CAPÍTULO 10
Finalmente o horário de almoço havia chegado. E por sorte não precisei entrar em contato com o Sr. Ford pessoalmente, tudo foi feito por uma simples ligação. Jasmine surgiu como um foguete assim que o ponteiro do relógio indicou o horário do almoço.
— Tem ideia da onde iremos almoçar? — perguntei enquanto nos dirigia ao elevador.
— Vamos almoçar aqui na empresa. O cardápio daqui é de primeira. — respondeu.
— E o Ruan? — indaguei e arquei a sobrancelha.
— Estará nos esperando no refeitório.— respondeu sem entender de fato a minha pergunta.
— Me refiro ao fato dele gostar de você. — sou direta.
Suas bochechas ganham um tom avermelhado.
— Você acha mesmo? — diz um tanto surpresa.
— Se eu acho? Nunca tive tanta certeza na minha humilde vida.
— Nunca percebi nada. E também tem o fato dele ser filho do meu chefe e por esse detalhe sempre tento manter a linha da amizade. — deu de ombros.
— Bom, não sei se ajuda em algo, mas eu percebi que ele gosta de você.
— Ele é um gatinho, né? — disse toda animadinha. — Ainda tem aquelas covinhas que o deixam tão encantador!
Acabei rindo com sua animação.
— É, Jasmine, ele é um gatinho. — respondi rindo.
— Ei, você virá para o leilão da nova tecnologia de ponta? Todo ano o Sr. Ford faz um leilão para arrecadar fundos para ONGS e orfanatos. É um trabalho fascinante e lindo.
— Não sei. — respondo incerta.
— Não que seja uma obrigação, mas todos os funcionários estarão presentes.
— Eu realmente não sei, Jasmine. — respondo sincera.
As portas do elevador se abrem dando-me a visão do refeitório. Cadeiras acolchoadas e mesa lisa e redonda de porcelanato se encontravam espalhadas pelo ambiente, com uma certa distância da outra, promovendo privacidade para as pessoas. Ruan acena para nós, assim o localizamos rapidamente.
Ele estava montando a sua bandeja, e ao nos aproximar fizemos a mesma coisa. As opções presentes se estendiam de frutas, legumes, arroz, carne, salada e caixinha de suco natural e a sobremesa estava de dar água na boca, cheesecake de frutas vermelhas. Montei o meu almoço e caminhei ao lado de Jasmine para a mesa que Ruan havia escolhido.
O refeitório estava cheio e posso dizer que a maioria das pessoas que trabalham aqui, optaram por almoçar na própria empresa do que almoçar fora.
— Mora a muito tempo aqui, kristal? — Ruan indagou.
— Sim. Abracei essa cidade quando decidi me formar aqui. — retiro o canudo da embalagem e introduzo no furinho da caixa.
— É uma ótima cidade para morar. Apesar da sua agitação e da vida corriqueira, é uma cidade que nos fascina. Sua arte, cultura diversificada e costumes são de fato um tesouro. — Jasmine diz.
— Um verdadeiro oásis. —Ruan complementa. — E o leilão de tecnologias de ponta já tem data marcada?
— A qualquer momento receberemos um e-mail informando o dia. Bom, isso foi o que a Silvana me disse. — Jasmine responde. — A nata estará presente e perder a chance de ver grandes nomes está fora de cogitação.
— Vocês irão ?
— Eu ainda não decidi. — respondi. A verdade era uma só: estava pensando em passar o final de semana com os meus pais, queria aplacar a saudade e vê-los.
— Eu vou. Desde o dia que comecei a trabalhar aqui não perdi um dia. Virou uma tradição participar dos eventos da empresa.
De repente o burburinho das conversas alheia se silencia. Meus olhos seguem a direção das atenções das demais pessoas e automaticamente franzo o cenho estranhando o ver ali, parado, olhando diretamente para a minha mesa. Arfo levemente sentido um fio de um sentimento desconhecido acariciar o meu peito.
Diante do silêncio que se instalou com a sua presença, o Sr Ford pigarreou, endireitou a postura e levando as mãos para trás das costas, falou:
— Como todos sabem tenho por costume leiloar tecnologia da minha empresa, esse ano tivemos um contratempo e foi preciso mudar a data. Nesse final de semana acontecerá o evento. Será encaminhado para vocês um e-mail com a localização do evento e com o horário inicial. Desejo a todos um bom almoço e se for possível, avisem aos que não estão presentes.
