Essa festa virou um enterro
Co-Autor: PurpleGalaxy_Project
Betagem por: pipoca77poca
Design por: gwti_nass
Trailer por: amanddyh
https://youtu.be/8Sk5Dc6ihus?si=NhZCpC-M7xjYCOyw
Não estou incentivando nenhuma das ações presentes na história, muito menos menosprezando ou brincando com a dor alheia, eu já passei pelo luto e sei quanto é complicado, saúde mental não é brincadeira então caso não esteja bem procure apoio, e por favor não trate como o Agust pessoas que precisam de ajuda.
Ah, o carnaval é uma das épocas que Hoseok mais ama, com muita festa, brilho e diversão, agora contando com a companhia de seu namorado e, infelizmente, pelo cunhado.
— Vamos parar por um momento e beber uma água? — Agust resmungou, massageando o pescoço. — Esse monte de gente causa um calor infernal.
— Agust, eu sei que você é irmão do Yoongi, meu cunhado, mas, poxa cara, você só veio para azucrinar a viagem? Eu quero passar um tempo me divertindo, mas toda hora você tá enchendo o saco por conta de algo — Hoseok reclamou, claramente bêbado.
— Desculpa se não consigo ser igual a você, que costurou o próprio cropped e saia com miçangas. Se colocar mais glitter na cara, vai poder substituir os refletores do Allianz Park, e que tá aí pulando pipoca faz duas horas. — O homem cruzou os braços, olhando para Hoseok irritado, era um fato que Agust não curtia multidões.
— Vamos lá então, mas já aviso que vou beber uma cerveja bem geladinha com meu gatinho. — Com passos firmes, ou o mais firme possível, Hoseok guiou o trio para longe da aglomeração, até um barzinho, onde poderiam beber.
Eles sentaram em uma das mesas do lado de fora, e rapidamente Hoseok pediu uma garrafa de cerveja, enquanto ele e Yoongi bebiam juntos. Agust foi buscar uma água com gás e limão, pois, apesar de estar de férias, o policial ainda era o mesmo cara rígido de sempre.
— Amor... — Yoongi ingeriu um gole de sua cerveja, sentindo com alívio o líquido gelado descendo por sua garganta. — Sei que meu irmão pode ser meio cabeça dura às vezes, mas, por favor, tentem se entender, por mim. — Ele segurou a mão de Hoseok sobre a mesa, fazendo um leve carinho.
A
— Tudo bem, meu anjo. Mas só porque te amo. — Com um sorriso, Hoseok se aproximou deixando um beijo nos lábios do namorado. — Ainda bem que pegamos quartos separados. Você não tem noção do que esse seu olhar faz comigo.
Yoongi não disse nada, apenas sorriu e deixou outro beijo nos lábios do amado. Antes que pudessem continuar, Agust voltou para a mesa, fazendo Hoseok sorrir de forma forçada, tentando ser amigável.
Após mais uma garrafa de cerveja bem gelada, Hoseok desistiu da ideia de voltar para o bloquinho, enviando uma mensagem para uns amigos que tinha na cidade e combinando um churrasquinho para acompanharem o desfile das escolas de samba. Quem sabe, neste ano, ele ganhasse o bolão da escola campeã.
Enquanto esperavam a noite chegar, o trio dirigiu-se ao hotel. Agust se apressou em se trancar no quarto, a fim de tirar um cochilo. Em seu quarto, Hoseok se jogou na cama sorrindo, abrindo os braços e puxando Yoongi para si, enchendo-o de beijos estalados.
— Amor. Amor! Para! Isso faz cócegas — os dois riam enquanto Yoongi tentava se desvencilhar. — Anda, vamos tomar um banho antes de irmos ao churrasco, tenho glitter em tudo, se eu espirrar, é capaz de soltar glitter.
Hoseok soltou uma gargalhada antes de apertar o namorado pela última vez, deixando que ele se levantasse. Enquanto Yoongi caminhava pelo quarto, os olhos do mais novo brilhavam ao acompanhar seus passos.
— Ei, psiu, gatinho. — Ao ouvir ser chamado, Yoongi olhou para o namorado, o qual lhe lançou um beijo no ar. — Eu te amo, meu pãozinho de alho.
— Aí credo, Hoseok. — O rapaz fingiu nojo, já acostumado a ser chamado daquele jeito.
— Que foi? Pão de alho é a melhor parte do churrasco depois da cervejinha.
— Então, se apresse ‘pro banho ou não terá nem pão de alho, nem churrasco. — Assim que Yoongi jogou a toalha no namorado, Hoseok se apressou em pegar ela no ar.
— Eu posso tomar com você? — Com os olhinhos de cachorrinho perdido, o mais novo tentou seu melhor, recebendo um revirar de olhos.
— Só banho, sem gracinhas, ou te jogo do chuveiro e chamo o Agust.
— Só banho, eu prometo — o rapaz respondeu, enquanto seguia o outro para o banheiro.
E como prometido, nada passou de um banho. Hoseok ajudou o namorado a lavar o cabelo, esfregando os fios com delicadeza para remover todo o glitter, recebendo como resposta, aquele sorriso que ele tanto amava.
Mais tarde, durante o churrasco, eles se sentaram lado a lado no muro da varanda de Namjoon, assistindo ao desfile, enquanto dividiam uma latinha de cerveja e um espetinho. O som alto da música preenchia o ambiente, e o colorido dos foguetes ao longe se fazia presente. No entanto, quando seus olhares cruzaram, não havia nada mais brilhante para eles. Lá estava o sorriso de Yoongi novamente, fazendo Hoseok se sentir a pessoa mais especial do mundo por ser o motivo dele.
— Eca, vou acabar com hiperglicemia assim! — Agust gritou da porta, o que fez o irmão gargalhar, enquanto Hoseok mostrava o dedo para ele.
Na volta para o hotel, o casal foi de mãos dadas, aproveitando a brisa noturna. O coração de Hoseok parecia querer sair do peito tamanha a felicidade. Ele queria poder parar o tempo apenas para viver aqueles momentos eternamente, sem preocupações, apenas aproveitando o seu amor. Enquanto olhava para o amado, Yoongi sentia que poderia chorar de felicidade apenas por saber que tinha a sorte de ter um amor assim.
Agust vinha atrás deles, resmungando sobre o vento estar muito forte.
Para a alegria de Hoseok e a infelicidade de Agust, o dia seguinte começou com um bloquinho passando em frente ao hotel. Os garotos aproveitaram a oportunidade e "pegaram uma carona", seguindo com suas fantasias.
— Agust, que mal lhe pergunte, mas que raios você ‘tá usando? — Eles haviam feito uma leve pausa para ir ao banheiro e Hoseok finalmente reparava nas vestes do cunhado.
— Isso é a roupa adaptada de um plebeu, as mangas e o chapéu ajudam a me proteger desse sol.
— Sério que com tanta roupa você resolveu usar esse trapo? — Hoseok arqueou a sobrancelha, recebendo uma encarada como resposta.
