CAPÍTULO 36
Quando abri os meus olhos e recobrei os sentidos, vi que estava na ala médica da instalação. A injeção aplicada por Colton possuía efeito instantâneo, essa foi uma das formas que ele encontrou de manter-me descansando, já que eu tinha insistindo em cuidar do ferimento e voltar logo para o meu apartamento.
Pisco os meus olhos e solto uma lenta respiração.
Quando olhei para o meu lado, vi kenzie segurando a minha mão. A cabeça encostada na borda da cama hospitalar, tentei tirar a minha mão sem fazer movimentos bruscos para não acordá-la, mas ela acabou acordando e retirou a mão rapidamente assim que notou.
— Oi, como está se sentido? — perguntou e passou as mãos nos curtos cabelos os levando para trás.
— A perna ainda dói. — falei sincero.
— Obrigada... — ela franziu os lábios e envolveu os braços em torno de si. — pela proteção.
— Kenzie, você faz parte da equipe. Protegi você, como protegeria qualquer um dos meus. — falei, afastei o cobertor do meu corpo e tentei me sentar na cama.
A panturrilha da perna esquerda estava enfaixada, a dor estava presente e para não soltar um grunhido de dor, contrai a mandíbula.
— Eu sei. Mas eu poderia estar machucada e não estou porque você me protegeu. — Kenzie se levantou e antes de sair disse:
— Se precisar de ajuda pode me chamar.
Fechei os olhos e os flashback dos acontecimentos da noite passada, surgiram na minha mente desde a entrada da casa, soltão e explosão.
O homem que Ian havia visto dentro da cabana através das câmeras dos drones, havia se matado seguindo ordens. A bomba colocada na cabana deixava-me com duas perguntas em mente: Quem era o alvo da armadilha? Nós ou os donos que haviam comprado a mercadoria?
Apesar de estar com a perna ferrada para andar, com a ajuda de Ivan e Otto conseguir chegar até a van. Com a maleta de emergência para primeiros socorros, consegui limpar o lugar que o maldito pedaço de madeira tinha atingido, só precisava de pontos. E antes de chegar na instalação, Vasti ligou para Colton pedindo para ele comparecer urgentemente na instalação. O processo foi complicado, já que eu estava com zero paciência para ficar em repouso na instalação.
— Calma, irmão. Não pode forçar a perna, não está em condição de colocar o seu peso nela. — Colton adentrou a sala e possuía uma expressão fechada no rosto. — Dominic, se não seguir o repouso ao pé da letra você terá sérios problemas.
Alertou e mexeu na mesa de metal que tinha alguns frascos de remédios.
— Eu sei, caralho. — rosnei irritado.
Teria que cancelar todo o planejamento da viagem e da empresa, e encontrar uma boa mentira para não levantar perguntas da parte da kristal e dos meus pais.
Inferno do caralho.
Eu odiava essas situações em que sou completamente obrigado a mentir para as pessoas que amo, manter esse lado da minha vida oculto, exigia um preço. Eu não tinha problemas para mentir, qualquer pessoa que vivesse em dois mundos é completamente forçado a manter o segredo. Alguns precisavam ser lapidados para saber enganar outros já nasciam com o dom.
Mas toda prática leva ao aperfeiçoamento.
— Toma... é para dor. — levei o comprimido a boca e depois levei o copo a boca tomando o pouco da água para ajudar o comprimindo descer.
— Antes de te liberar irei verificar o ferimento.
Balancei a cabeça concordando.
Meu celular começou a vibrar e a foto da minha princesa apareceu na tela, encarei aquele contagiante sorriso e os traços marcantes do seu rosto. Mas para não mentir, decidi não atender por hora. A ligação caiu, e não voltou mais a ligar.
— Sério que não vai atender? — Colton indagou sem entender.
— Depois retorno. — o olhei e perguntei:
— E você, por que está com essa cara de cuzão?
— Tomei uma decisão, mas não sei se foi a certa.
Arquei a minha sobrancelha direita, o incentivando a continuar.
— Eu decidi terminar com a Melanie, amiga da sua namorada. — Colton cruzou os braços e fitou o chão.
Soltei um suspiro cansado.
— Já sei, nada de sentimentos. — falei e o encarei.
— Sim, afinal... foi um termo estabelecido por ela. — disse. — Mas, tanto a mente quanto o coração não aceitam a escolha.
— Você precisa fazer uma escolha.— falei e logo em seguida Colton começou a tirar as faixas, para verificar o ferimento e colocar faixas novas.— Ficar em cima do muro já é uma escolha.
