CAPÍTULO 1
Impossível enquadrar o que lateja,
o que arde,
o que grita dentro de nós.
– Clarice Lispector
Eu sou um desastre ambulante vivendo nesse imenso planeta chamado terra, uma simples garota que tem um incrível dom de se atrasar. Eu deveria ter ouvido a minha metade, quando a mesma disse naquela balada "Kristal, não exagera na bebida. Amanhã é a sua entrevista." É bem óbvio que eu não lhe dei ouvidos, afinal foi ideia dela e da Alicia comemorar antecipadamente a minha entrevista. Eu sou fraca para bebidas e deveria ter pensando nisso antes de ingerir aquele líquido que desceu queimando feito o inferno!
Foi uma forma positiva de falarem que eu já estava empregada, mas elas não pensaram no depois, e muito menos eu. Quando acordei eu estava meio grogue o corpo pesado e a cabeça querendo explodir que nem uma bomba relógio.
Céus, que karma desgraçado para se ter no dia da entrevista.
Ao levar meus olhos para o pequeno relógio do criado mudo vi que tinha extrapolado o cinco minutinhos, e por Deus, eu senti o nervosismo criar uma histeria no meu sangue, provocando um desespero em minha alma.
Inspirei e expirei centenas de vezes. Dentro do banheiro e para melhorar a minha manhã: Alicia havia gastado quase toda água morna em seu banho, acabei descobrindo na metade do meu banho quando a água quentinha tinha sido substituída pela fria. Eu só faltei chorar de desgosto, estava tudo dando errado para que a entrevista fosse feita.
Talvez fosse um sinal.
Talvez fosse o universo brincando com a minha cara.
Ou a consequência da noite anterior.
Concluo que foi um bom dia dado pelo universo. Uma bela maneira de começar o dia!
Era a minha primeira entrevista em uma empresa de tecnologia, e receber aquele e-mail onde comunicava que eu havia sido selecionada para entrevista, me fez criar altas expectativas. Foi inevitável.
Fui criada em Piscataway, um distrito no Condado de Middlesex, Nova Jersey. Sempre fui uma garotinha que adorava olhar pela janela do meu quarto os flocos de neve cair e me permitia sonhar com o meu futuro. A medida que fui crescendo meus sonhos também foram evoluindo, eu e eles andávamos de mãos dadas pelas ruas de Piscataway. Cada mudança de sonho era resultado das minhas descobertas comigo mesma, um grande exemplo era querer ser bailarina e na primeira vez que coloquei os meus pés em uma academia de ballet, eu descobri que além de não possuir aquele entusiasmo gritante dentro de mim - como imaginei que seria - eu também não gostei da maneira como a professora me repreendia. Foi mais uma das minhas incontáveis histórias que ficaram marcadas na minha família.
E depois de tantas idas com meus adoráveis sonhos, que aos dezessete anos eu descobri o que queria e foi aí que comecei a planejar a minha faculdade. Mas desde os meus pequenos desastres cometidos já na infância, eu percebi no momento em que a mulher da recepção do fashion institute of technology olhou para mim, e pediu a documentação. É... eu havia esquecido. Quem é que esquece documentos tão importantes?
Naquele momento eu senti a mesma sensação que sinto agora.
Respiro fundo quando o taxista para em frente a empresa, engulo em seco quando vejo pelos vidros a movimentação de repórteres que se encontrava no lobby. Entreguei o dinheiro ao taxista e com um gesto sutil dispensei o troco. Passei as mãos na lateral da minha saia de couro preto que chega até os joelhos, a camisa branca de cetim bem ajustada no meu corpo me passava uma certeza na escolha do look. Investir no meu marketing pessoal sem reservas, o scarpin preto com curvas na lateral e feito de couro aveludado me favoreceu ainda mais confiança ao subir os degraus da entrada. O lobby possuía um luxo reservado, não esbanjava o glamour que a empresa por fora mostrava.
Grande e oponente. Camadas e mais camadas de poder.
