CAPÍTULO 21
Haviam se passado três dias após acordar no hospital e ter o diagnóstico da minha amnésia dissociativa — provocada pelo trauma que passei — antes de receber alta receituários médicos foram passados assim como uma assistência profissional psicológica. Os policiais pegaram o meu depoimento, falei apenas dos fragmentos. Da bebida oferecida em um bar, das palavras que ecoava "minha belle", dos seguranças no chão do meu quarto hospitalar e de ser ameaçada. Não era muito mas era tudo que conseguia lembrar.
Minha mãe havia voltado para piscataway no segundo dia após se certificar que estava "tudo bem" comigo dentro das especificações analisadas por ela.
Antes de ir para o apartamento de Dominic passei um tempo com Alicia e Melanie. Ambas contaram pedaços do que aconteceu comigo e mesmo com as informações dadas nada veio à minha mente. Alicia contou que a pegaram quando ela saiu para chorar do lado de fora do hospital. A fizeram inalar uma substância e segundos depois ela havia apagado, segundo a Dra. Forbes a quantidade inalada havia sido pouca e os efeitos não foram tão nocivos porque haviam injetado o antídoto nela. Alicia havia sido arrastada para casa da sua tia e não tinha como contestar quando sua tia dava a última palavra.
Acompanhei um pedaço do caso nos jornais, tendo ainda mais detalhes sobre o ocorrido. Contudo, acabei chegando à conclusão que não queria lembrar. Havia um motivo importante para minha mente esconder do meu inconsciente e esse detalhe não podia passar despercebido. Eu não fazia ideia do que aconteceu que fez a minha mente empurrar a lembrança para mantê-la escondida do meu consciente.
Antes de chegar na ilha particular, Dominic havia se certificado com a minha médica se eu podia fazer essa viagem. Segundo ela o momento era propício para que eu tivesse uma ótima recuperação. O local possuía o cenário de tirar o fôlego com sua bela paisagem e design.
Chegamos às oito da manhã de helicóptero. O casarão majestoso ficava no alto da ilha tendo a vista do mar à frente. A casa conta com quatro quartos — um sendo suíte — e dois banheiros, um com vista para a água. Varanda completa, sala de estar com lareira e a de jantar acoplada com a cozinha. A energia provinha dos painéis solares com geradores a diesel e aquecedores. Além do Heliporto, havia também uma doca que aloja seis barcos. A ilha possui oito mil metros quadrados, uma casa secundária para os funcionários que geralmente são contratados quando a ilha é alugada. Só que dessa vez ficaria para o uso dos seguranças. Havia uma pequena igrejinha ao lado norte bem ornamentada pelas flores ao lado.
Água cristalina e a areia branquinha tornava tudo um espetáculo.
O vento toca o meu rosto em uma carícia suave. Fazia vinte minutos que havíamos chegado e Dominic havia ido conversar com os cinco seguranças que contratou. E eu após olhar brevemente tudo sentei-me na cadeira de balanço e tento procurar as palavras certas para falar a ele que não queria continuar com a hipnose.
Eu não queria lembrar.
Dominic estava dando-me suporte em tudo, o seu pedido para fazer essa pequena viagem pegou-me de surpresa. Apesar da ideia repentina, me vi querendo me desligar um pouco da cidade barulhenta que é Nova York. Ansiando descansar minha mente e buscar um pouco de paz.
Meus olhos encontram o homem que tem o meu coração na palma da sua mão. Um espetáculo divino, trajando uma calça jeans, uma camisa branca de mangas curtas, boné e tênis preto. Depois de passar as instruções, os seguranças seguem para os postos ordenados. Prendo a respiração quando seu olhar pousa em mim.
Sou presenteada com seu perfeito sorriso. Ao se aproximar ele se abaixa e deixa um selinho nos meus lábios e faz um carinho no meu pescoço com seus dedos.
— O que deseja fazer meu amor?— pergunta.
— Eu queria deitar na rede. Mas não consegui desfazer o nó que fizeram na corda. — revelo dengosa.
— Seu desejo é uma ordem. — respondeu e seguiu para o outro lado da varanda onde se encontra a rede.
Minutos depois a rede de descanso da cor azul marinho estava armada. As laterais feitas com ponto cruz chegavam quase a beijarem o chão.
Me levantei da cadeira e andei em sua direção. Abracei o seu corpo e fiquei por alguns segundos sentindo as batidas do seu coração. Seu cheiro invadiu as minhas narinas e ao sentir seus braços me envolverem fecho meus olhos apreciando esse momento.
— Quero deitar com você. — dei voz ao meu pensamento.
