CAPÍTULO 3

Ok, definitivamente fiquei louca por ter aceitado fazer o teste.

Louca?

Posso até ouvir a razão me interrogar. Oras!

Você pirou de vez garota! - continuou.

Não há motivo para tanto drama. É só um teste. E olha o lado bom, estamos falando de ajudar as meninas. - o coração se expressa cortando a razão.

Não é atoa que é tão sentimental!

Pisco meus olhos para encerrar esse diálogo e suspiro aliviada com o silêncio que se faz dentro da minha linda cabeça. Preciso concordar com o meu cérebro ceder a ideia de Bárbara me colocou em cima de uma corda bamba.

Respiro fundo mais uma vez.

As batidas sensuais da música adentram os meus ouvidos e posso sentir, caminhado e pulsando na minha pele, algo querendo se libertar.

Estávamos no segundo ensaio e na prática, eu pude ver e sentir o quanto a dedicação e a entrega é exigida. Não existia meio termo, o empenho e a entrega são um conjunto que andam de mãos dadas. A dança pulsava nos nossos corpos gerando uma conexão poderosa em nosso cerne.

Suellen inicia a dança conduzindo de início tanto os meus passos quanto os delas. A parte inicial começava a se fundir em minha mente fazendo-me executar os passos com uma certa agilidade.

A medida que a música alta decorre sinto o meu corpo relaxar com o fato de começar a pegar o ritmo. Ao terminar o segundo ensaio, as meninas do pole se junta e a dança começa a ficar recheada.

Respiro fundo, preparando-me para iniciar o terceiro ensaio. O que me fazia continuar tentando era simplesmente o fato das meninas terem paciência e suavizar com uma iniciante aprendiz. Estávamos progredindo nos passos e o nervosismo começava a se dissipar dando o lugar para a determinação.

Ao som das batidas sensuais que a música trazia, observo as meninas do pole dance iniciarem os movimentos e na posição inicial preparo-me para fazer os meus passos no mesmo ritmo de Suellen.

*

Depois das entrevistas, continuei trabalhando até o horário do almoço. Pedi para Jasmine a secretária do meu vice desmarcar os compromissos que eu tinha para hoje a tarde, de maneira nenhuma passaria meu aniversário enfurnado o dia todo na empresa. Com muito custo consegui fazer a minha mãe desistir da festa que ela daria, pois eu tinha algo importante para cumprir às 23:45h.

E acreditem quando digo, não foi fácil!

Assim que deu meio dia, segui para casa da minha mãe acatando o pedido dela para almoçar em família. já que no fim da tarde o meu pai viajara para Turquia a negócios e a tradição que vem a anos sendo mantida não poderia ficar em branco. O tempo e o momento em família era algo muito importante para a minha família, mesmo que os negócios tomassem boa parte do tempo.

Como nos últimos dois anos anteriores, não poderia faltar a ilustre presença da minha tia Denise e da sua filha, Jade.

- Querido, sua mãe contou-me sobre a seleção das entrevistas, já tem alguma selecionada? - inquiriu curiosa.

Fitei seu rosto, para trazer esse assunto a mesa algo ela queria pedir.

- Ainda não, tia. - sou breve nas palavras.

- Por que não escolhe a Jade? - sugeriu sem esconder as suas intenções. - O que acha filha?

- Seria perfeito, mas acredito que já tenha uma escolhida. - Jade me olhou e arqueou uma de suas sobrancelhas.

- Algumas ainda estão em análise. - digo e volto a degustar a comida.

Eu amava a minha tia Denise. O único problema era ela achar que um dia acabaria namorando a sua filha. Esse era o X da questão que me fazia tanto ficar atento quanto distante.

- Infelizmente o cargo não é trabalho para Jade, Denise. Posso citar vários pontos do porque a jade não se encaixar como secretária pessoal. - escuto minha mãe falar com seu jeito meigo e realista enquanto se concentrava em cortar a carne com bastante atenção. - Mas se você ver que é um problema a jade não trabalhar, ela pode trabalhar comigo no recente projeto que iniciaremos. Uma companhia feminina sempre é bem vinda. - Minha mãe direciona seu olhar para jade e pergunta:

- Você aceita a minha proposta, Jade? - minha mãe era ciente das intenções de jade e por diversas vezes já a vi conversar com sua irmã - Denise - sobre esse assunto.