— Eu preciso pensar. Melanie trabalha para o New York Post, é um risco para mim. — depois de todo o procedimento, Colton colocou faixas novas. — Jornalista carrega em sua essência a curiosidade, são movidos pelo desejo de desmascarar o alvo da lista.
Colton me ajudou a sentar na cadeira de rodas, até chegar no carro.
— Quando o resultado da investigação sair, peça que mandem o relatório para mim.
— Já está sendo apurado o caso. — assenti sutilmente quando colton falou. — Dom, precisa evitar escadas.
Suspirei e assenti diante do seu aviso.
*
||JADE FORD||
Eu tinha dezesseis anos quando ela morreu. E agora com o passar dos anos ela ressurgiu para atormentar-me. Eu estava presa naquela linha tênue do passado e do presente, e não sabia como livrar-me desse pesadelo.
— Sai daqui! Você está morta! — gritei.
Ela estava sentada na minha cama, como costumava fazer quando vinha aqui em casa. Seu olhar castanho me encarava sem dizer uma única palavra, eu deveria ter feito algo naquela noite...
— E-u vi... Você está morta! — Peguei um dos meus perfumes e joguei nela.
Mas passou direto.
— Me deixe em paz! — levei as mãos ao cabelo e caí de joelhos no chão do meu quarto, eu estava ficando louca.
Isso não pode ser real! — Vai embora. — murmurei repetidas vezes.
Meus olhos já estavam inundados pelas lágrimas, as lembranças daquela maldita noite me cercaram, havia sido um acidente... um acidente… um acidente…
— Eu não tive a intenção... — me encolhi no chão, apesar dos olhos um pouco embaçado pelas lágrimas, eu conseguia ainda vê-la mas dessa vez ela se encontrava perto da sacada do meu quarto fitando o céu.
*
Ok, eu chegaria atrasada mais uma vez na empresa, mas o propósito do meu atraso era decente. Se houvesse alguma reclamação, algo que eu sabia que era muito improvável, resolveria com o Dominic.
Eu tentei ligar para ele mas a chamada não foi atendida.
Deslizei a planta do meu projeto na palma das minhas mãos, eu estava dando um passo no meu sonho e pensar que poderia realizar e presentear o meu paizinho, a comoção das emoções mexia profundamente na minha alma.
Estava na sala de reuniões da empresa Inteligência e tecnologia, eu havia desistido de colocar o meu projeto na empresa de Dominic, pode parecer que sou orgulhosa mas eu não queria alcançar os meus objetivos por ser a namorada do Nink. Encarei as minhas unhas que estavam pintadas em nude, com distração. O senhor Leblanc estava demorando e esperar aumentava o meu nervosismo por dois motivos:
Primeiro: Ele pode ter esquecido que eu o aguardava aqui na sala de reuniões da empresa dele.
Segundo: A sua demora aumentava os minutos do meu atraso.
Cruzei as pernas e concentrei-me em manter a calma. As portas da sala de reuniões foram abertas e junto do senhor Leblanc a sua secretária entrou. Roger Leblanc possui 30 anos, os cabelos loiros e o rosto redondo o fazia ser charmoso, mas o meu Dominic era a magnitude da beleza grega.
— Perdoe a demora, senhorita Hernandez. — levantei-me e estendi a mão para o cumprimentar. O aperto foi firme e bastante profissional, voltei a me sentar logo depois. — Eu li o e-mail que você enviou, e quero deixar claro que ambos sairão ganhando. A proposta do seu projeto é interessante e louvável, e o que me chamou atenção são os pequenos detalhes que você fez questão de colocar. A parte tecnológica é simples e fácil de ser usada por qualquer pessoa.
Eu prestava atenção em cada palavra de Roger Leblanc, recostei na cadeira com a postura ereta e cruzei as pernas.
Roger soltou um suspiro cansado, e descansou os braços na mesa de carvalho.
— Não sei se há um motivo particular no seu projeto, mas esse projeto criado por você dará uma qualidade de vida diferente não só a pessoas que não conhecemos, como também a uma tia minha. — A tristeza anuviou o seu rosto por um curto período de tempo. A secretária estendeu os documentos para mim e enquanto Roger falava busquei ler o contrato. — Tem algo a acrescentar, senhorita Hernandez?
O encarei e mordi o meu lábio inferior antes de falar.
— A inspiração para criar esse projeto, é pelo meu pai. Agradeço por aceitar a desenvolver esse projeto e acredito que além do meu pai e a sua tia, outras pessoas serão favorecidas. — Falei com certeza e orgulho.
Eu havia avançado um degrau, e estava feliz comigo mesmo por essa conquista. Sou ciente da dificuldade que meu paizinho passa e por ele decidi tentar dar o primeiro passo ao dar vida ao meu projeto, que veio através de uma longa conversa com o dr…..
