CAPÍTULO 29

3 dias depois...

    O passado não é só um simples registro de momentos, ele também é a divisa dos caminhos que trilhamos e das escolhas que continuaremos a tomar se não houver um aprendizado. Não há mudanças se o ciclo não for quebrado, e com tudo o que já fiz sei que a redenção está longe de mim.

Não sou o mocinho bonzinho da história, não procuro pela redenção, porque esse foi o caminho que escolhi percorrer. Guio meu caminho centrado em executar a minha vingança, lembro perfeitamente daquela maldita noite, dos sentimentos que senti e de me ver indefeso. Não conseguia entender nada do que tinha acontecido. Não entendia o porquê de não estar com a minha mãe, de sofrer maus tratos em um lugar que não conhecia e de ser surrado por garotos acima dos seis anos.

As lembranças alimentam a minha raiva. Sinto o suor escorrer pelo pescoço, e continuo a fazer as flexões de braço, para aumentar mais um pouco a carga, levo um braço para as costas. Vejo Otto adentrar a sala de treinamento, o mesmo estava com suas luvas de boxes pretas e usava apenas o calção de boxe.

— Infringindo as regras, Ford? — zombou.

Eu usava apenas uma calça puma para fazer as flexões e uma das regras era sempre usar os uniformes que são apropriados para o treino. Conclui a sequência de flexão de braços e me levantei, peguei a garrafa de água e tomei uma boa quantidade.

— Nem um pouco diferente de você. — respondo.

— Tem algo o chateando? Faz três dias que você tem vindo aqui treinar e pelo que vejo é para manter a mente ocupada. —  questionou.

— Você também esteve por aqui e não te questiono. — o cortei com um mau humor do caralho.

Ele riu.

— Eu tenho uma academia de boxe e às vezes eu venho aqui para pensar, sem ter barulhos ao meu redor durante o dia e noite. — esclareceu. — Você está assim por causa da garota?

Sentei no banco e fitei o chão.

— Você está pensando em abrir mão? — indagou, rompendo o barulho da minha mente.

— Eu não posso continuar assim. Antes não havia um peso sobre os meus ombros, mas porra, eu olho para ela e todas as minhas certezas entram em questionamentos. As caças tem sido um tormento porque no fim, estou mentido olhando nos olhos da pessoa que amo. — despejei o que me incomodava.

Otto possuía 45 anos e muitas vezes, ele com a sua sabedoria aconselha alguns dos rapazes.

Olhei para o mesmo que ainda batia no saco de boxe. Depois de um tempo, ele falou:

— Ser um caçador tem seu preço e risco. — Otto fez uma sequência de jab — Você precisa saber o momento certo para se retirar ou continuar lutando por uma causa.

Esfreguei as mãos no rosto, eu havia pensado nisso e estava a um passo de escolher um lado.

— Não se atormente. No momento certo você saberá qual decisão tomar.

— Assim espero. — respondi, o fitando.

Otto parou o treino, tirou as luvas e pegou a sua garrafa de água.

— Nem um rastro do Alec? — perguntou.

— Nenhum. Nem a polícia tem notícia, o cara literalmente sumiu do mapa. Ian e Luke estão atentos a qualquer passo dele.

— Ele não está se escondendo. — comentou - Está apenas esperando o momento certo para aparecer.

— Eu sei. Apesar de estar tomando todas as medidas protetivas temo que posso deixar algo escapar do meu controle.

— Tudo dará certo, meu amigo.

Assenti.

Otto saiu e eu fui para o vestuário em busca de um banho. Já despido ligo o chuveiro e sinto os jatos fortes da água gelada cair sobre a minha pele. Fechei os meus olhos e como nesses três dias a traiçoeira da minha mente, levou-me para aquela noite no bar. Atiçando o meu desejo e me fazendo agir como um adolescente com os desejos à flor da pele.

Depois do banho, me vestir adequadamente para ir na empresa. Eu tentei não pensar nela, três dias haviam se passado e eu covardemente a evitei. Trabalhando em casa a fim de não a encontrar, já que a maldita mentira consumia a minha mente. O fato de ser confrontado com a sua pergunta me desarmou por completo.

Sempre tive em mente que um dia a verdade poderia vir à tona, mas que a desconfiança fosse à instigar me deixou paralisado por minutos. Doeu mentir olhando em seus olhos, mas havia um código de honra que não poderia em hipótese alguma ser quebrado.