- Pensarei na proposta, tia. - Da de ombros fazendo pouco caso. - Mas ser a secretária do Dominic me interessa muitíssimo. - Soltou uma piscadela em minha direção.

Fiquei perplexo com tamanha ousadia em frente a família.

- Você não é qualificada, Jade. - a cortei sendo direto e ríspido. - Costumo ser exigente com meus funcionários.

- Querido, eu sou formada em ciências contábeis. - disse categórica.

- Mas não atua na área formada. - suspirei longamente, tentando ocultar a irritação.

Tentei fingir que não vi seus olhos brilharem em divertimento com a cena.

- Não vejo isso como um problema. - soltei um riso sarcástico ao ouvi-la.

- Sério? Não brinca! - desdenhei.

- Eu? Brincar? - ironizou. - Querido, você passa muito tempo falando. É só me dá uma oportunidade e verá que não é brincadeira. - soltou uma piscadela.

- Chega! Eu não aceito esses comportamentos hostis. - minha mãe diz seriamente.

Seu olhar afiado pousa em mim e em Jade.

- Alguém quer purê? - meu pai indaga tentando quebrar o clima tenso. - Ninguém? Ok.

- Eu quero papai. - escuto Anna dizer.

Minha mãe a serviu e em seguida todos voltaram a comer, encarei as gêmeas que estavam ao lado da Jade, ambas conversavam baixinho e tinham as expressões marcadas pelo riso oculto. Vi o momento exato em que Anna colocou o purê na mão e se inclinou para o lado. Estica o braço por trás das costas de Alana e sem fazer movimentos bruscos elas pegam uma mecha platinada do cabelo de Jade e fecha a palma da mão e depois faz a mesma coisa com outra mecha de cabelo.

Um sorriso curto teima em surgir nos meus lábios, mas mantenho-me sério diante do que irá acontecer.

Ambas voltam ao normal, e Anna limpa a mão no guardanapo. Alana procura ver se alguém as viu aprontar. Os olhinhos redondos se arregalaram quando nota que eu as observava, acabei tirando a minha expressão de irmão sério e lancei um sorriso discreto para ela, vendo a tranquilizar.

- Tio Lauro!!! - Ao ouvir os gritos das gêmeas, viro-me em direção a porta e encontro o meu amigo parado na entrada da sala de jantar. As meninas saíram dos seus lugares e correram em direção ao meu amigo.

- Junte-se a nós meu amigo. - digo e depois que os ânimos das meninas diminuem ele toma seu lugar na mesa e cumprimenta meus pais com carinho e com cordialidade cumprimenta a minha tia e minha prima.

- Como vai o seu pai, Lauro? - meu pai perguntou. - Faz tempo que Fulgêncio não aparece no clube de pesca. A temporada de pesca está chegando, assim como a reunião de planejamento! E ele não nos deu notícia! - meu pai lamentou, Adalberto Fulgêncio era um grande amigo do meu pai e se o mesmo questionava o sumiço do amigo é porque ele já tentou entrar em contato e não obteve uma resposta.

- Meu pai infelizmente está em tratamento, depois da morte da minha mãe ele se fechou em seu luto e entregou-se a bebida. - Lauro disse pesaroso. - Faz três semanas que ele decidiu buscar ajuda. - Confidenciou. - E como um homem orgulhoso que o meu pai é, preferiu agir assim.

- Lauro, querido, nós sentimos muito. - Ouço a minha mãe dizer. - Sei que o momento atual é delicado. Quando Hillary faleceu tentamos conciliar o momento a sós com a nossa presença. Mas ele nos afastou.