Na fachada da empresa uma tela digital, mostrava o nome da empresa e depois as novidades que a mesma oferecia para o mundo tecnológico. Os vidros dos andares da empresa eram espelhados mostrando o poder que o dono possuía. Passei pela porta de vidro giratória de aço, olhei para aglomeração de repórteres sentados nas cadeiras esperando provavelmente pelo dono que daria uma conferência de imprensa. A escada rolante estava parada e não havia nenhum sinal de funcionários no lobby.
Olhei a minha volta perplexa com tudo aquilo, a comunicação visual era feita de maneira digital e a recente novidade tecnológica apresentada era um aparelho que mostrará em tempo real a anatomia do corpo humano em uma mesa cirúrgica, dando acesso a fácil informação da estrutura do tronco corporal do paciente. Eu senti meu sangue vibrar olhando cada informação que acompanhava naquele aparelho. Sou despertada do fascínio, por uma rouca voz que ecoou nos microfones, olhei para o dono da voz e quase me perdi na sua beleza, se não fosse pelo pigarreio da recepcionista.
Puta merda o homem é lindo! Aí, babei.
— Oh, Bom dia. Eu vim para entrevista.— digo vibrante.
Ela fez uma expressão estranha, reprovando o meu atraso mas assentiu concordando.
— Antes da entrevista, você e as demais que chegaram na hora marcada, assistirão a conferência do senhor Ford. Na frente tem cadeiras disponibilizadas para as candidatas. — A jovem foi bem enfática ao falar da minha irresponsabilidade com o horário, mas avaliando toda a situação acredito que a sorte me sorriu nesse momento.
Então, sorrir também. Na verdade fingi simpatia para a mocinha a minha frente.
— Obrigada. — falei antes de seguir para a aquele aglomerado de repórteres.
Um gélido nervoso se apossou no meu corpo na medida que me aproximava, e no momento em que percebi que teria que passar por aqueles publicista as minhas pernas paralisou ali atrás deles. A ideia de ser indiscreta com a minha chegada, e de receber olhares reprovados até mesmo do dono que estava ali bem trajado, me fez petrificar aonde estava.
Enquanto ouvia o que ele falava, observei tudo com atenção, mas meus olhos insistiu em voltar a encará-lo para contemplar aquele magnetismo que ele possuía. Inevitavelmente atentei-me em seus traços, alto e notavelmente másculo. A maneira que o terno sob medida abraçava seus músculos que parecia mais uma parede de tijolos, me fez involuntariamente prender a respiração.
Seu olhar pousou em mim com curiosidade, interesse e havia um outro magnetismo que me fez sustentar por breves segundos o nosso contato. Pareceu que naquele momento o tempo havia congelado apenas para nós dois em um looping eterno, senti meu sangue queimar com a intensidade que cintilaram em seus olhos naquele instante.
Desviei o meu olhar e mordi o meu lábio inferior sentindo repentinamente meu rosto esquentar, e para mudar o foco da minha mente decidir olhar para qualquer coisa. Fitei para a primeira fileira onde se encontrava as candidatas e constatei que havia uma cadeira vaga.
Que vantagem eu tinha para ser á secretaria pessoal de Dominic Ford? NENHUMA!
Olhar ele falar com tanta confiança, era um lembrete claro que a secretaria escolhida deverá possuir competência e pontualidade. Eu sou a prova viva que falharia naquele patamar.
— Eu nunca escondi as minhas origens, ao contrário gosto de falar sobre a minha vida para que muitos se inspirem. Fui um garotinho do orfanato do Brooklin, tive minha infância roubada e graças a minha mãe a tive novamente.— respondeu a uma pergunta que um jovem fez.
Logo depois continuou:
— A minha mãe tinha uma frase que no meus momentos de crise ela falava "Dominic, todo vencedor tem uma história pra contar. Calma, é só uma fase."... Tudo que conquistei hoje é em nome de Célia Ford — suas mãos seguravam a borda do púlpito de vidro, o terno preto realçava seu braço musculoso e os cabelos pretos cumpridos o deixava estonteantemente atraente. Eu diria que ele é a definição de um belo e doce pecado.— Sonhos não são impossíveis, o medo o faz impossível. Sou do Brooklin e não fiz do meu triste passado uma desculpa para não correr atrás dos meus sonhos. E para todos aqueles que me assistem, digo: Não permita que o medo paralise seus sonhos. Brilhe e não tenha vergonha de desabrochar o seu potencial, você é capaz de fazer coisas grandiosas.