O coro de palmas é ouvido e assim também faço. O famoso seguindo a onda. O senhor Ford vai embora e a normalidade de outrora volta a reinar.
— Olha, ele soube muito bem improvisar. — Ruan diz, trazendo um assunto para a mesa.
— Porque você acha que foi um improviso? — indaguei.
— Porque essa foi a primeira vez que o senhor Ford veio aqui.
— Ele tem agido estranhamente hoje. Você notou alguma anormalidade na rotina empresarial do Sr. Ford, kristal? — disse jasmine.
— Nada fora do comum. — dei de ombros ao responder.
O almoço prosseguiu entre conversas banais. Ruan falou um pouco sobre ele, legista, solteiro, possui uma alma aventureira e mora sozinho. Super carismático, dono de um bom humor. Jasmine por outro lado mora com os pais, é apaixonada por tudo que engloba a natureza. Um ponto que temos em comum.
Nos despedimos de Ruan, o mesmo partiu na promessa de nos levar para sair qualquer dia desses. O decorrer da tarde foi tranquilo, o senhor Ford recebeu a visita da advogada da empresa e ambos permaneceram no escritório por horas, resolvendo algumas pendências.
Quando meu expediente terminou, bati na porta da sala presidencial, e diante do seu consentimento para entrar, coloquei apenas uma parte do corpo para dentro e perguntei se ele precisava de mais alguma coisa. Diante da sua resposta negativa, organizei os meus pertences, desliguei o computador e deixando a minha mesa organizada, fui embora.
No táxi coloquei meus fones de ouvido e através da música pude relaxar, deixando o cansaço do dia longe dos meus pensamentos.
Mal coloquei o pé dentro de casa e já fui arrastada escada acima para tomar banho. Segundo a minha doce Melanie, atrasos não seriam permitidos. Suspirei pesadamente e tomei uma ducha fria a fim de recompor minhas energias. Banho tomado e pele hidratada.
Enquanto Melanie se prontificou em cuidar da maquiagem e de usar babyliss nos meus cabelos, Alicia se responsabilizou pela minha roupa. Calça jeans escura de cintura alta rasgada no joelho, cropped rendado de alcinha, da mesma cor da calça. Por cima uma jaqueta jeans curtinha. E para finalizar, coturno tratorado de couro.
— Alguma coisa espetou o meu pé! — Alicia exclamou ao sentar de frente para a penteadeira.
— Alguém viu o meu brinco de Pérola? — Melanie indagou procurando o outro par.
Enfim, meu quarto se encontrava em uma bagunça completa.
— Huh, só pode ser esse que espetou o meu pé. — Alicia comentou depois de se abaixar para ver o que havia alfinetado a pele do seu pé.
— Esse mesmo. Obrigada.
— Disponha. — piscou o olho.
Ao me aprontar, me admiro no reflexo do espelho.
— Como estou? — indaguei para as meninas e dei uma clássica voltinha.
— Está perfeita. — responderam juntas.
— Eu preciso revelar que não sei dançar tão bem. — revelei, não considerava o molejo que tinha tão bom.
— É por isso e outras coisas que você tem a nós. Um combo completo com variedades exclusivas. — Melanie disse enquanto passava um batom cor cereja nos lábios. Melanie usava um vestido paetê prata de um ombro só. Decote curto porém não tirava a elegância e delicadeza da peça lantejoula. — Mas sabemos que a questão não é essa. Você só possui uma insegurança.
— Nisso, tenho que concordar com a Mel. — Alicia diz enquanto passa seu perfume. — E você dançou super bem, nas garotas apimentadas.
— Mas ali não fui jogada totalmente aos lobos. Houve um ensaio para que houvesse aquela apresentação.
— Sabemos que sim. Mas se você não soubesse dançar, talvez aquela apresentação aconteceria sem você. — Mel respondeu e sentou-se ao meu lado. — Você é incrível, Kris, nunca se esqueça disso.
— Obrigada. — sorri e apoiei minha cabeça no seu ombro.
— Kris, você me empresta sua sandália prata? — Alicia indagou.
— Claro, fica à vontade.
Ela sorriu em agradecimento. Alicia vestia um macacão que se moldava perfeitamente as suas curvas, cumprido, branco, minimalista. O decote se formava em um V profundo na frente, trazendo uma sensualidade delicada à peça. Ambas estavam deslumbrantes, maquiadas, cabelos escovados e elegantemente produzidas.