- Acredite, se seu pai escolheu recomeçar é porque ele decidiu dar-se uma segunda chance. - Escuto a minha tia falar e apesar das nossas pequenas indiferença eu balancei a cabeça em concordância. - Diferente de alguns que entregam-se a dor e escolhem o álcool para morrer. - sua fala terminou com amargura citando ocultamente o seu falecido marido, o clima ficou tenso.

- Eu sei... eu sei... - Lauro disse e começou a se servir. - Mas e você, Dominic? Tem planos para hoje? - pergunta como quem não quer nada, mas eu o conhecia bem para saber que tinha algo por trás da sua visita e por trás da sua pergunta.

- Bom, depois do almoço eu acompanharei as gêmeas para as aulas de Balé e piano. E depois vamos ao parque. - digo o que havia programado com as gêmeas antes do almoço, por insistência delas.

- E a noite ? - continuou indagando.

- A noite irei para minha casa.

Lauro silenciou-se e eu entendi perfeitamente o seu silêncio, como também já tinha a resposta para a sua proposta.

Um sonoro não!

- Ecaaa! - Olhei para Jade que possuía uma expressão de nojo ao encarar os seus dedos. Imediatamente meus olhos procuraram pelas mechas de cabelo que as gêmeas aprontaram e as vi para frente do ombro de Jade.

As risadas das gêmeas não foram contidas e assim ficou claro quem foram as donas daquela artimanha.

- Foram vocês, né? Suas diabinhas! - Jade exclamou enfurecida.

- Jade olha os modos! Isso são palavras de falar? - minha tia disse e prosseguiu:

- Não vê o tamanho das meninas? Elas só tem cinco aninhos! - minha tia continuou defendendo as meninas como se realmente elas fossem inocentes.

- E não passam de umas diabinhas já desses tamanhos! Olha só para as minhas mechas ?! - choramingou no final encarando seus cabelos caramelados.

Jade retirou-se da mesa quase correndo para limpar o cabelo, eu segurava o riso para não complicar a situação.

- Anna e Alana depois iremos conversar! - minha mãe simplesmente falou e as encarou em um olhar significativo.

As gêmeas se entreolharam, depois encarou o meu pai, o Lauro e a mim pedindo através dos olhos um pedido de ajuda. Mas apesar da cena ter sido engraçada, eu tinha em mente o quão errado foi a ação de cada uma.

- Ah, Célia! Para com isso, são só crianças! - escuto minha tia falar, mas isso só deixava claro a negligência na educação da filha dela.

Balancei a cabeça negativamente, era só mais um dia normal com drama familiar. Depois do almoço minha mãe foi arrumar as gêmeas, despedir-me do meu pai que se retirou para descansar um pouco antes da viagem e minha tia foi atrás da filha. E como eu suspeitava que Lauro tinha algo em mente o convidei para irmos à sala de jogos.

- Fala Lauro o que você tem para falar! - digo enquanto subo as mangas da minha camisa social cinza. - Sem enrolação. Vá direto ao ponto.

Passo o giz na cabeça do taco para o polir; enquanto Lauro iniciava o jogo espalhando as bolas pela mesa.

- Bom meu amigo, como hoje é o seu aniversário e você é o meu sócio que incrivelmente nunca foi na garotas apimentadas, tenho hoje a obrigação de lhe levar lá. - escuto as suas palavras mas me concentro em encaçapar a bola quatro antes de responder. Como sempre, as minhas eram pares.

- Lauro, eu sou teu sócio porque a minha intenção foi te ajudar financeiramente e alavancar o seus negócios. - Falo enquanto Lauro encaçapa uma bola. - Meu interesse não estava no lucro que o lugar daria, meu único interesse era e continua sendo em ajudar o meu amigo.

- Eu sou realmente grato a você Dom, a Diana além de me deixar, ela conseguiu arrancar de mim o meu dinheiro... e pisar nos meus sentimentos! - Lauro soltou um riso baixo com as últimas palavras ditas. - Mas você, meu amigo, foi um samaritano na minha vida.

- Que isso, cara? Você é da família. Te ajudo novamente se preciso for.

- Eu sei. Você é como um irmão pra mim, Dom! - toquei no seu ombro firmemente e olhei em seus olhos.