Prendo totalmente a minha atenção em cada palavra proferida por ele que falava encarando a câmera a sua frente.
— Somos capazes de fazer coisas grandiosas, e não permita que a opinião negativa de alguém apague o brilho dos seus sonhos. Mantenha a fé acesa e não haverá limites para diminuir os nossos sonhos. — as convictas palavras eram ditas com tanto êxtase que era impossível não filtrar para dentro de mim.
Na medida que suas palavras saia da boca, eu me lembrei do meu pai. O mesmo dizia: "Não importa se a sua profissão não é considerada de alto padrão, o que realmente importa é que você seja você no que faz". A sabedoria do meu pai foram de grande suporte no meu crescimento. Principalmente na área pessoal.
Eu possuía um propósito para trabalhar aqui, algo que eu guardava no fundo do meu coração a sete chaves. Um sonho a ser realizado. Uma surpresa para a minha família.
Sentindo um perfume de aroma suave, olho para o meu lado e vejo uma mulher que aparenta está na casa dos quarenta anos. Seu olhar brilhava ao encarar o CEO a minha frente com orgulho, e era perceptível um discreto sorriso querendo surgir no seus lábios. A mesma me encara e instantaneamente eu arregalo meus olhos ao ser flagrada a encarando.
Que falta de vergonha Maria Kristal!
— É da imprensa?— Ela perguntou me analisando.
— Não senhora. Sou uma das candidatas para a entrevista.— falo baixo ao responder a sua pergunta.
— Por que não está com as outras lá na frente ?— inquiriu curiosa.
O medo enferrujou as drogas das minhas pernas.
— Achei prudente permanecer aqui... — menti, deixando de lado a verdade que ecoava em minha mente.
Seus olhos de avelã fez o meu coração tremer diante da minha mentira. O meu rosto esquentou com o seu olhar analisador.
— Não precisa mentir garota branca, eu sei quando um branco esta mentindo. — o discreto sorriso surgiu fazendo a beleza daquela mulher irradiar todo o ambiente. — Então, lhe dando mais uma chance, por que não está com as outras? —Eu a encarei assustada, estaria tão assim na minha cara a mentira?
O prata do vestido que ela usava realçava a sua pele negra, e marcava perfeitamente as curvas do seu corpo. O cabelo liso se encontrava em um coque social e no rosto uma leve maquiagem se encontrava. Eu a olhava e não conseguia formular uma palavra, eu nem sabia quem era a mulher a minha frente mas a sensação de que definitivamente eu tinha acabado de perder a minha minúscula chance reacendeu com força o meu nervosismo. Ela também esbanjava poder.
— E-u...— gaguejei.
Sua sobrancelha arqueou e o seu olhar me intimidou. Respirei fundo e falei:
— Cheguei atrasada senhora, e o meu nervosismo me paralisou, fazendo-me permanecer aqui. — falei.
— Querida, tem males que vem para o bem. —falou e voltou a prestar atenção na coletiva. Então eu fiz o mesmo.
— Senhor Ford, é verídico os boatos que circulam, sobre o senhor está envolvido na obra da prefeitura sobre a demolição do Centro Cultural do Brooklin? — uma repórter do cabelo loiro perguntou, o silêncio foi quebrado pelos flashes quando o Ford falou:
— Os boatos são falsos. Meus planos para Brooklin se encaixam na restauração e construção dos lugares que necessitam de cuidados. E por falar nisso, uma das pessoas que estará comigo na frente do projeto é a minha mãe Célia Ford, que se encontra lá atrás. — neste momento a enxurrada de flashes são direcionados para ela e tecnicamente eu acabo sendo um alvo por está ao seu lado. Mas não me preocupei, já que eu seria cortada da foto.
Olho para a mulher do meu lado e a maneira que ela sorria naturalmente para as câmeras, deixava tudo mais simples. E por Deus, a mulher sabia esconder as expressões tão bem que se eu não estivesse ao seu lado, não teria notado os olhos semicerrados ao encarar o filho e não as câmeras.