O documento estava digitalizado dentro da proposta estabelecida por mim no e-mail. Assinei o documento e troquei algumas palavras com Roger Leblanc antes de sair da sala de reuniões.
Diante do elevador dei dois pulinhos comemorando a minha conquista, antes de entrar no elevador ajeitei o tecido branco do meu vestido que chegava até o joelho e que fazia combinação com o meu Louboutin preto. O vestido bandagem tinha a textura lisa, e mangas cumpridas que faziam ajuste com o decote canoa. Quando entrei segurei na barra de ferro, e pelo reflexo do metal do elevador ajeitei a minha franja e joguei o meu cabelo que estava ondulado para trás. Mesmo travada tinha conseguido entrar no elevador e até chegar no lobby, fui fazendo uma prece para que a chegada fosse rápida.
As portas do elevador abriram e sem conseguir me conter liguei para Alicia. Eu precisava compartilhar com ela essa grande conquista.
*
O dia passou lentamente e nenhum sinal ou ligação de Dominic. Mesmo não querendo me atentar durante o dia o que estava sentindo era inevitável não sentir saudades dele. Da sua presença de um metro e noventa, voz e dos seus beijos roubados na grande parte do tempo. Nink tinha conseguido se infiltrar em cada pedaço da minha mente, alma e coração. Precisei cancelar as reuniões, algumas por ligações e outras por textos bem formais.
Céus, eu estava apaixonadíssima por ele.
Ao chegar em casa, me deparei com Charlie correndo atrás de Lolita. Mas assim que ele notou a minha presença correu em minha direção. O peguei no colo e recebi lambidas no meu rosto.
— Mamãe estava com muita saudade, sabia? — mudei a voz ao falar com o meu nenê.
Tirei os saltos na ante sala e coloquei a bolsa no cabide da parede pegando apenas o celular.
— O que você aprontou dessa vez? — perguntei aninhando Charlie em meu colo. — Ai, acho que estou lhe mimando demais hein?
Procurei por Lolita mas a gatinha havia sumido, subi as escadas com Charlie no colo e segui para o meu quarto. Deitei na cama com Charlie no colo e fiz carinho no seu pêlo dourado enquanto encarava o teto do meu quarto.
— Kristal! — escuto o grito da Alicia que vinha da sala. — O seu pulguento rasgou meus livros de romances da parte de baixo e a minha sandália da sorte! — arregalei meus olhos ao ouvi-la.
Eitaaa!
— Você vai pagar! — aperto de leve o meu nenê nos braços quando Alicia aparece na porta do quarto. — Por cada livro.
— Não vou, foi você que trouxe esses nenês. Aprenda a aceitar. — Alicia soltou uma risada sem graça diante do meu argumento e eu dei uma piscadela para ela. — Sorry...
Fiquei compadecida ao ver que Charlie havia brincado com seus livros de romance de época e principalmente com o fato de sua sandália da "sorte", usada apenas em épocas de provas e trabalhos, tenha tido esse fim. Mas infelizmente não podia fazer nada. Encarei a tela do meu celular tentando ligar para Dominic, ouvir um pouco a sua voz, a saudade batia no peito. Encarei a nossa foto que foi tirada no mirante, e que estava como papel de parede do meu celular.
— Vamos sair para dançar! — Alicia se pronunciou quebrando o silêncio — E não aceito não como resposta. Você está me devendo, pelos meus livros e sandália.
Saiu do quarto segurando os quatros livros em seus braços e o que sobrou da sua sandália — fazendo um teatro dramático — o que me fez revirar os olhos. Coloquei Charlie no chão e fui para o banheiro, Alicia usava a banheira e eu fui para o box que dava privacidade para nós duas.
*
— Kris, cadê aquele vestido? — Alicia havia invadido o meu armário de roupa e procurava entre as peças que a tia dela havia nos presenteado, um vestido curto. — Aqui!
Encaro o vestido curto de lantejoulas, peguei o vestido da sua mão e vesti sem reclamar. O V profundo do vestido marcava bem os meus seios, e a cor prata do vestido era sexy.
A verdade era que Alicia soube que o carinha que Melanie vinha ficando, terminou com ela. Alicia não queria ver a nossa amiga triste por causa de um término de um compromisso casual, e por isso estava nos levando para dançar, palavras dela.
A maquiagem foi simples, ajeitei os cabelos os deixando ondulados mesmo. Passei o perfume, enquanto Alicia batia o pé no tapete do meu quarto.
— Vamos nos atrasar. — a baixinha já estava pronta, vestida no seu curto vestido preto de couro de um ombro só e usando um salto plataforma para ficar alta.
