CAPÍTULO 16

* Fique a vontade para pular as cenas de tortura.*

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   Encaro o corpo da minha feiticeira, enrolado no lençol que não escondia quase nada. Seus cabelos espalhados a deixava ainda mais bela, vigiei um pouquinho o seu sono profundo enquanto admirava. Soltei um suspiro baixo e me aproximei do seu corpo para deixar um beijo nos seus cabelos,  sua pele quente e macia ainda se encontrava em tons corados.

  Me afastei cuidadosamente e andei em direção a porta. O aspecto sombrio rondava a noite com ânsia de esmagar e devorar, o tributo seria mais uma vez doado ao ceifador. 

Alongo o meu pescoço enquanto espero o elevador chegar no lobby. Chegar no homem envolvido no sequestro não foi difícil. Enquanto quebrava as leis de trânsito da cidade, uma dupla de piratas informáticos, acionado por Ian estavam limpando meus rastros de infração e suspeitas.

Ian além de investigar as pessoas do evento, me auxiliou com o rastreamento e moveu a polícia para chegar ao porto através de uma denúncia anônima. Sua rápida investigação chegou a Bill Hunter quando se deparou com o histórico negro e depravado, quando obtive o relatório da pesquisa, conclui que a intenção de Bill estava em me separar da kristal. 

Ele a queria sozinha. Uma presa fácil para ser abatida quando se está encurralada.

Sinto o sangue ferver com o pensamento. Saio do hotel e constato o carro metálico a minha espera, abro a porta e me acomodo no banco ao lado do motorista. 

— Meu amigo conseguiu pegar antes que fosse encontrado por outro policial. — Johnny falou e me entregou o celular de kristal. 

— Obrigado.— Agradeci e guardei o celular no bolso interno do meu sobretudo. — Ele já se encontra no local?

— Sim. Ele poderá gritar feito um bezerro e ninguém irá ouvir. — o carro estava em movimento seguindo a localização que estava no GPS. 

— E ele irá. — olhei para a janela com a expressão endurecida.

As ideias brincavam na minha mente, já podia imaginar os gritos de dor, a súplica pela misericórdia e o medo da morte saltando pelos seus olhos. Deixei que a sombra de um sorriso perverso também brincasse nos meus lábios. Essa noite levaria mais um para queimar no inferno.

*

   O carro parou em frente a uma mansão, a iluminação baixa não escondia a exuberância da propriedade. Descemos do carro, Johnny buscou acender seu velho cigarro enquanto nos dirigíamos para o fundo da mansão. O caminho feito de pedras e arbustos possuía pequenos balizadores de chão de luz branca. 

Avistei dois homens trajando roupas pretas, em frente a porta da garagem. 

— Jonas, Paulo... — Johnny os cumprimentou com um abraço. 

Cumprimentei os rapazes com um aperto de mão e fui apresentado por Johnny. 

— Está tudo pronto. O homem se encontra do jeito que chegou. Amarrado, vendando e amordaçado. — Jonas o mais alto se manifestou.

— Cadê o Davies? — Johnny perguntou e olhou para a mansão brevemente.

— Esta preparando os cachorros. — olhei para Paulo curioso. — É a condição quê ele impõe para poder ceder o seu lugar.

— O cara é insano. É assim que ele some com suas caças. — Johnny comentou e deu uma última tragada no seu cigarro antes de jogar no chão e pisar em cima. 

A primeira vista se via uma garagem de equipamentos domésticos e mecânicos. A estante com produtos estava desencostada da parede falsa. Após entrarmos Johnny coloca a senha e a porta se fecha. Descemos uma escada e seguimos pelo corredor bem iluminado e paramos de frente a porta onde estava Bill Hunter. 

Dentro do cômodo onde ele se encontrava tinha apenas uma luminária. Fiz um sinal sutil com a cabeça para os meninos e os mesmos andaram em direção ao homem que estava no canto da parede e sentado na cadeira. Coloquei as mãos nos bolsos da minha calça e olhei com frieza para o homem a minha frente.

Primeiro a mordaça é tirada e depois é a venda. Os olhos esbugalhados encontram a minha face e vejo o terror estampados neles.

— Olá, Bill. —  falei fingindo simpatia.

— Dominic, me ajuda. Eu não sei o que está acontecendo. — pediu direcionado seu olhar para os rapazes e depois para mim. 

Folguei a gravata e lancei um olhar gélido em sua direção. 

— E, porque eu acreditaria em você?- indaguei indiferente. 

— Você sabe quem eu sou! — tenta sarfar-se da situação. 