Um beijo é deixado no topo da minha cabeça antes de desfazer o abraço. Dominic deitou na rede e eu me acomodei descansando minha cabeça em seu peito tendo a vista do mar a minha frente. Seus dedos fazem um carinho adorável na pele do meu braço, o que me faz me aconchegar ainda mais a ele. Sendo envolvida pelo calor do seu corpo sou seduzida a me entregar ao sono.
*
O almoço fizemos juntos e posso revelar que a cozinha se tornou uma zona de bagunça e pude ver o quanto Dominic ficou doidinho com a minha "organização". Naquele momento compartilhado pude conhecer seu lado perfeccionista ao cozinhar, sorrio ao lembrar da sua expressão desesperada quando percebeu a minha intenção em fazer uma simples macarronada. Ele por sua vez queria algo mais saudável por estar dentro do meu cardápio alimentar passado pela nutricionista.
Adivinha quem ganhou? Ninguém mais que o meu namochefe. Seus argumentos foram válidos e me vi frustrada por não ter a macarronada. Mais feliz por ser mimada com seus beijos e carinho enquanto cozinhavamos. Também ficou claro que o cardápio que Susana preparava era passado por Dominic. Até quando ele não estava presente. Suspirei, ele realmente estava levando a sério o pedido de dona Isabel.
No ponto mais baixo do sol decidi ir até a beirada da praia. Não havia decidido se entraria na água mas havia optado por ir preparada, usando um maiô verde musgo era cavado nas laterais do seios e costas. Coloquei apenas um short jeans e sai da casa, descendo o caminho feito por pedras que levava diretamente até a areia fofa da praia da ilha. Dominic estava na sacada do quarto trabalhando, saí sem o avisar. Não queria o incomodar ele parecia tão concentrado na tela a sua frente que seria até patético atrapalhar para dizer que estaria indo para a praia da ilha.
Suspiro profundamente.
Senti a paz banhar a minha alma quando fiquei de frente para a imensidão do mar. Observei o quebrar fraco da onda e das espumas chegarem à borda da areia em um beijo lento. Andei para mais perto e sentei ali por um tempo, apenas filtrando toda aquela sensação de alento e paz para mim. Um verdadeiro aconchego para a alma.
O peito formigou e pude identificar que minhas emoções estavam afloradas. Parecia que a qualquer momento haveria uma ruptura na minha sensibilidade emocional. Busquei fazer o exercício de respiração que a psicóloga havia passado para relaxar a mente.
Abri meus olhos e fitei o mar a minha frente, a intensidade da cor e das ondas pareciam me chamar. Um convite silencioso que trazia para a minha alma um certo alívio para o meu caos interior.
Fiquei de pé, tirei o meu short jeans e andei em direção a água. Senti a água gelada tocar os meus pés, ocasionando um arrepio em minha pele, o vento dançando ao meu redor e todo aquele cenário que podia contemplar mergulhar fundo na minha alma. Meus olhos vislumbram o horizonte que é decorado pelo laranja flamejante do céu que pincela uma parte do sol que parece está sendo sugado aos poucos para abaixo do mar.
As nuvens em formato suave de cirrus Kelvin-Helmholtz hipnotizavam meus passos. Eu me senti dentro de um quadro famoso. Guiei meus olhos para um pássaro que cruzou o céu e enchi meus pulmões de ar antes de imergir na água. Os pensamentos por um instante silenciaram-se, as emoções sumiram por completo no peito e naquela calmaria do mar eu percebi que conseguiria passar por qualquer tempestade que viesse.
Essa sobrevivência estava dentro de mim. Independente de não lembrar do que aconteceu algo dentro de mim, dizia que eu, Maria Kristal Hernandez sou uma sobrevivente.
E sobreviventes não desistem, eles lutam.
Emergindo à superfície e ao fitar o sol senti o seu calor entrar pela fenda da minha alma, arranhando os medos impostos até as lágrimas surgirem e transbordarem por meus olhos. Chorei sentindo um alívio no meu coração.
Braços me envolveram e um beijo é deixado na minha cabeça, viro-me e o abraço apertadamente. Toda a situação que passei havia colocado algemas em minhas mãos, deixando-me à mercê dos meus traumas. Dominic não se moveu, apenas abraçou-me e deixou que eu chorasse. Parecia que ele sentia que minhas lágrimas significavam liberdade e gratidão por estar viva.
Aos poucos o choro se silenciou, suas mãos seguraram ao redor do meu rosto e seus dedos gentilmente enxugaram as minhas lágrimas.
— Obrigada. — agradeci.