— Mais alguma pergunta? — Dominic Ford sem dúvidas havia sido abençoado com o dom da beleza. A presença dele em um ambiente, fazia todos os olhares femininos o desejarem.
— Todo ano, no mês do seu aniversário o senhor tem por costume falar sobre o lançamento que está em apresentação. Em entrevista com Simone Garrett, o senhor revelou que esse ano os planos são outros. O que seria exatamente esses novos planos? Seria área amorosa?
— Eu estou bem aqui! — uma voz feminina que não conseguir identificar, gritou entre os publicistas.
— Que tentador! — brincou, seu riso ecoou e sentir meu coração falhar pausadamente em batidas lentas, os dentes perfeitamente alinhados e branquissimos surgiu no seu sorriso de lado.
O Sr. Ford olhou para o homem com um entusiasmo, e disse:
— Hoje com os meus trinta e dois anos, resolvi dar espaço para outra área na minha vida. No momento ainda não é a amorosa. Mas nunca se sabe quando o amor resolverá me visitar. — murmúrios lamentáveis femininos foi ouvido. E sorrindo sem mostrar os dentes o Sr. Ford limitou-se a falar mais sobre o assunto.— Tenham todos um ótimo dia!
Sem esperar que mais perguntas fossem feitas, o senhor Ford deu a coletiva por encerrada. O alvoroço da imprensa foi colossal, tentaram ir para cima do pequeno palco montado para coletiva mas os seguranças que estavam ao lado fizeram barreira para impedir.
— Até mais branca de neve. — Célia Ford se despediu de mim com um sorriso e andou em direção ao filho que a esperava no elevador presidencial, nossos olhares se tocaram por breves segundos antes dele fitar a mãe.
Saio do torpor magnético que me cercava, balançando a cabeça sutilmente. Não havia dúvidas que minha bela mente estava romantizando essas cenas com a ajuda do meu bobo coração, até parece que um cara como ele teria interesse em uma mulher como eu. É só olhar para ele e ver o estilo empresário fodão que é, esses são tão mulherengos quanto a própria sombra que os pertence.
Suspiro profundamente.
As candidatas andaram em direção ao elevador dos funcionários e com passos apressados ando na direção delas. Acredito que o vasto universo estava me concedendo uma pequena dose de sorte.
Cheguei ao elevador a tempo e com respiração um pouco acelerada me acomodo entre as meninas, e assim que o elevador começou a subir, a minha maior vontade foi de sair correndo.
Sinto uma pressão negativa me rondar, nem parecia que eu iria fazer uma entrevista. Eu tentava acalmar o meu nervosismo com palavras positivas, mas infelizmente não estava adiantando.
Antes de começarem a chamar, nos foi solicitado que respondesse um questionário online. Nos entregaram um tablet e além das informações pessoais - nome completo, data de nascimento, estado civil, relacionado a saúde e filhos - passamos para a segunda e última parte do questionário.
Tivemos que responder assuntos que fazem parte da empresa e do mundo tecnológico global. O que exigiu muito de cada uma, a medida que terminava uma questão que intercalada entre perguntas de múltiplas escolhas e abertas. Meu coração gelava em desespero, a medida que avançava mais difícil as questões se tornava.
A secretária que estava nos monitorando no decorrer da prova, estipulou um tempo de um hora. E graças a Deus conseguir responder antes do tempo acabar.
Quando a primeira garota que se chama Pamela que foi chamada, abriu uma banda das portas acinzentadas com toques metálicos para sair, eu a encarei e estudei a sua feição. Cara de poucos amigos.
Ela foi embora sem olhar ou sorrir para nós, o que fez o meu nervosismo intensificar. O ar condicionado estava ligado, mas eu sentia uma calor fora do comum. Olhei cada canto da recepção, desde o piso de porcelanato, as paredes brancas que possuía um quadro de um artista famoso e por último fitei a parede de vidro que ficava bem perto da mesa que a secretária estava.
