CAPÍTULO 31
Os dias passaram de maneira lenta e toda vez que eu abria a gaveta da minha mesa na tentativa de conseguir abrir a maleta para saber o que tinha ali à minha espera, eu recuava. Fechei a gaveta novamente, girei a cadeira para ter a vista do céu que estava limpo e mergulhei naquela paz que emanava do alto. Ouço passos se aproximando mas não faço questão de me virar para olhar.
— Nink, aqui está o extrato que pediu. — a voz doce da feiticeira invade os meus pensamentos o que me faz soltar um lento suspiro.
Essa mulher é o meu narcótico!
Girei a cadeira e a encarei, deixando evidente o meu real interesse. Observei o seu corpo que estava modelando em um vestido preto justo de mangas cumpridas, os seios estavam bem marcados pelo tecido. Os cabelos presos em um coque a deixava com uma postura séria e profissional.
Soltei um sorriso de lado de maneira pretensiosa.
— Deseja mais alguma coisa? — Você, pensei.
Me levanto e vou em sua direção o meu olhar já dizia o que eu estava prestes a fazer e mesmo assim ela permaneceu parada.
— Você só precisa dizer uma palavra e eu não a beijarei nesse momento. — Eu tinha as minhas mãos ao lado do seu rosto, quando sussurrei olhando em seus olhos.
Eu queria muito beijá-la e não faria isso sem a sua permissão.
— Eu... quero. — disse decidida.
Beijei os seus lábios macios e aprofundei o beijo. Suas mãos estavam ao redor do meu pescoço quando agarraram o meu cabelo. Abracei a sua cintura fazendo que não houvesse uma minúscula distância entre nós, estávamos entregues naquela paixão que emanava do coração. Desfiz o coque do seu cabelo, como uma forma de derrubar aquela parede profissional que ela havia colocado. Senti o fio de metal atrás do seu vestido e lentamente abrir o zíper, toquei a sua pele carinhosamente.
Guiei kristal para perto do sofá de couro preto de três lugares e a coloquei sentada no meu colo, desci o vestido um pouco mais deixando seus seios que eram guardados por um sutiã vermelho de renda amostra. A vi entregue, sem medo ou receio de continuar. Soltei um gemido quando a mesma se ajeitou em meu colo, eu estava excitado e os seus beijos famintos alimentavam a fera dentro de mim.
— Porra, anjo!— soltei roucamente.
Tirei o seu sutiã deixando seus seios livres e totalmente à minha disposição.
Era sempre doce pecado.
Abocanhei o seio esquerdo e a senti arquear em deleite. Ouvi o seu gemido e mordisquei-lhe o seu mamilo demoradamente, a minha outra mão deslizou pela sua perna adentrando o vestido e pegando firmemente em sua nádega. Nem havia dado conta que estávamos ofegantes em meio aos amassos. Eu queria ir além, distribuir beijos pela sua clavícula e subir pelo pescoço até chegar nos seus lábios, minhas mãos deslizam pelas suas costas até chegar em seu comprido cabelo e com beijos molhados no seu ombro cessei os nossos amassos.
— Dominic, aqui não… — pediu sôfrega.
Seu rosto virou um escarlate o que a deixou ainda mais linda.
— OK. Ok. — falei, depositei carinhosamente um beijo em sua testa, e a ajudei a se vestir.
E antes que toda aquela adrenalina que nos envolvia se dissipasse, falei:
— Preciso falar com você. Eu sei que a nossa última conversa não lhe esclarece muita coisa, e estou lhe devendo uma conversa decente. — kristal sentou-se ao meu lado do sofá, me virei para falar com ela. — Eu não quero que haja barreiras entre nós. Vou tentar por nós encerrar um ciclo que carrego há anos e… — engulo em seco sentindo a garganta fechar. Olho para frente e tento afastar a lembrança da morte da minha mãe para longe. — peço que tenha paciência comigo. Não é fácil. — sua mão afaga a minha. — Eu quero que você saiba que meu amor por você é verdadeiro, não há sombra de dúvidas em meu coração. — declarei-me, fitei nossas mãos juntas. — Preciso saber se está disposta a ir até o fim. Por que eu, bom... eu não tenho dúvidas que quero.
Seu olhar penetrante fixou em mim.
— Você está disposta a ficar? — seus olhos estavam fixos em mim e era possível notar a batalha que travava em seus pensamentos. — Dentro de mim há estilhaços de um passado sombrio, eu não sou perfeito, Kristal.
— Eu não quero me arrepender.— revelou antes de continuar — Confesso que você me cerca de dúvidas e me faz querer aceitá-lo de um modo intenso. Eu te amo, Dominic Ford, e quero desfrutar desse amor se possível para sempre.
Seus olhos estavam emocionados.