— O Yoongi nem de fantasia tá! E você não reclamou, ele só pôs umas fitinhas no ombro, um óculos colorido, e tá aqui. — Enquanto arrumava o chapéu, Agust resmungou.
— O Yoongi ao menos está no clima de carnaval.
— Ih, podem parar — Yoongi interviu, se pondo entre os dois. — Estamos aqui para festejar, e não brigar.
— Tá bom, anjo. — Um beijo foi deixado nos lábios do rapaz, antes de Hoseok olhar em volta, vendo as pessoas esperando para usarem os banheiros. — Eu acho que vou comprar uma bebida, me esperem aqui ou vão perder a fila.
— Não demora, por favor. E se cuida. — Yoongi segurou a mão do namorado, deixando um beijo em sua bochecha.
— Pode ficar tranquilo, eu vou me cuidar. — Um último beijo foi dado, antes de Hoseok começar a se afastar.
— Ei! — Nem dez passos haviam sido dados, quando Yoongi chamou o namorado. Um sorriso doce estava estampado enquanto ele acenava. — Me traz uma água? Obrigado, te a... — A frase nunca foi terminada.
Um tiro.
Um disparo.
Uma única bala certeira.
É curioso como a vida prega peças nas pessoas. Em um momento, Yoongi estava feliz com seu namorado, mas, em outro, seu sorriso se transformou em uma máscara, enquanto seu corpo caía na calçada sob o olhar de desespero de Hoseok e Agust.
Tudo foi rápido demais, mas para Hoseok, foi como se tudo passasse em câmera lenta.
O som do tiro, os gritos em volta, o sorriso de Yoongi morrendo, o corpo caindo, Agust correndo atrás do atirador gritando "polícia", o seu próprio corpo criando vida e o guiando para se ajoelhar ao lado do amado. Um rapaz apareceu, vestido de abelha, e começou a gritar para que as pessoas se afastassem.
— Espaço! Dêem espaço! Eu sou médico! Ei você! — O homem apontou para um garoto que gravava a cena. — Se você não parar de filmar agora e ligar para uma ambulância, quem vai precisar de ambulância é você! — Com pressa, ele se abaixou começando a examinar os sinais vitais de Yoongi, parando ao notar Hoseok em choque ajoelhado. — Ah! Oi, sou o doutor Park, ou Jimin apenas. Relaxa, o socorro está a caminho. Preciso que seja forte agora, consegue fazer isso para mim? Respire fundo, levaremos ele para o hospital.
Hoseok conseguiu apenas assentir, ao mesmo tempo em que se negava a acreditar no que havia acabado de acontecer. Ele mal percebeu a ambulância chegando, apenas sentiu alguém o ajudando a levantar e o guiando até o veículo.
— Projétil alojado na caixa torácica. Sinais vitais estão fracos. Peça para deixarem a UTI preparada! — Assim que entrou na ambulância, Jimin começou a procurar os equipamentos enquanto instruía os outros socorristas. Para sua sorte eram seus colegas de trabalho. — Onde está a máscara de oxigênio? Andem logo! Uma vida está em jogo! — Enquanto eles preparavam tudo, o médico se virou para o acompanhante.
— Como é seu nome? E o nome dele?
— Sou o Hoseok, ele é o Yoongi.
— Hoseok, preciso que você seja forte, por você e pelo Yoongi. Nós o levaremos para uma UTI e talvez uma cirurgia emergencial. Faremos de tudo para salvar sua vida. — O médico pôs uma mão no ombro do rapaz e sorriu tentando passar confiança. — Você acha que consegue fazer isso? Se precisar, temos calmantes.
Mas Hoseok não queria calmantes, não queria ser forte, ele apenas queria o seu namorado ao seu lado.
No canto da ambulância, tentando ocupar menos espaço e atrapalhar o mínimo possível, Hoseok ficou observando o movimento dos paramédicos colocando a máscara de oxigênio, fazendo as compressões, ouvindo os comandos gritados entre eles, mas nada disso era processado em sua mente. Embora estivesse apreensivo, ele sabia que Yoongi ia melhorar. Não era momento de chorar ainda. Os médicos iam retirar a bala, ele ficaria internado por alguns dias na UTI, mas no fim, tudo ia ficar bem. Precisava ficar bem.
— Deus não permitiria que meu amado fosse levado dessa forma tão cedo. O tiro provavelmente nem foi tão sério assim. Vai ficar tudo bem — Hoseok murmurava baixinho, apenas para ele mesmo ouvir. Ele precisa que eu seja forte agora por nós dois. Posso fazer isso por você, meu amor, pelo menos isso eu posso fazer e logo você vai estar em casa novamente.
Os pensamentos de negação continuaram até chegarem ao hospital, Hoseok foi obrigado a ficar na sala de espera do centro cirúrgico, com nada para fazer além de uma televisão sem volume passando algum programa de culinária. Nem seu celular ele havia trazido para poder passar o tempo ou ligar para Agust e avisar onde estavam. Após perder a noção do tempo e zonzo de preocupação, Hoseok vê seu cunhado chegando a passos rápidos para à sala, fazendo ele levantar em um pulo e automaticamente correr para abraçá-lo, mas no meio do caminho pensou melhor e parou.
— Como você sabia pra qual hospital ir?
— Bom, aqui era o mais perto, então apenas imaginei. Já tem notícias dele? — Agust tirou o chapéu e, enquanto olhava para os lados, como se buscasse algum sinal que o irmão estava bem.
— A enfermeira disse que ia me avisar quando ele fosse liberado, então tô sentado aqui esperando.
Nessa altura, a realidade começa a se concretizar e ele percebeu o quanto estava incapaz de fazer qualquer coisa. As lágrimas começaram a surgir de forma incontrolável, enquanto o monólogo da ambulância se repetia em sua mente, agora com mais julgamentos. “Você deveria ter ficado com ele”, “você deveria ter levado ele junto”, “você é tão inútil que não pode nem proteger as pessoas que ama”, “para que você serve, afinal?”. Algo dentro de si dizia que se jamais tivesse brigado com Agust, se jamais tivesse se afastado, ainda teria o namorado consigo.
Agust, percebendo o estado que o cunhado se encontrava, pegou-o pelo braço e começou a arrastá-lo para a área de fumantes do hospital.
— O que está fazendo? — perguntou Hoseok completamente confuso.
— Precisamos nos acalmar e eu tenho cigarro comigo, simples.
— Mas eu nem fumo. — Ele tentou argumentar, recebendo um revirar de olhos em resposta.
— Me parece uma boa hora para começar.
Ao chegarem na área de fumantes, Agust puxou uma carteira, tirando um cigarro com a boca e oferecendo outro para o cunhado, que o pegou e ficou olhando como se nunca tivesse visto um na vida. O primeiro acendeu o seu próprio cigarro e deu uma tragada profunda, soltando a fumaça devagar, enquanto ofereceu o isqueiro aceso para o outro aproximar o cigarro.