Aproximei-me da mesa onde estava a luminária e sentei na beirada, cruzei os braços simulando uma tranquilidade.

— A noite será longa. — falei, em parte era verdade, o que tinha em mente só terminaria quando o estúpido a minha frente estivesse morto! — Tenho duas opções: continuar aqui ouvindo suas mentiras mal contadas… ou fazê-lo falar da maneira convencional.

A dor.

Poucos tinham controle sobre ela. O que sempre os levava a negociar por sua vida, nada para eles naquele momento é tão importante quanto conseguir sair vivo. 

— E-u não sei de nada. — gaguejou com a respiração ofegante. 

— Eu posso refrescar a sua memória. Não tenho nenhum problema com isso. — estalei a língua e fingir pensar. — Vejamos, quem é a pessoa responsável pelo sequestro da minha namorada?

Indaguei mudando rapidamente a expressão do meu rosto. 

— Eu não faço ideia. Nem sabia que ela havia sido sequestrada. — diz rapidamente.

— Não sabia? E quanto ao seu histórico de tráfico de mulheres? — Ele empalideceu e estremeceu ao ouvir. 

— Dominic, eu não sequestrei a sua namorada. — diz tentando assegurar a validez do seu argumento. 

— Eu imaginei que não seria tão fácil assim.— falei e voltei a ficar em pé. — Podem levá-lo para a mesa.

Bill Hunter é tirado da cadeira e arrastado para onde definitivamente começaria o seu pior pesadelo. 

— Essas são as fotografias que o Ian pediu para entregar. — rasguei o lacre da pasta e peguei as fotografias. — Alguém que pareça suspeito? — Johnny indagou. 

Uma em específico chamou a minha atenção. Era o rapaz que estava no balcão quando cheguei. Era muita coincidência nesse momento ele conversar com Bill e minutos depois com kristal, penso ao observar os horários das imagens. Marchei em direção ao local onde Bill estava e mostrei a fotografia a ele.

— Quem é esse homem?— suas pálpebras tremeram ao fitar a imagem. — Pense bem na sua resposta.

Afastei-me e coloquei as fotos na mesa metálica, retirei meu sobretudo e coloquei no cabideiro mancebo de ferro. Fazendo a substituição por um avental branco. Estávamos sozinhos na sala com o mesmo formato de uma sala cirúrgica. Luzes o iluminavam e no teto havia um grande espelho. 

Bill tinha seus braços, cintura e pés presos a cama. Sua cabeça também estava presa firmemente o mantendo parado e sem chance de se mover. 

Olhei para os instrumentos limpos e organizados na mesa metálica, escolhi  a primeira bandeja e peguei um alicate. 

— Quem é o homem da fotografia? — perguntei e andei em direção aos seus pés. 

Sua respiração acelerada mostrava que o seu limite estava por um fio, e eu nem havia começado.

*

   Os urros de dor misturado com as lágrimas preenchia o lugar onde estávamos. O dedão do pé se encontrava na bandeja ao lado e o sangue fluía banhando seu pé.

— Estou só começando. — falei e depositei o alicate no seu lugar. — Você poderia contribuir para uma morte mais rápida. Mas as suas escolhas o levam a cada consequência dolorosa.

— P-oupe a minha vida, Dominic. Eu conto o que for preciso. — disse tentando conter a insuportável dor. 

Busquei um serrote e posicionei na linha do pulso. A expressão assustada misturada com a transpiração excessiva e a respiração acelerada duplicaram quando comecei a serrar a sua mão.

— Eu ainda não ouvir nenhuma informação. — seus gritos pareciam um cântico doado para o ceifador. O medo gritava por cada partícula do seu corpo. — Sem informação não há acordo.

— NÃO FUI EU QUE A SEQUESTREI. — esbravejou com cólera. — Só fiz o que me pediram. Afastar você dela. — disse entre dentes quando continuei cortando o osso. — Grrr. — urrou. 

Ele continuou:

— Luka Zorkin. Filho de Alexander Zorkin. — fiz uma pausa ao ouvi-lo. Ele puxou uma respiração profunda antes de continuar. — Ele supervisona toda a rede criminal da (dragão) sangrento sem que o seu pai dê as caras. — ele traga uma respiração entre cortada tentando controlar a dor. — Essa noite às coisas saíram do controle. Uma das garotas conseguiu se soltar, mas acabou morrendo na fuga. Podia ser qualquer mulher do evento, mas se ele a escolheu é por quê... — voltei para a mesa metálica e olhei outras opções. 