— Já chamei o táxi. Hoje iremos nos divertir e por motivos de segurança, não irei dirigir. — Melanie avisou.
— Tudo bem, é o certo a se fazer. — respondi.
A lua brilhava de forma gloriosa no majestoso céu estrelado. Parecia de fato uma noite mágica de contos de fada. Respirei suavemente, enquanto seguia as meninas para o andar de baixo.
Uma estranha e desconhecida sensação bradava nas bordas do meu coração, havia algo de bom naquela sensação, e por mais estranho que soasse, parecia que o desconhecido estava prestes a se revelar.
Cheguei no meu apartamento e deixando a pasta de documentos na poltrona, me joguei no sofá e fechei os olhos na tentativa de espairecer a minha mente. Mas não consigo. O que aconteceu na noite anterior volta novamente ao centro dos meus pensamentos.
Trazendo a cena do corpo de Julian e a ameaça escrita no papel. A noite anterior havia sido relatada ao meu superior e por ordem dele, ficaríamos ausentes por algum tempo. Uma investigação seria aberta em busca de traidores em nosso meio. Essa hipótese não é impossível.
O dia passou de forma algoz para mim. A vontade de tê-la por perto chegava a massacrar o meu coração de forma desumana. Mas eu estava tão perturbado com a cena da noite anterior que nos dois momentos em que não fazia a mínima ideia de onde ela poderia estar, vi interiormente louco para ver se aquela feiticeira realmente estava bem.
Ir ao refeitório foi um ato impensado.
Ao perguntar a Paula, a recepcionistas da entrada, se a minha secretária havia saído para almoçar, e ouvir sua resposta, me fez dar meia volta para marchar em direção ao refeitório. Queria comprovar com meus próprios olhos se ela estava lá e bem. As lembranças da noite passada sufocavam a minha razão e um alerta de risco piscava fortemente dentro da minha cabeça, avisando que se eu continuasse com a intenção de conquistá-la iria ser responsável pelo perigo que correria.
A mantive afastada e senti que essa minha ação a deixou chateada.
Maria Kristal também se manteve distante, já que as questões realizadas não precisavam de um contato próximo. Suspirei cansado.
Estava de mãos atadas. Pela primeira vez o egoísmo dentro de mim se revirava diante da minha decisão. Minha identidade, por mais secreta que fosse, eu temia que um dia no futuro, fosse revelada e colocasse nossas vidas em riscos.
Esfrego meu rosto tentando afastar esses pensamentos negativos para longe.
— Estou fodido! — Expresso meus pensamentos para fora.
A campainha é tocada e franzo minha testa. Não havia marcado nada com ninguém e tão pouco minha mãe avisou que viria. E de forma irritante a pessoa começa a tocar uma atrás da outra, mostrando impaciência. Levanto-me do sofá e sigo para a porta, depois de ver pela tela do painel quem era, reviro os olhos.
Depois de colocar a minha digital, a porta se abre.
— O que você quer a essa hora, Vasti?— pergunto, e abro caminho para ela entrar. Assim que entra, o sensor da porta identifica sua entrada e fecha automaticamente.
— Eu vim te arrastar para uma baladinha, querido. — Ao entrar ela gira seu corpo para ficar de frente comigo. Faço uma careta diante do seu convite. — E nem adianta fazer essa cara de cuzão. O pessoal já está indo para lá e eu me prontifiquei em te levar.
Arqueei minha sobrancelha diante da sua confiança auto declarada.
— Eu estou cansado, Vasti. — Ando para longe da porta.
Sentindo os sinais da fome sigo para o único lugar que pode fornecer comida. A cozinha estava organizada, Suzana como sempre deixava tudo reluzente. Abro a geladeira e vago meu olhar pelo que há dentro. Apesar do silêncio sei que Vasti me observa.
— Deseja comer algo? — pergunto, a olho sobre o ombro a vendo no balcão.
— Sim. O mesmo que você. — Assinto e começo a tirar os ingredientes para fazer sanduíches.
Depois de lavar as mãos, preparei sanduíches de frango e coloquei um molho especial. Peguei dois copos e nos servimos com suco de laranja.
— Hoje é o aniversário do Luke. — disse quebrando o silêncio. — Ontem foi uma noite que nos intimidou. O impacto da cena preparada para nós, nos desequilibrou. E pensando nisso decidimos sair para comemorar o aniversário do Luke.