— Acenda e puxe como se quisesse sugar um líquido por um canudo. — Agust orientou, meio puto por ter que ensinar alguém de quase trinta anos a como tragar um cigarro. As pessoas nunca foram adolescentes rebeldes, não? Ele tinha conhecimento de que Hoseok vivia em bares, será possível que nunca havia chegado perto de um cigarro antes?
Hoseok fez conforme instruído e, após a primeira tragada, tossiu violentamente enquanto soltava a fumaça.
— Mas que merda, eu não consigo respirar — Ele resmungou entre tossidas.
— Bom, pelo menos te fez parar de chorar. — Dando de ombros, Agust segurou o cigarro aproveitando a nicotina em seu corpo.
— Por que você está tão calmo? É o seu irmão lá dentro com um tiro no peito que pode não voltar! — Hoseok não percebeu, mas, quando percebeu, já estava gritando com lágrimas nos olhos novamente, o cigarro caindo de seus dedos e rolando pelo chão.
A próxima coisa que sentiu foi ser empurrado de forma violenta contra a parede do hospital e ver seu cunhado a centímetros do seu rosto, com os olhos tomados por fúria.
— Não ache, nem por um segundo, que você se importa mais com Yoongi mais do que eu, apenas porque não to chorando descontroladamente. Eu sei mais do que você o que um tiro pode fazer, então pense duas vezes antes de julgar como tô me sentindo, caso contrário, vou te mostrar com meus punhos. Eu vi homens morrendo em minha frente, por disparos mais potentes. A diferença é que, enquanto você fica choramingando, eu tento manter a cabeça fria, pois, seja o que quer que aconteça naquela sala, alguém terá que lidar com as consequências. E adivinhe, não será um bêbado idiota e chorão!
Agust voltou para dentro do hospital, deixando Hoseok sozinho. Com as pernas bambas, ele se abaixou, abraçando os joelhos, chorando desesperadamente e se sentindo a criatura mais solitária do universo. Com uma prece baixa, ele esperava de todo coração ser ouvido.
— Deus, se você está aí me ouvindo, faça ele voltar para mim. Não vou suportar viver sem ele, só quero o Yoongi de volta. Deus, por favor, me ajude.
Mas a prece não teve resposta.
Após uma breve discussão com o cunhado, Agust voltou para a sala de espera, resmungando sozinho por ter perdido dois cigarros graças aquele idiota. Ao cruzar a porta, encontrou alguém segurando o seu chapéu esquecido.
— O grande Agust comemora o carnaval?
— Eu achei que quem estaria no carnaval era você. — Ele se aproximou, com um sorriso de lado. — O grande Doutor Park longe de uma festa?
— Tive uma emergência.
A conversa deles foi interrompida quando Hoseok chegou cambaleando. Assim que viu o médico, ele correu até ele.
— O Yoongi está bem? Vocês conseguiram? Eu posso ver ele? Doutor Park me diz! — Foi preciso que Agust segurasse o rapaz, enquanto Jimin pôs o chapéu como um escudo, dando passos para trás.
— Ele ainda está na sala de cirurgias. Sinto muito, mas não posso oferecer mais informações. Não posso participar porque estava na rua há pouco tempo. — O olhar de Hoseok fez Jimin engolir seco e encarar Agust como se buscasse ajuda.
— Hoseok, se aquieta, ou eu vou mandar eles te darem calmante até você dormir.
Cabisbaixo, o rapaz assentiu e foi até a cadeira do canto, apoiando a cabeça nas mãos enquanto olhava a parede branca. Demorou longas duas horas até uma enfermeira chegar, encontrando Agust andando de um lado para o outro, e Hoseok quase dormindo enquanto chorava.
— Vocês estão com Yoongi? — Assim que os dois olharam para ela assentindo, a mulher deu um sorriso forçado. — Por favor, venham comigo.
[...]
Quando Hoseok era jovem, sofreu um acidente de bicicleta, sua perna quebrou em vários lugares e achou que nunca sentiria tanta dor em sua vida… estava enganado. Nada se comparava à dor de ver a pessoa que mais amava em um caixão. A dor se espalhava pelo seu corpo, causando uma dor física em seus músculos que o fazia querer chorar, isso se não estivesse chorando pela dor em seu coração.
O rapaz precisou dos calmantes, afinal, ele não parava de chorar desde que teve a notícia, e Agust já não aguentava mais, pois precisava resolver tudo sobre o velório. Dado que seus pais ainda moravam na Coreia, ele era a única família que Yoongi tinha naquele momento, mas era impossível com aquele marmanjo chorando em seu ouvido.
O velório foi pequeno, apenas alguns amigos deles compareceram, assim como policiais que trabalhavam com Agust. Por morarem apenas algumas cidades de distância, não foi um problema muito grande o translado, o que tornou possível realizar um velório decente, mesmo que seja simples.
Enquanto tocava a pele gélida da pessoa que tanto amou, Hoseok notou que ele parecia diferente, a funerária deveria ter gastado muita base para chegar a cobrir até a manchinha que ele tinha no nariz, totalmente desnecessário. Mas evitando coisas fúteis naquele momento, ele deixou um selar em seus fios antes de permitir que fechassem a tampa.
A volta para casa foi a mais difícil. Chegar e ver coisas do namorado era doloroso. Quando Agust chegou a visitar Hoseok e o encontrou no meio de um bolo de roupas, chorando como um bebê, implorando ao universo para devolver Yoongi e levar a ele, foi o momento em que decidiu que deveria levar as coisas do irmão para seu apartamento. Foi com uma dor maior ainda que Hoseok ajudou a encaixotar tudo, ficando apenas com a camisa branca favorita do defunto.
Os dias seguintes não foram melhores. Enquanto Agust estava ocupado indo e vindo de delegacias, sendo impedido de ajudar na investigação e quase apanhando de donos de estabelecimentos por pedir as filmagens, Hoseok se afundava mais em negação e tristeza.
Agust, sabendo que, se deixasse o rapaz por conta, seria possível que ele até deixasse de comer, se viu em pleno sábado de manhã carregando sacolas de mercado e uma marmita para a casa de Hoseok. Ele tinha a chave que havia ficado com Yoongi, então abriu a porta e entrou, vendo o cunhado jogado no sofá abraçado a um travesseiro.
— Levanta daí! Trouxe comida, seu idiota. — Se questionando sobre o que estava fazendo da vida para virar babá de um adulto, Agust caminhou até a cozinha para pôr as sacolas sobre a mesa. — Anda logo. Eu já comprei a comida, não vou arrumar também. — Enquanto retirava as coisas das sacolas, ele ouviu passos se aproximando. — E vê se come isso, ou vai esfriar e ficar ruim. Eu não sabia se você não comia alguma coisa, mas trouxe o que deu.
— Yoongi! — Hoseok se jogou nas costas do outro, o abraçando com força, fazendo o rapaz precisar se segurar em uma cadeira para não cair. — Meu amor, eu sabia que você não tinha me deixado. — Um frio percorreu a espinha de Agust. Ele sabia que as coisas estavam difíceis, mas não tanto.
— Hobi, me solta…
— Amor! Por favor, não me deixe sozinho de novo. — Ele segurou mais firme, enquanto Agust tentava se desvencilhar.