Mesmo que um dia eu decidisse sair da organização, os segredos seriam levados comigo para o túmulo.
Seus belos olhos vieram em minha mente, a saudade apertou feito um nó de três dobras, lembrando-me de um mar agitado.

Pude vislumbrar um pedaço do nosso futuro se meu foco continuasse na vingança que carrego a tantos anos, esperando o momento oportuno para ser executado. Mentiras, segredos e rastros de sangue estariam envolvidos nas sombras da minha vida.

*

   Sair do elevador que me levou direto a minha sala, estava tudo limpo e organizado. Olho para a mesa redonda e vejo que havia alguns documentos na mesma, sento-me na cadeira e interfono para a minha secretária comparecer à minha sala rapidamente. É... eu queria vê-la.

Estava louco de saudade e queria sentir seu calor, carinho... porra eu queria vê-la simplesmente.

— Pois não? — Falou assim que entrou e estava séria.

Observei todo o seu corpo, kristal vestia uma saia preta justa e uma blusa de seda branca transpassada na frente. Passei a mão na minha barba rala e falei:

— Preciso que pegue esses documentos da mesa ao seu lado e traga para mim. — ela não fala nada, apenas anda até a mesa e se inclina fazendo a fenda que havia atrás da sua saia exibir um pouco mais a pele da sua perna, admirei as suas curvas e novamente sentir o desejo começar a queimar.

Inferno do caralho!

O documento foi depositado na minha mesa com força.

Putz! O terreno estava minado!

Ela permaneceu em pé esperando algum aviso meu. Olhar sério, postura reta e distante.

— Quais são os compromissos de hoje? — liguei o meu notebook e esperei a sua resposta.

Pela primeira vez não encontrei um caminho para quebrar o gelo que estava entre nós. Ela estava em seu total direito em se encontrar chateada e irritada comigo, afinal, fugir por ser um covarde. Apesar dela não saber o motivo do meu afastamento, ela recebeu a minha distância e pode ter interpretado de forma errônea por minha causa.

— O senhor tem um almoço com a sua mãe no restaurante de sempre, uma visita ao setor de montagem e às 15:00 horas da tarde Natalie Lee pediu para avisá-lo que ela passará aqui.

Volto a minha atenção para ela imediatamente.

— A senhorita Lee falou algo a mais? — indaguei.

— Não, senhor.

Permaneci admirando toda a sua beleza, hipnotizado, vagando meus olhos pelos traços do seu rosto.

— Precisará de algo? — indagou.

— Sim. — o tom saiu baixo e brando.

Levantei-me da cadeira e dei a volta pela mesa, indo ao seu encontro. Não deu tempo para ela pensar no que estava prestes a acontecer, simplesmente a beijei. Silenciei minha mente que estava turbulenta com o meu passado e concentrei-me em provar do seu sabor e do seu beijo.
Kristal se desarmou nos primeiros instantes e se entregou completamente ao beijo apaixonado.

O beijo foi encerrado e após alguns segundos onde estávamos nos olhando ela disse:

— Você estava me evitando? — perguntou e pude perceber que na calmaria da sua pergunta havia uma dose de controle.

— Precisei de um tempo para organizar meus pensamentos, sinto muito pela distância que impus. — acariciei seu rosto amorosamente —  e não, eu não estava lhe evitando. — não menti, eu estava fugindo de mim, da mentira que contei.

— Ok. Voltarei ao meu serviço. —  disse apenas, assenti e a vi se retirar.

Meus pensamentos voltaram para a vinda de Natalie.

Sua visita na minha empresa indicava que ela trazia informações que deviam ser entregues apenas a mim. O ruído dos meus pensamentos aumentaram com imagens da minha infância, um nome ecoando em alto e bom som, junto da memória da minha mãe Evangeline brincando comigo no Jardim. O nome volta novamente e a presença feminina surge nas lembranças, correspondendo ao nome chamado.

Cindy Nabokov.

Volto a sentar em minha cadeira e uso um dos meus programas de inteligência. Tenho informações que em uma rede normal da internet não encontraria, a foto da mulher que apareceu, revelava os traços russos e apesar de estar vestida elegantemente a maneira que olhava para os lados, mostrava um estado de alerta.

Tirei uma foto da imagem para guardar, as perguntas e a busca foram iniciadas. Uma peça importante do meu passado estava bem na minha frente, eu só precisava ser cauteloso a partir de agora.

1472 palavras...

Segue capítulo abaixo...

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