- Você é meu irmão, Lauro. - assenti sutilmente em uma afirmação.

- E é justamente por isso que você tem que ir nas garotas apimentadas. - diz humorado. - Eu conheci uma garota! Depois de três anos! Consegue imaginar?

- Opa! Que garota? - me encostei na mesa e apoiei o braço no taco.

- Eu quero apresentá-la a você hoje, esse é um dos motivos para lhe levar lá. - Lauro se encosta ao meu lado na lateral da mesa.

- Sabe que não gosto desses ambientes, mas quero conhecer essa garota que conseguiu ultrapassar os muros impostos por você, só por esse motivo que irei. - dou dois tapinhas no seu ombro e digo:

- Mas não ficarei por muito tempo. Tenho um compromisso marcado.

- Não há problemas! A noite será agitada então anime-se amigo. - balanço a cabeça concordando.

- E como tem ido os negócios? A mídia continua pegando pesado com os boatos!

- Nada que afete. A política de privacidade é rígida para ambos os lados. - deu de ombros - As meninas não são forçadas a nada, sempre fica na escolha delas em aceitarem dançar particularmente ou em sair com o cliente que pagou.

- É uma medida arriscada. - comento.

- Ninguém gosta de escândalos, Dominic.

- O que o dinheiro não faz, né?

- Pois é meu irmão. - cruzou os braços e deu de ombros. - Dinheiro compra quase tudo. Menos o essencial, o caráter.

- Isso é irrevogável.

- Por falar em escândalos, tem notícias da louca que lhe processou por assédio? - indagou.

- Lilian Santoro? Nenhuma. - respondo lembrando do perfil de mulher recatada que ela apresentou na intrevista. - De todos os problemas que enfrentei e enfrento, nunca imaginei que algo assim aconteceria justamente comigo que mantenho o lado profissional na empresa.

- Ninguém está livre de armações e intenções. - disse e deixamos os tacos de lado.

A sala de jogos era bem requintada de um modo harmônico, e algo que não podia faltar aqui era o balcão de bebidas. Alonguei meu pescoço e marchei para lá, peguei dois copos de whisky da bancada de vidro e antes de entregar a bebida a Lauro acrescentei duas pedras de gelo como ele gostava.

- Mas o fato de você estar apaixonado meu irmão, merece uma comemoração! - mudo o assunto.

- E você, ainda não encontrou a sua garota? - Lauro indagou.

- Ainda não. No momento certo a encontrarei. - murmurei pensativo e levei o copo aos meus lábios ingerindo a bebida, ainda não era o momento certo para me relacionar com alguém.

Eu tinha que encontrar o assassino da minha mãe.

- E como saberá que é ela... - continuou em um tom de voz curioso. - a garota que nasceu pra ser sua?

- O coração e a simplicidade. Eu valorizo muito isso, é pequeno e discreto. É preciso olhar minuciosamente para achar. - falei sincero. - Por outro lado, não tenho pressa. Preciso concluir algo antes. - murmurei corroído pela sede de vingança.

- Não tem até que se apaixone. Ênfase no "até". - Riu sonoramente.

- Até lá, estarei a esperando. Mas sem pressa. - Sou enfático.

Se tinha algo que eu ansiava encontrar é o assassino da minha mãe, meu passado atormenta o meu presente. Saber que o filho da puta respira, dorme e vive como se o que fez não fosse nada, fazia-me arder em ódio.

As singelas informações que possuía, era apenas a ponta do iceberg. A escuridão sombria e maligna que fazia parte da vida dele, estava bem embaixo da geleira de gelo. Caça-lo se tornou meu objetivo.

Eu nunca esqueceria daquele rosto que atormenta-me nos pesadelos, revivendo uma memória que mantém o coração sedento por vingança.

Eu nunca o esqueceria.

Eu o mataria com as minhas próprias mãos!

*


A tarde passou rápido.

Talvez seja pelo fato das minhas irmãs serem bem elétricas e não terem parado um só segundo depois das aulas de Balé e piano, sem dúvidas elas viram o parque como Paraíso.