Preparei dois sanduíches para cada, e coloquei os de Vasti em um prato separado do meu.
— Talher? — Perguntei e a vi negar. — O que aconteceu ontem mudou as peças do jogo. Agiram daquela forma porque possuíram informações de alguma pessoa entre nós. Ainda não sei, mas pode se tratar de um traidor ou mais, está sob investigação sigilosa.
— Você acha que o Simmons Ward está envolvido? — tentou sondar.
Dei de ombros sentindo a vontade de arrastar aquele maldito até a sala de tortura e fazê-lo falar.
— Não sei. Eu realmente não sei. Pedi para Otto rastrear cada passo dele, mas os caminhos que ele frequenta são públicos e até o momento ele não se encontrou com ninguém.
— Ele não tentou contatar a família? — balancei a cabeça negativamente em resposta.
— Não. E nem a família entrou em contato. Até onde sei o pai abandonou a família quando ele tinha treze anos, a mãe e a irmã moram na Rússia.
— Hmmm, isso é molho de abacate? — Vasti, perguntou se deliciando com o sanduíche.
Balanço a cabeça enquanto como meu sanduíche.
— Eu te conheço Dom. Ainda tem algo lhe tirando o sossego. Algo que é importante demais para ser deixado de lado.
Depois de tomar um gole do meu suco, digo:
— Tentando fazer o certo. Apenas isso.
— E o certo seria? — indagou tentando capturar o ponto principal. Apenas suspirei e voltei a comer o segundo sanduíche. — Oh, meu Deus. Não me diga que se trata de uma garota?
Não a respondo. Vasti me conhecia muito bem e mentir para ela seria covardia da minha parte. Tamborilou os dedos no balcão até erguer seus olhos para mim e dizer:
— Não quero influenciar a sua decisão. E espero não estar falando asneiras. Mas pense bem no que vai fazer. Eu sei dos riscos que corremos toda vez que saímos para uma missão. Mas você acha que vale a pena não amar por medo de um futuro que possa não acontecer?
— Eu não posso ser egoísta e trazê-la para minha vida, Vasti. — revelei — Nunca pensei que fosse real a existência de conexão de alma. Pra mim isso era história balela. Mas no dia que os meus olhos pousaram nela eu senti um magnetismo que me atraia a olhá-la. Demorou, mas percebi que a sombra do desejo de vingança se dissipa toda vez que a tenho ao meu lado.
— Só lhe digo uma coisa: O que estiver predestinado para acontecer, vai acontecer. Você prorrogando ou não. Não existe barreira que permaneça diante de um sentimento arrebatadoramente forte. — suas palavras invadiram a minha mente como uma forma de reflexão. — Você vai saber qual decisão tomar quando o momento chegar. Por hora, vamos espairecer a mente e nos reunir com o pessoal do grupo.
— Obrigada, confesso que o medo estava me sabotando.
— Sou sua amiga, Dom. Estarei aqui para o que for preciso.
Terminamos o lanche e depois de recolher nossos pratos, deixei-os sobre a pia e fui para o quarto, tomar um banho e me arrumar. No banho, reconsiderei as palavras ditas por Vasti.
A razão lutava com os sentimentos.
Balancei a cabeça tentando me livrar por hora desse conflito interno. Arrastei o meu olhar para o espelho e me concentrei em dobrar as mangas da minha camisa social branca até o cotovelo. Escolhi um estilo diferente do meu dia a dia. Optei por uma calça jeans de lavagem escura e tênis branco. Peguei um relógio das minhas coleções e coloquei no meu pulso, catei meu celular e carteira e saí do quarto.
Assim que chegamos a animação do pessoal rolava à solta. A comemoração já havia se iniciado. Uma nova rodada de shots de tequila sendo servido com limão e sal foi colocada na mesa. Decidi por hora ficar observando o movimento que acontecia na pista de dança.
— Está distante. — Kenzie tinha em suas mãos dois copos de tequila. Depois de me dar um bebeu o seu shots de vez. Assim eu fiz. — Quer dançar?
Lançou a proposta sem rodeios.
— Não acho que seja uma boa ideia. — digo.
— Ei, é só uma dança. Não vou beijá-lo e tão pouco mordê-lo. — respondeu.
Sua mão deslizou pelo meu braço e tirou o copo da minha mão. Sorrindo, ela se virou e puxou a minha mão. Deixando nossos copos na bandeja que um garçom segurava na entrada da nossa cabine VIP, saímos em direção a pista de dança.