— Meu amor, sempre estarei contigo. — disse.
Notei em seu olhar um cintilar doloso por me ver assim. Deslizei minhas mãos por seu peito nu e segurei também o seu rosto carinhosamente. O beijo saiu doce e cheio de ternura, levei minhas mãos para sua nuca fazendo um cafuné.
Suas mãos descem para a minha cintura puxando-me para mais perto. Minhas pernas envolvem a sua cintura e seus braços me seguram. O beijo é finalizado com uma distribuição de selinhos pela minha boca. Suspirei apaixonada, a mudança do tempo chamou a nossa atenção para encarar o pôr do sol.
O lindo cenário que pincelava o céu havia sido substituído por nuvens cinzentas.
(...)
Após o banho desci para o andar de baixo. As janelas de vidros aberta permitia que a luz da lua entrasse e clareasse o cômodo devido às luzes estarem desligadas. Marchei para a sala de estar, acendi a luz. Após pegar a lenha no suporte acendi a lareira que não demorou muito começou aquecer a sala com seu calor.
Fitei as chamas do fogo que devorava a madeira com veracidade. Recordo da notícia que recebi após entrar no elevador para silenciar a mídia naquela entrevista de imprensa. Para Kristal a ideia tomada para vir para ilha foi repentina, mas para mim se tratava de mantê-la segura até que o desgraçado do Alec Fontana fosse encontrado.
Alec estava foragido e a polícia estava em sua busca. Pedi para Ivan e Luke o rastrear e se o encontrassem era para o manter preso na instalação. Quando eu retornasse iria tratar com ele pessoalmente. O som inicial da música de Ed Sheeran ecoa trazendo minha mente para o presente. Levanto-me e sigo para a sala onde a minha princesa estava, usava uma das minhas camisas de xadrez com alguns botões fechando e o cabelo no coque despojado.
Suspirei totalmente apaixonado pela visão à minha frente. A simplicidade e naturalidade atraíam-me ainda mais em sua direção. Me aproximei dela no momento exato que Ed começou a cantar Thinking out loud.
Quando suas pernas não funcionarem como antes
E eu não puder te carregar no colo
Sua boca ainda se lembrará do gosto do meu amor?
Seus olhos ainda sorrirão junto de suas bochechas?
E, querida, eu te amarei até que tenhamos 70 anos
E, amor, meu coração ainda se apaixonaria tão intensamente como foi aos 23 anos
E estou pensando em como
O ritmo lento e suave do balançar dos corpos estavam na mesma sintonia. Encostei minha testa na sua e a olhei profundamente feito um bobo apaixonado.
As pessoas se apaixonam de maneiras misteriosas
Talvez apenas com o toque de uma mão
Bem, eu, eu me apaixono por você a cada dia
E eu só quero te dizer que estou apaixonado
No trecho cantando falo:
— Eu te amo, senhorita Hernandez. — Me declarei. — Sabe que antes de te conhecer, eu estava fugindo do amor? Mas aí você chegou, me conquistou e desde então algumas coisas vem mudando aqui dentro de mim. Você, Kristal, é meu belo fenômeno natural. Com suas cores e energia intensa transportou para minha cinzenta vida cores austral.
— Eu também amo você, Sr. Ford. — disse e confidenciou:
— Eu tenho muito medo de não viver o futuro ao seu lado, de que por forças maiores, nossos sonhos sejam interrompidos.
— O futuro sabemos que é incerto e é normal ter medo. — Fiz um carinho no seu nariz com a ponta do meu antes de beijar a sua testa. — Se depender de mim meu amor, vamos envelhecer juntos.
A girei e a trouxe de volta para os meus braços. Suas mãos em volta do meu pescoço fazia uma carícia suave na minha nuca.
Olhando em seu olhos cantarolei baixinho o verso seguinte:
Coloque sua cabeça sobre meu coração acelerado
Estou pensando alto
E talvez nós tenhamos encontrado o amor bem aqui onde estamos
Quando meu cabelo estiver quase desaparecendo e minha memória sumir
E as multidões não lembrarem mais do meu nome
Quando minhas mãos não tocarem as cordas do mesmo jeito
Eu sei que você me amará da mesma forma
Porque, querida, sua alma nunca envelhece, ela é eterna
E, amor, seu sorriso estará sempre em minha mente e memória
Ela abriu um lindo sorriso, o brilho do seu olhar e todo o conjunto que a completava fazia meu coração fazer acrobacias por apenas contemplar e saber que essa mulher que dança comigo é o amor da minha vida.