No fim da tarde quando ambas estavam exaustas, a levei de volta para casa e antes de ir embora troquei algumas palavras com a minha mãe. Havia uma razão para a minha pressa, pois o tempo para decodificar um arquivo era necessário.

No carro troco algumas palavras com Ian o deixando avisando sobre o que acontecerá às 23:45h.

- O senhor Bennett já encaminhou o computador portátil para o seu apartamento com as coordenadas do local, tudo indica que as alianças entre as máfias serão feitas hoje! - Escuto Ian falar enquanto tento me comunicar com o restante do grupo.

- Estamos deixando algo passar, a máfia Dragão sangrento não faria uma aliança assim tão rapidamente. - Encarei a tela do meu celular quando recebo a mensagem de Ivan.

Estaremos te aguardando no local de sempre, Otto pediu para avisar que chegaremos uns minutos mais cedo.

- Estão expandindo os negócios, é claro que fará. - guardo o celular e penso nas palavras que Ian acabou de falar.

- O informante entrou em contato depois que passou a localização? Alguma informação nova? - inquirir pensativo. - Para alguém que sempre mede seus passos, as suas ações parecem desesperadas, não?

- Não. Sem informações importantes ele não entra em contato. - disse e reduziu a velocidade. - Isso tudo é um jogo de poder, Dominic. Arriscar não faz o tipo dele.

- talvez. - respondi amargamente.

Preparando-se para entrar na entrada da garagem do condomínio, desceu a descida da entrada vagarosamente, as luzes ligadas favoreciam uma ampla visão do estacionamento. Assim que o Ian estacionou perto do meu mustang, saímos do carro e entramos no elevador.

Ele precisava decodificar o arquivo, e eu rever alguns pontos da missão de hoje.

O elevador chega no último andar e assim que as portas metálicas abrem, direciono-me até o meu apartamento.

Como uma forma de segurança, coloco minha digital no painel e após a leitura a inteligência artificial abre a porta. O acesso ao meu apartamento era bem restrito, só as pessoas de minha confiança tinham permissão para entrar.

- Às nove e quarenta iremos à casa noturna do Lauro. Depois iremos para o local marcado para encontrar a equipe para acertar os detalhes da operação. - Comunico.

Ian balança a cabeça enquanto liga o computador portátil.

Enquanto ele se concentrava no seu serviço, eu decidi analisar novamente as informações e entrar em contato com a Central. Apesar de ter toda a operação já traçada, precisaríamos de todo suporte para que a missão fosse um sucesso.

- Shandra? - Eu havia saído da sala para dar a Ian o silêncio que ele precisaria; subir os dois degraus da cozinha que era acomplada com a sala de jantar e peguei o meu notebook pessoal que já se encontrava no balcão de porcelana. - Coloque o senhor Bennett na linha.

- Só um minuto. - ajeitei o ponto sem fio no ouvido e nos minutos que se passaram acessei o meu notebook.

- Ford, o arquivo já foi descodificado? As informações que o nosso informante passou estão dentro desse arquivo. - Enquanto ouvia o senhor Bennett falar, eu visualizava as fotos da máfia que supostamente se encontrará hoje.

- O Ian está trabalhando nisso, senhor. - suspiro, longo e profundamente. - Eu gostaria que o senhor liberasse o Ian para acessar as imagens do satélite que transmite a imagem em tempo real.

- Porque?

- Por que se nada sair como planejado, teremos um trunfo surpresa. - esclareci o que me inquietava.

Cada missão era uma curva silenciosa e perigosa, o suspense que o desconhecido provocava deixava cada um em estado de alerta.

Um informante. Um traidor. Pessoas de confiança.

Estava tudo naquele jogo, um caia e o outro avançava.

- Darei a resposta às nove e meia, precisamos também da autorização da katarina. - avisou.

- Aguardarei pela resposta. - respondi antes da ligação ser encerrada.

Alonguei o pescoço e com meu notebook em mãos caminhei para a sala, eu podia sentir o desejo de vingança grunhido por saber que hoje o encontraria e poderia finalmente o matar.

