O ínicio do presente

"Caro Samuel

não o vou tratar por pai porque o meu pai já faleceu, e também não o vou tratar por tio porque não seria verdade.

Neste momento já estou mais calmo e racional. Tenho que admitir, que saber da verdade, foi algo demasiado doloroso. Senti todo o tipo de sentimentos maus: raiva, nojo, ódio, deceção, frustração, tristeza e medo.

Como lidar com tudo isto? Não sou uma pessoa culta. Sou um homem simples, e acredito que sou honrado. Acredito, que os meus pais me educaram com valores que são muito importantes para mim. Como calcula, quando todos esses valores foram postos em causa por vocês os três, senti que perdia o norte, o chão e até alguma sanidade.

Levei muito tempo a conseguir chegar a este ponto. Também não quero ser para o meu filho, tudo o que vocês foram para mim. Quero por um fim nas mentiras e trazer o equilíbrio de novo para aminha família. A morte da mãe também me empurrou para aqui, onde estou agora.

Creio que temos que falar, e claro, que o que há a dizer não será por carta.

Eu e Aurora estávamos a pensar ir aí no verão deste ano, talvez julho, se estiver bem para si.

Fico a aguardar a confirmação

Respeitosamente

Francisco Caetano

25-04-1979"

Jaime ficou parado e sentiu um enorme orgulho no pai. Na realidade foi sempre um grande senhor.

Claro que o tio respondeu afirmativamente pois foi quando aconteceu o acidente.

Hoje já não conseguia procurar a última fechadura. Era tudo avassalador, intenso e desgastante.

Foi para as vinhas para fazer alguma coisa. Começar a aprender o ofício e ajudar.

Chegou cansado e cheio de fome.

Juntaram-se à mesa, para mais uma refeição maravilhosa e um vinho ainda melhor.

- Jaime já estive a ver o site. Não está mal. Mas já tem muitas coisas desatualizadas e claramente falta uma gestão contínua dos links, datas, informação, etc. Amanhã ligo-lhe e marco a reunião.

- Obrigada Lourenço.

- Queres ir até à cidade? Eu e a Matilde vamos. Há lá um bailarico.

- Obrigada. Divirtam-se, mas estou muito cansado. Vou dormir.

Hoje tinha acordado mais tarde. Sentia-se mesmo cansado. A vida de viticultor não era "pera doce".

Hoje finalmente ia procurar a terceira e última fechadura e esperava ele fechar um ciclo.

Voltou ao escritório e vasculhou tudo, desta vez livros e estantes, mas nada.

Sentou-se. Normalmente resultava bem acabava sempre por encontrar a solução.

Cinco minutos sentado e não vinha nada à ideia. Levantou-se. Foi à adega. Foi ver alguns lotes mais antigos de vinho. Tinham-lhe dito que o vinho da Madeira poderia durar até 300 anos sem perder o sabor. Era muito tempo. Não que eles tivessem garrafas tão velhas, mas era sem dúvida interessante.

Entretanto o Sr. Ricardo veio ter com o patrão, pois a época das vindimas estava à porta, e havia muito a tratar. Para além da apanha da uva, tinham todos os eventos costumeiros da época. Havia muitos turistas e algumas das casas serviam de hostels.

Jaime sentiu-se realmente perdido com tanta informação e perguntou quem costumava tratar disso.

- A Dra. Matilde, o seu avô nos últimos anos já só dava o aval, e temos uma equipa já com experiência nessas tarefas. Gostaría de os conhecer?

- Sim claro, e no que puder ajudar, estou pronto.

Saíram da adega e foram para um outro armazém, que Jaime já tinha visto à distância.

Dentro já estava uma parafernália de materiais e realmente uma grande equipa a trabalhar.

Enfeites para festas estavam a ser construídos por umas pessoas, roupa dobrada e lavada a ser transportada por outras. Pessoas a escolherem garrafas e a coloca-las em caixas.

Há medida que iam passando por cada tarefa o Sr. Ricardo apresentava as pessoas explicava oque cada uma delas fazia.

Falou-lhe das tradições, nomeadamente, do festival em honra do Vinho Madeira, vencedor de inúmeros prémios importantes. Começava precisamente no Estreito de Câmara de Lobos. Por isso surgiam muitos turistas, porque para além de haver uma grande divulgação, os próprios, eram também eles os arautos desta festa. Tinha a particularidade curiosa de tanto os turistas como os próprios residentes participarem na vindima, se obviamente quisessem, apanhando as uvas, experimentando a pisa da uva e claro usufruindo de toda a festa. Os turistas eram os mais entusiastas desta modalidade. No final, ia haver cortejo em homenagem à uva, um acontecimento muito bonito e muito importante para a população.

A festa do vinho estende-se a toda a região e atrai muitos turistas. A quinta tinha uma participação especial que os trabalhadores gostavam particularmente, e também dava mais visibilidade e atraia mais turistas. Eram os "quadros vivos" em que as pessoas se vestiam com roupas próprias, iam dentro de uma carroça também com material mais antigo da produção do vinho da madeira. E desfilavam ao longo de todo o cortejo e levavam claro está, o nome da quinta à qual pertenciam.

A festa com diversas outras atrações mantinha-se durante uma semana.

Jaime estava completamente espantado. Não só por toda a grandeza do acontecimento, mas também por todo o trabalho que isso dava e, no entanto, estavam todos contentes.

Todos participavam alegremente.

À noite Jaime falou com Matilde e Lourenço sobre tudo o que aprendera, e Matilde ainda se propôs fazer uma escala para que cada um pudesse ajudar e ao mesmo tempo coordenar as tarefas e os preparativos.

Todos concordaram e forma descansar pois o dia seguinte também ia ser cansativo.

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