Coloquei meus pertences na bolsa de alça, e saí do quarto descalça. Usaria o mesmo salto que usei hoje, era confortável e combinaria com o vestido. E antes de sair colocamos as rações e água nas tigelas e não vimos nem Charlie e nem lolita.
*
Graças a Melanie entramos como VIP na balada, e Alicia balançava o corpo no ritmo da música. Eu bebi um pouco da minha bebida “Sex on the beach”, meu segundo drink. O lugar estava movimentado e agitado, as pessoas dançavam e se beijavam sem ligar para as atenções que roubavam. Terminei de beber o meu drink e antes de ir ao balcão de bebidas avisei as meninas. As mesmas também saíram em direção a pista de dança, quando cheguei no balcão, me inclinei para a frente e chamei o barman.
— Eu quero um whisky duplo. — Pedi.
Ainda inclinada no balcão, olhei para o lado esquerdo e avistei Thomas vindo em minha direção.
Sorrir para ele.
— Thomas... — Falei animada. — Junte-se comigo para beber.
—Não posso, eu estou esperando um amigo para tratarmos de negócios...—assenti entendendo.
O barman entregou a minha bebida, sentei na banqueta e enquanto levava aos lábios a bebida peguei Thomas me encarando. Seu olhar me devorava, talvez fosse o efeito do álcool mas eu sentia uma sensação emanar dele. Parecia haver intenções em seu olhar, seus dedos fizeram um carinho na minha bochecha, como costumava fazer.
Larguei o copo em cima do balcão, e perguntei:
— Por que se afastou? — tentei colocar um assunto na mesa na tentativa de limpar minha mente.
— Trabalho, sabe como é. — deu de ombros em descaso.
—Senti saudades do meu amigo... — desabafei sincera — sabe que pode ligar para mim, certo?
— Você também pode. — senti uma mágoa em sua voz, mas ele voltou a me encarar.
O fitei sem entender.
Os acontecimentos seguintes foram rápidos, quando me dei conta, Thomas havia beijado os meus lábios.
A mão na minha nuca puxa-me para perto dele e tenta aprofundar o beijo, o empurrei assustada e automaticamente minha mão foi em sua face.
— Kris, me perdoe! Eu não deveria ter lhe beijado. — Thomas parecia sincero e arrependido, mas eu estava assustada para lhe responder alguma coisa.
Caralho, que merda!
— Você ficou louco? — indaguei ríspida.— Meu Deus, que merda!
Sai de perto dele e passei a mão na boca, o seu beijo tinha uma certa urgência e felizmente não sentia mais nada por ele. Voltei para o VIP e permaneci sentada, sem ânimo nenhum para curtir a noite.
*
3 dias depois...
A perna já estava sem faixas, durante três dias segui as recomendações dadas por Colton. Durante esses três dias tive todo um relatório sobre o dia da kristal, dessa vez havia dois seguranças e ambos ficavam fora das vistas dela. Encarei mais uma vez a foto dela beijando outro cara e a raiva estava querendo nascer novamente no meu coração. Mas decidi não tomar nenhuma decisão sem ouvir a sua explicação.
Confesso, estava decepcionado.
Roger Leblanc havia entrado em contato comigo, para elogiar a grandeza do projeto que tinha fechado com Kristal. O que foi uma grande surpresa para mim, não ter ideia sobre a existência do seu projeto, principalmente por ela não ter mencionado nunca. Roger era um grande amigo desde a época da Universidade, hoje ele estava casado com a Lucila uma garota que ele havia conhecido no seu primeiro período.
— Dom, relatório da missão. Os nossos hackers não conseguiram obter muitas informações. — Ian entrou no chalé que eu estava e entregou-me o relatório.
Eu estava sentado na poltrona e encarava as copas das árvores através da janela que estava aberta. Abri o relatório e analisei tudo que estava ali, de fato o alvo daquela noite éramos nós. A compra da mercadoria não chegou a acontecer, pois supostamente a interferência veio dias antes do pagamento.
Levantei-me da poltrona de couro marrom e andei até a janela, o vento frio tocou o meu rosto.
— Estarei fazendo uma viagem amanhã. Precisarei que me acompanhe porque para ter um álibi precisarei que você faça o serviço por mim.
— Vou providenciar tudo para a viagem. — assenti e logo em seguida Ian saiu.
Retirei o celular do bolso e apenas enviei uma mensagem para kristal avisando o horário da viagem. Soltei um suspiro alto, e encarei o céu.
Aquele azul me fez lembrar do olhar da minha mãe biológica, do seu doce sorriso ao brincar comigo em um jardim de uma casa que eu não me recordava direito.
3031 palavras....
Segue capítulo abaixo... ❤️⏰
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