— Olha, eu odeio ser o portador de más notícias, mas eu sou o Agust, seu cunhado e não seu namorado. — Foi como falar com uma porta, uma porta forte que não o soltava.
— Por favor, Yoon, não me abandone de novo, aqui é horrível sem você.
— Hoseok, me solta!
— Eu te amo, não faça mais isso.
— Hoseok!
— Amor… — Vendo que seria impossível conversar, Agust decidiu usar a força bruta. Ele segurou nos braços do cunhado, enquanto jogou seu corpo e girou puxando o corpo dele, fazendo Hoseok cair de costas para chão. — O quê?
— Hoseok! Olha pra mim! Eu. Não. Sou. O. Yoongi! — Para pontuar sua fala, Agust se abaixou, pegando o rapaz pela gola da camisa e erguendo um pouco do chão. — O meu irmão está morto!
— Não… ele jamais me deixaria aqui.
— Hoseok, ele morreu na sua frente! Ele levou a porra de um tiro no peito na nossa frente! — Pela primeira vez, Hoseok viu lágrimas surgirem nos olhos de Agust. — Caia na real! Você acha que é o único que sente a falta dele? Olha ao redor, caralho! Para de enxergar só o próprio umbigo! Perdi a única pessoa da minha família que tinha por perto e, agora preciso cuidar de você, porque, aparentemente, nem banho você tem tomado! Aceite, ele não vai voltar.
Sentindo toda a dor dos dias que passaram vindo à tona, Agust largou o cunhado e sentou no chão, apoiando as costas na cadeira mais próxima. Ainda assustado, Hoseok rastejou, sentando ao lado dele, enquanto abraçava as próprias pernas.
— Ele faz falta aqui…
— Ele faz falta pra nós dois, idiota.
Após se acalmarem, Hoseok foi comer enquanto Agust guardava as compras, mesmo resmungando.
Eram 2 da manhã quando Agust acordou com o celular tocando. Ele tateou às cegas até encontrar o aparelho e atendeu.
— São 2 da manhã, porra! Espero que alguém esteja morrendo. — Ele nem sequer tinha visto quem era, mas quem quer que fosse teria que lidar com encarar sua fúria.
— Agust… — A voz de Hoseok saiu fraca. Fazia dias que eles não se viam. Agora, o medo tomou conta de Agust. Imagens do seu cunhado metido em alguma encrenca tomaram conta de sua mente e fizeram ele sentar na cama pronto para sair atrás dele. — Eu… eu… cadê o Yoongi, eu tive um pesadelo, mas ele não atende o celular.
— Hoseok, são 2 da manhã… — O rapaz passou a mão pelo rosto, olhando a cidade escura pela janela. — O que você sonhou?
— O Yoongi havia sido baleado na minha frente, cadê ele, Agust? Eu preciso falar com ele.
— Sinto lhe informar… mas seu pesadelo é real.
Naquela noite, Agust precisou ir até a casa de Hoseok e levá-lo ao hospital. Foram mais longas madrugadas sendo acordado com ligações, até que Hobi aceitasse tomar remédio para dormir, deixando a vida mais fácil para os dois.
Foi preciso longas semanas para a ficha cair para Hoseok, depois de ter voltado da farmácia tarde da noite com mais uma dúzia de remédios. Preocupado com o jantar, ele simplesmente entrou em sua casa e se tocou: “Yoongi nunca mais vai estar me esperando para o jantar”. Depois de mais uma onda de choro, ele saiu a pé até o apartamento de Agust. Assim que a porta abriu, com Agust vestindo sua roupa de dormir, Hoseok deu uma risada sem graça.
— Parece que não vou mais ver meu gatinho, né?
— Boa noite? — Agust ergueu a sobrancelha, dando espaço para Hoseok entrar, mas recebendo apenas um aceno com a cabeça.
— Eu quero ir ao cemitério, vai comigo?
— Ah… Hoseok, é quase onze da noite, e você quer ir ao cemitério? — O rapaz cruzou os braços, recebendo um aceno positivo. — Tem certeza?
— Por favor, eu só quero me despedir do Yoon, de verdade dessa vez.
Mesmo a contragosto, Agust trocou de roupa e pegou as chaves do carro, levando Hoseok para o cemitério. Felizmente havia um vigia que os permitiu entrar, mesmo que estivesse olhando de forma estranha para eles.
Assim que pararam em frente a lápide, um suspiro foi solto por Hoseok, retirando a aliança de Yoongi do dedo, pois não havia permitido que o enterrassem com ela e agora a usava junto da sua, pondo sobre o túmulo. Ele sorriu fraco, sentindo a brisa passar e trazendo um cheiro que o lembrava o rapaz.
— Ele foi uma boa pessoa, era bom demais para este mundo, onde quer que ele esteja, espero que saiba que eu o amo muito. — Engolindo o choro que começava a surgir, Hoseok sentiu Agust o puxando para um abraço.
— Eu sei… que ele sabe, todo mundo sabe o quanto você o ama. — Eles ficaram em silêncio, até Agust notar o vigia os encarando de longe. — Acho que é nossa hora, o vigia deve achar que somos um casal e que veio usar os túmulos pra se pegar.
— Eu queria ter ao menos a chance de dizer eu te amo uma última vez, cara a cara, ou que ele pudesse me ouvir dizer isso novamente.
— Ele pode… ele pode Hoseok. O que você falaria?
— Que ele é a pessoa mais especial desse mundo, ele sempre dizia que eu era o seu sol, mas ele é meu sol, meu sol de inverno, que brilha na medida certa, que traz calor quando está frio, que surge em meio as nuvens cinzas, me lembrando de como é bom sentir esse calor agradável. Diria que eu faria de tudo para ter ele comigo novamente, mas que ele soubesse que essa dor não é culpa dele, que ela é por perder ele. — Lágrimas começaram a escorrer pelo rosto de Hoseok, então Agust se afastou e usou a manga da blusa para limpar.
— Eu conheço meu irmão, ele deve ser a pessoa mais boiolinha do mundo por saber disso.
— Obrigado, Agust.
Sem olhar para trás, Hoseok se afastou do túmulo indo em direção à saída. Tendo a certeza que não seria visto, Agust se abaixou e juntou a aliança, pondo em seu bolso antes de ir atrás do cunhado.
…
Os dias se deram sem grandes novidades por parte da polícia e Hoseok já não aguentava mais ficar esperando que pegassem logo a pessoa que causou a destruição de toda sua alegria. Era uma tarde comum, tediosa, quando Agust entrou no apartamento do cunhado.
Dada a necessidade de verificar se o rapaz estava se alimentando ou se cuidando, tornou-se uma rotina passar diariamente ali após o trabalho. Cansado, o policial arrancou a gravata se jogando no sofá.
— Alguma novidade do caso do Yoongi? — Hoseok se sentou no outro sofá, olhando seu visitante com expectativa.
— Sim, eles arquivaram o caso.
— O quê?! — A voz do rapaz saiu em um grito, demonstrando o seu choque e indignação.