Minha atenção é roubada quando uma garota é chamada, observo-a atentamente. Ela estava calma, o vestido tubinho preto caia com perfeição em seu corpo negro. Sua postura mostrava a total confiança que ela possuía, o cabelo no corte Channel deu a ela um charme extra para o seu perfil empoderado.
Respiro, a espera é agoniante. Cada garota que entrou eu observei suas expressões ao sair, algumas neutras outras descontentes. Algumas demoraram outras foram rápidas. E nenhuma das expressões ajudavam a me acalmar, o calor que sentia já havia sido substituído pelo suor frio.
Definitivamente eu não me sentia pronta para encarar uma entrevista com o próprio dono da empresa, e como presente do universo a mãe dele estaria presente.
Tem como ficar pior? Se tratando de mim, creio que sim!
Penso quando vejo a penúltima garota sair, em seu rosto tinha um pequeno sorriso contido. O que me deixou totalmente intrigada, ela fechou a porta mas ao passar por mim, ela me olha e diz:
— Boa sorte, vai precisar! — diz e faz uma careta engraçada. — A senhora Ford é bem exigente. —complementou e pude sentir todo o meu corpo se arrepiar com o aviso.
— Obrigada... — murmuro a vendo andar em direção ao elevador.
Minutos depois a secretaria da recepção anuncia o meu nome e diz que posso entrar. Levantei-me da cadeira e andei em direção a porta da sala com as pernas bamba de puro nervosismo. Antes de tocar na maçaneta da porta, respiro fundo buscando coragem para enfrentar essa etapa, fecho os olhos e desejo-me Boa sorte.
Eu preciso desse emprego.
*
Cada candidata que entrou e saiu, eu comentava com a minha mãe. O jeito peculiar da minha mãe em fazer a entrevista, me fazia prender o riso. Ela mostrava ser uma chefe durona e exigente. A questão era bem simples, a candidata escolhida teria que ser responsável com os horários, passar nas perguntas da minha mãe e mostrar o quão profissional é a partir da entrevista.
Aperto as mãos no braço da cadeira e esqueço a etiqueta quando o riso que prendia a um tempo explode alto, recebo um tapa de leve na minha perna e quando olho para minha mãe a vejo rindo também.
— Se a Pamela receber a notícia que foi contratada, ela não aceitará... — encosto as costas na cadeira e tento me recuperar da crise de riso.
Passo a mão no meu cabelo os levando para trás, o cumprimento do mesmo já estava me incomodando.
-— Que culpa tenho se ela tem cara de descarada? O currículo dela é impecável, admito. Mas ela passou a entrevista toda lhe encarando! — diz na defensiva — E você deveria não as encarar, essas gemas celestes chama mais atenção que esse rostinho bonito.
— Mãe, não exagera. Olha o lado bom, é uma ruiva belíssima que poderia ser a mulher da minha vida. E que mulher! — brinquei sabendo que ela odiava esse tipo de brincadeira. — Em todo caso, encarar é um mine teste.
— Desde quando beleza preenche a alma de amor, Dominic? Só me falta você crescer e descresser em mentalidade. — seus olhos semicerrados parecia lançar dardos em minha direção. — Errar uma vez é lição, duas vezes é burrice! Eu não quero mais uma louca lhe processando por ego ferido e denegrindo o nome da família! — levou as mãos a temporã em um gesto cansativo. — Se você realmente fosse culpado, eu não mediria esforços para que a justiça fosse cumprida. Mas, ela foi ardilosa em arma tudo aquilo por ego e orgulho ferido.
Putz!
— Um tapa dói menos, mãe. — falei me referindo ao início da sua fala.
Seus olhos avelã me censuram revelando que a paciência dela estava na beira de um penhasco.
— Isso é um desejo? — indagou com um sorriso cúmplice.
— Quê? Lógico que não! — respondi automaticamente.
— Ótimo. — encerrou o assunto com um sorriso harmonioso em seu rosto.
— Falta uma ainda, certo? — digo.
— Sim — disse, mais animada que o previsto.