Peguei um e segurei o cabo com firmeza, voltei para perto da onde estava a minha caça. Bill estava pálido e demonstrava fraqueza. Girei o machado de porte médio em minhas mãos e em milésimos de segundos seus gritos voltaram, vi o exato momento que sua mão caiu no chão. 

— Você prometeu que teríamos um acordo. — ouço sua voz fraca. Bill parecia um moribundo implorando por sua vida miserável. 

— É, eu menti. — revelei e depositei machado nas suas pernas. Senti a garganta secar, busquei a garrafa de uísque que ficava avista na bancada de mármore cinza. 

Aproximei-me novamente dele, sentindo uma revolta caótica dentro de mim ao imaginar que essa noite poderia ter sido um verdadeiro horror. Kristal poderia ter sido levada e por um descuido meu sofreria nas mãos desses demônios. Mulheres resgatadas dos tráficos carregam traumas por toda uma vida, elas seguem lutando e vivendo um dia após outro. As marcas se eternizam na alma. 

Minha mãe biológica morreu tentando acabar com essa rede de criminosos, seu legado eu levarei. Essa teia de podridão vem a anos matando pessoas inocentes. Ceifando inocentes como se fossem donos da vida. Nós, os caçadores, estávamos ali lutando para aniquilar esses vermes e libertar as vítimas. 

Nos infiltramos no meio para derrubá-los, arriscamos nossas vidas para ser a esperança daqueles que não tem chances de escapar. É um caos, um ninho de conflitos e quase sempre de percas. A jornada sem dúvidas é infinita. Essa rede criminosa estava longe de acabar. E pensar que essa noite a mulher que eu amo entraria para as estáticas faz meu sangue gelar e ferver ao mesmo tempo. 

Sorvi a bebida mais uma vez do gargalo, silenciei os pensamentos e me concentrei no meu presente. 

— Que honra eu teria se cedesse a você uma chance para viver? Quantas vítimas também não tiveram uma chance, e morreram tentando fugir? Arrancadas dos seus países de origem, da sua família para viver uma vida de escravidão? — verbalizei e seus gritos voltaram quando despejei uísque no seu punho decepado. 

— Vá para o inferno! — rosnou em cólera. — Seu maldito! Ele vai atrás dela e você vai falhar! —  berrou. 

— Antes você irá e se juntará com os seus. — peguei um instrumento cortante e me aproximei dele, segurei fortemente em seu pescoço e falei:

— E se por acaso houver outra vida, eu serei seu maior pesadelo lá. Serei seu eterno tormento. — falei frio enquanto fazia um corte na lateral do seu pescoço e via seus olhos se esbugalhar. — E assistirei você morrer novamente e novamente. 

Afastei-me e observei sua vida deixar o seu corpo. Retirei o avental manchado de sangue e joguei sobre a mesa metálica onde estava os instrumentos que usava. Lavei as minhas mãos em uma pequena bacia que estava na bancada e enxuguei as minhas mãos com a tolha branca. 

— Um verdadeiro mar de sangue. — Davies apareceu na porta e se encostou na mesma. Alto, careca e cheio de tatuagens pelo rosto. Tinha um aspecto sombrio e perigoso. — Irei finalizar o serviço. Meus meninos estão famintos. 

— Obrigado por ceder o lugar. — Agradeci enquanto colocava meu sobretudo. — É até peculiar tudo isso. 

Ele riu concordando. 

— Sem dúvidas. Gosto diversificar a minha culinária. 

— Como faz para sumir com os restos que sobra? — indaguei curioso. 

— Uso ácido para dissolver os restos. Leva um tempo para preparar tudo, mas o resultado é muito eficaz. — respondeu. — Deveria tentar algum dia. Verá que é até melhor que o jeito tradicional da organização. — ele se referiu ao fato de muitas das vezes entregarmos criminosos para a polícia. 

— Quem sabe um dia. — respondi. 

— Até mais, Dominic. 

— Até, Davies. — nos despedimos com um aperto de mão firme demonstrando respeito. 

*

  Do lado de fora encontrei Johnny com seu cigarro perdido em pensamentos, olhando para as luzes douradas da cidade. A vista era esplendorosa. Aproximei-me dele e fiquei um tempo absorvendo os últimos minutos. 

Eu tinha um irmão. 

Um irmão que nas entrelinhas ditas por Bill, estava obsessivo pela minha mulher. A informação havia trazido um acervo de inquietação. Respirei fundo e soltei lentamente a fim de esvaziar a mente. 

— Noite difícil, hein. — Johnny se pronunciou. 

— Não posso negar. — segurei as mãos nas costas e lembrei que os anos tem sido difícil. Não havia facilidade em ser um caçador.