— Eu vou pegar uma bebida. — falei, definitivamente não estava no clima para dançar.
Me afastei dela sem esperar uma resposta e fui para o balcão de bebidas. O lugar estava lotado. As pessoas dançavam, outras conversavam e tinha os que trocavam beijos nos cantos da boate. Aproximei-me do balcão de bebidas e espero que um dos barman vim me atender.
— Um uísque duplo, por favor. — digo o meu pedido ao jovem barman.
Enquanto meu pedido não vem decido olhar o ambiente a minha volta, minha atenção é agarrada instantaneamente quando a vejo do outro lado do balcão. O outro barman distribuía sorrisos soltos para cima dela que retribuía e conversava com ele. Algo dentro de mim se contorceu amargamente. O barman se afastou dela para atender outra pessoa do outro lado e quando dei por mim, estava andando em sua direção.
Não havia mais uma dúvida sobre o que eu escolheria. Com a resposta pulsando em minha mente.
A resposta que meu amigo Velasco havia dito que eu encontraria.
Eu estava apaixonado por ela.
Aparentemente, a ideia de vim pedir a bebida foi totalmente armação quando percebi que estava sozinha. As meninas furtivamente voltaram para a mesa e deixaram-me sozinha conversando com o barman. Entre risos e conversas, ele se apresentou. Steven, tinha o rosto anguloso, cabelos banhados em uma mescla de castanha claro e escuro e olhos tonalizados no caramelo. Notoriamente, ele passava de mim por cinco centímetros. Pele dourada e um corpo definido.
Olhando-o não era impossível achá-lo bonito. Mas apesar das trocas de conversas e sorrisos arrancados, eu não senti nenhum tipo de atração por ele. Depois que o meu pedido foi anotado ele se virou e foi para o outro lado do balcão para atender outra pessoa.
Sentei na banqueta e coloquei meus braços sobre o balcão. Suspirei fundo e tentei ver se as meninas estavam na mesa e não foi surpresa nenhuma ver Melanie conversando com um homem muito belo, por sinal. Alicia estava atenta ao movimento à sua frente.
Um arrepio ultrapassa o meu corpo quando uma respiração toca a minha nuca. Seu perfume adentra as minhas narinas e automaticamente fecho os meus olhos sentindo um reboliço no meu coração.
— Boa noite, anjo. — sua voz gutural soa próximo ao meu ouvido.
Viro-me ficando de frente a ele e foi uma péssima ideia. Seu corpo ficou muito próximo ao meu. O que quase desencadeou uma arritmia cardíaca.
Olhei seu rosto e o impulso de tocá-lo formiga minhas mãos.
Seu olhar brilhante me seduz inteiramente. Mas lembrei-me da sua distância, da nossa conversa em relação a sua atitude pela manhã.
— Boa noite, Sr. Ford. — disse seriamente.
— Maria, podemos conversar? — havia algo em sua voz que mostrava uma certa urgência. — Por favor.
Suspirei, rendida.
— Seja breve. — tentei ser firme.
— Eu gosto de você. — Soltou olhando nos meus olhos. — Fui um idiota hoje pela manhã. — balancei a cabeça em concordância e ergui a sobrancelha para o incentivar a continuar falando. — Há coisas que assombram a minha vida, e são essas coisas que enfrento dia após dia. Eu não posso ser egoísta, não com você. Então me perdoe quando tento te afastar, é porque simplesmente, eu sinto um grande medo de te perder.
Suas palavras foram sinceras. O impacto de cada uma delas me fizeram baixar a guarda. Havia um mistério que ficou oculto em meio as suas palavras. Uma neblina parecia ser a parede que separava esse lado com o seja o que for que o assombra. Não me atentei a esse detalhe, apenas foquei em algo que incendiava o meu coração: Tudo que havia em mim o queria.
E com essa inundação de desejo, o beijei.
Calmo, doce, explorador e apaixonante. Seus lábios dominaram os meus e ali entregue em seus braços eu soube que aquele fiozinho invisível que me puxava em sua direção, fluía magicamente entre nós. Suas mãos adentram o meu cabelo e agarraram os fios enquanto a minha brincava em uma lenta carícia na sua nuca.
Dominic foi parando o beijo com pequenos selinhos e por último deixou um beijo no canto da minha boca.
Vidrei os meus olhos nos seus e quando dei por mim, confessei audivelmente:
— Eu também gosto de você.