Com o tablet em mãos, minha mãe acessa o perfil da próxima candidata. Logo a foto da garota dos cabelos achocolatados surge na tela do meu Notebook, o azul cobalto do seu olhar realçava a pele clara e acrescentava um toque simples em sua beleza. Por trás das minhas vísceras o pulsar da memória em que a vi permanecer discretamente no fundo da imprensa envolve-me e um estranho calor transpassa a minha espinha de baixo para cima. A sua beleza se destacava em uma pura simplicidade, que aos meus olhos se tornou um perfeito arco de cores intensas e vibrantes.
Foi tão estranho olhar para ela e sentir de uma só vez essa correnteza de sensações desconhecidas, que ao encará-la me sentir sendo fisgado para dentro de um campo magnético. Pareceu de fato uma obra de feitiçaria.
Encarei a foto a minha frente e a droga do meu coração parecia assustado, pois as batidas estavam frenéticas. Travei a mandíbula odiando a falta de controle me dominar, isso estava ridículo. Eu só precisava assistir a entrevista e analisar a candidata, e não deixar que essas novas emoções entorpecesse o meu coração.
A garota só tinha vinte e cinco anos de idade, definitivamente era um bebê no mercado de trabalho em que gerencio. Leio cada informação que aparece no seu perfil, não possuía experiência na área tecnológica mas tem formação acadêmica. E para encerrar o pacote e colocar um ponto final nas desconhecidas sensações, me lembro do seu atraso.
— Certeza que vai entrevistá-la? — pergunto para minha mãe que olhava os resultados do teste feito pela garota.
— E por que não? — me questiona sem me olhar — A srta. Hernandez foi a segunda candidata que acertou todas as questões do teste. Não ter experiência no mundo tecnológico, não diz que ela é incapaz.
— Mas requer pessoas capacitadas! — digo e sem cerimônia interfono para jasmine, avisando que a senhorita Hernandez poderia entrar.— Afinal, essa é a garota que estava ao seu lado, certo? Atrasada para uma entrevista. Uma bela forma de conseguir o emprego. — balanço a cabeça em negação.
— Dominic! Não foi com esses pensamentos que lhe criei! — Sou censurado, a questão era que a minha mãe só queria ter a certeza que nenhuma mulher interesseira ocupasse um cargo que daria aproximações devido ao trabalho. — Sim, é ela mesma.
Um cuidado tomado devido a secretaria anterior que além de se oferecer para mim e eu ter rejeitado o sexo, ela me processou "por assédio". Ela sentiu-se ofendida com o meu simples "não", e resolveu ganhar mídia com isso. Difamando a minha imagem, a minha empresa e levando o nome da minha família para os carniceiros devorarem. Lílian Santoro perdeu, a única coisa que ganhou foi uma foto dela na primeira página do jornal sendo considerada louca, desde esse dia não tive mais notícia dela.
E depois de toda a confusão que ela criou, minha mãe resolveu escolher a nova secretária. E aqui estamos nós analisando cada uma, desde o perfil ao teste que fizeram. Até o momento quatro foram descartadas, além de passarem a entrevista me encarando, os resultados dos testes foram horrendo.
A porta é aberta, e a candidata chamada Kristal entra com seus passos relutantes, sua postura tentava passar uma confiança que não tinha. Analisei seu perfil, diferentemente das demais, eu senti um súbito interesse por ela. Sentir meu sangue incendiar a vendo ali parada novamente, da mesma maneira que ela se portou na conferência.
Bela e elegante.
A fitei por alguns segundos a mais. Seu rosto trazia uma sensação familiar mas não conseguia ligar a ninguém, era como se a névoa fina queresse se romper.
Travo minha mandíbula reprimindo toda a comoção de sentimentos estranhos. E repriso na memória o seu atraso. Minha postura ereta e arrogante surgem como um escudo temporário.
— Olá, branca de neve. — Escuto a minha mãe falar e a encarar com um sorriso contido. Minha mãe estava sendo gentil com uma candidata?
Tento entender o que se passava, mas não compreendi de fato o verdadeiro motivo.
— Se aproxime e sente-se por favor.— peço sério, a garota faz o que é pedido e como as duas candidatas anteriores ela senta na cadeira de frente para a minha mãe.