*

A casa noturna já estava cheia, o brilho que reluzia do globo de luz espelhado deixava o ambiente sofisticado e modernizado. Um ambiente refinado para o bel prazer dos clientes da alta classe, oferecendo conforto e privacidade.

Já havíamos ensaiado por tempo suficiente, tempo esse que foi até estendido pelo Lauro. Se eu estava nervosa? Não tenho nem como esconder, a minha expressão enervada dizia tudo.

Eu já estava vestida, bodysuit de couro preto de mangas compridas, meia calça arrastão e botas pretas de 10 centímetros de salto. As meninas me ajudaram no cabelo deixando os ondulados e na maquiagem, e quando me olhei no espelho amei o resultado. Olhar para o espelho foi encontrar a mulher sexy que sou, e determinada a fazer algo que nunca sequer cogitou fazer na vida.

- Você consegue. - sussurrei baixinho e soltei o ar pela boca.

No palco, quatro meninas já estavam fazendo a apresentação para o público que havia chegado. Enquanto o sócio não chegava, eu observava o movimento por trás das cortinas. O frio na boca do estômago passava sensações inquietas para todo o meu corpo, pelo simples fato dos meus olhos encararem o público alvo.

Parecia que logo hoje a casa noturna estava mais cheia que as noites anteriores.

Lauro conversava com um segurança que estava no canto do palco, um ótimo chefe pelo pouco tempo que conheço. Fazia questão de ter amizade com todos e resolver cada problema com uma clara conversa, e pelo que me falaram ele nunca tratou um funcionário com arrogância.

Segundo Rubia, ele possui um espírito pacificador. Se bem que a presença dele exala mansidão.

Soltei a respiração exasperadamente e tentei me familiarizar com aquele cenário para acalmar os ânimos que estavam bem agitados pelo nervosismo.

- Estou nervosa... - comento baixo.

Suellen segura nas minhas mãos, antes de falar:

- Não precisa ter medo. Olha, bem no início, eu costumava pensar que não existia ninguém mais além de mim no palco. Apenas eu e a música. E isso me ajudou bastante com o meu nervosismo. - Claramente ela queria me passar um pouco da sua confiança. - Kris, dessa vez você tem uma plateia particular! - olhei para onde Suellen olhava e vi Melanie e Alicia.

- Já volto...- comuniquei.

- Pega o sobretudo da Babi que está jogado na cadeira, pra esconder o figurino. - Fiz o que pediu e fui atrás das meninas.

Quando me aproximei delas, as cumprimentei da maneira mais irritante que elas odiava: Apelidos que destacam o seu tamanho.

- Minhas minion... - Abracei primeiro Melanie e a escutei bufar, já Alicia tinha que falar algo. - Parabéns, por ter conseguido a vaga no New York Post. Só me desculpe por não ter atendido a ligação e respondido a mensagem.

- Aff, já começou! Você é uma rabugenta!-- gargalhei sonoramente ao ouvir o comentário da Alicia.

- Sem problemas, Kris. Eu havia esquecido que também era a sua entrevista. - desfiz o abraço.

- Eu também amo você. - ironizei e apertei a ponta do nariz da Alicia. - Como conseguiram entrar? - perguntei.

- Derrubei o guarda lá fora, aplicando o golpe do mestre Shaolin. Depois roubei o aparelho de desbloqueio de senha, usando meus truques super secretos! - escutei Alicia contar sua mentira bem óbvia, simplesmente para irritar a Melanie.

- Alicia, bem menos. Você está sendo bem dramática. - Melanie a cortou, ambas do mesmo tamanho mas com personalidades totalmente diferentes.

- E você está sendo uma chata, mel. - revirou os olhos.

Melanie mostrava ser a insensível do grupo, impaciente com pessoas que não eram objetivas e claras com o que queria. Mas tinha um grande coração para ouvir e aconselhar quando alguém precisasse, não importando se era conhecido ou desconhecido. A realidade era uma só: Ela não gostava de mostrar seu lado amoroso constantemente. Mostrava apenas quando julgava ser necessário.