Seu sorriso se abriu e iluminou o meu.
— Você aceita ir a um lugar comigo? — propôs.
Suspirei rendida, abobalhada, falei sorrindo:
— Claro. Só avisarei as minhas amigas. — respondi, ele assentiu.
Stevens se aproximou com as bebidas e antes que eu tirasse o dinheiro do bolso da calça jeans, Dominic se adiantou e pagou a conta.
— Aqui. Pela minha conta e pela dela. Pode ficar com o troco. — disse educadamente.
— A próxima eu pago. — resmunguei.
— Tudo bem. — disse e deixou um beijo na minha testa.
Bebi um pouco do meu martini e com cuidado passava pelas pessoas para que a bebida não fosse derramada. Dominic trazia a outra taça de Martini e me seguia. As meninas olharam para mim com olhares curiosos, sem entender o porquê do meu chefe estar atrás de mim. Eu dei de ombros em forma de resposta.
O carro parou no estacionamento, a iluminação baixa trabalhava com o silêncio do lugar. Antes que eu abrisse a porta do carro, Dominic se apressou em abrir. Aceitei a sua mão estendida e agradeci pela sua gentileza.
— Onde estamos? — perguntei curiosa.
Começamos a andar em direção ao elevador.
— Surpresa. — disse e fez um rápido carinho no meu queixo. — Possui algum tipo de alergia?
— Nenhum. — respondi.
— Ótimo. Você vai adorar.
As portas do elevador se fecharam. Tentei normalizar a minha respiração, eu estava um pouquinho nervosa, pelo fato de não saber qual era a surpresa. Apenas sabia que a surpresa se encontrava no terraço. Abracei a sua cintura e perguntei:
— Me diz uma pista? — lancei o meu melhor sorriso.
Dominic me olhou e mostrou-se pensativo.
— Hmm… exalam uma fragrância suave e doce e tem do alto vários telespectadores.
— Isso tá longe de uma pista! — resmunguei, e cruzei os braços.
Seus braços cercaram-me trazendo-me para um abraço frontal. Abracei a sua cintura e pude sentir cada parte musculosa da sua barriga tonificada, fitei seu rosto observando seus traços marcantes.
— Não pode falar que não tentei. — respondeu humorado. — Mas acredito que poderá ver com seus próprios olhos. Agora só terá que fechar os olhos.
Faço o que pede e ouço as portas metálicas se abriram, sou guiada por Dominic e apesar da enorme vontade de espiar, me contenho. Dou alguns passos e sou virada para uma direção.
— Volto já. E não abra os olhos ainda. — Avisa e o sinto se afastar para longe de mim.
Minutos se passam e sinto Dominic voltar para perto de mim. Seu polegar desliza pela lateral da minha bochecha e suavemente acaricia o meu lábio inferior.
— Pode abrir os olhos. — Abro meus olhos e fico estupefata com a visão que tenho.
Orquídeas na superfície de madeira, a estufa de vidro possuía um teto oval. As estrelas brilhavam com intensidade no céu e a luz do luar banhava as flores da estufa. Havia uma baixa iluminação que permitia enxergar o local com clareza e os feixes de luz da lua banham cada flor. Nas colunas possuía uma extensão de luzes delicadas, brancas e bem pequenas de natal. Colocadas em pontos estratégicos permitindo que os pontinhos de luz deixem o local romântico.
— É perfeito. — respondi. Ainda vidrada em cada detalhe.
Flores de todos os tipos, e a fragrância natural das flores nos bombardeava como um mix de perfume natural.
— Que bom que gostou. — ele sorriu curtamente.
— Como conseguiu ter acesso a esse local?
— Quando voltei para me despedir dos meus amigos, liguei para o dono que é um grande amigo meu e obtive a sua autorização. Amanhã será a inauguração desse local e você é a primeira pessoa a ver esse espaço.
— Esse lugar é espetacular! — exclamei fitando as flores e conhecendo algumas, jasmim, rosa, tulipa, peônia, lírios e margaridas. Me aproximo de uma e toco delicadamente sua pétala. — É tudo muito lindo.
— Sim, de fato é. — falou.
Tirei meus olhos das flores e voltei a olhá-lo. Dominic tinha um brilho intenso no olhar que transluzia através do seu lindo sorriso. Me aproximei dele e enlacei meus braços no seu pescoço.
— Obrigado. Eu amei a surpresa. — respondi sincera.