— Não há provas o suficiente, eles não querem manter a força policial em um caso sem esperanças. Os comerciantes não têm nenhuma gravação do dia e não há testemunhas. — Com um suspiro cansado, Agust se sentou direito.
— Mas todo mundo ouviu os disparos, todo mundo viu ele caído!
— Mas ninguém viu o atirador.
O silêncio recaiu sobre o cômodo enquanto a informação era processada pela mente de Hoseok. A raiva borbulhava em seu sangue, mas ele tentava manter ao menos a aparência calma.
— Eu… preciso comprar café, já volto.
— Certo.
Com um aceno, Hoseok saiu da casa, deixando Agust cuidando do local. Alguns minutos depois, o celular do policial tocou. Ao olhar para a tela, um número mais que conhecido se fazia presente.
— Alô? Cara, eu acabei meu turno faz meia hora! Caramba me deixa descansar.
— Agust, seu cunhado, está detido aqui na delegacia. — Assim que a voz de Taehyung soltou aquelas palavras, o sangue de Agust gelou.
— Estou a caminho.
Agust, sem o devido cuidado com as leis de trânsito, dirigiu-se de forma apressada à delegacia. Ao chegar no local, pulou do carro e saiu correndo. Passando pela recepção, ele seguiu os corredores até a sala de interrogatório, encontrando Hoseok algemado, enquanto Taehyung, o colega de Agust, preenchia uma ficha.
— Alguém pode me explicar que porra ta acontecendo? — Agust bateu a porta, fazendo Hoseok desviar o olhar e Taehyung puxar a prancheta para o peito.
— Seu cunhado achou de bom tom apedrejar a delegacia.
— Hoseok, pelo amor… o que tem a dizer em sua defesa? — Cansado, e extremamente irritado, o policial massageou a ponte do nariz.
— O meu Yoongi foi morto, houve um crime, e eles pensam que podem apenas arquivar o caso? Há um criminoso à solta! Se eles não tomarem qualquer atitude, eu vou. — A respiração do rapaz estava acelerada, com um brilho intenso em seu olhar que os dois policiais conheciam muito bem. Não havia mais dor, aquilo era uma pura sede de vingança.
— Olha, admiro sua força de vontade, mas nós somos policiais, e a polícia não encontrou nada, nenhuma pista sobre o caso. — Taehyung olhou para Agust, esperando que ele concordasse antes de prosseguir. — Hoseok, embora ele seja seu namorado, você, nem ninguém, está acima das leis. Nós prezamos pela segurança, mas não podemos manter uma força tarefa em um beco sem saída.
— Hoseok, eu deveria te deixar passar a noite na cadeia, ou melhor, uma semana, mas o Yoongi jamais me perdoaria.
— Yoongi no caso é o seu irmão morto? — Assim que perguntou, Taehyung se arrependeu imediatamente.
— Cala a boca! — Os dois soltaram em uníssono, fazendo Taehyung se encolher na cadeira.
Sentindo a cabeça prestes a explodir de dor, Agust cruzou os braços e estalou a língua, encarando os dois homens em sua frente, com um longo suspiro ele se virou para a porta.
— Tire as algemas dele, eu me encarrego do resto.
— Mas… mas policial Min, ele acabou de apedrejar um patrimônio público, e pior, a delegacia. — Taehyung tentou argumentar, mas Agust se virou e caminhou lentamente, parando em sua frente, ficando cara a cara.
— Eu disse, tire as algemas dele. — Com a voz baixa e firme, Agust falou pausadamente, fazendo aquilo parecer uma ameaça.
Sem contestar, Taehyung retirou as chaves dos bolsos e abriu as algemas. Agust foi até à recepção, pedindo o celular e a carteira de Hoseok, para, então, o levar para fora. Assim que a brisa noturna bateu em seu rosto, puxou seu maço de cigarros. Ao pegar um com a boca, ele protegeu do vento com a mão para poder acender. Após uma longa tragada, ele soltou a fumaça, olhando-a com calma, se dissipar. Quando se aproximaram do carro, ele apagou o cigarro no topo da lata de lixo e jogou o que sobrou dentro, para então pegar Hoseok pelo colarinho e jogar de costas contra a lataria.
— Que merda de ideia foi essa? — O cheiro da fumaça do hálito de Agust fez Hoseok torcer o nariz, virando o rosto.
— Já disse. — Aquilo foi como jogar água em um gato arisco, Agust bateu o rapaz contra a lataria novamente, olhando no fundo de seus olhos.
— Escuta aqui, seu idiota, eu trabalho nesse lugar! Eu fui impedido de participar das investigações! Você não é o único puto com toda a situação. Eu vi meu irmão morrer, eu, um policial, cuja missão é proteger pessoas! Eu não protegi o meu irmão! Então para de achar que só você sofre, e que só você ‘tá revoltado. — Para a surpresa do rapaz, Hoseok começou a rir baixo, antes de olhar por baixo da franja.
— Irônico isso, um policial que não protege… sabe Agust, você nem parece o mesmo cara que me abraçou no cemitério.
— O quê? — Um olhar confuso tomou conta de Agust, enquanto Hoseok cruzou os braços.
— Pensei que você fosse me entender, como você mesmo disse, você também perdeu alguém especial, mas me enganei. Aquele dia, aquele dia eu tive esperanças que você entendesse minha dor, mas vejo que não. — Dessa vez quem riu foi Agust, um riso zombeteiro antes de circular o carro parando em frente a porta do motorista.
— Naquele dia eu não precisei ter que aturar um marmanjo agindo como um adolescente idiota.
Enquanto dirigia para casa, Agust torcia para não ter que lidar com algo assim novamente, infelizmente, nem a sorte, nem Hoseok pareciam estar do seu lado.
…
Amanheceu, mas o sol não trouxe consigo nenhum alívio para o sofrimento de Hoseok. Após a notícia de que o caso havia sido arquivado, a dor se intensificou. A certeza de que ninguém se importava, ou percebia o seu sofrimento começou a se solidificar em sua mente. Parecia que Hoseok teria que tomar o caso em suas próprias mãos. Em sua mente, era impossível que ele fizesse um trabalho pior do que a polícia.
A sua primeira parada foi o próprio local do crime. Hoseok conversou com todos os comerciantes ao seu redor que poderiam ter alguma informação, mas só recebeu o dito: “Não me lembro de nada, era carnaval, tinha muita gente na rua”. Ao pedir para assistir às gravações das câmeras, eles apenas diziam, alguns com uma certa culpa no olhar, outros assustados, que eles não tinham mais as gravações por ter se passado tempo demais.
Ao receber todas essas negativas, Hoseok se sentiu virando em um beco sem saída, com ninguém disposto a ajudar. Ao sair da última loja, ele se sentou no banco da rua e, com a cabeça entre as mãos, voltou a chorar até soluçar. A voz de seu cunhado ecoava “Aceite, ele não vai voltar.”, “Naquele dia, eu não precisei ter que aturar um marmanjo agindo como um adolescente idiota”, “Eu sei… que ele sabe, todo mundo sabe o quanto você o ama”, e algo de repente quebrou dentro de si, como um elástico que foi esticado ao limite e, finalmente, arrebentou.