Suspirando profundamente, a Melanie disse:

- Me desculpe. Isso é efeito da minha irritação ainda presente pela discussão que tive com meus pais.

Os olhos redondos de Alicia a fitaram com doçura.

- Mas é claro que lhe desculpo. Você é chata? Sim! Mas meu amor por você é forte o suficiente para aguentar a sua chatice.

- É por isso que amo vocês. Minha vida é repleta de cores com vocês duas nela. - abracei Alicia enquanto falava.

Alicia era calma, manipuladora, engraçada, ousada e dona de uma alma doce, enrolada para fazer as suas obrigações, o que às vezes em parte eu considerava preguiça da parte dela. Alicia é a minha metade, enquanto eu sou composta pelo drama e nervosismo, ela é a parte calma da minha vida.

A conheci no final da minha faculdade, na época eu morava de aluguel em um pequeno kitnet e estava à beira de ser despejada pelo simples fato de ter perdido o trabalho e as economias que tinha não era o suficiente.

Alicia foi literalmente o anjo da minha vida, mesmo em seu momento de dor, me chamou para morar com ela sem me conhecer. Ela me viu chorar no banheiro da faculdade e quando perguntou o que me afligia, eu desabafei. Ela não me conhecia e mesmo assim me ofereceu ajuda. Uma louca que eu amo.

- Kris... você está me apertando. - suas mãos tentavam me afastar.

- Desculpa... - Me afastei sem jeito.

- Respondendo a sua pergunta, a Bárbara me ligou e me convidou para ver a apresentação que você vai participar. E aqui estamos nós. - Melanie esclareceu.

- E eu decidir vim para ver com os meus próprios olhos o tamanho dessa loucura e coragem. - Alicia olhou para as minhas pernas desacreditada. - Sei que você tem uma certa facilidade para gravar as coisas, mas aceitar apresentar sem um ensaio decente, me fez questionar se os seus neurônios estão funcionando direitinho. - Andamos em direção a uma mesa que estava desocupada, nos sentamos ouvindo alicia falar com a boca cheia sobre a minha louca decisão. - É sério parece meus trabalhos da faculdade! Feitos quase em cima da hora. - direcionou a fala para Melanie que revirou os olhos.

- É, sem dúvidas foi uma loucura ter aceitado o pedido para dançar. - dei de ombros. - Mas, tudo na vida tem uma primeira vez.

- Achei incrível e desafiador. - disse Melanie.

- Coloquem arriscado nisso. - falei.

- Mas dará tudo certo. - Alicia comentou. - Se você vai participar é porque se dedicou ao treino e se entregou por completo. - sorrir de forma doce.

Olho para o palco e vejo as meninas dançarem no pole dance, as batidas da música eram envolventes o que facilitava para o balançar dos corpos. Então lembrei que eu não poderia ficar aqui por muito tempo, já que a qualquer momento o sócio chegaria.

- Meninas preciso ir depois nos falamos! - dei um beijo em cada uma e segui ao encontro do grupo, à medida que andava sentir um friozinho gostoso na barriga.

*

Lauro havia me levado para área vip com vista para o palco, olho casualmente para as pessoas que estavam sentadas e distantes do pole um trio de garotas chamou a minha atenção, não especificamente o trio, mas uma em particular.

- Quem é aquela garota? - perguntei e mostrei a localização para Lauro e Ian.

- Deve ser a Susan ou a Kris. É difícil distinguir já que ambas têm quase o mesmo perfil físico. E ela estando de costas não ajuda muito. - Observo ela se levantar, os cabelos pretos ondulados balançavam com o seu caminhar.

Tento esquecer a sensação que branda em meu peito, era apenas uma mulher e não tinha nada de anormal nela. Me sento de maneira despojada e fito o palco a minha frente convicto que a dança não me surpreenderia em nada. Afinal, era só uma dança.

- Opa! Vai começar! - Ian diz bem animado.

Meus amigos mostraram entusiasmo com o espetáculo que aconteceria. Eu estava neutro, mas observava tudo com a devida atenção.