Aproximei meu rosto do seu e aproximei a minha boca da sua, reivindicando aquilo que tanto queria. Marcando, explorando e dominando, fazendo exatamente o que em outrora ele havia feito. Suas mãos apertaram a minha cintura, juntando ainda mais os nossos corpos. Seus braços musculosos me refugiavam no calor do seu corpo enquanto sua boca esmagava a minha com uma fome voraz. Transmitindo uma deliciosa sensação de prazer que parecia uma verdadeira chama eterna.
O beijo findou e um lento carinho foi deixado na minha bochecha.
— Ficarei viciado em seus beijos. — sussurrou e roubou um selinho. — São adoravelmente doces.
Sorrir de forma radiante e suspirei derretida. Dominic entrelaçou nossos dedos e me guiou até a grande sacada a nossa frente, cercada pelo vidro da estufa mas ainda assim com uma vista esplendorosa de Nova York. Ergui meus olhos ao céu contemplando o belíssimo cenário. O queixo de Dominic repousa levemente no topo da minha cabeça. Sei que o mesmo está com os olhos fixos nas luzes da cidade.
Pensar no que aconteceu me faz entender que o que está predestinado a acontecer, acontecerá. Independente das barreiras que colocamos no caminho, ela cederá, porque o inevitável é o grande X da questão, o que sinto por Dominic é muito maior para sucumbir a razão que tenta a todo custo alertar-me sobre as consequências que posso sofrer. Surda me fiz aos protestos da minha mente, apenas decidir dar voz ao meu coração.
É impossível um sentimento que brota de forma tão profunda ser sucumbido, quando se está elevado demais para ser parado. Juntos assistimos uma estrela cadente cruzar o céu e logo em seguida desaparecendo das nossas vistas.
— Entregue em segurança. — as luzes de casa estavam acesas, o que indicava que as meninas já haviam voltado.
Dominic saiu do carro e se adiantou a abrir a porta para mim. Eu podia muito bem abrir e sair, mas a sua intenção e gentileza eram adoráveis. Um toque especial recheado de boa vontade. Aceitei a sua mão e sai do carro. Ele fechou a porta sem tirar os olhos de mim.
— Tenha uma boa noite, senhorita hernandez.
— Obrigado, Sr. Ford. — sorri abobalhada.
Sua mão tocou o meu cabelo colocando uma mecha atrás da minha orelha. Com a sua aproximação sentir seu perfume invadir minhas narinas. Impregnando no meu corpo o seu cheiro. Um lembrete que essa noite não foi um sonho. Ela foi real. Seus lábios tocaram a pele da minha testa como um beijo carinhoso de despedida.
Esse, por exemplo, me fez corar timidamente.
— Te vejo amanhã no trabalho. Tenha um bom descanso. — disse gentilmente.
— Você também. Tenha uma boa noite e um bom descanso, Sr. Ford. — falei e me afastei indo em direção a minha casa.
Quando cheguei na porta, olhei para trás e o vi encostado no carro com os braços cruzados me observando. Acenei, recebendo um aceno seu de volta. Suspirei fundo e entrei em casa. Dentro do meu lar, o cheirinho de pipoca fresquinha me atingiu.
— E aí, como foi? — Alicia indagou com o balde de pipoca em mãos.
Sorri lembrando da surpresa.
— Foi perfeito.
— Só isso? — indagou insatisfeita. — Eu quero detalhes.
— A palavra perfeito significa que expectativas foram superadas, dã. — Melanie dá um peteleco na testa de Alicia.
— Ai! Isso dói! — resmunga e arranca risadas nossas.
— Vem Kris, vamos assistir de repente 30. — Melanie chama batendo no espaço ao seu lado do sofá.
— Não bate no sofá. Parece que está chamando um cachorro assim.
— Só você pensou nisso, Alicia.
— Ok, ok, eu posso contar um pouco antes de dormirmos. Agora que tal assistirmos o filme? — intrometo-me e vou para o espaço reservado para mim.
O filme iniciou. A palavra chave para descrever essa noite é especial. Eu não sabia descrever o sentimento que aflorava e intensificava em mim, tão intenso e forte que se fosse possível eu flutuaria. Levei uma quantidade de pipoca na boca e foi inevitável meus pensamentos não fugirem um pouquinho da realidade para pensar no nosso beijo.
4844 palavras...
Beijos meus amores. 💖
Até a próxima.... ⏰
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