Hoseok começou a rir em meio às lágrimas, cada vez mais alto, até as pessoas na rua acharem que ele estava louco. Ainda rindo, ele começou a pegar as latas de lixo da rua e arremessar contra a vitrine das lojas. As mesmas que se recusaram a ajudá-lo. Alguns comerciantes saíram para tentar entender o que acontecia, mas, diante do olhar maníaco de Hoseok, eles apenas se fecharam. Ao juntar uma lata de refrigerante, ele a amassou com força, lembrando da última vez que ele havia dividido uma latinha de Coca-Cola com Yoongi. Lembrando do doce sorriso que o rapaz deu enquanto olhava as crianças correndo… Algo que ele jamais teria de volta, tudo por causa daqueles homens e mulheres que se escondiam agora em suas vitrines idiotas. Com um último lançamento, ele acertou a porta de uma mercearia e ao olhar em volta, percebeu as pessoas o encarando assustadas.
— Escutem bem! — Ele começou a gritar o mais alto que podia, para ninguém em específico, mas, ao mesmo tempo, para todos. — Vocês tiraram tudo que eu tinha! Tiraram a pessoa mais especial desse mundo pra mim! Vocês mataram um inocente! Seus bastardos covardes! — Usando todo seu fôlego, ele soltou um grito de dor, fazendo alguns transeuntes se encolherem assustados.
Antes da polícia chegar, ele foi para casa. Finalmente ele tinha um plano se formando em sua mente que iria pôr em prática, custe o que custasse. Assim que desceu em um ponto de ônibus, ele correu como se não pesasse nada, com a adrenalina pulsando em suas veias. Se ele não podia ter seu amor de volta, e nem ao menos confiar na justiça, ele faria o mundo inteiro queimar.
Chegando em casa, ele começou a vasculhar a garagem, e em uma mochila pôs um pé de cabra, fósforos e o que mais achou que pudesse precisar. No caminho ele passou por um posto de gasolina e abasteceu um litro, para então seguir para o centro da cidade.
Ao chegar em um local que considerasse apropriado, retirou o pé de cabra da mochila e começou a bater nos vidros de um carro estacionado na rua, amassando a lataria, descontando a raiva que tomava em seu coração uma proporção igual ao amor que um dia sentiu. Enquanto atacava o carro, só conseguia pensar nas dores que sentiu nos últimos dias, e mesmo que sua mão estivesse doendo pela força com que segurava o ferro, ele seguiu batendo em tudo o que podia, indiferente a tudo e a todos. Ao se sentir satisfeito, ele espalhou gasolina pelo chão, pegou um fósforo e, com um sorriso, jogou a chama em direção ao combustível.
…
É interessante assistir às chamas se espalhando, a fumaça tomando conta. O fogo tem um efeito quase hipnotizante, um tanto calmante. Agust poderia ficar horas assistindo às chamas trepidando e à fumaça subindo e se espalhando pelo ar, como se fossem nuvens. “Tô tão cansado dessa merda que comecei a pensar igual o idiota do Hoseok”, pensou enquanto observava a cena que se formou durante o período em que ele tentou dormir entre os plantões da delegacia. Eles haviam o chamado após um idiota começar a quebrar carros e, pelo visto esse cara agora achava que meter fogo em tudo era uma boa. Como Agust era o mais próximo da ocorrência, lá foi ele atender ao chamado, enquanto o som dos bombeiros se aproximando gerava uma péssima sinfonia.
Assim que parou o carro, ele bateu no volante e xingou em voz alta. Ali estava o seu idiota bancando o engraçadinho enquanto um carro ao seu lado pegava fogo. Com a veia da testa pulsando de raiva, Agust desceu da viatura, parando em frente ao cunhado.
— Que porra é essa? — Ao ver que possuía companhia, Hoseok parou de olhar as chamas, sorrindo mais ao ver que se tratava de Agust.
— Se vocês não resolvem do jeito de vocês, eu resolvo do meu.
— Queimando carros? Você enlouqueceu? — Agust passou a mão pelo rosto, olhando com fúria para o rapaz. — Se afasta daí, isso vai explodir a qualquer momento, é perigoso.
— Por mim que o mundo se exploda. Ouviram seus imbecis? Eu quero que todos vocês explodam! — Ele girou gritando, fazendo a raiva apenas crescer no policial, enquanto via o fogo aumentar.
— Sai daí!
— Não vou.
— Você acha que o Yoongi iria gostar disso? — Sem saber como agir mais, Agust pegou a arma do coldre e engatilhou, apontando para o cunhado. — Sai, ou eu atiro.
— Atire! Atire que ao menos assim eu consigo ver o meu amor de volta! — Diante daquelas palavras, as mãos de Agust tremeram e ele vacilou, ele não podia machucar o rapaz, mas ele estava sendo um perigo para todos.
— Hoseok, anda logo!
— Atira seu covarde! Não presta pra isso também? É tão inútil que não consegue cuidar do próprio irmão e não consegue atirar em alguém?
Cansado daquilo, Agust se aproximou com um olhar que poderia fazer qualquer um se encolher, porém, Hoseok apenas sorriu, imaginando que finalmente poderia se reencontrar com Yoongi. Conforme Agust andava, Hoseok se aproximava dele também. Foi quando uma pequena explosão fez o rapaz se virar. O policial aproveitou para acertar uma coronhada em sua nuca o nocauteando.
A primeira coisa que Hoseok notou ao acordar, foi que estava em casa novamente. Ele olhou confuso para os lados e, logo em seguida, notou Agust e… Jimin. O médico estava abraçando o rapaz, que chorava de soluçar. Era estranho ver seu cunhado daquela forma, Agust normalmente parecia tão insensível que vê-lo chorar assim era como ver uma mula-sem-cabeça pessoalmente.
Com um suspiro culpado, Hoseok se sentou direito no sofá, sentindo uma dor de cabeça se espalhando junto do desespero ao ver que novamente Yoongi não estava consigo.
— Parece que alguém acordou. — Jimin se aproximou, com um sorriso fraco, fazendo Hoseok se virar para ele. — A gente estava preocupado, o que você tinha na cabeça? Podia ter se queimado.
— Foda-se, ao menos se eu morresse, veria o Yoongi. — O rapaz tentou se levantar, mas rapidamente sentiu alguém o puxando pelos ombros para sentar.
— Chega! — A voz de Agust estava firme, assim como o aperto nos ombros de Hoseok. Ainda era possível notar que ele estava chorando um pouco. — Seu imbecil! Sabe o trabalho que vai ser limpar essa merda? Pra sua sorte quem foi atrás de você fui eu, ou você estaria preso agora, ou pior!
— Devia ter atirado… — Hoseok tentou levantar, mas novamente foi impedido.
— Cala a boca! — gritou Agust finalmente, perdendo a paciência e dando um tapa com as costas da mão na cara de Hoseok, que colocou a mão no rosto e olhou para seu cunhado com cara de desprezo, enquanto ouvia Jimin se aproximar tentando amenizar a situação.