- Cara, vai por mim as garotas são feras. - Lauro comenta para Ian, elogiando as meninas.

As garotas que estavam no pole saíram, uma fumaça branca invadiu o palco causando um mistério e suspense no ar. Duas garotas apareceram juntas mas cada uma seguiu para o respectivo poles, ambas encostaram no metal ficando de costas para a plateia. O figurino de ambas era padrão o que me fazia crer que as demais seriam iguais, as outras apareceram e cada uma se posicionaram igualmente, menos as duas que faziam a frente.

O silêncio pairava e as expectativas eram visíveis, apesar de não esboçar nenhuma reação não era algo difícil de fisgar atenção, mas inevitavelmente meus olhos estavam naquelas duas que se destacavam por ter um papel diferenciado das demais.

As luzes brancas estavam direcionadas a cada uma delas, e as batidas da música earned it iniciou e assim as meninas do pole começaram, girando o corpo com sensualidade e harmonia com o salto ( a única coisa que diferenciava das outras).

Voltei minha atenção para as que se apresentavam como um casal, as mãos da que estavam atrás deslizam sensualmente pelos seios até chegar na pélvis da garota conduzindo o mover sensual do quadril. Mas a da frente causava um certo suspense com a cabeça abaixada, usando a baixa iluminação a seu favor. As de trás também estavam em movimento, fazendo que a coreografia se completasse em tamanha perfeição. Observei a garota da frente rebolar sedutoramente e levantar a cabeça bem devagar, todas estavam entregues na dança: corpo, alma, coração e mente. Era um ciclo de poder que se ligava.

Assim que o rosto da garota que eu achei familiar levantou, inevitavelmente eu soltei um palavrão.

- CARALHO! - Mexi-me desconfortavelmente no assento.

Meu coração esmurrou o meu peito ao constatar que aquela garota era a da entrevista.

Caralho do inferno!

- Eu disse que você iria gostar! - Lauro comentou rindo.

Ela dançava de uma forma bem delicada e sensual. Ambas se juntaram ao grupo de trás, e em seguida todas ficaram de costas e abriram as pernas sensualmente, e usaram o quadril para rebolar lentamente de forma sexy. O vibrar das emoções pairavam sob cada movimento delas, fazendo meu coração se aquecer e acelerar desenfreadamente ao olhá-la.

A cena faz qualquer um respirar com dificuldade ou só eu no caso, o jogar do cabelo dela, o deslizar de pernas e os passos sincronizados beirava a uma obra do surrealismo.

Enigmático e inspirador.

Os jogos de luzes piscavam e a fumaça alva deixava apresentação épica.

- Quem diria que a Kris daria conta do recado! - Lauro comentou, ele estava impressionado.

- Como assim? - perguntei estupefato.

- A Kris está substituindo uma dançarina, aprendeu toda a dança hoje. - respondeu - Observe como ela dança, não parece ser a mulher que trabalha no balcão de bebidas. Ela tem talento! - comentou.

Levei a minha bebida aos lábios e a observei atentamente. Suas curvas evidenciadas pelo figurino que a deixava sexy e exuberante, criava em mim uma atração quase fatal.

Não tinha como negar.

- Ela não é dançarina? - Ian perguntou.

- A Kristal? Não! Contratei ela há uma semana, ela não tinha experiência mas eu senti que ela precisava desse emprego. - Lauro riu encarando ela. - E apesar dela já ter me dado uns prejuízos, ela só sairá daqui quando quiser.

A dança já estava chegando ao fim, as meninas estavam com as costas no chão e balançavam as pernas no ar, enquanto as mãos passavam pelo corpo de forma provocadora.

As do pole fazia seus passos iguais e tinham também atenções voltadas para elas, mas o meu olhar naquele momento estava em uma garota específica, que cruzou o meu caminho em uma manhã, e já provocava algo desconhecido em meu peito.

Maria Kristal Hernandez só podia ser uma feiticeira para poder mexer com os meus sentimentos de uma forma tão veloz e fervente.

5154 palavras.

Ps: capítulo reescrito.

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