Kristal inclinou a cabeça para o lado e me encarou com um sorriso apaixonado no rosto.
— Por favor, nunca saia daqui. — falei, admirando-a.
— Aqui? Onde? — perguntou sem entender.
— Da minha vista, coração e da minha vida. — Seu sorriso se abriu ainda mais. Me aproximei do seu rosto e fazendo um suave roçar de nariz com nariz, falei:
— Sempre?
— Sempre. — afirmou, beijei os seus lábios amorosamente.
— Ah, que bom encontrar os pombinhos de namorico. — minha mãe adentra a sala sem bater, kristal mordeu meu lábio com o susto e afastou-se de mim como se houvesse uma peste negra no meu corpo.
— Mãe, deveria bater na porta. — alertei e sutilmente passei o dedo no canto do lábio. — Eu poderia estar ocupado de uma forma que a senhora poderia se constranger. — brinquei.
Kristal olhou para mim e sussurrou um "Desculpa".
— Querido, como você acha que foi feito? Trazido pela cegonha? — riu sem constrangimento — Eu vim buscar a minha norinha para irmos ao bairro que está em reforma. Acabei de receber uma ligação informando que está tendo divergências no local. — minha mãe olhou para kristal esperando uma resposta — Vai comigo?
— Oh, claro. — Se pronunciou rapidamente.
— ok, a jade está esperando no carro então vamos adiantar antes que a patricinha dê chilique.— sussurrou a última parte.
— Mãe, fica de olho na jade. — não precisei citar o ocorrido, minha mãe já estava por dentro do acontecido.
Ambas saíram da minha sala e não querendo adiar mais o que vinha recusando a ser visto, caminhei até a minha mesa e busquei ver o pen-drive.
*
Como nos dias anteriores usei o modo secretária profissional, mantendo a ilusória faixa de ressentimento erguida. Mas hoje, quando o olhar de Dominic caiu sobre mim, o coração veio a alfinetar a minha decisão e eu acabei cedendo, porque no fundo eu não queria encarar o fato de ser perdidamente apaixonada por Dominic Ford.
Eu não entendia como um sentimento pudesse crescer em uma proporção de tempo curto.
Intenso, profundo e real.
Era mágico, eletrizante e surreal.
Conjuntos que causavam um turbilhão de fortes emoções. Mas toda dúvida foi embora quando o beijo aconteceu, o magnetismo da paixão que fluía dos nossos corpos me fez agir fora de mim. Eu sentia que havia coisas pendentes em sua vida, mas não podia exigir dele.
Eu não tenho esse direito.
Dominic Ford trazia o meu lado devasso à tona, a sua voz, o seu toque e o seu olhar me fazia derreter por inteira, ali nos seus braços eu era dele sem reservas.
Impossível fugir desse arrebatador sentimento! Não tem como escapar de algo que está predestinado acontecer!
Quando a sua mãe surgiu afastei-me dele me sentindo culpada por não estar trabalhando, e sim, beijando o seu filho.
Céus… é constrangedor.
Balanço a cabeça negativamente e afastei meus pensamentos para longe.
Ao seguir em direção ao carro, Jade assim que me viu surtou dizendo que eu não sou real. A mulher havia empalidecido mais que o normal, os olhos arregalados e a face assustada me paralisou.
Ela é louca?
Me indaguei assustada.
— Você não está aqui! — disparou.
Ela fechou os olhos e colocou as mãos nos ouvidos, ela estava literalmente assustada com a minha presença…
— Jade, meu bem... essa é a kristal. — Célia tentou acalmá-la. Parecia doer nela falar as palavras ditas. — Ela não é a Amélia. Eu sei que vocês eram bem próximas e que é um choque para você. Mas infelizmente a Amélia está morta.
Eu ouvi as suas palavras e não compreendi o por que de terem assemelhando-me a outra garota, eu era a cópia da Amélia?
Depois de um tempo a Jade se acalmou e em silêncio seguimos para o local, o assunto não foi mais tocado e apesar da minha curiosidade resolvi não perguntar.
Dava para ver que o assunto era delicado e sensível para ambas.
Além de surpreendente, a vida é totalmente estranha em alguns aspectos específicos.
*
Quando chegamos no bairro, seguimos andando em direção a quadra por escolha de Célia. A sra. Ford compartilhou os pontos de reforma comigo e com a Jade, mas a mesma estava afastada de nós e se manteve ocupada com seu celular. As casas tinham os aspectos desgastante nesse lado esquecido do Brooklyn, as pessoas circulavam normalmente e tinham suas atenções em seus afazeres, e quando percebi a grandiosidade do projeto que Célia e Dominic estavam realizando, o meu coração se aqueceu. Meus olhos rapidamente miraram o grande portão de ferro do orfanato, a cor melancólica dava uma sensação de tristeza até um grupo de crianças passar correndo deixando um rastro de alegria.