— Por favor, Hoseok, olhe em volta! A gente se preocupa com você, seja racional. Você precisa de um psicólogo, eu tenho colegas maravilhosos que posso te recomendar e…
— Jimin, eu não quero a porra dum psicólogo. Eu quero o Yoongi! Ou vingança! Eu vou fazer cada um pagar caro pelo que fizeram!
— Quem vai pagar? Os donos das lojas? Quem ficou sem carro depois do showzinho que você resolveu aprontar no centro? São as pessoas inocentes que você quer que paguem? Acha que não sei que você resolveu investigar por conta? — Agust voltou a segurar o ombro do rapaz, apertando com força a ponto de causar dor. — Apedrejar patrimônio alheio, ameaçar inocentes, incendiar carros, ameaçar se matar… acha que é isso que meu irmão iria querer de você? Acha que é esse tipo de pessoa que ele teria orgulho de namorar?
— Você não sabe de nada, cala a boca.
— Sabe o que eu sei? Que meu irmão era a pessoa mais feliz do mundo enquanto vocês namoravam, que ele jamais iria querer ver você desse jeito, tudo o que ele sempre quis e tudo o que ele já fez em vida foi para deixar VOCÊ feliz, e é assim que você reage? Você acha que virar o Coringa vai trazer ele de volta?
— Amor, para com isso, o Hoseok já não tá bem, isso vai piorar. — Agust apenas ergueu os olhos para Jimin, soltando o ombro de Hoseok e se afastando.
— Amor? O que eu perdi? — O olhar de Hoseok estava entre confusão e mágoa. Ele percorreu o olhar entre os dois, e então Jimin se sentou ao seu lado.
— Isso é história pra outra hora, agora você precisa comer e descansar, depois a gente vai marcar um psicólogo pra você, ok? — O sorriso que Jimin lançou foi aos poucos murchando diante do olhar de Hoseok. — Hoseok, por favor, é pelo seu bem.
Por fim, Jimin fez Agust passar ao menos as primeiras 24 horas ao lado de Hoseok, para evitar que ele tentasse algo contra si ou contra outra pessoa novamente. Então, mesmo a contragosto, lá estava Agust fazendo um arroz com ovo para o cunhado, que estava jogado no sofá, resmungando que não era nenhuma criança e, muito menos precisava de supervisão.
Como Agust dormiu no chão do quarto, Hoseok estranhou acordar e não ver o rapaz ali, então ele levantou e resolveu procurá-lo. Antes que pudesse abrir a porta, ele ouviu Agust conversando com alguém no celular.
— Pra mim chega! — Mesmo que sua voz estivesse abafada por estar do outro lado da porta, ainda era nítida a raiva de Agust. — Eu não vou levar isso adiante, não é você que precisa aguentar isso. Você é um inconsequente covarde, isso que você é! Eu não me importo com o que você acha ou deixa de achar. Pra mim já deu! Ou você conta a verdade, ou eu vou contar. Foda-se? Eu ‘tô nem aí pra esse seu argumento imbecil, eu posso perder a porra do meu emprego por conta de um luxo idiota seu! Eu avisei desde o início, isso não daria certo, claro que ele ia ficar todo despirocado das ideias, você faria o mesmo! Seu idiota! Eu queria poder ir até aí e te dar uma surra até você aprender, vocês se merecem! Dois desmiolados! Eu odeio você! Eu odeio você! — Assim que o barulho de coisas batendo se fez presente, Hoseok se afastou da porta.
Mesmo que a curiosidade fosse alta, ele tinha medo de descobrir do que se tratava. A raiva demonstrada por Agust era maior que quando lhe bateu. Não parecia ser algo que valesse a pena ser pego ouvindo, então Hoseok resolveu apenas voltar a dormir, ou ao menos tentar.
Quando Agust voltou pra casa, as palavras dele ficaram na cabeça do cunhado. Hoseok ainda se sentia um pouco culpado, e algo dentro de si dizia que parte do estresse e a ligação tinham relação consigo. Para amenizar a situação, ele decidiu que faria um bolo para o rapaz, como uma espécie de bandeira de paz entre eles.
Determinado, Hoseok estava pensando se conseguiria encontrar alguma revista da Palmirinha para vender em algum sebo, até que se tocou que ele poderia simplesmente procurar um tutorial no YouTube. Após analisar algumas receitas, ele decidiu que faria um bolo de cenoura, afinal parecia ser o mais fácil.
Depois de uma jarra de liquidificador quebrada, e metade da cozinha laranja, Hoseok decidiu pelo que deveria ter feito desde o início: comprar preparo pronto para bolo, assim era impossível errar. Para sua alegria, deu certo dessa vez, e mesmo sendo extremamente tarde ele resolveu que levaria o presente antes que desistisse e comesse sozinho.
Ao chegar e bater na porta, demorou para ser atendido por um Agust levemente descabelado. O cheiro característico da bebida era nítido, e ele demorou um pouco para entender o que Hoseok estava fazendo. No entanto, quando Jimin se aproximou e pegou o bolo, foi como se um click fosse dado dentro da cabeça do policial, que chamou o cunhado para entrar e sentar no sofá.
Assim que Jimin voltou da cozinha, se jogando ao lado de Agust, eles voltaram a se beijar enquanto na televisão passava um filme qualquer. Um tanto incomodado, pensando estar atrapalhado, Hoseok se levantou e anunciou que voltaria outra hora.
— Calma, tá tarde. — Jimin se desvencilhou do aperto de Agust, e sorriu animado. — Fica aí, você pode pegar uma bebida, a gente vai se comportar, juro.
Com a sobrancelha arqueada, Hoseok aceitou uma latinha de Brahma e sentou novamente. Eles beberam juntos por um tempo e o rapaz tentava ignorar o fato de Jimin estar parecendo um coala agarrado em Agust prestando atenção na televisão.
Quando a lata acabou, por não haver mais nenhuma, Hoseok decidiu ir à cozinha buscar mais. Afinal, ficar ali de vela não estava sendo muito bom para a sua saúde mental, que já não era exemplar. O casal sequer notou, ou melhor, Jimin notou tarde demais, pois quando Hoseok já estava entrando no corredor, ele levantou e foi correndo tentar impedi-lo.
Assim que entrou no cômodo, Hoseok sentiu seu chão ruir. Em sua frente estava Yoongi, em carne e osso, tendo pintado o cabelo para ficar igual ao de Agust. Agora com um olhar assustado o encarando enquanto segurava uma frigideira. O tempo pareceu passar em velocidade mínima. Jimin chegou na porta gritando, seguido por Agust, e o olhar traído de Hoseok vagou do namorado para eles. Em desespero, sem saber como resolver a situação, Yoongi o acertou com a frigideira, fazendo ele cair desmaiado.