— Olá, bom dia senhora Ford e senhor Ford. — seu tom de voz saiu baixo e cordial, observei os traços marcantes do seu rosto, desde as maçãs ruborizada e os lábios bem desenhados.
Hmm isso será interessante!!
Penso quando vejo as ações da senhorita Hernandez condizer com os critérios que minha mãe avaliou nas candidatas anteriores.
— Vinte e nove anos, certo? — minha mãe indagou, as perguntas já haviam começado.
— Sim...
— Horários disponíveis?
— Sim...
— Bom senhorita Hernandez, há algum problema que impediria você de viajar a trabalho? — Encaro aquele rostinho com traços sensuais, nas ocultas linhas do invisível ela escondia algo. Estranhamente eu senti.
— Não há...
— Você tem certeza ? — perguntei desconfiado.
— Está mentindo branca de neve? — minha mãe perguntou fitando o seu rosto.
A entrevista era da minha mãe, mas eu tinha percebido a mudança em sua postura e aqui a clareza era exigida.
— Eu não estou mentindo senhora Ford, o que acontece na minha vida pessoal não afetará a profissional, são coisas distintas.— responde me ignorando e fitando a minha mãe.
— hmm... Ok. Gostei da resposta. — minha mãe a olhou e piscou um olho, depois voltou a atenção para a tela do tablet. — Você está ciente dos benefícios que a contratação dará? Se necessário, abriria mão do seu final de semana para trabalhar?
Essa era a pergunta final.
Era um termo exigido no contrato e devido a extensão da carga horária algumas recusaram, pra crescer profissionalmente exigiria sacrifícios e isso nem todos estão dispostos a pegar o caminho mais difícil.
Eu sinceramente não tinha muita esperança em ouvir uma resposta positiva, a garota não tinha experiência e era muito nova. O seu olhar estava inerte, enquanto pensava na resposta. Era notório que algo a estava impedindo de aceitar, talvez algum relacionamento ou problema.
Ela piscou os olhos antes de responder, e sorriu ao falar:
— Eu aceitaria todos os requisitos propostos. — Franzi meu cenho com a sua resposta.
Ela realmente tinha certeza?
Estava realmente disposta a fazer sacrifícios que não teria como voltar atrás?
— Você tem certeza? — perguntei escondendo a incredulidade.
— Sim, há algum problema na minha resposta? — falou, afiada, fria e sem formalidades.
—Nenhuma, senhorita Hernandez.— disse e deixei um sorriso de lado escapar.
— Você tem certeza? — contra atacou usando a minha pergunta de outrora.
Seus olhos estavam afiados e denunciava a sua irritação. E a fitando pude sentir quando a parede temporária que havia levantado começou a rachar, suspirei infeliz com a minha ação. Eu havia sido um babaca.
— Me perdoe srta. Hernandez pela minha falta de ética. — falei sincero e contemporizador.
Ela limitou a balança a cabeça em um sim, ainda com a expressão fechada. Pigarreando, minha mãe cortou o clima estranho que eu havia implantado no ar.
— Bom, dentro de uma semana estaremos ligando para a futura secretária... — minha mãe falou a encarando — Agradecemos pela sua presença e lhe desejamos Boa sorte.
A senhorita Hernandez murmura uma palavra de agradecimento, a observo andar em direção a porta e sinto novamente algo desconhecido faiscar no peito, de forma singular e bom... mas decidir que não seria hoje que daria atenção a essa pequena chama que aflorou mais uma vez em meu peito.
Levanto-me da cadeira e ando até a parede de vidro que me dava a visão dos prédios de Nova York.
— O que há de errado com a Kristal, filho? — minha mãe perguntou, ela me conhecia muito bem para saber discernir minhas atitudes.
— Pelo contrário mãe, eu a julguei mesmo tendo visto a sua discrição em manter-se lá atrás na coletiva de imprensa, e o principal, a julguei sem a conhecer. — falei, coloquei as mãos no bolso da minha calça preta social e continuei admirar a vista a minha frente.
Definitivamente ela só tinha pontos a ganhar.
Ps: capítulo reescrito.
4671 palavras...
Espero que estejam gostando...
Beijinhos meus amores.
♡
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