— Esse foi o orfanato que encontrei o Dominic. Era um garotinho arisco, a vida não foi justa com o meu filho. — confidenciou pesarosa — Na época que o encontrei parecia um gatinho perdido dentro de si, entregue ao destino. A madre não fazia ideia do bullying que algumas crianças sofriam na época e no meio dessas crianças estava Dominic. — Seus olhos encheram-se de lágrimas. — Meu menino sofreu tanto. Quando o adotei ele não falava, se comunicava por escrito, percebi que o trauma que causava o seu silêncio vinha do medo.
Sua confidência fez meu coração doer em vários pedacinhos, então entendi o que Dominic quis dizer com "pendências do passado''.
— Ele é um bom homem kristal. Cuide bem do meu filho e você não terá uma sogra e sim, uma segunda mãe. — suas palavras foram ternas e sinceras.
Célia buscou a minha mão e fez um carinho suave.
— Eu prometo cuidar. — respondo sem rodeios.
*
Quando chegamos na quadra, havia quatro garotos jogando. Os prédios estavam em corrosão e todo o ambiente dava uma sensação familiar, a obra se encontrava paralisada e a equipe se encontrava na tenda onde partilhava as opiniões sobre o projeto.
— Bom dia, senhores. — Célia cumprimentou e se aproximou da mesa onde o projeto estava aberto na mesa. Uma postura totalmente diferente, firme e dominante. — Qual a divergência?
Um senhor baixinho e calvo pigarreou, e disse:
— Como engenheiro civil, a minha opinião profissional é começar pelo lado esquerdo. Pois é uma área em que o espaço é dado para a movimentação das máquinas, e dos materiais. Além de que a fiação elétrica está em perfeito estado. — Enquanto ouvia o seu ponto de vista, analisei todo o ambiente à minha volta.
O meu pai é engenheiro e como uma boa filha grudenta que não saia do seu pé na hora dos estudos dos projetos sociais ou pesquisa de campo, eu estava ali ao seu lado fazendo perguntas e tentando entender como funcionava. Olhei para o prédio em questão que possui uma árvore no final do prédio, da maneira que o senhor queria teria que cortar a árvore e diminuir uma parte da quadra, mas esse era um detalhe inútil para ele. Olhei as crianças jogarem bola, o riso e a conversa se misturando no vento fresco da manhã, me fez vagar em uma solução.
— Senhor Geovani, porque não está seguindo as ordens do meu filho? Esse projeto não foi só desenhado e simplesmente trazido até vocês sem estudo. Não vai precisar dessa modificação como o senhor aponta! — Célia falou séria.
Voltei para perto da mesa e encarei a planta do projeto. Tanto a parte externa como a interna.
— Precisam trabalhar por etapas. — Soltei e imediatamente me repreendo por dar a minha opinião sem ser convidada.
— Exato, senhorita. — o cara alto e corpulento diz. — Eu analisei cada parte desse projeto ao lado do Dominic, estamos certos de cada etapa.
— Alguma sugestão, kristal? — Célia me encara e na dúvida eu resolvo falar.
—... Na planta mostra que a reforma deve ser iniciada pelo prédio do lado direito, e não é por conta do pouco espaço e sim pela altura e acabamento. — resumo de forma simples. — já o outro prédio se trata mais da reforma estética, porque o interno já possui a estrutura renovada. — apresentei o meu ponto de vista.
O baixinho voltou a olhar para a planta, seus olhos buscavam o que eu havia acabado de falar. Meu pai dizia: Filha, você precisa aprender a ler a planta. E foi dessa forma que aprendi, obtendo para mim o modo do meu pai.
— Quem foi o seu professor?— O senhor Geovani falou ao ver os pontos citados.
— Foi o meu Pai. — falei orgulhosa e com o coração emocionado.
Minutos depois tudo foi resolvido, e o senhor Geovani despedido do cargo. Dentro de vinte minutos a srta. Furtoso foi contratada e após a sra. Ford conversar com ela, finalizamos a inspeção na obra.
Voltei para a empresa depois do almoço, Célia era um amor de pessoa e quando me deixou aqui na empresa, ela agradeceu pela ajuda com o engenheiro civil e o arquiteto. O segurança estava na minha cola como uma maldita sombra, não podia nem ir tomar uma água que seus olhos estavam sobre mim.
Quando me sentei na mesa vi um post'it azul com um recado.
Manda uma mensagem que eu venho te buscar.
Com amor;
Seu Dom.
Girei a cadeira com um sorriso abobado nos lábios e suspirei.
*
Infelizmente passei do horário do fim do expediente, estava cansada e estressada e morrendo de vontade de comer uma pizza super recheada. Ainda tinha o fato de que precisava passar no banco para resolver uma pendência.