As batalhas internas às vezes nos fazia olhar para trás e ver o caminho que percorremos: Vidas resgatadas e de volta aos seus lares.

— Como diz o trecho da música do Imagine dragons: É melhor ser o caçador do que a presa. 

Balancei a cabeça rindo do seu comentário. 

— Não há dúvidas. 

*

  Cheguei no hotel por volta da meia-noite e quarenta. Ao entrar na suíte me dirigir para o quarto e a vi dormir serenamente. Aquela imagem trouxe paz para o meu coração.

Após pegar uma muda de roupa me dirigir para o banheiro. O banho gelado tirou um pouco da tensão que estava sobre os meus músculos, as palavras de Bill rondavam os meus pensamentos como uma sombra constante.

Um irmão que havia seguido os passos de Alexander zorkin, comodando os negócios presencialmente, levando a ruína vidas inocentes. Balancei a cabeça livrando-me dessa ideia de laço de sangue. Eu não o conhecia e tão pouco deveria olhar com empatia para um homem que tentou sequestrar a minha namorada.

Desligo o chuveiro, e seco-me. Visto-me com uma calça moletom cinza e uma camisa branca de malha fina. Depois da higiene bucal passo apenas os dedos sobre os cabelos, desligo a luz do banheiro e caminho em direção a cama. Silenciosamente deito-me ao lado da minha feiticeira e a fito um pouquinho.

Seus olhos abriram-se com doçura e olhou para mim de forma analíticos. Fiquei em silêncio pela primeira vez sem saber o que dizer ou fazer.

— Você saiu. Pensei que tinha fugido. — sussurrou e se aproximou do meu corpo. Seu comentário arrancou um riso baixo de mim.

— Nunca. — respondi e me virei tornando o momento acolhedor e íntimo. — Fugir de você não é uma opção.

— Não consegue dormir? — sussurrou sua mão pousava no meu peito e seu dedo indicador fazia um leve carinho.

— Em parte sim. — não menti. O sono estava longe de chegar.

— Vem, eu posso ajudar.

Ela tentou se levantar, mas levei meu braço rapidamente para sua cintura a trazendo de volta para o seu lugar.

— Assim está bom demais. — ela riu baixinho e levou suas mãos até o meu braço.

— É sério... vou ajudar seus músculos relaxarem. — retirei meu braço e esperei os seus comandos. — Agora se sente, mocinho.

— Seja lá o que for não pode ser feito comigo deitado?

— Não nesse momento.

— E em qual momento seria? — indaguei com malícia.

— Dominic! — suas bochechas ruborizaram lindamente.

Sentei-me na cama obedecendo seu pedido.

— Tire a camisa. — pediu.

A olhei sobre o ombro e deixei que um sorriso safado surgisse nos meus lábios, recebendo um olhar seu cemirrado, retirei a camisa.

Suas mãos quentes e macias deslizaram pelo meu ombro e uma relaxante massagem foi feita.

— Meu amor, isso é ótimo. Deus abençoe suas mãos. — verbalizei sentindo o alívio instantâneo. — Mãos de fada.

— Eu sei. — sorriu contidamente — Minha mãe sempre faz no meu pai. Achava lindo esse cuidado dela para com ele e decidir aprender.

— Sua mãe é um anjo. — comentei enquanto absorvia a sensação do seu toque.

— Se ela te ouvir você está perdido. — senti seu corpo pender para mais perto de mim e ao sentir sua respiração perto do meu ouvido, ela sussurrou como se fosse um segredo:

— Ela ama elogios.

— Obrigado pela dica. — respondi.

Minutos depois estava relaxado e sentia-me muito bem. Kristal me abraçou por trás e beijou a minha bochecha docemente.

— Melhor agora? — indagou.

— Muito melhor. — toquei seu rosto carinhosamente. — Obrigado pela atenção e preocupação.

— Amar é cuidar.

Seu olhar brilhante lembrava-se  verão ensolarado cheios de promessas. Toda vez que olhava, a  certeza que lutaria pela sua honra sem pensar duas vezes, tomava conta dos meus sentidos.

— Vamos dormir? — a chamei.

Ela assentiu e deixou mais um beijo na minha bochecha. Deitamos, sua cabeça repousou no meu ombro. Plantei um beijo no topo do seu cabelo e milésimos depois senti meus olhos pesar, sentindo o calor do seu corpo perto de mim, fui tragado pelo sono.

2755 palavras...

Oieee... Meus amores. 🥰

   Feliz aqui por ter adiantado mais um capítulo espero que tenham gostado, obrigada pela leitura. ❤️❤️

Até a próxima... ⏰

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