Deslizei minhas mãos pela lateral da sua cintura e beijei seus lábios apaixonadamente. O sabor da sua boca macia despertava meus desejos e me aprisionava nos seus braços, se eu pudesse a definir em uma palavra, seria: iridescente.
O efeito da sua presença é contagiante e especial. Quem absorve essa luz que toca, inunda, e preenche a alma com a pureza do seu coração definitivamente tinha uma honra inestimável. Eu particularmente sou sortudo de mais por tê-la encontrado.
Olhando em seus olhos pude sentir uma nostalgia familiar mas distante demais para ser lembrada. Uma característica marcante e conhecida que estava guardada no fundo da memória. Continuei puxando aquele fio invisível na mente trazendo à superfície de onde poderia sentir tamanha familiaridade.
Engoli em seco quando Maria Kristal inclinou a cabeça para o lado com o olhar carinhoso me encarando. A resposta veio como um meteoro em minha direção. Na minha frente estava a garota que avistei no Central Park e na ponte Golden Gate Bridge.
Senti assustadoramente meu coração esmurrar meu peito como se fosse um saco de pancadaria. Respirei fundo com a lembrança dançando por trás das minhas pálpebras. Em uma lembrança ela saboreava seu sorvete antes de ir ao chão e na outra eu estava tirando foto dos meus pais quando fui abordado por um homem, pedindo educadamente a mim, que tirasse uma da família dele.
Peguei a sua câmera e fotografei a família, em ambas as lembranças a garota possuía mesmo olhar que Kristal me fita nesse momento. Em toda a minha vida esse olhar carregado de carinho de forma tão encantadora como se carregasse o berço das estrelas, não encontrei em mais ninguém. Ah não ser nos dois momentos específicos e casual da minha vida, as lembranças que agora dançam em minha cabeça.
— Meu amor, você está bem? Ficou pálido de repente? — indagou, sua expressão adquirindo traços preocupados.
— E-u... — gaguejei.
As palavras se prenderam na garganta e não entrava na minha cabeça que essa coincidência pudesse ser verdadeiramente real. Encontrar uma pessoa de um passado distante e de uma causalidade comum, é inacreditável.
— Dominic, você está me deixando preocupada. Está passando mal? — perguntou, e verificou minha temperatura.
— Kristal, eu já te encontrei antes. Foram em momentos diferentes, mas esse olhar que você dirigiu a mim, é único. — falei no automático, ainda em choque, sabia que soaria estranho o que falaria mais precisava saber se ela lembrava — Central Park e ponte golden gate Bridge. Eu lembro de uma garota correndo atrás de um menino por ter sido o causador do seu sorvete ir ao chão, e do homem que me chamou para tirar uma foto dele com a família completa.
— Inacreditável! — disse surpresa.
Seu rosto radiografa uma mistura de recordação e surpresa.
— Eu sou aquele mesmo rapaz que ficou sem reação para ajudá-la a estapear o garoto. — Ela sorriu diante do meu comentário — O mesmo também que seu pai pediu para tirar a foto. Entreguei a câmera ao seu pai e após ele agradecer, fui ao encontro da minha família que já estava de saída.
— Oh, meu Deus! Eu lembro. — levou as mãos tapando a boca ainda sem acreditar. — No primeiro eu tinha apenas 14 anos, e ao ver o achei tão lindo, e mal pude acreditar quando constatei que você correspondia ao meu flerte. — Suspiro, sabendo desse detalhe da sua idade me senti mal, pois eu tinha 17 anos. Mas quem a visse não acreditaria que ela possuía 14 anos. — Eu não o tinha visto direito naquele dia da foto da ponte. Quando você se aproximou, estava ajustando a câmera para a foto. Queria agradecer pela boa vontade de atender o pedido do meu pai, mas você acabou saindo logo em seguida que falou com meu pai.
— Uma vez o meu pai falou que o destino sempre se encarrega de fazer a sua parte. — comentei — E sua razão acaba de me mostrar que o meu mais belo encontro foi achar você sem desencontros dessa vez.
Seus lábios encontraram os meus e com amor nos entregamos mais uma vez ao desejo que crescia no cerne da nossa alma.
2865 palavras...
Olá, meus amores...
Quero avisar que o livro O CEO em minha vida está na Hinovel. Fiz algumas mudanças lá mas nada que prejudique a leitura aqui. ❤️
Vocês lembram do capítulo 6? Onde Dominic lembra de um passado e acha que aquela garotinha era algo casual? Da Kristal vendo a fotografia no quarto do Nink? Eis a segunda revelação... 🔥 Até o próximo capítulo meus cristalzinhos... 🔮♥️
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