Por sorte o banco ficava a 15 minutos da empresa, organizei minha mesa e deixei minha bolsa já pronta.
— Sérgio, pode fazer um chá para mim? Não estou muito bem. — Fiz uma careta enquanto falava, simulando um mal estar.
Ele olhou-me por um tempo e pareceu pensar, no fim assentiu e retirou-se da minha frente.
Busquei minha bolsa e apressadamente entrei no escritório de Dominic, adentrei o elevador, mandei uma mensagem para Dominic avisando que eu havia terminado, e mandei o endereço onde o estaria esperando. Eu precisava passar no banco que não ficava muito longe daqui, iria depositar na conta da minha mãe uma quantia em dinheiro para os gastos dela e do papai. As luzes do elevador piscaram e um tremor na caixa metálica me fez segurar na barra de metal do elevador.
— Ai, meu Deus! — exclamei com o coração prestes a sair pela boca.
Sentir o sangue faltar no meu corpo, e orei silenciosamente para tudo terminar bem. Eu estava com os olhos fechados quando o elevador abriu as portas, o corpo trêmulo e provavelmente sem cor.
— Senhorita, você está bem? — O segurança estende a mão e eu aceito. Não havia conseguido mover um músculo. — Faz pouco tempo que a manutenção foi feita... a senhorita está bem? — balancei a cabeça concordando com as explicações, estava em choque para falar algo.
Céus, preciso de ar fresco.
Me desvenciliei do segurança e passei pela porta giratória, apoiei as mãos nas minhas coxas e busquei por ar. O movimento que havia na rua era de carros, e ainda me recuperando decidi andar em direção ao banco.
Respire e solte a respiração lentamente. Mandei os comandos para a minha mente e tentei executar. Já estava quase perto do Banco quando um carro parou, e o homem que usava um terno da cor cinza e usava um gorro, ao sair do carro anda em minha direção, alterado.
Minha memória demorou a processar o que estava acontecendo e principalmente de reconhecer o homem que agora se encontrava careca.
— Você, tem contas a acertar comigo. — sua voz saiu ríspida. — Vadia desgraçada.
Tento correr ao reconhecer a voz do homem, mas o mesmo agarrou o meu braço e estapeou o meu rosto. Na tentativa de me soltar tirei os saltos, e tentei o empurrar.
Gritei por socorro. Mas incrivelmente a rua tinha ficado deserta.
Sou arrastada para o beco da lanchonete e sou jogada impetuosamente no chão e o impacto arranhou a pele das minhas mãos quando tentei absorver a batida, tentei me levantar mas o primeiro chute surgiu acertando o meu estômago, gritei em desespero.
As lágrimas vieram, e apesar do medo e da dor que senti começar a me paralisar, lutei. Meus olhos avistaram uma garrafa quebrada ao lado da lixeira e sem pensar duas vezes estendi a minha mão e tentei pegar.
— Você vai aprender a não atrapalhar os negócios de um homem, e vai aprender a manter essas pernas fechadas. — Eu chorava em tamanha dor que sentia, senti as lágrimas molhar a minha face e mais uma vez chutou na minha barriga.
Alec Fontana agarrou o meu pé e tentou me arrastar, agarrei o pedaço da garrafa quebrada e quando ele se abaixou para pegar minha outra perna, o ataquei.
Perfurei a sua perna com a garrafa quebrada e o ouvi gritar em dor. O beco não possuía saída, se tratava apenas de um fundo de lanchonete. Se eu conseguisse me levantar teria que passar por ele. O medo que eu sentia era aterrorizante, e as chances de sair viva daqui me fez entrar em pânico quando tentei me afastar. Alec Fontana puxou as minhas pernas impedindo que eu me arrastasse para longe dele, o mesmo subiu em cima de mim e esbofeteou novamente o meu rosto, eu implorei e gritei por socorro mais uma vez.
— Isso é pela humilhação, e pelo atrevimento em me acertar. — esmurrou o meu rosto e senti uma das suas mãos levantar o meu vestido — Por arruinar minha vida, me levando a sarjeta!
Tentei me soltar das suas mãos que me imobilizou e quanto mais eu mexia-me mais enfurecido ele ficava.
— Não via a hora de ter minhas mãos em você. Aquele maldito segurança não saia de cima! — confessou enquanto me enforcava e tentava levantar o vestido.
Eu tentei manter a consciência mas o pavor começou a me dominar, queria lutar ainda mais, mas o medo de ser violentada começou a se espalhar pelo o meu corpo, minhas vistas escureceram e antes de apagar por completo pude ver quando Alec Fontana foi tirado de cima de mim, pude ver o meu salvador.
Ele estava ali.
3085 palavras...
Até o próximo capítulo... ⏰
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