 

Absorvendo cada energia daquela paisagem encantadora, terminamos nosso almoço e depois a Melanie me deixou na floricultura. Até a noite, teria uma incrível tarde para trabalhar e oportunidades que a vida nos dava, em alguns casos só precisamos ter um olhar diferente de tudo que nos acontece. 

Diante disso prometo a mim mesma, que antes de voltar para Piscataway, deixaria cada sentimento mal resolvido, solucionados como enigmas desvendados. 

Se para iniciar um ciclo era necessário fechar o anterior. Eu estava disposta a olhar para cada lembrança vivida e ver os meus erros também, e com essa promessa lembrei-me do conselho da minha mãe: Em um história que envolve duas pessoas, os dois cometem erros e geralmente um não reconhece. 

1474 palavras...

Segue capítulo abaixo... ❤️❤️

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