…
A visão de Hoseok ainda estava embaçada enquanto ele tentava se levantar. Embora não estivesse ciente do que estava acontecendo, sentia uma dor de cabeça terrível. Ao olhar para o lado, Jimin estava parado o olhando assustado, e ao seu lado…
— Alguém me explica por que tem 2 Agust? Eu caí e bati a cabeça, foi isso?
Agust cruzou os braços e olhou furioso para o irmão, que apenas abaixou a cabeça antes de se sentar no sofá.
— Hoseok, meu amor… eu preciso te contar a verdade.
— A-amor? Yoongi? — Hoseok olhou confuso para eles, sentindo vontade de chorar.
— Sou eu… eu… me perdoa.
— Alguém me explica o que tá acontecendo! — O rapaz levantou realmente, passando o olhar para um Agust furioso, Jimin assustado e Yoongi com uma expressão de tristeza.
— Eu precisei forjar a minha morte… — O olhar de Hoseok pesava sobre Yoongi, que apenas engoliu em seco antes de continuar. — Eu… eu precisava, você jamais entenderia.
— Então me explica. Me explica por que você me fez sofrer todos esses meses com a sua morte, pra agora eu descobrir que você está vivo e aparentemente virou a cópia do Agust. Você tem noção do que passei?
— Eu precisei pintar pra poder me passar por ele, mas não vem ao caso, o ponto é que não tive escolha. — Yoongi se levantou, ficando cara a cara com o namorado. — Eu adquiri uma conta enorme, e não tinha a menor condição de pagar, o único jeito de fugir de um agiota seria se eu morresse, ninguém iria atrás de um policial pra cobrar.
— Yoongi isso nem faz sentido! Por que você teria uma conta tão grande a ponto de dever para um agiota?
— Você não entenderia. — As lágrimas começaram a se formar no canto dos olhos de Yoongi, ao mesmo tempo em que as lágrimas enchiam os olhos de Hoseok.
— Claro que não! Nada justifica! Você podia ter me contado. O que é tão importante a ponto de você fazer uma conta dessas? — Nesse ponto Hoseok já estava gritando. Jimin pensou em intervir, mas Agust sinalizou para não interferir. — Você por algum minuto pensou em como eu me sentiria?
— Eu achei que você ficaria bem.
— Eu vi meu namorado morrer na minha frente! Mas agora eu descubro, olha que lindo, que meu namorado morto está vivo! Você tem noção do que eu estou sentindo agora? Do quão traído me sinto? E não quero nem saber quem está no seu túmulo ou como você conseguiu fingir um tiro.
— Eu fiz isso por você! — As lágrimas começaram a escorrer pelo rosto de Yoongi, enquanto Hoseok parecia não acreditar no que via.
— Por mim? Yoongi, em algum momento você parou e realmente pensou em como eu ia me sentir? — O tom de voz do rapaz diminuiu, mas fazia um efeito pior que os gritos. — Você mentiu pra mim, sabia que eu estava sofrendo e continuou me enganando, e esses dois sabiam de tudo e não me contaram!
— Eu pedi pra eles não contarem…
— Eu te odeio, Yoongi.
— Amor, por favor, não…
— Amor? — Uma risada escapou, fazendo Yoongi se encolher. — Amor? Você não tem o direito de me chamar assim.
— Eu fiz isso por você! Por nós! De onde você acha que eu tirei o dinheiro pra bancar seus luxos? Você não trabalhava, acha que eu paguei o aluguel, comida, os passeios, viagens, como? A gota d'água foi o gasto com o carnaval, sabe o quanto foi a viagem? O quanto gastei só pra te ver feliz? — Yoongi tentou levar a mão ao rosto do namorado para fazer um carinho, porém Hoseok se esquivou.
— Eu nunca pedi nada disso, e você nunca me disse nada, você podia ter dito e eu iria trabalhar pra ajudar! Mas você preferiu me enganar do que falar a verdade! Seu idiota egoísta!
— Você nunca trabalhou na sua vida! Acha que é tão fácil? Você não aguentaria uma semana de CLT! Eu precisei fazer empréstimo em cima de empréstimo para pagar os seus luxos! E você vem me chamar de egoísta?
— Pra mim já chega! — Hoseok deu as costas para os três rapazes, indo em direção à porta. — Chega desse circo todo! Chega! O Agust disse que virei o Coringa, mas o único palhaço aqui é você.
Quando a porta foi batida, Yoongi fez menção de sair atrás de Hoseok, mas seu irmão o segurou pelo braço, o puxou girando-o, fazendo com que ficasse cara a cara consigo.
— Chega, Yoongi. Chega. Você não vê o que causou? Não piore as coisas.
— Mas o Hoseok…
— Você já estragou as coisas demais! Eu falei inúmeras vezes, e você não acreditou em mim.
[...]
— Hoseok, você confirma o que acabou de dizer? — A psicóloga olhou por trás das lentes do óculos, atenta a todos os sinais que o rapaz lançava.
— Eu confirmo, doutora Jeon, é a décima vez que falo isso, o meu namorado morto está vivo, o meu cunhado escondeu ele, e o médico é cúmplice! Mas vocês não confiam em mim, se confiassem não teriam me trancado aqui e mandado você, com todo respeito. — Jiwoo apenas assentiu, sinalizando para que o paciente prosseguisse. — Poxa, é tão difícil confiarem em mim? Eu não enlouqueci.
— Olha, não deveria falar isso, mas a casa do policial Agust foi revirada de cima a baixo e não há nada que indique que o irmão dele está vivo e estivesse morando lá todo esse tempo. Agust acabou sendo afastado por encobrir seu surto que resultou na queima dos carros, e infelizmente você ficará aqui até entendermos o que está acontecendo.
— Vocês estão sendo incompetentes, de novo.
Com um suspiro, Jiwoo fechou sua agenda, sinalizando para o guarda que a ajudou a sair dali. Antes de fechar a porta, ela deu uma última olhada em seu paciente.
— Espero que as coisas melhorem para você. Nos vemos na próxima semana.
A única resposta do rapaz foi mostrar o dedo do meio. Assim que passou na delegacia entregar os relatórios, a psicóloga foi até um barzinho na área mais isolada da cidade e seguiu até uma mesa onde havia um rapaz de boné, se sentando em sua frente.
— Como ele está?
— O Hoseok não vai mudar sua versão, ele segue firme. A polícia acha que ele está mentindo ou em um tipo de surto, mas como ele insiste não sei se não vão suspeitar e pedir um novo laudo. — Jiwoo suspirou, pegando o café do rapaz e bebendo um longo gole.
— Isso é bom ou ruim?
— Eles estarão mais perto de te descobrir.
O rapaz apenas abaixou a cabeça, respirando fundo, ele sabia que isso aconteceria cedo ou tarde. Eles ficaram ali mais um pouco, conversando sobre como estava a situação antes do rapaz sair. Enquanto esperava um táxi, em seu pescoço a aliança brilhava com o nome de Hoseok, no seu bolso a chave do novo apartamento fazia um peso incômodo, mas nada se comparava ao que ele sentia enquanto pensava que tudo havia sido em vão, pois perdeu o que lhe era mais precioso tentando protegê-lo.
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